quarta-feira, 31 de março de 2021

QUADRA GOLPISTA NA PANDEMIA

64 again?

[trágica
a quartelada

cômica
atualizada

a marteladas;

ontem drama
hoje farsa

traz picanhas
cervejadas

em pijamas:

a mamata
condensada

amanhã passa
na tevê paga?...]

terça-feira, 30 de março de 2021

sábado, 27 de março de 2021

NA ILHA DESTE SÁBADO


[este céu
este sol

o verde
o solo

o mundo


mosquitos
coloridos

formigas
reduzidas

ao fundo


plus the music of Stevie Wonder
(the basic soundtrack of my wonder)


fazem-me crer
amanhecer]

quarta-feira, 24 de março de 2021

QUADRA NECROPOLÍTICA DO CORONAVÍRUS


[trezentos mil
passamentos

opõem-se ao vil
elemento

pró-mercantil
do argumento

mas a meio:

nesse Brasil
de orçamentos

o que veio
mais varonil

que contribuiu
com maus ardis

e adiamentos?]

Síntese maiúscula de nós, por um grande brasileiro

"Nenhum povo que passasse por isso [a escravidão] como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto da nossa fúria.

A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que incandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às mãos. Ela, porém, provocando crescente indignação nos dará forças, amanhã, para conter os possessos e criar aqui uma sociedade solidária."

Darcy Ribeiro, O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 108.

terça-feira, 23 de março de 2021

SETILHA ECONÔMICA DO CORONAVÍRUS

Arbeit macht frei


Assaz o despautério

voraz do vitupério


tenaz e deletério

(fugaz no ministério)


verás sem refrigério:


- se jaz no necrotério

capaz o cemitério?...

QUADRA JUIZ-FORANA À DISTÂNCIA


A casa de repouso
onde a minha mãe repousa

- o que significa
se não dignifica?


[como passou a noite
a minha mãe medrosa

a minha mãe sozinha
entre outras mães vizinhas?]


[como virou-se ciosa
tão longe já das tias

dos filhos repousados
das coisas que então tinha?]


[como entendeu a hora
partida da chegada

ao pórtico do exílio
morada a domicílio?...]


...


[repassaremos dias
lembrando-a aqui fora

de quando mãe formosa
recanto na memória?...]


...


[é isso o fim da lida
da jornada corrida?

seu abandono estria
quem abandono agora?]


[assim é o fim da vida
na portada comprida?

esse abandono esfria
o que o outono agoura?...]

sexta-feira, 12 de março de 2021

QUADRA LULISTA NA PANDEMIA

a biruta vira


Os canalhas
das bandalhas

às orelhas
por guedelhas

de mantilhas
pelas filhas

nas recolhas
põem rolhas

nas trafulhas
de outros pulhas...


[Luiz Inácio:

nos banquetes dos citados
nunca foste um convidado;

gabinetes, aparatos
nunca foram teu espaço;

tuas virtudes, não teus vícios
sempre foram o problema:

desde o início o sapopema
que desloca os saquaremas

racha o piso e os atormenta...]

domingo, 7 de março de 2021

QUADRA ABRANGEDORA DO CORONAVÍRUS

matizes


[tal buraco
é um mundo

a despeito
de profundo

verde-claro
em cascata;

a respeito
degrau desce

um grau fundo
amarelo

que se esquece
escarlata:

parapeito
paralelo

resplandece
camartelo

do ignaro
sociopata]

terça-feira, 2 de março de 2021

QUADRA DIDÁTICA DO CORONAVÍRUS II

sobre a destruição criativa
(ou criação destrutiva)
na pedagogia


O fim de tudo

é o fim do mundo?

O fim do mundo

do fim de tudo?...


O modo velho

ao fim finou-se.

O novo, selho

enfim fixou-se?


O analógico

digital cobra?

Pedagógico

natural sobra?...


(no meio disso

creio que fico?

inteiro nisso

certeiro mico?...)


[o medo disso

desperta o bicho?

ou cedo nisso

deserto o nicho?...]


...


O fim em tudo

do modo velho:

- é assim, no fundo

o escaravelho?