quarta-feira, 31 de julho de 2013

OCEANIA NOW

a Edward Snowden

... sistemas de inteligência
monitorando a indigência

da consciência relativa

desta pobre biologia
face a tecnologia...

Note o gerúndio truísta
no incontrolável sentido

de um controlado destino:

- o alongamento contínuo
das omissões distraídas...

***

Quando noviça a notícia
dissemos que sabíamos
da existência de outras vidas
(além das poucas vizinhas);

quando agora noticia
(o exercício de príapos)
dizemos que é política
a ocorrência de vítimas;

e enquanto houver repetida
(a notícia da notícia
da incúria reproduzida)
diremos que confiaremos

na consciência coletiva:

- antropológica diva
face a tecnologia...

segunda-feira, 29 de julho de 2013

PENSAR PRIMEIRO

sinto dizê-lo

Pensar, dizer
sentir, fazer...

Pensar, sentir
falar, agir...

Seria o cardápio de hoje?
Qual a ordem dos fatores?

Especulo:

- pensar o sentir
sentir pensá-lo;

(sentir pensá-lo...)

- sentir o pensar
pensá-lo sentir;

(pensá-lo sentir?...)

- pensar e dizer
senti-lo fazer;

(pensar o falar
se nada a dizer)

- pensar e sentir
fazê-los agir;

(sentir que pensar
estima o devir)

...

- se nada a fazer
sentir o pesar

de apenas falar
de agir por dizer...

domingo, 28 de julho de 2013

ASA NORTE

setecentas

Na tarde caída
seca pelo clima

o céu enferruja
pio de coruja.

Quadro de oficina
esquecida suja

numa quadra cuja
natureza dita

ora oportuna
a hora noturna:

- da ave soturna
que pio enferruja...

EXISTENCIALISTA

Eu quero
tu podes
ele deve.

Nós aspiramos
vós atrapalhais
eles arbitram.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

SUNNY MOON

Saiu na Current Biology:*

- dormimos mal sob a lua cheia!

Nos reviramos a noite inteira
à procura da melatonina
que Morfeu sempre nos solicita...

Explicações? Razões - e tais razões

mais de natureza geofísica
(às voltas com teus ciclos lunares)

e de incertezas fisiológicas
(revoltas dos humores biliares)

plus a nossa história evolutiva
(das minhas escusas familiares).

Relendo a Current Biology:

- sonhamos menos na lua cheia
porque acordados de sua inteireza...

(prata suspensa que nos sustenta)

*available online 25 July 2013

quinta-feira, 25 de julho de 2013

NA SALA DE ESPERA

Nada mais alheio
que outro desespero.

Igualmente alheia
a paixão o espreita

de dentro pra dentro:

- siamesa do espelho
da mesa de centro...

INDA BEM QUE LONGA

e pouco se conta

Depois dos cinquenta
podia aprender a fazer mais com menos.

Dói a alma no corpo a menos
- a cabeça nos mesmos membros.

Não há outro jeito
precisa subir a descida direito

(se houvesse outro meio
seria o juízo afinal de um início)

depois de cinquenta novembros...

terça-feira, 23 de julho de 2013

TÉDIO ANIMAL

A dura fartura
desta sinecura

(da vida que dura
viva sob a lua)

entedia, mula
a tortuosa rua

que a minha entrecruza

pedregosa, nua
tartaruga burra...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

NOSSOS SÓCIOS

pra 2014

... recapam o asfalto da rua em frente.
O cheiro moído de asfalto mói quente
meu bem-estar entre tal ar pungente;
remói também sentimentos correntes
(betume ou petróleo, o alcatrão sentes)
que os pensamentos só fazem crescentes:

- há uma empreiteira aí fora, sua gente
explorada cobrindo porcamente
a pista já malfeita anteriormente;
uma empreiteira de dentro, sua gente
(donos, vizires, aspones, gerentes)
superfaturando o devir presente

com os préstimos de agentes da gente...

BOLO DE IOGURTE

De Vandecira
o aniversário:
- pois verso o dia
extraordinário!

Por garantia
desse cenário

o que diria
o seu vigário
que eu deveria
cantar do hinário?

O que eu faria
se Vandecira
no seu horário
pedisse o vário?

E Vandecira
que quereria

de fato no ato
considerado
do meu acato
apaixonado

como o corsário
imobiliário

da morena vastidão
do seu terno coração?...

20/07/13

POUSADA DO IPÊ

Goyaz

Dois copos.
Uma cerveja.

Dois corpos
sob encomenda

dispostos
a renascenças.

No calor
das oferendas

um amor
que compreenda

(sob a frondosa árvore da vida)

o que estar aqui significa.

18/07/13

quarta-feira, 17 de julho de 2013

QUADRA JUIZ-FORANA XI

Fui visitar o Belmiro
- o Braga, bisavô-tio
hoje vetusto na graça
vincada busto de praça...

15/07/13

QUADRA JUIZ-FORANA X

Dezesseis horas
no pau-de-arara
baú de rodas
de volta à casa...

15/07/13

QUINTILHA JUIZ-FORANA

a mim

... é bem possível, até provável
que aquele crítico inalterável
que vos aprisiona inafiançável
correto pareça inalcançável
e reto padeça inconsolável...

14/07/13

QUADRA JUIZ-FORANA IX

Como estreita a vida fica
agasalhada do frio!
E como estreita ela esfria
o abraço que asfixia!...

14/07/13

QUADRA JUIZ-FORANA VIII

Domingo na serra urbana
da beirada juiz-forana.
Cerra a luz das nuvens frias
as paredes verdes-cinzas...

14/07/13

QUADRAS JUIZ-FORANAS IV

urbanas

A cidade vertical
(alto-relevo predial)
assombra o Paraibuna
com sua tarde escura...

***

No busto do tio Belmiro
pomba havia - nenhum pio
no alto da cabeça antiga
- o olhar fixo, a pena lisa...

13/07/13

terça-feira, 16 de julho de 2013

QUADRA JUIZ-FORANA VII

Retratos, fotografias
da família em que confias:
- gente de papel que habita
só a tua escrivaninha!...

12/07/13

QUADRA JUIZ-FORANA VI

Coitadinhas, tenho pena
de palavras coitadinhas:
- dores de bocas vizinhas
males desbocam apenas...

12/07/13

QUADRAS JUIZ-FORANAS III

santificadas

Terços e crucifixos:
- a imagem do sentido
da passagem dos vivos
subindo a preço fixo...

***

Tem missa católica
na tevê apostólica
pelo bem, não leve a mal
se tão neopentecostal...

***

Igreja de São Mateus
casa de pedra de Deus:
- teu cinza hostil aos ateus
repinta de anil os teus...

12/07/13

DUPLA QUADRA JUIZ-FORANA

A certa altura da vida
nos hospitais da rotina
o que sente o meu futuro?
Receio o medo, contudo

se antes da hora devida
resignar-se a titia
às lamentações de muro:
- as infinitas por tudo...

12/07/13

QUADRA JUIZ-FORANA V

Morto pelo tempo
nublado dos ventos
jaz o esquecimento
que vives há tempos...

12/07/13

segunda-feira, 15 de julho de 2013

QUADRA JUIZ-FORANA IV

O frio mineiro
na Zona da Mata
parece do tempo
que esquece de nada.

11/07/13

QUADRAS JUIZ-FORANAS II

familiais

Estar com mulheres
que estão desde sempre;
usar seus talheres
comê-los às vezes...

***

Onde elas moram
vivos e mortos
trocam as almas
diante dos olhos...

***

Nesta família
prezam o texto:
- rezam do terço
a mesma Bíblia.

11/07/13

QUADRA JUIZ-FORANA III

Quem seriam as tias
se não coadjuvantes
daquelas companhias
que amamos doravante?...

10/07/13

QUADRAS JUIZ-FORANAS

maternas

É a casa da minha mãe
caixa aberta dos cheiros:
- os da infância primeiro
segundo os derradeiros...

***

A desconversa da mãe
- de miúda em gastança
é mãe dessa conversa
graúda em vizinhança...

***

... pois Ave Maria
tão cheia de graça
- se pela mãezinha
és mui abençoada!...

10/07/13

terça-feira, 9 de julho de 2013

QUADRA JUIZ-FORANA II

e adendo possível

Dezesseis horas
no pau-de-arara
(luxo da estrada)
pra Juiz de Fora...

[se rodar mais três
(se rolar um mês)
vou em janeiro]

segunda-feira, 8 de julho de 2013

TEXTOS E CONTEXTOS

se os primeiros sem os segundos

Pense os neurônios em suas sinapses
- no caso tenazes e perspicazes

junto ao nervo óptico, ao auditivo
pavilhão, a pés e mãos olfativos

e ao paladar do trato linguístico
o que consubstanciarão? Se letras

talvez sílabas, fonemas apenas

tal qual palavras ou frases capazes

do vão consentimento de sentenças

de parágrafos - prosaicos mosaicos

poemas, romances, novelas, estórias

custando contos de réis da memória...

Repense os neurônios e seus sequazes
caso versículos capitulares...

QUESTÃO DE ATENÇÃO

Marreta do vizinho
marreta o desalinho

da menor concentração
que desvio e lhe envio.

Martelo por martelo
martela meu ouvido

minha desarrumação
daquilo que extravio...

QUADRA JUIZ-FORANA

Vou visitar o Belmiro
- o Braga, bisavô-tio
hoje robusto de estátua
situada musgo na praça...

domingo, 7 de julho de 2013

LOUVOR AO RIGOR

do maior poeta da língua

João Cabral de Melo Neto.
Pernambucano adepto
del palo seco flamenco

faz o percurso concreto
(diz-se que pavimentado
sobre a água do relato)

do engenho ao Capibaribe
emborcando no Recife;
do Capibaribe à ilha
ida Recife a Sevilha

e dali vaza a retina
(descolada da lírica
por súbita ventania)

de quem lê a pedra gasta
mais de pontiaguda, afiada
no descaminho do passo

de quem medra ensolarado
fundo na lama; o bagaço
atrasado do passado

que mal lhe adocica a canga
refugo da cana; a dança
entre a gitana e o caboclo

de lança - de capa o louco
e lâmina na tourada
do galo, caranguejo, cão:

- mas quem está sujeito ao fio
da faca de uma aspirina?

Severa. Concisa. Exata
Meridianamente clara

a fala dos olhos do João
tão Cabral no palo seco

(a minha leitura que não).

sábado, 6 de julho de 2013

CABE-ME ESCLARECER PORQUE

tantos poemas sobre a tarde
todos escritos à tarde

por outro esteta tardio
(antes tarde que perdido).

Mas no caso desta tarde
de seis de julho, destarte

o que dizer de verdade?

Límpida, magnífica
reluzente em transparência

(face à opaca ignorância
de quem o eterno contempla)

apagando lentamente
sentidos que lhe confiro.

Mérito dela, suspiro
na beleza da consciência

que maior é a natureza...

AFTERLIFE

a matter of recognition

Honestidade: a qualidade
desta cidade, e naquela idade
proativa - da perspectiva
genuína da construção de ruínas

sem habitantes, ventos uivantes
passos nervosos, traços de cloro
ou templos dantes vivos adiante...

Uma herdade honestamente morta
bella donna que nos abandona
(na verdade, posta porta afora)

localizada na encruzilhada
do que seria com todavia

fazer de nuvens sobre ferrugens
clouds inside - all but alive!

***

Qual necrópole de um doidivanas
tem como mote duas savanas
três tombos feios, nenhum dinheiro
e uns gazeteiros meios-desejos?...

(da melhor expiração de nosotros
a maior inspiração repara outros)

***

Que português é este, incompreensível?
Que mala língua é esta, impronunciável?
Que sentimento é este, ó responsável?...

[quanto à questão do valor literário
considero-me (mais um) salafrário]

QUADRA DA AURORA

e (in)variações

A hora do ovo estrelado
na frigideira celeste
recorda ao mundo esfomeado
antes o café do amanhã.

(a hora do ovo estrelado
na frigideira do leste
acorda o povo esfomeado
cheirando café da manhã)

[a hora do ovo estrelado
na frigideira inconteste
evoca o cheiro estressado
do povo café com leite]

...

{agora rastro estrelado
rumo à geladeira a oeste:
- esqueça o mundo enfastiado
parceiro café-com-leite!...}

sexta-feira, 5 de julho de 2013

TÁCITAS COMBINAM

Esta forma é arcaica.
Seu conteúdo, banal.
Por que necessária
se expressá-lo tão mal?

Descalça - a crítica
empática afinal;
modesta - a vítima
prosaica a poesia

a alma ludibriam
porém parcialmente:

- tácitas combinam
títulos somente...

quinta-feira, 4 de julho de 2013

RENTE AO CLIMA

Sob o algodão sujo
mal de inverno que aturo
o ângulo que recolho
é d'olho caramujo:

- um tanto lentamente
enquanto decrescendo
da porta para dentro
a concha intumescendo;

- quão alentadamente
senão pesadamente
vão perguntas que esquento
furibundas do tempo;

- e o quanto longamente
(porquanto lentamente)
eu porteiro sustento
do cinzeiro depende...

[do cinzeiro dependeu:
logo o sol partiu o céu
e ao chover aquele véu
todo desapareceu]

quarta-feira, 3 de julho de 2013

DA SOBRIEDADE

Quando refeita
a mente estreita
assim que pensa.

A estreita mente
quando presente
do jeito estanque

no peito expande
que mais pressente
o que mais sente:

- uma angustiante
vontade adiada
de ser infante

inocente ante
a derrocada
da gente adiante...

NÃO AQUI

Poderia outro estar
noutro tempo e lugar

este ser melhorar?
Independer de haver

quando e onde ter de ver
onde e quando antever?

terça-feira, 2 de julho de 2013

ANATOMIA

das duas vistas

Luz cristalina
- a vespertina

beija a retina
o cristalino

córnea, pupila
fóvea, mácula

o ponto cego
vítreo arco-íris...

Beija a rotina
à tarde feliz...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

VIAGEM

Acho que cansei de rabiscar bobagem.
Acho que vou respirar uma aragem
aproveito e revejo a garagem
- mas acho que saco de aniagem
cede o peso com a viagem.
E o carro na passagem?
Deixo ou não mensagem?
E a minha imagem?
Sacanagem...

(e a friagem?)