quinta-feira, 30 de junho de 2011

À ESPERA

Há momentos
em que devemos
contabilizar - o ritmo lento
dos batimentos.

Aguardar. Fiscalizar o tempo.

Encher balões
de especulações - entendendo
a contingência do ar
nessas condições

e o imperativo - relativo
de se despreocupar
os botões.

Sob o céu limpo, ao estar fino
reflito - sob a rendição de esperar.

[pausa]

Neste chão da estrada
de beiras descansadas de poeira perfumada
ao alcance das narinas renovadas

faço-me confortável
(neste posto de gasolina
que a imaginação propicia)

sem espreguiçar:
- importa atentar à premissa
que o virar a esquina
possibilita em seguida.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O CASTELO

Lá estão - as paredes amigas
frias de solidão. E telhas, por cima
de tudo que o espaço abriga.
Encaixadas, parelhas - as andorinhas

verão a hora ansiosa da chegada:
- esta, não se perderá por nada
tão aguardada, uma vida adiada
da jornada que em vão adiava.

Aproxima-se a hora prestimosa
da couraça repousada. Dos arreios
nos correios - para quem merecê-los

e mais a carga. Assim, vez em casa
cuidarei do jardim, talvez da mansão
do silêncio, então - a maior construção.

domingo, 26 de junho de 2011

QUESPERANÇA

Num instante que me abarca
claro e discrepante - um instante
sem trapaça - sem sair do mapa,

um interesse andante
- um quixote balouçante

desloca-se jusante
para aquém daquela larga
atenção constante.

E outros de mesma marca
que lhe seguem controversos
mas a bem de conhecerem
de quais pontos e diversos

puxam-se, empurram-se, embora
medianos e perfilados - meridianos alinhavados
pela agulha indiana da história:

- trêmula bandeira, lanterna por estórias
indispostas em buracos da memória;

facho sobre sanchos - ambos
êmulas fileiras - de certezas
escorreitas escapando-lhe agora

pelas beiras desta hora
verdadeira...

(da consciência rarefeita dos interesses em questão
- de sua escuridão perfeita)

quinta-feira, 16 de junho de 2011

AGORA II

Um presente absoluto
concentra meu cansaço do futuro.

As pernas, fortes
pesam - são músculos
recém-adquiridos de estudos

de reter-se a tentativa
por juventude e vida
(o que em vão seria).

A fronte, embora refrescada
do ar-condicionado da madrugada
às mãos firma - e me apóia, esgotada

mas não a ponto
de querer mais nada
(a partida, a jornada).

E os pensamentos
especialmente aqueles mesmos
tesos - os referentes a intentos

parecem adensamentos
paralíticos de momentos
ansiolíticos

[o fio do tempo
rompeu-se, creio
num cio - tão cedo
que não vi-o vindo
- o medo...].

domingo, 12 de junho de 2011

Carpe diem

adaptação do clássico de Horácio (de 23 a.C.)
a partir de traduções disponíveis

Não procures saber, Leucona
- por ser inútil -
qual fim os deuses nos destinaram.

Não consultes sequer
os números babilônicos:
- Melhor aceitar! E venha o que vier!

Que Júpiter te dê ainda muitos invernos
ou seja este o último que agora desfaz
em rochedos hostis, as ondas do mar Tirreno.

Viva com sensatez, cuide do teu vinho
encurte a longa esperança
- pois a vida é breve!

Enquanto falamos, foge ávido o tempo:
- Aproveite bem o dia de hoje
que o amanhã não nos merece...