quinta-feira, 30 de junho de 2016

SOBRE O PROJETO II

filosofia

Literatura
sem estatura

eu faço

na caradura.

Se encontro espaço
entre cabaços

perduro

qual joão-com-braço.

Como seria
talento houvesse?

Lerias

mas Hermann Hesse...

SOBRE O PROJETO

neste recesso

O isolamento
no acostamento

do tempo

experimento.

O sol de fora
eu dentro afora

relembro

outros momentos.

Que faço agora
correndo a hora?

Descrevo

quais movimento.

ENLUARADOS

Sob a noite
no telhado

vi dois gatos
entreolhados

num silêncio
calculado

entre miados
isolados...

Sob a lua
vi dois gajos

(um malhado
outro branco)

quais pessoas
sossegando

vidas boas
entretanto...

quarta-feira, 29 de junho de 2016

PONDO-SE

A claridade
do sol à tarde

é toda e parte
suas contrapartes:

- jaz sobre as vias
certa aspereza

de luz que cria
à sombra friezas;

- traz das sofias
melancolia

e de estranhezas
mais profundeza;

- faz da beleza
desarmonias

de naturezas
em sintonia...

[mas tais verdades
da realidade

sem agudezas
aceitarias?...]

QUADRA GOLPISTA X

dilemática

A república apodrece.

A sua política puba
o seu sujeito apodrenta
o seu futuro se estraga.

A situação deteriora
a conversa se corrompe
a convivência putrefaz.

A insatisfação fermenta.

...

Há propostas sobre a mesa
que endireitem pela esquerda?

(sob a mesa, há privadas
negociatas de acrobatas

pra repleções instantâneas)

[sob a mesa, há migalhas
que empilhadas viram palha

pra combustões espontâneas]

VISITA RÁPIDA

O bem-te-vi
que esteve aqui

veio de lá
(feito sabiá)

pelo açaí?

Pelo cajá
taperebá?

Um tamanduá
pelos cupins?

(que bicho há
pra outros fins?)

...

Foi por ali
sumido já?

(molhando o ar
me distraí

olhando o mar)

terça-feira, 28 de junho de 2016

TRILHA PRUM PAÍS NOVO

a Egberto Gismonti

Da alma dos escravos
segundo um Orfeu novo

é dança das cabeças
a dança dos escravos

ao sol do meio dia
numa janela de ouro:

- circense fantasia
sonho de academias;

mágico feixe de luz
na bandeira do Brasil...

Das águas luminosas
(casa das andorinhas)

vêm saudações do Carmo (aos)
corações futuristas:

- porém num trem caipira
com sanfona caipira;

nó de sobrevivência
de Amazônias na infância

de água e vinho em família...

segunda-feira, 27 de junho de 2016

REVISITA 143: DUO

a um par de amigas

Juntas aquelas duas, as duas
são as tagarelas do macio;
quando extáticas, palavreiam
gorjeiam os sons do infinito!...

Por entre objetos, acerca das formas
rolam incontidas em prosa; diversas
vão coloridas as ideias; talvez conversa
de sereias, a mim nocauteia - líquida e certa!

(por que elas fazem comigo
isto? - o encanto, à face
à queima-roupa feminino?)

Sério, delas logo atrás passo
zonzo, relembrando o caminho
do percurso silábico acidentado

a prestar atento o ouvido
resoluto ao gozo no riso...

08/12/2001

domingo, 26 de junho de 2016

BREXIT II

Quem quer a Europa

tanto de auroras
quanto demoras

velha senhora

(aquela Europa
fora de moda)?

A sectária
mais reacionária?

A belicista
balcanizada?

A missionária
colonialista?

Civilizada?

Imperialista?

Amedrontada?

Passa da hora:

- quem quer a Europa
velha de volta?...

sábado, 25 de junho de 2016

DO BAILE

No descompasso
inevitável

de onde repasso (o)

tempo no espaço
todo que sonho

inabitável

[seja medonho (ou)
admirável]

me desenfronho

de uma balada (a)

outra levada
daquela dança

por onde avanço
na corda cambo

de pedra bamba
que me emancipe (e)

por outro esquife

recorde um samba.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

SEXTILHA RECIDIVA

do lide da série
'meu passado vos pertence'

Quem eu fui, não fui mais.

O que fiz, fiz jamais.

Quando à beira do cais

onde foi, adernais.

...

Como então ademais?

(porque falo demais?...)

terça-feira, 21 de junho de 2016

REVISITA 142: JÂNGAL

O búfalo do interior escuro, impaciente adolescente,
assedia-me; as cordas que o retém, no seu esgarço,
testemunham - tão pessoalmente - uma indisciplina
minha, familiarmente velhaca - e farta de cansaços.

Vem o monstro rápido à lisa superfície, cão negro
sem peso; da minha alma agastada, traz nenhum remorso;
resoluto, pisa os meus pruridos; se fraco lhe abro porteiras,
abala agradecido a carreira, como se me considerasse...

Esse búfalo do interior escuro, em largo movimento
amassa delicadezas de relva virgem; despedaça cores
de mimosas flores; mas, na minha dor aguda

que aos sentimentos anula, à passagem da fera,
pontua estreito o desejo - nela impulso, em mim desespero
- de abrir por dentro um caminho...

07/11/2001

segunda-feira, 20 de junho de 2016

CONJUGAL

O vácuo

incluo
no duo.

O vácuo
possuo

do duo.

Do duo
no vácuo

recuo
e amuo:

- se cruo

me excluo.

domingo, 19 de junho de 2016

REVISITA 141: RECONHECIMENTO

Vezes te pressenti, dos escombros
de meus vários sonhos; aos pedaços
vinhas intuída; proibida ao ouvido
sopravas um canto desconhecido.

Teus olhos, tão com outros confundidos
já os vira; como lanternas, padeciam
atirados à escuridão mais espessa
(mas acima
de onde afinal sempre intuíra).

Agora te materializas, encarnada
em mulher de fases várias! Dona de luas
das largas faces que ocultas...

Estremeço! Medo eu teria até quando
sobre a caverna, e por dentro dela
façamos - dos escombros - teu castelo.

24/03/2001

sábado, 18 de junho de 2016

DA ESTAÇÃO

O sol do inverno

exterioriza

um grilho interno

que dói à vista

(pelo que perto

significa)

quinta-feira, 16 de junho de 2016

PASSAGEIRO

A sensação que tenho
do tempo acelerando

avessa ao andamento
do tempo ponderando

a cada momentâneo
tropeço extemporâneo

(comigo recorrendo
inútil contra os danos)

não causa desespero
nem tira o sono quando

os dias sucedendo
estreitam cotidianos

há muito, muito tempo
desde os primeiros anos...

[tal sensação contenho
novel recomeçando

a lembrar de recreios
sonhando veraneios

sujeito a veteranos
do mal-estar humano

que avento passageiros]

quarta-feira, 15 de junho de 2016

REVISITA 140: VINDO

... às vezes numa via do futuro imaginado
o carinho breve de um par de mãos amigo
pressinto sempre vindo comigo encaminhado
entranhando estrangeiro um círculo de erros
preso ao carro passado girando infindável
o aparato dos ventos à margem de destinos
onde paro e desatino ao penar pela estrada
a pensar do que morreria se de mãos
estranho fosse se sentisse engordurado
a nuca enrijecida num intento que abrisse
outra via entorpecida de conforto encorajando
essa ida antecipada enfim ao dia curvo
do qual derraparia para além do curto
circuito onde erro a ermo aquém dos sonhos
cárceres onde morto vivo quando então
liberto de carícias privaria...

05/06/2001

terça-feira, 14 de junho de 2016

TEMPORAL

Se tudo precipita
o que desacelera

eu mesmo de visita
nativo desta terra

se mesmo de visita
o que desacelera

eu tudo precipita
nativo desta terra!...

REFLEXÕES

Os textos externos
ao mundo moderno

(pesados cadernos
do céu e do inferno)

releio-os eternos
arcaicos, hodiernos.

Os textos internos
(de fundo materno)

que escrevo fraterno
num caderno aberto

doem-me o esterno
de comoções ternas:

- talvez por reflexos
côncavos, convexos

de textos externos

[recôncavo o nexo
de fundo complexo

no mundo moderno]

domingo, 12 de junho de 2016

sábado, 11 de junho de 2016

GÊMEO

Da luz
no ruz

Ormuz
aduz

que Arimã
de manhã

(louçã)

seduz.

...

[o abenuz
que reluz

marfuz
só amanhã]

sexta-feira, 10 de junho de 2016

REVISITA 139: UMA VOZ DE MULHER

Mulher, a tua voz, tão doce,
é tão adulta! Terna e crescida,
sempre premia, séria a carícia,
meu premido ouvido ao telefone...

Voz madura! Mas de onde
imagino senhas a um amor insone
consumindo-se, já em vigília eterna,
vela mais amarela no escuro de mim...

Materna, sim, a tua voz não destrata
a minha palavra! E às vezes consolos
ela sussurra, algo desconsolada

quando assustada; e quase reclama,
rouca a garganta, em divina afonia
- "que loucura tua!" -, a minha!...

06/05/2001

quinta-feira, 9 de junho de 2016

PLURIDIMENSIONAL

portanto, paciência!

O tempo da existência.
A existência do tempo.

O tempo da experiência.
A experiência do tempo.

O tempo da exigência
- já exigência do tempo.

O tempo da expediência:
- a expediência dá tempo

(há tempo experimenta)

quarta-feira, 8 de junho de 2016

QUINTA COLUNA

a quem, da cúpula
do governo Dilma

vestir a carapuça

Na cobrança do escanteio
no fim do segundo tempo

- quando o efeito faz seu arco
e o arco traz seu defeito -

surge um cara ali no meio
da zaga - como um zagueiro

alto, largo, sem embargo
contra qualquer contratempo

que abandona seu goleiro...

No gol-contra da derrota
da vontade impenitente

(daquela que logo arrota
seu fracasso indiferente)

o motivo da chacota
(da vitória na maciota)

foi achar que quem defende
só defende (você entende?...)

Quem defende, quem ataca
quem se esconde, quem destaca

entre todas, sua jogada
- ao realizá-la contrária -

considerando a pelada
sobretudo pela pátria?...

Se a disputa andar sem rédea
a despeito de laborar

haverá um filho-da-luta
sempre silvério, um calabar

sem respeito pela várzea
- mas que o bom senso reputa -

pra jogar ali no meio
(brasileiro ou estrangeiro)

e entregar o time inteiro...

terça-feira, 7 de junho de 2016

segunda-feira, 6 de junho de 2016

AGONÍSTICA

A princípio
aos domingos

(passadiços
precipícios)

pouco, nada
de palavras:

- o que abraça
particípios

em deslavras
sucessivos

(cruzilhadas
opressivas)

tempo espaça
excessivo.

...

[presumido
descrevendo

nada novas
algazarras

num crescido
quase horrendo

quanto velho
seu contexto:

- o que espalhas
a contento

entre as almas
e o momento

junto à calma
e ao tormento?]

...

{brota disso
dobradiço

depois telas
destravando

brancas, pretas
cantilenas

mariposas
enganando

do que esposa
borboletas:

- papeletas
de que ainda

vale a pena
dar notícia}

domingo, 5 de junho de 2016

REVISITA 138: O ABISMO

Do abismo, só um sopro
percebo ascender sob o rosto;
careço a coragem tal, fugidia
de medir-lhe a profundeza:

- no poço coração, infinita.

Do penhasco, evito a beira
a acrofóbica ventania;
a imensa atmosfera, rasteira
insidiando-se cobra espiral

enroscando o meu passo.

Da luz, esvaindo-se horizontal
lamento os dias, muito úteis
divagados perdidamente:

- lembrança do quanto o amor
me amou a si somente.

[na escarpa, é o nada
todo o medo da morte
descoberta de frio;

do fim, só temo, hirto
a sua demora gelada]

04/08/2000

sábado, 4 de junho de 2016

FÉ NA RAZÃO

[razão da fé]

Na luz

o ser

deduz

do ver.

...

[da cruz

o ser

reluz

a ver]

PASSADO

Sábado (o) sono

tátaro fono

láparo tono

cágado zono
sáfaro cono

(sábado mono)

[domingo (o) sono]

sexta-feira, 3 de junho de 2016

DA MESMA MOEDA

Sexta-feira.

A semana

que se inteira

prazenteira

de sacana

doidivana

se apresenta:

- caravana

trabalheira!...

quinta-feira, 2 de junho de 2016

PARADOXO AMAZÔNICO

da conservação da extinção
(de sua exploração)

Pirarucus

tucunarés

curimatãs

ou tambaquis:

- sedes de cá

cozem ali

fomes de lá.

Mais outra vez

tão-só manás

- o que os mantêm?

Se àqueles reis

fores atrás

irão também

peixes demais.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

O QUE VEM, BOM TAMBÉM

de um estoico epicurista

A quarta perdida
sozinha entre os dias

sozinho me deixa
com duas ameixas

com três novos versos
(nenhum submerso)

e algumas imagens
(por volta das quatro)

todas de passagem:

- mas nada de fato
retorna mais caro!

[de ameixas, desgosto
de poemas, a gosto

os quadros, suporto
- se dados, a rodo!...]

...

{há quarta pedida?...}

JOÃO

Pedro, Antônio

Do punho
junino

de cunho
joanino

meninos

rascunho

divinos.