segunda-feira, 30 de setembro de 2013

POLIDEZ

Estreito
ao peito
um braço

sem traço
de abraço
desfeito.

O QUE RESTA DE EMBELEZAMENTO

O calor da tarde nos protege
quando remanescemos inertes.

Abajures escanteados na cal
de pátios enferrujados do sal

alhures, figuramos nesse rol.
Abutres nos aguardam sob o sol

a fito naquilo que movemos
com o fito do empoleiramento.

É o tempo. Nosso lento creófago
é frio - o contrário desse afago

aquecido e enganador. Mas melhor
o embuste transitório do calor

na tarde outonal que se inicia
(mesmo com predadores à vista).

sábado, 28 de setembro de 2013

A SEGUIR

não repetir

Ouço enverdecendo
outro encantamento.

Pressinto a verdura
propenso o momento

vendo a esta altura
amadurecendo.

(contra a desventura
de outra descendendo
um recolhimento)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

É PRIMAVERA

A altura do sol nesta época
- agastada como se um déspota

a chuva acerta, mormente alegra
cores súbitas - súditas delas

heras, buganvílias e bromélias
cheias de formigas e azaleias
e cheiros jasmineiros, camélias
sobre mangas, laranjas, colmeias

rizomáticas atmosferas
apinhadas de larvas e feras

gratas de a distância ser aquela!...

Fim de tarde como meio-dia
à sombra úmida do que estia

até a próxima cortina d'água
tirar rápida da tina fátua

a sorte única de outra mágica...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A CURVA

num daqueles dias

Graça natural
rebenta o cipoal

temperamental;

na boa, de mal
lenta ou vertical

gravitacional:

- tema recorrente, a decadência
decadesce o poema, em conseqüência
de um trema inconsequente, a consciência
evanescente da impermanência...

... (ência, ência, ência) ... Por quais ciências

ecoa múltipla a falência
- e num esgarço de indecência

destoa cúpida a carência
entre as minúcias da existência?...

...

[venta o lodaçal:
onde ponho a cal
medicamental?]

terça-feira, 24 de setembro de 2013

LARANJAS

de mandachuvas

Hidrogênio e oxigênio
enternecidos trigêmeos

provam meu instinto errado;

regam o ferro cerrado
este mês - e nos próximos

o verão de outros óxidos...

ÁRVORE

Pouco importa sair

(da semente sumir)

se o apenas estar

(no perfeito enraizar)

ocupa o tempo de ir

(ao ditoso devir)

e o espaço de ficar

(para frutificar).

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

AMBIÇÃO ENDIVIDADA

A penhora do tamanho
deste agora meu antanho
ano a ano ajuízo a lanho
em prejuízo desse ganho

e no juízo que decorre
mais escorre do que corre
(porque do momento o norte)
qualquer tempo até a morte

[se presságio eu saberia
qual ágio preludiaria
um funeral de estilista]

{pois o normal é debalde
deterioração do molde
e incineração num balde}

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

ZELOTE

Cresce o vigor
junto ao fervor
de um limpo amor
por essa dor;

sem polegar
opositor
a postergar

sinto o calor
confortador
de concordar

reverberar

seja oposto
ou preposto
do desgosto

restaurador:

- a ser maior
nada menor
creditarás
se Barrabás!...

ANTES DE COMÊ-LA

A véspera
amarela

da nêspera
japonesa

(se chinesa
portuguesa

uma gueixa
entre ameixas)

doce deixa (a)
nespereira:

- em madeixas
me sombreia...

terça-feira, 17 de setembro de 2013

ORÁCULO

Amo o Aulete
na internete:
- pai dos burros
intramuros!

Amo o Aulete
de um a sete:
- quando o curso
sem decurso;

Ô Arlete
amo o Aulete:
- nele o mundo
vasto é fundo!...

Quitinete
és o Aulete:
- conténs tudo
eu contudo...

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

FROM BOULDER, COLORADO, USA

flooding

Tenho notícia de uma parte do mundo
que já foi toda deste meditabundo;

triste notícia de um mundo absoluto
passado particípio de onde flui tudo...

Hoje no lugar daquele tempo espacial

devastações culturalmente naturais
(tamanha a racionalidade do animal)

têm consequências tais que se entreabrem pessoais:

- estarão bem?, me perguntei, qual zé-ninguém
em sua mais alta insignificância zen;

- estarão todos bem?, reperguntei-me again
na intenção de saber sem tenção de escrever

e contato fazer - na paralisia
desavergonhadamente irreprimida

face ao que contudo foi e devastei-me...

sábado, 14 de setembro de 2013

RECONHECIMENTO II

... na velocidade
da mundanidade

jaz o meu respeito:

- já que a realidade
perceber direito

me desfaz inteiro...

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

DA EXCELÊNCIA

dos excelentíssimos

Ao soberano rebanho

dispensamos atenção;
atenção dispensada

o que orienta a manada?

A consistência de antanho

esquecemos de antemão;
ante a mão esquecida

o que responsabiliza?

Pois não nos iludamos
com os rodeios de amos

vassalos noutros antros:

- a justiça é uma arte
indulgências à parte;

- o direito, um disparate
das conveniências, destarte...

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

PERECIMENTO

ódio ao físico

Antes de correr
ou exercitar

(antes de mover
meu peso de ser)

rói antecipar

a dor do dever
de se então cuidar.

Ó babaquice
sob um sol star!

Ô maluquice
por desenterrar!

Por que não ceder
corpo à velhice?

(é capitular
o capitular)

Por que socorrer
minha estultice?...

...

(e o ar a enluarar)

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

SETE

no gênero homo, espécie de sapiens

Todos os espaços coexistem
e todos os tempos coincidem

nesta cabeça de alfinete
sem que se perca qualquer item.

Sua rotação o promete.
Sua chã superfície, idem

quanto ao gênero de uma espécie:

- nossa celeste quitinete
onde se pinta e borda o sete...

[sete pecados capitais
(e os sete sacramentos tais)
multiplicados ademais
por sete bilhões de animais]

terça-feira, 10 de setembro de 2013

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

QUERO SER DE BARRO

a Manoel de Barros

No trabalho, sou um chato.
Quando resto, um palhaço.

Nada de dialético
bem parassintético;
mal dividido ao meio
assomo o dia inteiro

um desejo de Manoel:

- de lagarto, de tropel
de Bernardo e micos léus;
pedra e cisco antes de céu
passarinhos no escarcéu...

Palhaço ao remar, me acho
chato bipolar, creio

por ser curto o recreio...

DO ATRASO

(de)correr Brasília

Se tardo a cidade
desde tenra idade

seus ares de parque
seu clima de embarque

dão fotografias
de melhores dias.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

PÁLPEBRAS

O ocaso de dormir
sem que um sonho tenha

é caso de seguir
nem que o sono venha

o acaso ao insistir
- bem que assomo seja...

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

SOLECISMO BARBÁRICO

regressivo

... adaptamo
compactando
três musaranho
(dois era humano)
num suburbano
trem nem viajando...

UBIQUIDADES

A obliquidade
da realidade

- seu drible suave
sobre a verdade

vezes me invade.

Quando acontece

um pano desce
e me entorpece

(opacidade
tal que me abate).

Na minha idade
a realidade

(da obliquidade)

não coalesce
sabedorias

nem discrimina
sensaborias:

- meu vesgo imenso
sobre o que intento

muito a reflete
de serventia...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

PÁ(T)RIA DIGITAL

por meia hora
toda uma era

Caiu a rede.
Saí da rede!
Caí da rede
quando somente
matava a fome
(a mais insone)
por sobrenomes
contando estórias
de desmemórias
em nicknames
indiferentes
desde que gente
(mesmo que a gente)...

Cadê a rede?
O que ela teve?
Os que têm sede
presentemente
de serem gente

- os have-nots
tão recorrentes
- os Lancelots
contra a corrente
- os ins and outs
todos bonitos
- e os menininhos
e as garotinhas
pois travestidos

gritam 'ausente!'
precocemente:

- subitamente
refaz a rede
precisamente
a paz de sempre...

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

a nau particular no mar geral

Nesta vida, nada nos pertence:

- seja massa cinzenta que tente
que coisa apartada lhe sustente

seja cara a proeza que se pense
de um ego enganado para sempre...

Desta vida, nada lhes pertence:

- vossas obras, inda longamente
nossas cinzas, mesmo de repente

- mesmo as artes deles dirigentes
inda inutilmente diligentes...