sábado, 29 de agosto de 2020

SETILHA DO CORONAVÍRUS V


[nesta intempérie

a subespécie


de sua paupérie

fora de série


cobra em espécie

e por congérie


se mata em série]

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

MEU SONO NA QUADRA DO CORONAVÍRUS

margem, orla, limbo


O passado mais caro

tão antigo e raro
quão remoto o caso

de um certo garoto
muito incerto anterior

desce à praia da soneca
pela borda da pestana

desde a beira dessa mesa
sob o pino do farol

à areia do lençol...

...

O passado mais dado

perpassado das eras
repassadas deveras

(de esquecidos fatos
aos herdados fados)

por saudosas personagens
na miragem das paisagens

bate à porta do cochilo

adentrado o distraindo
sensitivo e seletivo

dos convidados de plantão
rodopiando em vão lembranças

numa dança que deveria leve

ligeira predispor-se ao sonho breve...

...

O passado menos duro
pretérito colecionador

ao insistir obscuro
sob o claro dia afora

pretende-se colonizador
do depois de antes agora:

- torna a siesta melancólica
despertá-la às quinze horas?

Demérito da memória
por débito do portador...

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

SETILHA DA QUADRA


Vi que o tempo passou


passou passou passou

pra mim pra ti pra nós...


Sobrevoo veloz


de um vento que passeou

passeou passeou passeou


sobretudo sobre o anseio atroz...

QUADRA DO CORONAVÍRUS LXI


[meus olhos antes guardando
teus olhos antepassados

são hoje nas circunstâncias
estranhos como os de um gato

perdendo rastros na treva
de ratos revistos patos

mas pardos porém bem claro
testemunhos da mutação:

no inferno das discrepâncias
todos relativizando

leopardos em cada leva
até sua desaparição]


(meu olho
teu olho
são poços

castanhos
dos pares
de antanho

que viram
num traço
um troço

de gatos
no mato
dos mortos:

qual roxo
de punho
do vírus

humano
postiço
de bicho

que tala
calando
muxoxos

e dura
mais duro
nos tortos)

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

SEXTILHA NOTURNAL


Tal hora escura

se dependura


no trago largo

do desencargo.


(ajuda a dormir

alguém conseguir)

SEXTILHA À TARDINHA


Este arrebol

atrás do sol


por um estol

caiu farol


em aranhol

sem rouxinol.

SEXTILHA DO DIA


A aurora vermelha

laranja, amarela.


Afora que espelha

(que dentro incendeia)


se pois paralela

depois me azuleia.

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

QUADRA DO CORONAVÍRUS LX

[sobre La grande bellezza
de Paolo Sorrentino:

o estético
quadro a quadro
do resultado

de séculos
desalentados
no aprendizado

de séquitos
em périplos
esperdiçados]

sexta-feira, 7 de agosto de 2020

EM FRENTE AO CORONAVÍRUS III

Liga dos Campeões da Europa


[bocejo sem remédio

meu benfazejo tédio

televisivo médio


expondo aos estapédios

o som oco do assédio


que vem por intermédio

daquele quadro nédio


pintando um ludopédio

sem público no prédio...]

terça-feira, 4 de agosto de 2020

QUADRA DO CORONAVÍRUS LIX

no mesmo barco


[acordo

molhando

que a morte


a bordo

chegando

consorte


dá sorte

se cordo

abordo


sonhando

que achando

seu norte]

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

QUADRA POLÍTICA DO CORONAVÍRUS XII

vaza a toga a jato


[ratos supremos
fanais sem remos

pulam do barco
nadam no charco

mudam de lado
(jamais o fado)

juízes bambus
raízes in situ;

gatos pequenos
natos e turvos

galos de plenos
latos e curvos

salvando a tempo

tucanos perus
de manos anus

surfando o vento]

sábado, 1 de agosto de 2020

NOSSO MÊS

do eterno retorno


Agosto

a postos

(aposto)


a gosto

do exposto

oposto:


- desgosto

disposto

aposto.


(seu rosto

reposto

encosto)