domingo, 31 de dezembro de 2006

POR BRASÍLIA

Todos meus sonhos
De andarilho;
As muitas coisas
Que mal consigo
(diretrizes, objetivos
planos no infinito)

Gestei a caminho
(espremido entre a branca lua
explodindo sobre a branca rua)
Do reflexo labirinto:

- A cidade quebra-cabeça
numa tarde de domingo.

sábado, 30 de dezembro de 2006

Encruzilhada

A desordem dos acontecimentos entortou meus caminhos. Hoje estou numa encruzilhada. Dela vejo tantas estradas que já não posso escolher a minha. O medo de abrir mão da melhor faz com que meus passos sigam mais lentos, mais atentos, menos vorazes.

Já não me conduzo com a pressa que me trouxe até aqui porque é ela a razão do desassossego dos meus dias. Na ânsia de não me perder, percorri trilhas sem olhar para os lados e sem cuidar do que existia à margem delas. Não pisei nas flores, mas saltei sobre elas sem lhes sentir o cheiro e sem lhes perceber a cor.

De agora em diante, vou quebrar o retrovisor e fazer do coração o meu guia. Que ele imponha meu compasso! Não desejo colher todas as flores, mas quero apurar os sentidos para tirar delas a inspiração que preciso para recomeçar diferente.

Ju

MARINHA

O que evocas
Das focas
No extremo sul do mundo

A partir das docas
Ruidosas
No vaivém de tudo

Basta agora
(marujo)
Ao que me vem do fundo.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

ANTES DE VIRES

Onde estive
Anteontem?

Naquele tempo
De estranhamento
À flor da pele?

De paisagens
As tais miragens
Comigo à margem?

E de estios
À foz dos rios
Desentendido?...

O que de mim
Eterno esteve
Tão breve?

(agora que
encontra-se
tão leve?)

[quem souber
desavise]

terça-feira, 26 de dezembro de 2006

LIKE A STEADY ROLLING STONE

ao renitente Sísifo interior

Amanhã, sei que amanhecerei
Assim; sei, não estarei mais
Tão tranqüilo encruzilhado
Atracado em qualquer cais:

- Pendurando vácuos num varal de cenários
azuis tipicamente emoldurados
(senões estrangulando opções
as mãos gentilmente atadas).

A cimentar incertezas previsíveis
(estáveis as conclusões indizíveis)
Sei que não mais acidentarei

Inerte: rolarei o precipício
Do desnecessário sacrifício
De subir a escadaria comigo.

sábado, 23 de dezembro de 2006

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Momento

O muro é muito alto e me traz insegurança. A queda promete ser grande, tenho medo das conseqüências. A escuridão à frente ameaça e me faz recuar um pouco.

Somado a tudo isso, não conheço nada do que está por vir. Recolho-me, então, no meu mundo e deixo em aberto todas as possibilidades futuras para quando eu acreditar mais no coração do homem.

Ju

O TERCEIRO PASSO

Meneio gracioso de dois dedos sinuosos
A mecha desatada por trás do teu ouvido
Desata outro dedo de atenção ao que digo:

- Cuide as palavras, ó Belmiro
cuide as palavras!...

(que dos lábios brote uma lavra
de vocábulos do amor bendito)

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

DO INESGOTÁVEL PODER DE QUERER-SE

Na tua tristeza de agora
(de árvore abatida descaminho)
Me situo; e solidarizo
Embora criatura doutro abismo

Mas transpiro, de todo jeito
Um desejo novo, e caseiro
De fazer a hora primeiro
Contigo; e logo a segunda

Conosco noutro caminho:
- Por entradas recém-picadas
todas conversíveis em estradas

(todavia, entre os movimentos
nenhuma algaravia; só silêncios
todos conversíveis em momentos)

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

FRESTA

Que fátua visão silenciosa
A minha, extração distraída
(gráfica - embora tímida)
Dos meandros da memória:

- A curva linda dos teus ombros
de macia morenice, onde corvos
pousam negros teus cabelos; moldura
da suave meninice dos meus dedos
onde beijos bordam enlevos
tecedura sem pintura...

(embora vazada de brilhos
faróis a porem nos trilhos
este herói de ti recente, que pressente
sua hora encantada de príncipe chegar)

domingo, 17 de dezembro de 2006

sábado, 16 de dezembro de 2006

INCONDICIONAL

(não estás só
não estás só
não te deixarei só
cuidar-te-ei
darei
serei-te
eu somente...)

Um mantra martela um cérebro

[divisor/discriminador
analítico/sintético
ponderado/hesitante
(covarde num instante)
suscetível/maleável/mutável

funcionalmente hermético
moderadamente confiável]

Vindo do coração.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

MELHOR ASSIM

Um poema.
Pediste um poema
Nesta hora suprema:

- Da dor incontornável da perda
do que nunca se tem de verdade;

- Da saúde que se avizinha doença
no vácuo anterior à saudade;

- Do amor desenganado de véspera
que se colorido for novidade...

Um poema.
Pediste um poema
Nesta hora extrema:

[uma vez poema ruim]

- Melhor convidar tua beleza
(incontornável)
ir adornar qualquer mesa
(que se avizinhe amigável)
do mais próximo bar
(novidade!...)

Brindarei contigo a tudo que sobrevive.

Despedida

Fiz minhas malas. Guardei nelas o que cabia e joguei fora o resto. Não vou precisar desse excesso. Limpei as gavetas para não lhe deixar nada sujo. Limpei a garganta para manter a voz na nossa despedida. Ensaiei uma breve fala no espelho, avaliei minha postura e aprovei. Estava pronta para não chorar.

Com meu olhar derradeiro, gravei na memória todos os detalhes da casa. Cada um com sua história. Vivi uma década em cinco minutos. Envelheci outra década nos mesmos cinco minutos. Engoli a sensação de fracasso e perda para dar espaço à esperança de não ter que me retirar mais uma outra vez.

Encontrei seus olhos parados, fixos, aguardando. Eles traziam toda coragem que me faltava naquela hora. Não me lembrei de nada do que havia repetido tantas vezes para dizer a você. As malas pesavam e as deixei no chão. A cabeça pesava e a senti rodar. Saí sem olhar para trás, para não ter que dizer adeus à minha própria história.

Ju

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

SEMPRE SEI, MEU BEM

Eu sei
Quando rondas
Teu desejo

Quando vagas pensamentos
Aos pedaços noite adentro

(por frios caminhos
percorrido o silêncio)

Sei
Quando sonhas
O teu medo

Quando rufas tambores
Vários, parcos amores
Em opacas vitrines
Coloridas as fachadas

(quando fazes qualquer coisa
que te evite, imensa si mesma
que te oprime
colorida fachada...)

Sempre sei
Porque cá estive

(no teu lugar)

segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

domingo, 10 de dezembro de 2006

THE LOCKED GATE I HAVEN'T SEEN

A linha logo adiante
partindo distante o espelho

(da aurora)

naquilo que morde agora
aquilo que escorre dentro

risca do momentâneo
quadro-negro
a possibilidade tão nossa

(tão tua)

do acolhimento.

sábado, 9 de dezembro de 2006

DEZEMBRO

Pendente, um sol pesa às costas
Viradas à úmida claridade;
Inclemente nas andanças, cozinha
No asfalto uns miolos da cidade.

Um sol-pivô ao meio-dia
Babel derrete a perder de vista:
- Desamarrota uns horizontes
sitiando azuis esta ilha.

Se leve a noite, ocasional
Madruga um reflexo sol
Passeando veleidades:

- Luz-de-vela celestial
traz à mesa, o pálido farol
um hálito de pomares.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

DO DICIONÁRIO V

Sonho: tão verdade
Cristalina quão negado
Na vigília.

Rendição

E então você me aparece, me abre braços e sorrisos, e diz que eu sou a dona do brilho dos seus olhos. E quer me convencer que seus melhores momentos são as nossas horas, que ninguém jamais o levou tão alto.

E eu, que andava disposta a deixar de lado a fantasia de me entender sua, que ensaiava discursos para sufocar suas triunfantes tentativas, me vi desabada, sem forças, sem razão.

Esqueci-me, então, das falas ensaiadas e me rendi à insensatez de nada calcular. Guardei a balança para não ver o peso da sua sedução. E agora, dos seus braços, nada vejo além de você e de mim, além de você em mim.

O mundo cinge nossa cama a cada vez que percebo que você me basta.

Ju

quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Comprovação

Inspirei-me nas doces palavras que ouvi de você e preparei o mais lindo dos textos. Pincelei meu discurso com o mel que suguei da sua boca, há pouco. Dei-lhe formato, cor e vida e lhe dediquei também um dono.

Mas vou guardar nossos momentos na minha memória e meu belo texto nos meus arquivos sem publicação. Tantas poesias, crônicas e sonetos, que se chocam... Difícil lidar com um coração tão grande!

Ju

domingo, 3 de dezembro de 2006

PROVAÇÃO

Silêncio. Ar condicionado.
O ruído do meu olho adensado
(errando certeiro a tua procura)
Corta estreito o espaço.

E afinal encontra, franzida
A tua atenção, constrangida
Num canto pensativo de sala
Ecoando distante dali:

- Da mão que gesticula, alada
quereres à larga entre deveres
tardiamente (do braço) desatada;

- Da boca cerrada nos dizeres
que contradizem tais quereres
porque deveres - de casa...