quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

DO QUE PODERÁS AGORA

feliz ano novo!

Convenção ou não
esta noite irá

pela translação
que nova será

em todo lugar
que a comemorar

entre as doze horas
e suas auroras.

Então, por que não
(mesmo se mesmo ar)

por que não tentar
outra inspiração?

[senão, por que não
(apesar desse ar)

por que não soprar
noutra direção?]

DA MINHA PAISAGEM

Telhados abaixo

postes de pássaros
fios de macacos;

varandas abaixo

muretas de gatos
poleiros de galos;

janelas abaixo

cão encarcerado
pães recém-chegados

mármore quebrado
rotas de lagartos;

escadas abaixo

garagens, ramagens
portelas com mato

paragens, passagens
caminhos de ratos

poças de catarro
pontas de cigarro

selvagens, linguagens

árvores abaixo.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

MADRE DE DEUS

Madredeus

como os teus

tenho os meus:

- Zeus, Mateus

semideus, o antideus

seus plebeus, seus proteus

e os sem-deus (prometeus);

dipneus, pigmeus

jebuseus, fariseus

cadmeus dos egeus

europeus;

Pireneus, apogeus

ateneus, himeneus

perigeus

e o adeus (nos museus).

Madredeus

como meus

tento os teus...

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

RÉGULO

pelos séculos

Nos cubículos
mais ridículos

um estímulo
dois testículos

e montículos
de folículos

(tanto os pávulos
quanto os fâmulos)

têm seu vínculo
nos textículos

que vernaculo.

[meu currículo
em fascículos

sem estrídulo]

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

SOBRETUDO FERRÃO II

... pilhada

na quelha

ilhada

ovelha

cilhada

espelha

talhada

abelha

olhada

centelha

malhada

da relha

calhada

na telha

molhada

parelha!...

domingo, 27 de dezembro de 2015

NESTES TEMPOS DE CHIKUNGUNYA

Inquieto

inseto

pousou-me

sua fome.

E quieto

sensato

pousei-lhe

(sapato)

meu tato!

SEXTILHA DOMINGAL

let's move, for god's sake!...

O dia básico

do ser astásico

(aquém de frásico)

[porém de afásico]

porque ectásico

- queria fásico.

sábado, 26 de dezembro de 2015

DOIS MIL E QUINZE

balanço

Quinze por cento

do novo tempo

já se perderam

sob os escombros

do mundo velho.

...

[escaravelhos
de largos ombros:

- é o que desejo
que então sejamos]

REVISITA 112: FERRAJARIA

41º poema de À procura de Nefertari

Agasto a manhã cinza
- objeto simultâneo à lixa

na tua áspera ausência
- cega, decerto ferramenta...

Do atrito quase fumegante
- embora a frio, metálica a poeira

adenso a atmosfera, e paraliso
o tempo, o pensamento - a asfixia

em horas marmóreas
de um branco algo encardido

- e mal esculpida espessura...

Em minutos de chumbo lento
escorrendo, incandescentes

- derretendo à baixa temperatura

fixo, pétrea, a extensão infinda
dessas impressões descabidas...

[nas quais este cinzeiro começo
de dia-cinzeiro, opaco

agasta-me, definitivo
em passado]

27/09/2005

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

QUADRA MODAL

Esta quietude
não é virtude

longe do vício
de estar alhures.

O VINTE E CINCO

o dezembrino

Dezessete
- é da confraria.

Dezenove
- avista a família.

Vinte e quatro
- requer romaria

vinte e cinco
- da sala à cozinha

vinte e sete
- ao que sobraria

vinte e nove
- pra quem der notícia

enfim do ano
- a quem de alegria...

Mas todavia
um vinte e cinco

- no vinho tinto
- na batatinha

bom solicita
mais compromisso

pois dia num quinto
de energia:

- quatro quintos
de inércia devida

comprometidos...

DIVINA

to the High Priestess of Soul

... eu o faria

Nina Simone:

- madrugaria

ouvir-te insone

outra menina

ao microfone

(outra Simone

ao telefone)

sem o teu dia

deixar-te insone

sem esta vida

living alone

anjo da noite

arte que some

amada Nina

minha Simone...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

PROPOSTA DE NATAL

Na véspera do aniversário daquele

evocado diária, milenariamente

para a justificação de bem-quereres

bem-deveres, bem-poderes, bem-haveres

(boas ações, boas razões, boas paixões)

não seria o caso de, ao menos amanhã

deixá-lo descansar em paz naquela cruz?

EPISTEMOLÓGICA

Te rever

e rever

e rever

e viver

conviver

com mister

forever

embota

desbota

sabota

rebota

(labora?)

(reforça?)

[retorna?]

{renova?}

cada ver

cada ser.

[cada ser

de um rever].

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

EPISTEMOLÓGICAS

fragmentos

Experiências pontuais
geram conhecimento pontual.

[podem gerá-lo
 se limitá-lo (ao imitá-las)

particularizado].

***

Experiências contínuas
geram conhecimento - continuamente?

[não necessariamente
aquele necessário

que do modo exigente
é relativizado].

***

[familiaridade crescente:

- seu pavimentar mente
um enxergar decrescente

até olhar simplesmente].

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

NOTURNAL

A trevosa chuvarada
da chuvosa madrugada

quando penso se fechada
aconchega-me pausada

forte e fraca, forte e fraca

brava e calma, calma e brava

sincopada (a retomada)

na rotina ritmada
de cortina sanfonada

- uterina casa d'água

breve e opaca, sempre opaca
da trevosa madrugada...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

DA EXTINÇÃO DA ESPÉCIE

desta subespécie

A longo prazo
(quando tal prazo?)

o descompasso
(de qual compasso?)

entre o querer e o dever

(o dever de desquerer?)
[o prazer de bem-querer?]

1a. centralizará o poder

1b. fortalecerá o poder

1c. abusará do poder

1d. enfraquecerá o poder

1e. colapsará o poder

do sujeito refazer.

...

[quanto de prazo
a longo prazo?]

{nós neste passo
sós neste barco?}

domingo, 20 de dezembro de 2015

sábado, 19 de dezembro de 2015

REVISITA 111: SOBRETUDO FERRÃO

40º poema de À procura de Nefertari

Outro dia, caminhei contigo próxima
da respiração, os pés seguindo parvos
logicamente atrapalhados, esquivos
a tropeçar no vácuo dos teus passos...

Volta e meia, eu te puxava um braço
de atenção, as mãos buscando as tuas
num abraço de cinturas, a ver o teu olhar
negro mudar claro a direção...

Era tarde, e o descompasso deste aspirar
cercou cálido os teus ombros, sob os cabelos
como se lábios nos teus pêlos, a redesenhar
- a cada arfar - a dupla curva dos teus peitos...

E naquela hora, a lua crescentemente perfeita
entreabria a tua face num terrível sortilégio
de marfim... Mordida, sorridente mordia...

[ao fundo, preto o céu, tudo ruía
meu no franco gesto suicida]

04/09/2005

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

REPTÍLIA

Um lagarto me sorri
do seu chão que percorri

[um passado socorri
num desvão aberto aqui].

Parece involuntário
- voltar-se solitário

tanto eu quanto o bastardo
no tempo deste espaço;

mas digo que os prefiro
reverberando antigos

já por demais extintos
naquilo que atribuímos

a animais: instinto
de espécie solidária.

...

{a lagartos recorri
pelo chão que me sorri}

OCULTAS

renovadas

A lua nova
da noite opaca

(a noite nova
da lua opaca)

nos argamassa

nos amassa

nos assa

a sós



...

[a rua nova
pernoita opaca]

{a rua opaca
pernoita a lua}

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

RASCUNHOS

Amarela
aquarela

esta manhã
é do amanhã.

[à janela
por sobre a chã]

***

Amarela manhã

aquarela amanhã.

[o que dela louçã]

***

Aquarelo

o amarelo
desta manhã

para amanhã.

***

Amanhã aquarelará

acaramelada manhã.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

SE NÃO, POIS SIM

o caminho oposto

Nestas férias sem Nordeste
(ressentimento da peste!)

sem sua beleza celeste
sem seus prazeres terrestres

solicito ao Centro-Oeste
mais que nunca, esteja a oeste:

- bem longe dos caranguejos
daquele mar inconteste

porque invejoso o desejo
(o qual pragueja e praguejo!)

contraditório que almejo

guardado num lugarejo...

[inda que seja um bosquejo
tal de ter - mas sertanejo]

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

REVISITA 110: CASA DE CONTOS

39º poema de À procura de Nefertari

Casa dos Contos (também conhecida como "Casa de Contos"). Prédio construído entre 1782 e 1784, na então Vila Rica das Minas Gerais, para servir como residência ao arrematante dos contratos dos dízimos e entradas João Rodrigues Macedo. Este alugou a sua parte térrea em 1789 para aquartelar as tropas encarregadas de reprimir a Inconfidência Mineira, e servir de prisão aos réus mais ilustres da conspiração. Ali, Cláudio Manuel da Costa, sonetista e inconfidente, teria se suicidado em 4 de julho.

Quando estou todo, inteiro
aquém de mim, para dentro
à mercê do zumbido surdo
sem fragmento, do silêncio

aquela voz, que ouso que penso
costura, do nervo à agulha
fonemas às letras, retalhos de sílabas
a colchas de palavras, estendidas

parecendo daí até aqui:

- a tua voz, que penso que ouço
dizendo-me, do fundo do meu poço

que não devo (embora por pouco)
porque não posso (enredado o sentido)

sair senão deste invólucro.

28/08/2005

domingo, 13 de dezembro de 2015

QUADRA EXPLICATIVA

consultoria sem poesia

Em meio a três dias inúteis
a minha fé esteio nos fúteis:

- o dinheiro ganho naqueles
mais direito confere a estes.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

NO PLANALTO VENTRAL

Raios, clarões vários
trovões de cenários:

- quase o fim do mundo
desfecho iracundo

pra quem treme muito
(ou que teme fundo)...

***

Meu amor pegunta

porque toda chuva
gosta de assustá-la:

- acho que por nada
dada a natureza

(natureza dada).

QUINTILHA DO QUE (SE) SUCEDE

Leves dias - quando empilham

à medida que nos ilham

(da vida de que precisam)

[das lidas que os justificam]

breve mais pesados ficam.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

DESTE MOMENTO

usufrutuário

Estou recluso
e ensolarado

algo profuso
e continuado

nada confuso
desencontrado

do que desuso
abandonado

no que mais uso
desafinado...

Estou excluso
idealizado:

- um inconcluso
recuperado.

DRONE

While rolling the Stones

watching the Flintstones

the milestones

the tombstones

all the capones

(and their clones)

I must turn this cornerstone

alone

[with Nina Simone]

SEM SABÃO

a Pedro Sérgio, no seu aniversário

De manhã, São Pedro
bateu o cinzeiro

(todos os cinzeiros
do mundo carvoeiro)

sujando feio o ar:

- no alto o firmamento
e aqui o calçamento.

E o enxágue, Pedro?
Quem irá fazê-lo?

[ô santo fumante
pouco edificante!...]

...

{a natura veio
- e num só vareio

me lavou o Pedro

com tudo no meio}

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

TEMPORADA

Capa d'água
na sacada.

Empoçada.
Espelhada

- a moçada
nem molhada.

Festa n'água

que desagua

numa frágua...

PECILOTÉRMICA

A via do lagarto
se percorre sob o sol:

- à noite, congelada
pernoita reparada.

Se vida de lagarto
(lida e sorte alternadas)

corre igual ao caracol
mas também ao rouxinol;

há cobras e lagartos
há sobras e catartos

e soçobras e infartos

- mas também um girassol
sombreando dez espartos

no vaivém de lua e sol.

...

[diga amém aos girassóis]

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

EU PROMETO

Amanhã voltarei a correr

porque cochilo após o almoço
cochilo tal que é chumbo grosso:

- entre os vivos, ressaltam-se outros.

Porque afundo depois do almoço
na treva de um sono absurdo

- do qual voltar eu quase anulo -

amanhã tratarei de correr.

Logo após o almoço de sonho
- sonho culinário que almoço -

sobrevém sono um poço surdo
num bloco de granito escuro

trafegando o rio mais bruto

- um que dá vontade de morrer...

Por isso, volverei a correr
entre os vivos - os outros - todos -

a fim deste estar fortalecer
no que os dias hão de suceder.

ANÉIS

o negócio da nossa ciência política

Te dou alguns anéis
alguns contos de réis

pelos meus dedos fiéis.

Promessas em papéis
sentenças, aranzéis

em línguas de babéis

- ou fugas em batéis
(apesar dos parcéis) -

pelos meus dedos fiéis.

Te cedo alguns tonéis
desvios de farnéis

e sobras de cartéis
caça-níqueis, troféus

- festejos em hotéis
puteiros em apês

entregas de pastéis
em colchões de frouxéis -

pelos meus dedos fiéis.

Repassando chapéus
te cultivo plantéis

de chefes, barnabés
parlamentares rés

de juízes, coronéis
soldados em corcéis

convocando tropéis
(talvez até os quartéis)

pelos meus dedos fiéis.

Se necessário um viés
te envio alguns novéis

justiceiros cruéis
(rebeldes ou bedéis)

ou penas de aluguéis
(arautos de escarcéus)

pra afundar em marnéis
os que forem infiéis

a estes dedos - os dez!

E quando enfim os céus
pedirem mausoléus

escribas de cordéis
em torno dos incréus

operando cinzéis
brilhando fogaréus

encobrirão com véus
o quanto fomos réus

por nossos bons anéis...

domingo, 6 de dezembro de 2015

CULTIVO

Entre o fim do domingo

e a manhã da segunda

anoiteço um sentido

que depois me madruga

para as coisas bem-vindo

a partir da segunda

repartir no domingo.

DAS PRECIPITAÇÕES

de auroras

O domingo encoberto
pelas águas voadoras

descobre as maritacas
junto das mariposas!

Do silêncio soberbo
das últimas pessoas

elas vêm, às carradas
(falo das maritacas)

perturbando, espaçosas
o tempo de um acerto:

- entre esta madrugada
(fado das mariposas)

e agora a chuvarada
há pouco sossegada...

sábado, 5 de dezembro de 2015

REVISITA 109: AOS TRINTA E UM

38º poema de À procura de Nefertari

Arisca, a leve brisa deste lindo dia
sopra-me fresca ainda; e à folha vira
a tua data na superfície lisa, rutilante
da geladeira que habito, desde antes

do estio; e chama à retina a lembrança
de outros dias, brancos, nesta branca
cozinha - dos ritos de queijos e vinhos
à larga servidos, entre beijos e risos...

Bem assim, hoje, eu gostaria que fosse
a minha celebração de ti - uma cotidiana
reencenação dos teus olhos reafirmando

brilhantes, a minha opaca ciência de ti:
- do misterioso fundo negro da tua retina
onde bela se perde a razão desta vida...

27/08/2005

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

MÉTODO

escorço

Objetivo
subjetivo

qualitativo
quantitativo

contemplativo
é o meu motivo.

Daí assisto

a isso e aquilo
a esta e aquele

com alma leve
e atentamente

sem que um estorço
torça o esforço

pelos sentidos
comprometidos:

- tais fenômenos
como são mesmos

nem mais nem menos.

AFEITO

Um beijo
(teu queixo)

um queijo
(queijeiro)

trejeitos
respeitos
proveitos

- mas feitos
com jeito
suspeito -

aceito

(o efeito)

[defeitos
perfeitos]

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

SOBRE IR

possibilidades perfeitas

Ontem, vou hoje.
Hoje, irei amanhã.
Amanhã, fui ontem.

Ontem, fui hoje.
Hoje, vou amanhã.
Amanhã, irei ontem.

Ontem, irei amanhã.
Amanhã, vou hoje.
Hoje, fui ontem.

Ontem, fui amanhã.
Amanhã, irei hoje.
Hoje, vou ontem.

Ontem, vou amanhã.
Amanhã, fui hoje.
Hoje, irei ontem.

Ontem, irei hoje.
Hoje, fui amanhã.
Amanhã, vou ontem...

Ontem, fui ontem.
Hoje, vou hoje.
Amanhã, irei amanhã.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

DE UM BEI PERTO DO REI

Chegaram as férias
para as quais estarei

- de férias, não serei.

[férias de sequelas
folgo nas falésias]

Um dia, outras férias
serão amnésias

deste tempo destas;

chegarão aquelas
paramnésicas

nas quais florescerei.

[um frei longe da grei]

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

POETA

Enquanto sorvo
meu café lento

enfrento o estorvo
da fé que tenho:

- por qual talento
(ou desalento)

paro rebentos
torvos de feios

e os absorvo
filhos de corvos?

Vêm de terceiros
(dos controversos?)

primeiro os termos
segundo os versos

conspirem presos
formar quadrilhas?

Juntar tercetos
quadras, quintilhas

sextilhas mesmo
alexandrinas?

Quadro dantesco
quintos do inferno

se uma vez eco
de outra vasilha...

[se má poesia
a filha é minha!]

...

{enquanto sorvo
a fé que tenho

meu café bento
frente ao estorvo

esfria lento}