segunda-feira, 29 de abril de 2013

FEROZ ALZHEIMER

deseducação

Vai abordar o mundo
de quem vem moribundo
o abandonando a tudo

ou roça a superfície
a tutora artífice
da ignorância em riste...

O curso todo é triste.

Pra quem vem furibundo
atirando em perdizes

incauto ou nauseabundo
à mercê de arrecifes

é chiste a todo custo

deparar que inexiste
desempoçar profundo...

sábado, 27 de abril de 2013

DA FLUÊNCIA DAS CADEIAS

A questão
mormente
da estação
corrente
de antemão
presente

à mente
sobre a ação
à frente

candente
brotação
de sempre:

- transição
de lição.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

DA NATUREZA DA FRAUDE

conjugação regular

Eu te engano.
Tu me enganas.
Ele engana.

Nós desenganados
vos desenganamos

neles acreditando...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

AFINAL VESPERTINA

pensando em Cruz e Sousa

Uma manhã daquelas
noite de Cinderela;
de uma aurora, à janela
à toa a soprar bela;

numa tarde estendida
madruga boa a vida
entre as várias perdidas
- das tidas às partidas...

***

Uma tarde sozinha
quando tarde declina
(antes arde seguida
mui cansada dos dias)

na luz do sol de Sousa
se abre em tapeçarias
(as dores coloridas)
à noite que avizinha...

quarta-feira, 24 de abril de 2013

GARGALO IV

constatações

A perspectiva
do prospectivo

(velho dançarino
experto, adivinho
que não perde a linha)

é o liso chão movediço

(a clivagem imprevista)

que o futuro agora cria.

***

A perdição que se vê
funda e só na garrafa
é a condição de você
mesmo um nó da tarrafa...

segunda-feira, 22 de abril de 2013

GARGALO III

o beco de um conto

... esse encadeamento
de escolhas no tempo
dos fatos ao vento
de lado batendo
dobrado ao relento

do laço em que lento
as folhas preencho
na bolha em que avento
dados do momento...

Então depreendo
que um paço acalento
(mas não compreendo).

A estória - mal lembro.
Sua memória - eu vendo...

domingo, 21 de abril de 2013

PRESENTE BARROCO

futuro pastiche

Um limpo domingo
de nuvens, florido

do Olimpo ao presídio
no mundo em que vives
anexo ao que pintes:

- eu peço que imites
um Rubens de hospício...

sexta-feira, 19 de abril de 2013

QUADRA DO BOM ALUNO

Tome um gole de café
acorde e então estude
seu objeto de fé:
- um café seu no bule...

quinta-feira, 18 de abril de 2013

PENA

Quando sou ente a desaparecer
em momento de nenhum fôlego
vem de repente um prolegômeno
curto, singular - um fenômeno!...

"Enquanto mal houver o que dizer
sento-me, sinto-me; se parecer
que estou morto, melhor adormecer
o meu triste entardecer de pombo".

PEDAÇO DE BILHETE

perfumado alfinete

... ao dar um tempo de si.

Subtrair-se daqui
sem trair-me haraquiri.

Apartar-me colibri
do caminho por ali
às murchas flores daí

abandonadas por ti...

terça-feira, 16 de abril de 2013

GARGALO II

e um espelho refrator

Como é difícil atravessá-lo
e fácil compreendê-lo; mas atá-lo
dourado peixinho vermelho de aquário
num cabo rotineiro de fluxo sensato

(rabo rebolado perfeitamente encaixado)

[sendo]

mais do avesso tubarão retardado por dinheiro
antecipado imprevisto no indeciso conjunto deste experimento

antecipado indeciso no imprevisto conjunto deste envolvimento
avesso ao retardado tubarão por mais dinheiro

[tendo]

(perfeitamente reencaixável rabo enrolado)

... ... ...

... ...

...

{até parar de bater}

segunda-feira, 15 de abril de 2013

MATÉRIA ESCURA II

... pois ouço ressentidos
(ninguém por consentido)
pouco aquém dos sentidos

os ossos invisíveis
(o aço pois presumível)
do espaço previsível

[meios dos fins do início]

MATÉRIA ESCURA

Um magro silêncio estudioso
às vezes reouço neste corpo
soprando aqui, ali, acolá:

- pequeno grupo predisposto
celular, especular, olho
interior por exteriorizar.

Porque vejo, em vez deste corpo
o que muito aquém está no mar

toco a tez da terra também no ar
preso à superfície deste horto

que trago magro, poeira estelar
há muitas eras, terras de lá:

- além de ruídos, indícios já
movendo aqui, ali, acolá...

sábado, 13 de abril de 2013

GARGALO

Espremido
percevejo
do que sinto
de passagem
sobra texto
pras bobagens

que descrevo
de paisagens:
- sobrepeso
que habilito
pela imagem
exprimindo...

quinta-feira, 11 de abril de 2013

A ORDEM DOS FATORES II

poesia

Eu sinto e escrevo
poemas pensando

no que primeiro

sigo segundo

um autor terceiro:

- meu alterego
mau e benigno...

A ORDEM DOS FATORES

pedagogia

Primeiro a lição
segundo a prova.

Primeiro a prova
segundo a lição.

A lição da prova
primeiro. Segundo
a prova da lição.

Lição primeira:
- segunda prova

(segundo a lição
prova primeira).

***

Prove primeiro
segundo a lição

(a derradeira).

quarta-feira, 10 de abril de 2013

DA TEMPESTADE

O tempo imediatamente à frente
tão escuro, tão espesso - e rente

a um chão que malsão não reconheço!

Imediatamente - de repente!
Tal momento rente, qual serpente

insidiosamente mal percebo...

O desenho desse agora mesmo
desse aqui tão inseguro e estreito

faz-me ir do que a mente pressente:
- um devir nervosamente ao peito...

terça-feira, 9 de abril de 2013

SOBRE O PRESCINDÍVEL

vão

Não há o que não passe
- amor, dor - e trace

o que não se apague.
Por que então impasse

- se vou, vais - que afague
desrazão de ais demais?...

segunda-feira, 8 de abril de 2013

QUADRA INGLESA

Maggie, rest in peace.
But please, Milky, please
take your ideas with you
(and those policies too).

MIL E OUTRAS NOITES

entre duas vigílias

... e um barco apareceu do nada
- enevoado vaso fantasma -
num sonho em que uma nau naufraga
- tão tragicamente que atrasa -
ao término de uma batalha.

Assim termina a estória rasa
de um couraçado que fez água
boiar no meu sono urinada.

Se outra começa, outra jornada
- do barco que do nada veio
enevoado vaso cargueiro
- o encarcerado mensageiro
do que ao cabo acaba no meio - -

diz Sheherazade assanhada
(em verdade a capitulada
personagem reutilizada)

que outra noite fiz necessária...

domingo, 7 de abril de 2013

A LENTE IMUNDA DA GRIPE

disgusting

Entre os sentidos e o que despercebo
descoordenando o lento cerebelo

congestionando inteiro o entendimento
embaçando, entupindo, entorpecendo

vai escorrendo catarrento, escorrendo
pelo brando e sujo envidraçamento
do mundo infeccionado muco apenso

o periodismo preciso da vinda
virótica que pressurizo ainda...

(apesar do que a tecnologia
farmacêutica expectoraria)

sexta-feira, 5 de abril de 2013

QUAL FUTURO JUBILOSO

sobre o que dói junto aos olhos

O meu velho corpo novo
mais a mim é misterioso
à medida em que de novo
envelheço mais um pouco;

o meu novo corpo velho
renova em mim o Restelo:
- um pessimismo de velho
otimista que conservo;

ancorados neste corpo
os sacrifícios do dorso
farão a história do morto;

liberadas desse vezo
as esperanças de peso
me esquecerão sem apreço...

segunda-feira, 1 de abril de 2013

MUNDO BORRADO DE AMOR

a sintaxe da tarde

A luz deitando a sombra
(à luz deitando a sombra)
[a luz deitando à sombra]

salienta seu mistério.
Saliente-se: o mistério
das duas, luz e sombra

salientes anacondas
nas paredes das fronhas

vazias, compassivas
(exceto em certos climas)

das crases muy amigas
na tarde-alegoria:

- aquelas restritivas
de boa companhia...