segunda-feira, 29 de junho de 2015

REVISITA 68: BRINCOS DE ANIVERSÁRIO

Para ornar o sorriso
Dos teus olhos

E as covas onde o meu desejo
- beijo - se perde

(e aparar o que ouves
da música desigual do mundo)

Dois pedaços de lua prata
Seis janelas do fundo azul.

17/06/1997

SERÁ FALTA DE VINHO?

Há um desespero fino
neste sofá de linho

nesse sofá de vinho
que emborco acontecido.

Nesse sofá tecido
de linho amarelado

por desesperos idos
(depois de amarelados)

há um desespero, creio
(receio exasperado)

de falta de sentido.

De um significado
que, bem acomodado

possa, bebericado
ser enfim digerido

ao invés deste hiato
desse vácuo emborcado;

que possa ser sentido
ao invés de, sentado

dissolver-se, pensado
que deveria, vivo...

terça-feira, 23 de junho de 2015

REVISITA 67: GAROTA DE LUA

A menina dos meus olhos não é tão loira
Nem parece assentada.
Mas acredite! É gêmea da garota da lua:
- tem a mente tão caraminholada
quanto dourada, e pura.

Esvoaça entre véus, espreguiçada
Da mesma forma, no banco da rua:
- se sob o sol, imagem tão ruiva
ou enluarada, grega coluna
(alva de tanta brancura)

Não importa: captura a alma num anseio
Que não é mais desejo
- é sonho e loucura!...

02/06/1997

DA RAZÃO MECÂNICA

de estelar distância

Claridade tanta
(matematizada)

de extração quântica
(teórica, aplicada)

na vida penada
(tida cartesiana)

nessa nossa escala
(larga a observância)

escurece os quanta:

- quando e como o quanto?...

- de onde, aonde o plano?...

- quem o quê, portanto?...

[porque, por enquanto
(onda ou partícula)

pouco cotidiano
tampouco ilumina]

domingo, 21 de junho de 2015

SERÁ QUE SAIO?

Nublada e frienta
seca e opaca

passada lenta
(lesa e coçada)

parada esteja:

- manhã de lesma
lamber a pedra

(manhã da mesma
correr depressa)

sábado, 20 de junho de 2015

A ESPIRAL VITAL

É doce esta lembrança
de quando fomos crianças

e éramos só esperança...

Adiante, a recordação
da adolescência em ação

(embora a sua história, não).

Futuros, quando à frente
dispõem-nos diferente

de agora, vãos presentes...

Agora, aquela idade
distante das vontades

(distante da verdade
próxima das vaidades)

impõe-se realidade
picada de saudades;

e o desencanto que vem
o escatológico trem

- é a estação também, meu bem!...

...

[o desenlace, depois
tudo trivializa, pois

não se trata de nós dois]

quinta-feira, 18 de junho de 2015

MAS SERÁ POR QUÊ?

Ando cansado

passo cansado

corro cansado

vivo cansado

morro cansado.

(ando cansado
mas não sei do quê)

[corro cansado
e não sei pra quê]

{irei cansado
mas não de você}

REVISITA 66: DENVER INTERNATIONAL AIRPORT

Se é a mim que mira
teu turbilhão de dúvidas
aquém do mar bravio

- refém da noite escura
da bruma espessa
da vida turva

apague a chama
tome a harpa
bata as asas!

No outro, vasto
lado do continente

(a pé de um pesadelo)

meu sonho-aeroporto
aparará teu vôo

pelo raiar do dia...

02/06/1997

quarta-feira, 17 de junho de 2015

MINHA NETA

A Cecília
conhecida

- a mais bela
- a mais linda
- a mais lida

que poetisa
(senão poeta)

- foi menina
ou moleca?

- foi boazinha
ou sapeca?

- se Cecília
(pois sabia)

mais querida?...

***

A Cecília
que vem vindo

- se poética
ou prosaica

- se moderna
ou arcaica

- ascética
- hedonista

- profética
- niilista

da delícia
tão bem-vinda
que pressinto

é a primícia!...

REVISITA 65: VARAL

A leveza aérea, nervosa, ligeira
com que penduras no futuro o meu presente

(na hora transitória de lua insinuada
entardecendo um tempo sem lugar)

convida certo olhar, que a mim já não pertence
a estender o horizonte, ou ao ventre retornar

***

Minha dúbia natureza vibra a freqüência
do bater elétrico de tuas asas
(o cuidado alegre de tuas lides);

entre as tuas antenas, sob a ruiva coroa
conjugam-se no espírito as tuas idéias
(rosário eterno que à minha vida ocupa)

***

Nas asas de vidro, janelas para o infinito
(fendas por onde passo) um pássaro calo
à noite espantado (nem tanto do espaço)

sob a tenda estrelada onde voa, etéreo
(a pretender teu ventre no leito do horizonte)
num governo que a mim já não pertence...

25/05/1997 

TRANSIÇÃO

o papel branco
a tela branca
caneta branca
teclado branco

o papel brando
a tela plana
caneta manca
teclado quando

o papel suja
a tela pena
caneta vaza
teclado pifa

no papel penso
da tela sinto
caneta tento
teclando minto

o papel dança
a tela avança
caneta cansa
teclando ranço

terça-feira, 16 de junho de 2015

ELAS FOGEM DE MIM

Às pencas, elas somem de mim.
As palavras. E somem assim

- sentidos de frases, sentenças
em versos de estrofes de poemas

quando meu fracasso em lavrá-las
(jazidas ou fertilizadas)

deteriora, indeterminado
indefinindo, incerto e vago

talvez do cansaço - o que faço?

...

Anteontem. Ontem, por exemplo
sumiram. Parecia que iam

em meio a um lamento do tempo
exausto - como em desavenças

expelindo tal descontento
do que significariam.

...

Porque as mediocrizo lavradas
palavras em vão, são difíceis:

- o talento a menos faz crível
seu crivo tampouco acessível.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

domingo, 7 de junho de 2015

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A PREFERÊNCIA É MINHA

embora relativa

Pergunto, vez em quando
sobre Leo e Cristiano.

Me perguntam, todo ano
entre Messi e Ronaldo

- com quem a mais me encanto?

Embora a preferência
entre a força e a magia

por tal arte ou qual ciência
mais futebolística

seja somente minha

a minha (in)competência
cria e conclui infinda:

- mais importa quem, do alto
ao outro, alça mais alto!...

REVISITA 64: PRINCIPESCA

Sob a chuva intensa, parede de um céu desmoronando,
Alagada inteira a floresta, prenhe, inchada de oceanos,
Meu olhar batráquio, encantado, boiando vítreo, extático,
Pétreo te contempla borboleta, princesa dos meus sonhos!...

Sob um cogumelo envergado, no suspenso espaço,
Suspendo as palavras - encerrada a bocarra enigmática
Em dúvidas - embora às tuas asas, submissas borrifadas
Destile, principescas - colar de caricatas gentilezas...

O sapo sapo! que sou aguarda, paciente,
Um arrastar teu de asa, sapiente?
Antes que passe a água, e a borboleta espreguice;

O sapo príncipe? que não pareço barganha, pedinte,
O teu ósculo improvável, haja sapo a engolires
Entre os vários verdes pétreos que remanescem...

23/05/1997

quinta-feira, 4 de junho de 2015

quarta-feira, 3 de junho de 2015

REVISITA 63: CLARA AINDA DESERTA

Às vezes pressinto, quando alço a vista acima
Da rotina quase prazerosa, pacífica cotidiana,
O que de mim surpreso ainda não veio:

- um gesto cego, no espelho outra sombra
indo além do silêncio leve e tranqüilo
que hoje desfalece poeirento.

Às vezes penso, quando meço o tempo à frente
Do deserto luminoso atravessado na garganta,
No que de ti terá de vir, veio d'água em terra seca:

- a umidade das saliências, o suco das reentrâncias,
a promessa que a fotografia toda sorriso antecipa
do que hoje me impele a braçada na areia.

Amor, às vezes acho que sou tão teu,
Binóculo tão enfocado no que é teu,
Que te enxergo clara, duna ensolarada,
Nos grãozinhos da areada vida esfarelada;

Amor da foto quase poeira sobre a mesa,
Da bruma cega da promessa ainda futuro,
Traga a surpresa-oásis do vir-que-veio-mesmo!
Ao espelho vislumbrado quando alço o eu acima...

19/05/1997

terça-feira, 2 de junho de 2015

REVISITA 62: O MAGO

espelho das estrelas

O mago destino,
pintado o caminho,
convida-nos,
prenhe de futuros,
aonde quiseres ir.

30/03/1997

segunda-feira, 1 de junho de 2015

REVISITA 61: NINFAS

Sob a capa estrelada
(da lua nova, imaginada)

que veste de esperança o tempo

te concebo, refendida
(entre rosas, margaridas)

como as ninfas que desejo...

29/03/1997