sábado, 30 de junho de 2012

PASMO

Hoje quis o mundo inexprimir-se.

Quer-se incognoscível
mesmo na superfície
da mais lisa possível

articulada fatalidade
(quão pode a lógica realidade).

Módico, revolveu em distrato.

Seu mau significado, claro
encachoeirou-se, tão encantador
(ao ponto de não mui lamentá-lo)

que fui inundado de amor
por contemplar navegá-lo:

- e tal profundo horror
(em meio à luz da cor)

por me dispensá-lo explicar-se.

[contudo, este minuto
ao fundo irá defunto...]

sexta-feira, 29 de junho de 2012

ESTAÇÃO DAS FLORES

Com o cenho todo brincando
(a querença de outros trincando)

que Vulcano girando o braseiro
do planalto central brasileiro

mais divide conosco
seu azul sem limite...

Quando o verde chuvoso, a visão de Dom Bosco

(do leite e do mel escorrendo
deleites de um céu lazarento)

se vão, aos pagãos dão, então

a festa dos deuses de beiços
rachados da seca lambendo

as dores dos espinheiros:

- para que de tarde da noite em vigília
possa o dia buganvílias coloridas...

domingo, 24 de junho de 2012

BROCA II

Perfuro meus olhos secos
(nesse relento de olhar-se)

do teu mirar escorreito

em queimação devida
à centração da vida

entre os pares.

Que qualidade o ar teria
- sua tessitura entre as partes?

Seus átomos, moléculas
libélulas a faiscarem?...

[perfura o olhar
também o meu par]

{e  por que, Afrodite
de Hefaísto, enfiaste

(como Vênus em Marte)
[entre Vênus e Marte]

um sol em mim?...}

sábado, 23 de junho de 2012

BROCA

Perfura-me este dia
com a ponta do compasso

do ritmo que determina
qual arrisco quantificá-lo:

- tanto naquele, por dele o espaço
quanto da minha monta estipulável.

Há pedras no curso da estiva
e atrasos no que se encaminha
da (má) companhia de atalhos:

- muito agregável esparso
que o acaso objetiva

em algarismos
que me angustiam

quando anotados...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

EM RUÍNAS

... enfim, é tranquilo
viver num período

em que o antigo modo de ser
(de longo e prático declínio)

escancara-se decrépito

e fétido
seu método.

Quando é hora do velho
deixar mestre o recinto?

(antes de alguém mandá-lo)
Pedir prévio o aviso?...

(ao fim, tão egrégio
pacato o processo...)

(o fim é tranquilo)

***

[e quanto aos bárbaros, não
exatamente invadirão

pois sempre aqui entre nós
perfumaram-nos os lençóis]

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O TEMPO II

Posso de fato
- como a pedra, a árvore, o abajur
viver parado
(mesmo estirado).

O mesmo acima - e embaixo. Nos quatro ventos
(a despeito de estações e empreendimentos)

estático. Poleiro
do sonho vário alheio
(às vezes tenho feito).

Estático. Extático também
(em respeito ao significado)

porém de movimento:

do tectônico ao sereno
o único que me interessa
amar de ter, sentir à beça

- o da obra aberta do tempo

(o que desdobra o tempo
do momento primeiro).

domingo, 10 de junho de 2012

RATIO ESSENDI

deste blog

Tanto o firmamento
quanto o pavimento

têm aqui seu centro.

Antropocêntrico
Belmirocêntrico

do buraco negro
do ego ergo, ergo

um contentamento
feito de si mesmo

perto de perfeito...

(embora cético
cênico, decerto)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

VESPERTINA

Oblíqua tarde
incendiada;

melíflua arte
luzidia

da gratuidade
fugidia
da gravidade:

- de raios que caem
mortos à vontade...

(a solar voragem
fuzilando a vista
paralela à pista)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

PRECE MUNDANA

fragmento

... e que a claridade

da tarde
despida

de parte
do dia

permita à cidade

povoar-se
de amores

pra tarde
da noite...

NOTA INTERNA

porque não rio do que sofro

Escrevo do que penso
que sinto que padeço.

Se fosse derradeiro
podia compreendê-lo
(sem a volvê-lo o tempo).

Mas não o é - e o sei.

(e que nunca saberei
a tempo de entretê-lo)

CONSTATAÇÃO II

A divina majestade
da paisagem que contemplo

do topo deste templo
(o mundo em que vivemos)

nesta hora descabida
que me estreita em verdades

é a absoluta medida
da maldita realidade:

- do absurdo que é a vida
em si quando desprovida...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

SEMPRE NUNCA

... se esqueceria o longo brilho
daquele olhar esmaecido?...

[talvez nunca exagero:
- paixões tão assertivas
de modo a colidi-las
com a provecta eternidade do mistério]

Mas retornaria
(sempre que esquecida)

àquela luz profunda toda vez

que estivesse escuro
repensando o mundo...

terça-feira, 5 de junho de 2012

ESTUPIDAMENTE

lúcido rima com estúpido

O que de mim vence
quando beijo o frio

maciço, o altíssimo
muro da realidade
dos fatos empíricos?

A sensatez, o equilíbrio
do que viria com a idade
- o que chamamos juízo?

A mesquinhez da covardia
retravestida de bom senso

(mais uma vez)

a confiar na ação do tempo?

(a sorte - por que a temo?)

[desculpo a tudo
porque pequeno]

OURO E PRATA

Hoje cedo ergueu-se o sol
delicado e sonolento
de um lençol do firmamento

cismado parecendo de servir
o desjejum - um café celestial
como o divino néctar por vir

(um dia especial)

à sua dama alteada
do outro lado do horizonte
que pálida o entreolhava...

Testemunhou o casal toda a criação.

domingo, 3 de junho de 2012

AUTOPIRATARIA

Meus nervos de corsário

(tão frios, modificados
por ânsias e circunstâncias
num então justificado)

são do aço necessário

ao saque - ao assassínio
de todo bom juízo

que me acometa, contrito
no baque deste navio

com a realidade do aviso...

sábado, 2 de junho de 2012

CAMPO DE BATALHA

O chão da mais árdua disputa
se terrão que divide - e racha

razão tanta de estar cabeçuda
quanto ser de paixão desregrada

na luta que acaba nunca
do sacrifício por nada

é o que é difícil de encaminhá-la
- pelo que representa a campanha

por dentro da própria casa:

- o peito da pessoa acertada.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

TRUÍSMOS

A vida é curta.
O tempo, escuro

à distância, apuro.

Mal posso evitar

que se curvem, e me curvem
encurtados - e mais turvem

até que o fim suturem.

***

A vida é bela.
O espaço, claro.

Os segundos, escuto
que bem posso contá-los

minutos - e que minutos
não corram, até que morram

abraçados.