quarta-feira, 3 de junho de 2015

REVISITA 63: CLARA AINDA DESERTA

Às vezes pressinto, quando alço a vista acima
Da rotina quase prazerosa, pacífica cotidiana,
O que de mim surpreso ainda não veio:

- um gesto cego, no espelho outra sombra
indo além do silêncio leve e tranqüilo
que hoje desfalece poeirento.

Às vezes penso, quando meço o tempo à frente
Do deserto luminoso atravessado na garganta,
No que de ti terá de vir, veio d'água em terra seca:

- a umidade das saliências, o suco das reentrâncias,
a promessa que a fotografia toda sorriso antecipa
do que hoje me impele a braçada na areia.

Amor, às vezes acho que sou tão teu,
Binóculo tão enfocado no que é teu,
Que te enxergo clara, duna ensolarada,
Nos grãozinhos da areada vida esfarelada;

Amor da foto quase poeira sobre a mesa,
Da bruma cega da promessa ainda futuro,
Traga a surpresa-oásis do vir-que-veio-mesmo!
Ao espelho vislumbrado quando alço o eu acima...

19/05/1997

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