quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

TORPEDOS XVII

... sangue /
murmurante /
espada /
flamejante: /
a memória /
tesa, flácida /
da refrega /
doce, áspera /
da espera /
encontrada...

25/02/08, às 13:59:06

***

... a consciência /
do que aspiro /
não é a mesma /
da que expiro: /
a diferença /
está contigo...

25/02/08, às 18:15:36

***

... teus olhos /
inda nebulosos /
e orvalhados /
(recém-acordados) /
residem rotineiros /
(da retina vizinhos) /
no meu dia ao meio...

26/02/08, às 11:30:49

***

... nas Casas Bahia /
junto à freguesia /
da sala, da cozinha /
da lavanderia /
morro em pé, nesta fila /
só por tua companhia...

26/02/08, às 15:35:15

domingo, 24 de fevereiro de 2008

TORPEDO XVII

... teu perfume /
(meu costume) /
alimenta /
a presente consciência /
dessa calma abstinência: /
a certeza /
enfim de resolvê-la...

22/02/08, às 10:33:37

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

TORPEDO ZEN

... hoje medi /
e meditei /
(e se vi /
aí não sei /
mas revivi) /
sentindo que /
por ser daqui /
a bem querer /
reconheci...

20/02/08, às 14:16:44

domingo, 17 de fevereiro de 2008

TOMADA DE POSIÇÃO

Sem televisão: contato mínimo com a conjuntura
Sem pressa - na superfície passadiça que perdura
As mãos nos ossos da estrutura

Yôga, descompressão, literatura
Conversação com quem me atura
Delicadeza, antevisão, compostura

Paciência:

- Desta vez, eu no comando
das exigências do que amo.

LONGÍNQUA

Longínqua, és linda
Hipermetropia; nuvem
Cujo cinza esfria, algodão
(quando à mão convém)
Que baixo principia solidão;

Longínqua, dali turvas
Mil atenções das curvas
Untadas de neblina; os sãos
(os que desviam de antemão)
São teus fantasmas nesta via;

Longínqua, de lá secas
Minha língua paladina
Para coisas que se ditas
(inações correspondidas)
Pelas coxas trairias;

Longínqua, és olímpica
A quarteirões de vista:
- Se dura água-marinha
da razão mais cristalina
por que tanto quererias
tão errada companhia?

- E longínqua dos meus dedos
(da beleza dos momentos)
maldirias a rotina
da delícia dos folguedos
requebrando os brinquedos
redeixados ao relento?...

- E mais longe, indiferente
à coisa vária que altera
de remédios a comédias
que questões esquecerias
(quais senões recordarias)
da gravidade que encerras?

Longínqua, seda fina
Se quiseres, mais ainda
Ser pandorga pela vida
(tua turística ambrosia)
Solte a linha, solte a linha!...

(daqui, maravilhado
do teu poder multiplicá-lo
Dédalo enraizado
torcerei por um bom clima)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

GRAVIDADE ZERO

Enquanto, recoleto
Repasso, circunspecto
Os mínimos parvos gestos
Do trivial funcional no deserto

A menos de um centímetro
Do imenso inteligível
De um ângulo apreensível
Do âmbito hipodérmico insensível
Que anestésico sinto

Desmorono, suavezinho
Retroativo - retrospectivo

Sem empuxos, repuxos, muxoxos
Parco, solto - graniticamente disposto
Numa linha do destino, opaco
Vezes asno resoluto

Até o vácuo absoluto
Dos órgãos pulverizados
Dos acórdãos etéreos

De gravidade zero:

- Onde a casca-pólen que removo
de novo, menos leve que fútil
não é exatamente breve
(posto que útil)
para os fins a que serve.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Poema da hora

a arte de perder, na célebre apreensão de Elizabeth Bishop

"Uma arte

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio da mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

- Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escrevo!) muito sério."

Elizabeth Bishop, O iceberg imaginário e outros poemas. Tradução de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 309.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

TRANQÜILO DESESPERO

Um silêncio
Inocêncio
Invertido.

O que tenho
Vertido
De um lago
Desconhecido
Por um lado
Invisível

Deseja

Irreprimível

Que nada aconteça

(além da presença
do indizível).

***

Demônios
(acredito)
Não assomam
Distraídos;

Demônios
Infernizam
Num suposto benefício
Da eternidade que aguarda
(os seus filhos)

Para depois do precipício.

***

Alguém
Sussurra

(comovido)

Uma surra
Do espírito.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

HIC ET NUNC

Achei que ia.

Achava que indo
Vinha - uma saída.

Vez saído
Resolveria?

Pois fico. E peço
Ajuda ao cafezinho:

- Inda vívido
o vivido.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

EXPOSTO II

O templo, imenso
Não tenho
Como guardá-lo, todo
A contento.

São uma, mil portas
Várias, as formas
Das frestas, fissuras
Janelas, aberturas

Por onde vem, soturno
O adubo
Da treva
Que opera:

- O cão negro de Churchill
(e branco, meu poodle).