sábado, 31 de outubro de 2015

SÉTIMO

quadra quádrupla do descanso

Sábado
cágado

sábado
láparo;

sábado
cânhamo

sábado
pássaro!...

Sábado
tálamo

sábado
bálsamo;

sábado
cântaro

sábado
bárbaro!...

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A INVENÇÃO DA VIDA

A vida é uma invenção
(vez brotado o seu grão)

por ação e omissão.

O seria?
Poderia?
Deveria?

[a teria?]

- tais as questões da poesia
(aquela especulativa)

de sua filosofia.

A sua precariedade
(ontológica)

a sua impessoalidade
(estatística)

a sua amoralidade
(antisséptica)

não dizem que sim, nem que não

(não falam por si, nem que o são).

...

[vez brotada a invenção
da omissão como ação

toda vida é viva?]

...

{se eu inventei a minha

e por aí caminha

que distração a minha!...}

terça-feira, 27 de outubro de 2015

VOSSO CRIME (ENFIM) COMPENSA

apesar das aparências

Avança a bestialidade
por sobre a civilidade

- sobre as oportunidades
(reais) da virtualidade

por mais sociabilidade.

Inimputabilidade?

[responderão os herdeiros
de segundos, de terceiros

(e por último, os primeiros)]

VIDA COM SAÚDE

questão aos meus queridos alternativos

... o meu plexo solar
irá me ensolarar

caso eu 'manipurar'

quando vier operar
(de complexo a polar)

o convexo ventral

mais latitudinal
(porque crepuscular)

que herdarei afinal?...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

QUADRA (DE ANTES) DA TEMPESTADE

Calmaria
com Maria

acalmaria

(o que armaria)

SOBRE A EDUCAÇÃO

state of the art

Tudo derrete
(senão liquefaz)

ou aborrece
(senão contumaz).

Se se arremete
com paixão audaz

(ou razão assaz)

nada acontece.

[se com confete
então suspicaz]

domingo, 25 de outubro de 2015

REVISITA 103: DATA DOS NAMORADOS

32º poema de À procura de Nefertari

Começaste com Madre Tereza
e o melhor Francisco;
passaste por Nogueira e alguns urbanos
além de Marisa;
ao fim, Gardel e Piazzolla
covardia!...

- na minha alma, eles todos
(passos teleguiados
por teus dedos meticulosos)
entraram de sola!

Assim caída fruta a tarde saborosa
deste dia consagrado ao doce interstício
dos amores não testados, findei rendido
uva esmagada: teu presente enamorado

vinho e passa; tão perfeitamente colado
ao nervo exposto dos meus gostos
(a músculos estendidos e ossos quebrados)
qual vidros claros - limpos, cristalinos
das janelas abertas dos sentidos:

- de onde te assisto espetáculo
imprevisível...

12/06/2005

sábado, 24 de outubro de 2015

REVISITA 102: VÍCIO

30º poema de À procura de Nefertari

Já caminhei a eternidade. Sozinho
unindo as pedras e o infinito azul.
Da mente às idéias, delas aos passos
os sonhos gastos de sapatos. E andei

às vezes de soslaio, olhando para o lado
à tua procura: nas ásperas ruas, um desvio
contorno discreto; num fio de beco, o destino
de fazer juntos mil rumos ao paraíso.

A jornada fez-me em pedaços. Encontrei-te
enfim pedaço afiado, ferina defesa de nervos
pretensos de aço. Das fundas cicatrizes

que mal a tua alma oculta, retorna crua
a minha ferida nua - talhe ancestral
dor grossa em salmoura exposta.

19/05/2005

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

AMNÉSICA

Onde foi que fui
ontem, onde fui

que pôs talheres
comes e bebes

(corpos, mulheres)

e foi dito algo
(ad hominem?)

não mui fidalgo

[pois acordaram
desacordarem]

que esqueci hoje
de lembrar onde

fui - e foi ontem...

{será anteontem?}

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

QUADRA DA SENSATA INSIGNIFICÂNCIA

Penso o tempo numa escala geológica.

Penso o espaço numa escala astronômica.

No entanto, nesta lida microscópica

são apensos de uma vida econômica.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

REVISITA 101 - POEMA BOBO DE AMOR

28º poema de À procura de Nefertari

Quando és doce
em tua voz aveludada

abre-se, no ouvido

o Paraíso
das Mil e Uma Possibilidades
de Felicidade.

Por tão pouco
- duas palavrinhas carameladas

ressuscita-se, no peito

os Tambores
das Mil e Uma Batalhas Travadas
no Passado.

Porque teu poder
de mulher sobretudo amada

semeia, invencível

o Destino
das Mil e Uma Venturas Sonhadas
por Nós Dois.

16/05/2005

terça-feira, 20 de outubro de 2015

O QUE FICA DE CECÍLIA

a Cecília Meireles

O que ficou de Cecília?...

Da  pessoa lírica
a quem eu amaria

(a que eu procuraria
saber se existiria)

se nos emparelhasse
a época devida?

O que ficou de Cecília

que desemparedasse
a pessoa física

(a que eu procuraria
saber se me amaria)

que atravessou a vida
ao lado da poetisa?

...

O que fica de Cecília

cerzida na poesia
que sonho à revelia

de sonos e vigílias?...

domingo, 18 de outubro de 2015

DOMINGO OPOSTO

e justaposto

Ah, o meu domingo

quando moroso
quando corrido

enquanto ocioso
enquanto ativo

(e remoroso
até que findo)

é delicioso
é deleitoso

apolínico

dionisíaco

cafeínico:

- como um amigo
que espirituoso

materializo!...

sábado, 17 de outubro de 2015

REVISITA 100: PELA GRAÇA DE SER INTEIRO

27º poema de À procura de Nefertari

Neste espaço em que o tempo não anda
árvore enraízo; e fixo, fico toda a vida
por teu pouso cansado de pássaro a ermo
esperando errar de galho, de outro caminho

errado, do rumo equivocado, tocar distraído
o plano físico; que, num planar alquebrado
de tantos infortúnios derivado, esse vôo ferido
enfim chegue, no exíguo segundo, ao meu ninho...

Por enquanto, tudo o que sou sob o céu limpo
é um meio copo vazio: a metade do teu amor
querido, mil vezes perdido entre mundos

esquecidos do seu contrário - deste, suspenso
no tempo que não anda, no mesmo espaço
em que eu - ninho e pássaro - seria ao teu lado.

15/05/2005

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

RETIRO

Exausto

de viver

o excesso

de assim ser

meu Fausto

descansa

egresso

da ânsia

de morrer.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

QUANDO QUATRO SÃO CINCO

ritual significante

Para que algo faça sentido

além de pensá-lo preciso

contemplá-lo perspectivo

noutros quadros sem ressenti-lo:

1. o interior e constitutivo;

2. o anterior e substituível;

3. o posterior (re)constituído;

4. o exterior (in)cognoscível.

...

[mas se quatro são cinco, o digo?...]

TOMARA QUE GAIA

Um vento de praia
avoando jandaias

a tempo se espraia
maturando uvaias...

Como se cabaia
tomara-que-caia

desarma atalaias
perfumando as aias

rearmando tocaias
antes que o sol saia

se da mesma laia...

[por baixo de saias
sua viva azagaia

convida à gandaia]

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

terça-feira, 13 de outubro de 2015

CONSTRUCIONISTA

As coisas não são o que acontece.
As coisas mais são o que parece

que em vão editamos mentalmente

- pois mal publicamos entre a gente.

[é coisa que objetivamente
subjetiva o que então percebe]

...

As coisas são mais o que aparece
pelas fendas (convenientemente)

dessa precariedade consciente

que fragmentariamente tece.

domingo, 11 de outubro de 2015

QUADRA DA VIA RENOVADA

finally

To run again
(although in pain)

- what a joy, hein?

[enjoy the rain]

CIÇA

um mês

Mama, peida, caga
dorme, acorda, baba

- e o avô, a cada
coisa feita, nada

nada, nada, nada

muda sua fortuna
bem-aventurada

[rediviva a graça
pequenina o abraça]

sábado, 10 de outubro de 2015

SOLIDARIEDADE

1. Faço minhas tuas palavras
teu esforço de enunciá-las:

- o verbo, desde o princípio
(se junto dele um princípio)

distingue, quando explícito
as valas dos precipícios...

2. Faço minhas tuas palavras
difíceis por necessárias:

- mesmo instrumentalizadas
contrastando as palatáveis

nos discursos aceitáveis
(sobretudo os detestáveis).

3. Faço minhas tuas palavras
mormente as encalacradas:

- aquelas assujeitadas
a nada significar

além do que é protocolar
segundo os mestres do lugar.

4. Faço minhas tuas palavras
se forem esculachadas:

- se quando o que se apalavra
de manhã, à tarde lavra

enfático o duplipensar
como prática regular.

5. Faço minhas tuas palavras
as poucas que te são caras:

- as boas articuladas
em favor de poder dispor

seu contrapoder ao favor
malevolente de um senhor...

6. Faço minhas tuas palavras
no esforço de não calá-las:

- o verbo, desde que o sinto
o penso, neste finito

invólucro em que existimos
com capricho, como bichos...

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

REVISITA 99: SONETO DA (E)TERNA LUTA

26º poema de À procura de Nefertari

Desta veia que arde e esvazia
parada, azul, inquieta, luzidia
e agora fria - cirúrgica e fina
lâmina, cruelmente fria

todo o percebido, infinito em parte
sinto mares, florestas, rios
e vales, montanhas, abismos;
amplas as gastas planícies desertas

de sentido do que verde aspiro
do árduo sol diário, e à noite
enluarada de sonhos constitutivos

do meu par contigo... E o percebo
maior ainda, na perspectiva
dessa veia nunca abandonada.

14/05/2005

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

SONÂMBULA

trágica a farsa

Aquela marcha
que muitos marcham

por ser marcada
(os passos acham)

poderá levar
tempo pra acabar

ao acordarmos

[se recordarmos
quando passará]

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA

quando Messi se machuca, não há chuva, nem Pachuca...

Espero que um dia Lionel

se torne o Senhor dos Anéis
da arte da bola nos pés:

- eterno na imaginação

(com a ajuda das invenções
tecnomágicas de então).

O espero porque o que Lionel
mais tem oferecido, e a nós

(amantes de um ludopédio
a anos-luz do que é médio)

um dia nos deixará sós:

- se hoje órfãos de uma contusão
amanhã permanecerão...

[tal como de Diego e Pelé
(nossos ancestrais lembrarão)

somos penitentes até]

terça-feira, 6 de outubro de 2015

SEXTILHA DO FIM DA SECA

antropomórfica

O céu pesou
de não aguar

e começou
a desaguar

no que secou
do seu pesar.

NECRÓPOLE CANDANGA

O Campo da Esperança

na ponta da outra Asa
(ali, outra morada)

daqui, é o fim da dança.

...

O Campo da Esperança
vejo com desconfiança:

- desde que, na Esplanada
pouco havendo, aventava

se o que via era nada.

...

O Campo da Esperança
me espera desde criança

desistir da Asa Norte:

- abandoná-la à sorte
da vida precipitar

(num vacuum crepuscular)

pela hora da morte!...

...

Do Campo da Esperança
no Setor Hospitalar

guardo alguma lembrança
de fundo domiciliar:

- antes, coube esperança
(sobretudo especular)

por nascer planejada

esta velha jornada...

domingo, 4 de outubro de 2015

REVISITA 98: HIATOS

24º poema de À procura de Nefertari

Entre ontem, hoje, há pouco e agora

minha memória de ti próxima
(cheiro, textura, a luta morosa)

[da recorrente noite interrompida
sonhando feliz pela manhã fria]

irrompe a tarde monótona, e desloca
tácita a palavra; afortunada, a roda

gira pensamentos, revira sentimentos
incertos do conforto em torno do teu corpo

pleno de um sentido indo e vindo:

- por aqui, ali, adentro e afora
lembrados alongados pelas horas

teus olhos negros - negros sóis tornados
faróis - guiam-me calados de amor...

07/05/2005

sábado, 3 de outubro de 2015

AGORA CORRENTE

e rapidamente

A chegada de outros
- dos outros nosotros

ao finalmente só
originário pó

tão próxima de nós

vem desatar os nós
- agora, correntes

do tempo-semente:

- aquele amarrado
quando adolescente

que uma vez atado
(e reatado, mente)

não passa, na mente...

[de ilusão somente]

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

REVISITA 97: O LADO ESCURO DA LUA CURVA

23º poema de À procura de Nefertari

Filha das noites brancas, a minha amiga
bruma esquina vira no meu encalço;
velha reconhecida, essa criatura
nem sei se é amiga; mas companheira
de eras priscas, é com certeza

filha das noites, dos dias, da próxima
ira; a companheira do meu tempo
neste planeta, deste lado preto
da láctea vida; a visita, quando
lembrando esqueço, da via precária

percorrida - na forma do sono
no meio do dia no corpo de chumbo;
na estreita busca do relógio
nunca à vista; na tarde-marquise
que desaba sem energia

no meu chão firme ainda...

Qual linda Cinderela, paradoxal
pedaço vestido, algemas à vista

ela dança, afinal, a perspectiva

de libertação (afinal)
da Pandora minha dos presídios

neste beco-espaço sideral...

30/04/2005