TERCETO CONSEQUENTE

[onde mui

depois rui

antes pui]

QUINTILHA CONSEQUENTE

A lua

à rua

(se nua)

tatua

(de lua)

SEXTILHA CONSEQUENTE

[antes quase

depois ante

(pois de fase

mal durante)

jante a frase

qual sedante]

DUPLA QUADRA CONSEQUENTE

[se azulou

sobre o mar

no pomar

sob o ar

de pousar

e cantar

ao voar

azulou]

QUADRA CONSEQUENTE

[do que flui

antes fui

algo mui

(porque flui)]

SETILHA CONSEQUENTE

... portanto

(enquanto

o encanto)

eu canto

no pranto

(o espanto

portanto...)

DA BIBLIOTECA

no segundo andar

[o murmúrio

dos meus livros

no silêncio

dos ouvidos

faz de outrora

o barulho

do que é agora

surdo-mudo

pensamento

ressentido]

DA GARAGEM IX

[este horário

arbitrário

de operário

dromedário

(funcionário

solidário)

foi criado

solitário

por um mário

mobiliário

ordinário

proprietário

corolário

salafrário]

DUPLA QUADRA SOBERBA

[ano a ano

cotidiano

mano a mano

soberano

eu me ufano

pelo cano

herculano

desengano]

QUADRA POR SAÚDE

[a virtude

da quietude:

habitude

da atitude]

DUPLA QUADRA NA GARAGEM VII

ao trabalho

Da manhã

na gruta

a maçã

pra luta

(hortelã

cicuta)

o divã

desfruta.

AO AMIGO INVISÍVEL

Maury

A verdade

da amizade

dá saudade:

- da bondade

suavidade

claridade

lealdade

qualidades

da metade.

QUADRA MINERAL

da garagem

[nessa pedra

a rachadura

que não medra

é fechadura]

NA GARAGEM XXVIII

Às vezes mal

acidental

a luz do sol

ricocheteia

raio farol

no chão coral

desde o arrebol

e me encandeia

do que clareia.

DUPLA QUADRA CARA

sob o céu

Neste azul claro

de um frio raro

sem anteparo

eu me reparo

o desamparo

o despreparo

que mal encaro

(mas escancaro)

QUADRA MATINAL

[ouço um pio

sobre o fio

sob o cio

como um mio]

MEU MISTÉRIO DA GARAGEM

[a caverna

toca um nervo

que conversa

com eu servo

de um acervo

que conservo

sem lucerna

nem lanterna

mas poterna

num caderno]

SEXTILHA PEDAGÓGICA DO PRESENTE

questão

[até quanto

há docência

por enquanto

inocente

de impotência

indecente?...]

DUPLA QUADRA DA FRENTE FRIA NA GARAGEM

tempo encoberto

Abaixa

o teto

na faixa

do quieto.

(nenhum

inseto)

[algum

discreto]

NA GARAGEM XXVII

às aulas

[a volta

que vulta

me salta

me solta

me pauta

me pouta

me malda

me molda

me multa

(envolta

de bosta

que custa)]

SOBRE O CORTE X

às enfermeiras e auxiliares de enfermagem

que me cuidaram, meu reconhecimento

Vossas mãos

e olhares

e atenções

(milhares)

[bendições

aos ares]

desviaram

agulhas

de dores

(algumas);

desfiaram

de flores

cambulhas

de estórias

de lutas

condutas

cicutas

escutas

permutas:

- memórias

maduras

que bordam

(transbordam)

em cura.

DA UTOPIA

frente ao clima

Frente fria

que se enfrente

descontente

rente ao dia

que se tente

rebeldia

logo à frente

não seria

de repente

nostalgia

decorrente

do que havia

no presente

que o regia?

(que à gente

excelente

hoje em dia

previdente

ventania

calafria

inocente?...)

SOBRE O CORTE IX

95 dias depois, uma hipótese

para a minha ignorância

Há proximidade

com intimidade

sem conhecimento.

Há proximidade

com intimidade

com conhecimento

da dificuldade.

Há proximidade

com intimidade

sem conhecimento

do seu fundamento:

- a proximidade

da oportunidade

de um falecimento

passa na verdade

do seu movimento;

passa da verdade

do seu passamento.

QUADRA LIVRE

[por ninguém

ser de algum

sou alguém

de nenhum]

QUADRA NOSTÁLGICA

[a coisa

de outrora

pernoita

na aurora]

SETILHA NOSTÁLGICA

[a luz

mesma

conduz

erma

a cruz

que esma

a perda]

NOSTÁLGICA

[parida

no instante

da noite

durante

madruga

aurora

em dia

de outrora

na manhã

tardia

em fuga

de agora]

SEXTILHA ROCOCÓ

hoje

Há copa

de nuvens

à moda

de Rubens:

- a coda

of burdens.

POEMINHA DE SEMPRE

O tempo

que passa

há tempo

perpassa:

- atempo

me passa

retempo

traspassa

trastempo

repassa

destempo

trespassa

há tempos...

...

(a tempo

o tempo

compassa?...)

EXTEMPORÂNEA II

Quando o encontro

que desponta

desencontra

eu o encontro

doutra conta

noutro ponto

que outro conto

reencontra:

- não do contra.

UBÍQUA

Para além

deste aquém

não há quem

do vaivém

se abstém;

e também

não há quem

(do porém

que contém)

se convém.

DUPLA QUADRA SOBRE O CORTE V

de momento

Meu corpo tornou-se

uma caixa menor.

...

(o corpo portou-se

porque encaixa melhor)

...

[o corpo cortou-se

do que enfaixa ao redor]

...

{o corpo enformou-se

e me cacha ao se expor}

QUADRA DE AURORA III

[vem que finta

bem que pinta

sem que sinta

nem que minta]

EXTEMPORÂNEA

[o vento

undívago

do tempo

nubívago

daquele encontro

tardívago

reencontro

no vácuo

deste ponto]

QUINTILHA CHEIA

ao entardecer

Quando deita

o sol deixa

queixa à lua

porque nua

à espreita.

QUADRA DE UMA PAIXÃO TERMINADA

razão

Se meu

céu teu

véu meu

cedeu.

SAUDADES DO TRABALHO

recesso pessoal

Meu ego

que rego

patego

morcego

é cego

de apegos;

tão ego

(não nego)

que alego

pespegos

e ofego

despegos:

- qual ego

pelego

sossego

labrego

no prego

do emprego...

MÚSICA PRA SACUDIR

a Moby

Eu danço

me lanço

e crianço

do avanço

 alcanço

balanços;

mas penso

pretenso

extenso

imenso

distenso

e apenso

que sinto

no cinto

(pressinto

que minto)

o tinto

(do pinto...)

LIGEIRA RECONECTA

[vem do nada

sem contudo

verso ludo

todo furto

na chegada;

verso curto

discrepante

zen profuso

vem ocluso

convergente

se fornada;

o absurdo

obstante

vem-me surdo

num instante

salamurdo

vorazmente

camarada]

SETILHA IMPARCIAL

a Hannah Arendt

[o mal

banal

faz mal

tal qual

o mau:

normal

igual]