quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CEB, SOM E FÚRIA

esqueçam McLuhan

Martelam-nos as melhores crônicas
que a civilização eletrônica

(mesmo o que nela funciona)

ademais demanda eletricidade:

- força eletromotriz
adiante do nariz
(a bem da segurança).

***

Pois bem. Quando dançamos
na escuridão romântica imprevista
típica da quebradiça rotina

escassamente cogitamos

máquinas de toda metragem
postes fincados nas paisagens

estações, usinas, barragens
transmissores - comutadores
e torres - torres, muitas torres!...

(e rios a fio perdidos
em cascatas insustentáveis)

***

E menos pressupomos
(rabos de cães circulares)
tensão/potência/corrente
watts em volta, ampères:

- capacidade de torra
d'além de mais grãos - dos lares
de coisas das gentes (ora
inadvertidamente)

***

Porém trópicos, cerrados
são carregados cenários

de nuvens, agruras e raios
naturalmente desviados:

- onde se abre compassos
entre inações e fracassos
na amplidão do mormaço

e onde depois de refeitas
todas cagadas perfeitas
copia-se à exaustão...

[mau cidadão, aqui passo

***

mas não sem lamentá-lo:]

tétrica, aquela companhia
- desluzida, deletéria, fugidia

dependura minha vida
em linha sem energia;

e pendurada, a dita
engordurada, frita...

domingo, 27 de novembro de 2011

SHOWMISSA

Ontem ouvi
preclara voz do passado.

Embrulhada
em papel acetinado

proclamava
futuro retrogradado.

Quão custoso, todavia
tal espelho:

- se só via acompanhando
o prelado

- que ambula, parafrástico
conservando

- e reunirá, prometéico
anulando...

(entrementes
somente sacrificando)

sábado, 26 de novembro de 2011

SÁBADO

Amanheci lasso, baço
nos braços da transição repentina
da madrugada pro dia.

Hoje por isso passo. Tê-lo anoitecido
na rua sem lua, a idade madura, dá nisso
- cansaço alvorecido.

Até se quer, participativo
da cidade prevista ser visto;

o custo, todavia
não pode transferi-la
a futuro longínquo

(como antes acontecia
 quando jovem o fígado).

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

VIÚVO É O MORTO

a Verônica

Morto não fala. Morto não anda.
Morto não janta.

Não move montanhas
não chove castanhas

não torra a poupança
(decerto em gastança)

não mostra as entranhas
(embora a estranhos... em circunstâncias).

Viúvo é o morto! Nada lhe vem atrás!
Portanto pedimos - deixemo-lo em paz! Se não religião
por uma só razão:

- se morto, tens o pudor
de respeitares a dor

que tão triste mais fica
emparedada no amor

partido que petrifica.

(por isso, mais silencias...)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SOLIPSISTA

Minha poesia - é pequena.

Nela, não há maior tema
- nem poema.

Não inova
não renova
não provoca;

como forma - não vale a pena.

Mas talvez seja
(de vez apenas)

estratagema

contra esta surdez tão pessoal:

deseducada
animalesca

- um cipoal
que atormenta.

(então poesia
de impedi-la que cresça
que prevaleça)

RACHADURA

Tu te lembras
das travessas

bentas eras
que atravessas

- as avessas
a tragédias

quando tragas
essas pedras

das medusas
criação?

Quando enlutas
tua mão

e não relutas?

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

VIVA LITERATURA

a Ana Flávia

Escrever
mais importa que viver?

O que melhor seria? A literária vida
ou literatura vivida?

Ela, tratar-se-ia
de uma dúvida vívida
ou musa que se não duvida?

De dívida - de usura
hipotética?

Hipotenusa
a toda reta?

E mais pergunta
- física? - tísica?
- abstraída?...

Lívido com tanto assombro
(ante o abismo pro tombo)
aliterando escapulo:

- se se não vive
não não se escreve
nada que preste!...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

À TARDE

Após a siesta
(pesada à beça)

abro picada
pela floresta

desta jornada
amalucada:

- fiesta diária
da lida vária...

ÀS SEIS

Acordo cedo
pois tenho medo

do que me perco
depois do cerco

- da noite funda
que me desnuda
todo o desejo
quando não vejo...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

INSEPULTA

Alguém pediu que voltasse
um trem da história.

Solicitou que contasse

uma estória
sobre outrem
de outrora.

(dita cuja
cabeluda
malcheirosa)

- Mas qual, repliquei
se mal as registrei
nos confins da memória?

Enfim resposta
tartamudeei
(discursiva tartaruga de lei)
ao fim e ao cabo pedregosa;

porque tardia embora
menoscaiba querença maldita,

melhor agora - ainda de dia...

domingo, 20 de novembro de 2011

CONTRA O MÉTODO

ao confessor em mim

Ante esta excrescente
complacência indecente
- pegajosa, recorrente

(incidência inconsciente?)

de fim-de-ano-na-escola

que a tudo engolfa
'tupindo aortas
por trás das portas,

irrito as veias
pra que ligeiras

movam obreiras placas obesas:

- toda rasteira... e preguiçosa...

viçosa certeza.

(catraca estreita
que nos espreita)

sábado, 19 de novembro de 2011

PARA ALÉM DE SEXISTA (duas questões)

a Rafaela

Perspectivamente, minha atenção
lamenta sua procura ansiosa;

perscruta a linha enxuta, sinuosa
que se insinua apetitosa; senão

por que seria a vista dadivosa
a mais sentida paixão masculina

pela forma? Prospectivamente
então, que passo reordenaria

essas desencontradas correrias
por marias, letícias, margaridas

à luz de mais razões - mas sem despi-las
das coloridas vias nas quais se dão?...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

TEMPOS DEPOIS

Com sua graça costumeira

- da palavra certeira lavrada perfeita -

minha bela parceira passou por aqui...

Bem-vinda! Que assim seja!...

Tempos depois

Tempos depois, retorno à tela escura com a mesma vontade de esparramar minhas letras. A vida continuou no sábio ritmo de sempre, o tempo passou na mais previsível cadência. Ainda assim, com tudo na exata e esperada harmonia, vejo toda diferença. Porque tudo está diferente. O momento, as expectativas, os sonhos.

Rodei um pouco procurando as letras e, ao juntá-las, não enxerguei sentido. Refiz todas as frases, reli parágrafos, apaguei textos. Quebrei regras, inventei prosas, trapaceei línguas e apaguei tudo de novo. Simplesmente porque foi difícil me encontrar para me trazer de volta. Que encantos me levaram? Que estradas foram essas que me arrastaram para tão longe? Por que meus vôos não me ofereceram retorno?

Enquanto busco entender os recentes capítulos da minha vida, deixo cair os dedos num teclado estridente para polvilhar letras neste quadro negro, que me convida a me expor. E, mais uma vez, como tantas outras lá no passado, cá estou eu a contar o que se passa comigo, a dividir pensamentos, a escancarar de novo meu coração. Se ainda houver aqui dentro um coração a ser decifrado em prosa...

Ju

MICROBIANA

ao querido Pierre

As pequenas coisas
irresolvidas

(pregos sem estopa
mesquinharias)

rolam da mesa, saem da vista
todos os dias;

mas se caem esquecidas
entre as sobras da vigília
(hibernais de eras priscas)

pelas sombras, ganham vida;

e retornam, descabidas
entre horas distraídas
(canibais deveras iscas)

devorando caramanchões:

- aqueles construídos nas tendas da rotina
nada gratuita; serões
que animavam salões
minimizando senões - até tal revisita

sísmica, fortuita?
Dos bichinhos-papões!...

terça-feira, 15 de novembro de 2011

NUMA (RESOLUTA) TARDE AQUI DENTRO

Já que o vento externa sua discordância
quanto à minha singela, cotidiana

interna andança pelo jardim,

avento que sim - o frio cinzela
o dia de hoje como caverna:

- quando cabe agasalhar-se - e a ela
primeira idéia a abandonar-se

- a inércia.

AMANHÃ DE NOVEMBRO II

Melancólico, o tempo
quando empoça-se chovendo;

empoça-o, esse banho
poeirento de antanho:

- pois memória, rediviva
entre paredes do crânio

(esse vácuo, que aninha
só relíquias, por enquanto...).

domingo, 13 de novembro de 2011

ANONIMATO-ME

Quem me lê?

Quem me vê?

Quem me antevê
e prevê?

Que me quer ver
na tevê?

E me bem ter
para ser...

(co-erguer
deste obscuro buraco

eu e você)

VITAE

Que currículo?

Vivaz
ou vivo?

Atrás
ou isto?

Capaz
ou misto?

Detrás
ou visto?

Antraz
ou minto?...

Qual registro?

THROUGH THE NIGHT

A medida da madrugada
(creio, confiante
de sua firme espessura opaca)

é seu avanço pela alma desarmada - esperança

de que pouco será mais que nada - o bastante
para atravessá-la

- a palavra.

sábado, 12 de novembro de 2011

AMANHÃ DE NOVEMBRO

Que suave luz é esta
tão claramente bela

que se traduz em brisa
(ôndula partícula)

e tudo textualiza
(obreira indistinta)

de funda alegria?...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

B-52

Chegou a hora de deixar
as bombas todas no hangar.

Voar leve
(sem brevê que o carregue)

segundo carta doutro plano
anteposto - deste ano anticorpo

(vez que o mapa de antanho
esqueceu-se, descuidado
coisas tolas em contrário).

Chegou a hora de largar
a tralha toda num lugar.

Voar breve
(sem querer-se muito alegre)

porque amanhã, quando, quem sabe?

(se ascendente branco ultraleve)

domingo, 6 de novembro de 2011

ASSIM

Cansei de esperar por estas pernas
desejarem caminhar enfim despertas

ao encontro do mar sóbrio de horizontes.

São todos interiores - os muros, as escarpas, os aclives
que somados a deslizes

fincaram-me aqui arborescente

e lentamente - numa indolência virtuosa que desmente
uma antiga urgência dos porões incandescentes

desta casa outrora incendiada - mas agora

parecendo sólida e segura - a porta

amadurecendo a fechadura...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DISCREPANDO

Finados, como esperado
taciturno e bacento - pro gasto

colide comigo avesso
doutro pródigo feriado.

O café eufórico - que faço
sorvido é de pronto - amargo

a ponto de servir aos biombos
com que divido os humores

- as decorações interiores.