último poema na antepenúltima morada
No topo de uma torre - dessas de celular
que a tecnologia espeta - uns horrores - na paisagem
de toda urbana vizinhança
entardece um par de gaviões carcarás - de passagem
vestidos - magníficos - daquela luz oblíqua
que a todos esperança.
Parecem pacientes - ou serei eu, pormenorizante
observando-os horizontes de um sonho? As asas abrigam altivas
um silêncio alpino - sem o vítreo ruído do frio
porque trópico o sinto. Pressinto-os casal distinto
em sua lógica curva de reta elegância - a despeito da rotina
de pombos e ratos que nossa desordem multiplica
[diga-se, rapina distinta
da sanha imobiliária que nos vitima:
a cidade, a sociedade - diga-se, vizinhas
de suspeita fidalguia].
Ao fim neles, vislumbro - comovido - a economia
dos vôos medidos - sem o desperdício
típico de toda mesquinharia
porque fundo o ressinto. Mal poder isto ou aquilo
por esclerose progressiva - dos projetos de vida
os olhares dissocia - de vontades
em função das atrofias que o tempo assina
(a contragosto, contando as gotas - de tinta)
e ensina.
30/07/2011
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