domingo, 31 de março de 2013

DUPLA QUADRA DE PÁSCOA

Um domingo sem poesia
alguma. Em que a corrida
da paisagem, ressabia
em função de morta, a via

nenhuma, quieta, vazia
parcamente percorrida:
- sem que do retorno, a ida
torne em diferença, vida...

sexta-feira, 29 de março de 2013

quinta-feira, 28 de março de 2013

MUITO ALÉM DOS JORNAIS

de leituras que confortem convicções

O que acontece quando não mais vencem eleições?
O que acontece quando não mais se tem os grotões?

O que acontece quando golpes de toda sorte
- dos quartéis às cortes - não mais apontam o norte?

Quando a confraria reunida em convescotes
mal ventila medidas que desmintam seus cofres?

O que será dos excelsos poderes de sempre
- da banca, da indústria, do Papa - nem mídia à frente

que os encubra, que nos engane, que mude a lente?...

***

O atavismo das mandíbulas
magarefes dos vossos sonhos

bissexto reabre-se em fístulas
ancestrais do gênero homo;

seu verniz civilizatório
relevado à luz das savanas

(no interesse antropológico
de sua longa pertença à história)

às favas reconta uma estória
de antiga confiança em chicanas:

- a despeito de mais estreitas
no tempo que agora as espreita...

terça-feira, 26 de março de 2013

DUAS QUESTÕES RAREFEITAS

e a resposta controversa

Onde vou que foi amanhã
este hiato de vida terçã?

Onde fui que vai de manhã
a química de Amsterdã?...

(quando meninos perguntam

respondo Apeninos que não

ao longo do sonho em que vão

ao largo da imaginação)

INSTÁVEL

Entre nublada
e ensolarada

entre cinzenta
e barulhenta

a tarde oscila
descolorida

meio indisposta
à minha porta

que dá pra rua
- mundo que sua...

segunda-feira, 25 de março de 2013

IMAGINAÇÃO CREPUSCULAR

ruim

Há pouco, a morta tela se impôs
sobre a pouca ideia - e esta se pôs
a caminho, no carro do sol.

Mera, era ideia com terçol:
- mas mais inflamada e embaçada
que absoluta catarata.

Curta pois, ela se decompôs
carona hoje de caracol:
- quem sabe amanhã, camarada?...

quinta-feira, 21 de março de 2013

ANTES QUE SEJA TARDE

não mais é leite o que derrama

As palavras
as suicidas

agravadas
agressivas

por bobagens
de passagem

tornam breves
quaisquer teses

sobretudo
sobre a muita

prateleira
que a amnésia

tintureira
embranquece

nas falésias
sob a pele...

quarta-feira, 20 de março de 2013

DE TARDEZINHA

Um friozinho percorrendo a alma
sozinho desconfortando o corpo

- um fiozinho repuxando calmo
este linho que cedendo encorpa

o degredo da memória em face
do incômodo da necessidade -

ao cabo aquece contraditório:

- este tempo que por fora esfria
por dentro daquela aorta estia
o que ela empoça sem serventia...

segunda-feira, 18 de março de 2013

PAPA ANTIQUUS

aos bem-aventurados com memória

Sua liderança tem de aparecer imaculada.
Pura a res publica figura - o homem, sua jornada.

Sua liderança tem de aventurar à via sagrada
o rebanho do manso bilhão. É o que minha mãe acha.

Sua liderança tem de suceder inquestionada.
Acima de hermenêuticas. À parte qualquer racha.

Mas do corpo de Francisco sempre alonga sua sombra
à tarde, desde Assis. Até que a noite se interponha.

Até que a noite Assis esconda, é de Jorge que alonga
a sombra naturalmente argentina de Francisco:

- do corpo historicamente argentino do arcebispo
metropolitano, cardeal-presbítero, arcebispo
coadjutor, bispo auxiliar, reitor, confessor, superior
provincial, mestre jesuíta, diretor espiritual

austero, discreto, frugal - à margem de todo o mal...

domingo, 17 de março de 2013

ORAÇÃO MATINAL DE DOMINGO

antes de qualquer físico sacrifício

Tudo está diante de nós:

- dos nossos olhos para olhar
todo ouvidos para escutar
outros sentidos a falar
(tato do olfato paladar).

Tudo está diante de nós:

- todo o amor do mundo para içar
todo amor profundo que fizer
amores fecundos por instruir
(sobre os muitos sentidos do amor).

Basta o olhar recomeçar...

sábado, 16 de março de 2013

QUE DIA LINDO

sua luz não tem nada a ver com isso

A despeito de no observado
rir e chorar seu observador

da independência o dia ordinário
ordinário é a maior evidência:

- com tal frequência repetido
no laboratório do início
da seca estação científico
(a natureza em desalinho)

este dia de toda brisa
agradável e colorida

luminoso em toda a sua glória

com violência contrasta afora

o que padece ao ir por dentro

de alguns passantes cabisbaixos
(alguns pensantes ao contrário)

pois que parecem ofendidos
pela beleza que os enfeita...

[mas qual - qual relação a defender
entre a impotência de mal resolver
e a indiferença de somente ser?]

sexta-feira, 15 de março de 2013

É ISTO

acerca do que nunca derrotamos

Enfrento a sombra dos detalhes irritantes
sobre a pele avermelhando do cotidiano.

É isto - quando enfim insignificantes
(graças a esforços maturando mês a ano)

as contradições que nos castigam desde antes
do bigue bangue, o acaso, por trás do pano

abençoa em pessoa percalços cortantes
que indizivelmente nos apartam do humano.

Enfrento a sobra de rebotalhos que adiante
revestirei contra perdas melhor que danos

por dar-me um lixo reciclado ao luxo de anos.

É isto - e quando enfim insignificante
o destino, seu fado será meu decano...

quarta-feira, 13 de março de 2013

DA ENTROPIA V

O fim será assim:

- razão e paixão
quereres afins
(metades que são)

terão não a mim...

DA ENTROPIA IV

O fim será assim:

- deveres que então
tiveres ou não
paredes ao chão

assim irão sim...

terça-feira, 12 de março de 2013

DA ENTROPIA III

O fim será assim:

- poderes ruirão
mas murmurarão
que sim pelo não

enfim quanto ao fim...

segunda-feira, 11 de março de 2013

DA ENTROPIA II

O fim será assim:

- sem que poesia
perfume a via
do dia-a-dia

ao fim nem jasmim...

DA ENTROPIA

o fim será assim

Neto
filho
pai
avô

tenho
sido
de quem
sou.

Neto tenho
filho sido
pai de quem
avô sou.

Tenho neto
sido filho
de quem pai
sou avô.

Neto sido
de quem sou
filho tenho
pai avô.

Sido neto
sou de quem
filho pai
avô tem.

Sou também
avô sido
pai que nem
neto ou filho...

De qual filho
tens avô
sido neto
pai que sou?

Pai de filho
esquecido
avô mesmo
neto estou!

Sendo pai
avô filho
de qual neto
terei sido?...

quinta-feira, 7 de março de 2013

SOLO NOTURNO

que o declive seja suave

Na nova ciclovia
(concluída outro dia)

experimentei-me nó:
nervos, músculos, ossos

amarraram-se novos
excitaram-se polos

exercitaram-me só

num gozo silencioso
(o prazer de ser corpo)

pela parede escura
da corrida noturna

percorrida diuturna
por quem solo se cuida...

CONDUTA CAPITULAR

de um professor cansado do futuro

Fazer nada.
Emudecer.
(ouvir o ser

no inseto de asa que perturba a sala)

Certamente por querer poder dever

nada dizer

face à deseducada
(talvez por tal ardência
da tecnoadolescência)

indiferença
da meninada
destinatária

dos temas edificantes em pauta:

- na inveja dos voos rasantes da aula
pelas janelas faiscantes do agora!...

quarta-feira, 6 de março de 2013

CINZA MATINAL

estendeu-se noturna

Mal o dia me acordou turvado
(opaco o pensamento, nublado
o sentimento), quis de imediato
o sono fora do horário, claro

tal meu ambiente esterilizado
- onde a eventualidade do atraso
raro desatualiza o andamento
rotineiro do procedimento

inteiro. Senão do avesso ambiento
(pela contramão do sentimento
a despeito de qual pensamento)
mal o sono ao dia sonolento...

terça-feira, 5 de março de 2013

POEMAR À TARDE

poetar longe de lá

... o doce deste café
(além do tomá-lo bem)

é o palavreado até
então considerado

(antes de descartá-lo
num vão imaginário)

teclado quando convém...

segunda-feira, 4 de março de 2013

CÍCLICA

O sol que invade a cela
onde básico existo

na tarde que se encerra
num átimo previsto

explode em rubra tela
o quanto necessito

da consciência do ciclo.

WISHFUL THINKING II

perspectiva de quitinete

O céu na ponta da Asa Norte
(na setecentos e dezesseis)
difere um pouco daqueles seis
anteriores que vi - de sorte

que quando na mente o contemplo
entre aqueles seis estertores
- o refugo dos anteriores -
pouco sinto do acontecido

(daquilo repassado ao vento)
que agora pudesse feri-lo
tão céu - condição da sétima

tentativa apologética
de salvaguardar um projeto
da morte que o ronda incompleto...

domingo, 3 de março de 2013

A título de fechamento

Está concluída a apresentação dos poemas de viagem ditos nordestinos.

M. B.

A VOLTA (FRAGMENTO)

23/01/13
Brasília, DF

... depois de Caruaru e sua feira
que Garanhuns divisa a primeira
clara manifestação da seca:
- cactos, plásticos e a cinzenta
cor da bicharada modorrenta;

em Paulo Afonso tem-se a surpresa
daquela hidrelétrica avarenta:
- de cruzar um rio indivisivo
(ferindo a alma de São Francisco)
quando a morte o atravessa a caminho;

Jeremoabo, Tucano, Serrinha
riscam o mapa numa descida
tão prolongada que na Bahia
Feira de Santana resumia
a estrada dolorida que houvesse;

ao dobrar para Ipirá a oeste
Itaberaba e por fim o agreste
dão lugar à chapada onde Seabra
(pela Diamantina só roçada)
à vista mais indica uma etapa

em Ibotirama repensada:
- porque então no sertão reencontramos
o velho Chico de poucos amos
- além de gastos no asfalto de anos
cacos de períodos diluvianos;

Bom Jesus da Lapa - convenhamos
foi evitada - e a evitamos
(com o amparo de todos os santos)

por Brejolândia e Tabocas até
Santa Maria pois da Vitória...

[enfim a soja após Correntina
afinal cabe aqui numa nota:
a que varre o cerrado da história
é a ração em ação em Brasília]

QUADRA DA BOA DESPEDIDA

18/01/13
Jaboatão dos Guararapes, PE

... cumpre daqui bem partir:
- sempre que reparti-lo
(o ser infinitivo)
no prazer tido de vir...