O agora absoluto abarca tudo
Desta barca ora sem fundo;
Estrutura, circunstância, o mundo
Todo junto
Num impulso redondo, bojudo
De engolir-te viva, comigo
Comido no mesmo bolo
Encorpado de saliva
Duma carícia infinda, extraída
Suada maresia, à deriva
Na noite desatada; e de dia
Nessa barca que abarcaria
A vida digerida, antiácida drogaria
Eu em ti acordaria...
segunda-feira, 30 de abril de 2007
domingo, 29 de abril de 2007
PLANALTO ABISSAL
Plana a verticalidade
Da possibilidade
De felicidade.
A verticalidade vertiginosa
Do que verdadeiramente importa
Do mundo lá fora
Interiorizo cerrado
Horizontalizada. Chapada
De eterna florada. Assim:
- O hálito vertical
dum abismo que se deita
talvez precocemente
numa espiral entorpecente
(algo impaciente
do cansaço economizado
de tão pouca visitação).
E então
- Qual dobrado precipício
vez colado a chão íntimo
precipite talvez cordas
que rotas lhe atravessem?
(e breves me levem
ao teu coração?...)
Da possibilidade
De felicidade.
A verticalidade vertiginosa
Do que verdadeiramente importa
Do mundo lá fora
Interiorizo cerrado
Horizontalizada. Chapada
De eterna florada. Assim:
- O hálito vertical
dum abismo que se deita
talvez precocemente
numa espiral entorpecente
(algo impaciente
do cansaço economizado
de tão pouca visitação).
E então
- Qual dobrado precipício
vez colado a chão íntimo
precipite talvez cordas
que rotas lhe atravessem?
(e breves me levem
ao teu coração?...)
sábado, 28 de abril de 2007
FANTASIA
Os dedos
Digitando tuas costas
São os mesmos
Delicados anjos pequenos
Por quem oras
A vir ligeiros
Quando gozas
(em pensamento
emulando-os terceiros)
Digitando tuas costas
São os mesmos
Delicados anjos pequenos
Por quem oras
A vir ligeiros
Quando gozas
(em pensamento
emulando-os terceiros)
sábado, 14 de abril de 2007
ÀS AVESSAS
Ela, secretamente
Mente, aberta à mente
Quando nega, prontamente
(como aleivosia do presente)
A curva ascendente
Da luz tênue, travessa
Que nos atravessa
Reta, obliquamente
A longa via deserta
Àquela estrela à vista:
- Carícia das dobras das fímbrias
do seu leito de sombras compridas...
Mente, aberta à mente
Quando nega, prontamente
(como aleivosia do presente)
A curva ascendente
Da luz tênue, travessa
Que nos atravessa
Reta, obliquamente
A longa via deserta
Àquela estrela à vista:
- Carícia das dobras das fímbrias
do seu leito de sombras compridas...
PASTORAL
Entre as sombras
Das poucas verdes
Folhas descendentes
Desta árvore antiga
Que se desdobra, amiga
E tortuosa, te abriga
Tuas sombras
(todas contundentes)
Confundem(-se)
(N)o presente.
Das poucas verdes
Folhas descendentes
Desta árvore antiga
Que se desdobra, amiga
E tortuosa, te abriga
Tuas sombras
(todas contundentes)
Confundem(-se)
(N)o presente.
sexta-feira, 13 de abril de 2007
Paraninfando II
(na formatura dos Cursos de Comunicação Social e de Ciências Contábeis do Centro Universitário de Brasília, ontem)
Cronometrei dois minutos e trinta segundos para esta fala; menos que o tempo de um político candidato a cargo eletivo, sem interrupção, num debate televisivo. Portanto, atenção!...
"Boa noite! Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos formandos desta noite pela oportunidade de estar aqui, na condição de seu paraninfo. Talvez seja esta a maior das honras para um professor que aprendeu a amar a sala de aula - representar seus colegas junto aos estudantes neste momento de júbilo e reconhecimento. Definitivamente, sou privilegiado por estar aqui representando os professores e professoras dos Cursos de Comunicação Social e de Ciências Contábeis do Centro Universitário de Brasília, professores e professoras tão competentes no desejo de ensinar quanto no que lhes cabe ensinar. Considero-me privilegiado porque sei das dificuldades enfrentadas pelo trabalho docente num mundo que parece negar, reiteradamente, a importância da verdadeira educação na formação de seres humanos integrais - seres críticos, capazes de pensar e agir com independência, e autônomos na medida em que reconhecem o caráter interdependente da vida social, ou seja, a responsabilidade de cada um para com todos nesta vida.
Nesse sentido, gostaria de aproveitar esta hora de celebração retribuindo um pouco do convite que me foi feito. Convido os formandos desta noite para uma pequena reflexão sobre um pequeno aspecto do papel da escola neste mundo em que vivemos. Dizem por aí que a escola mal prepara para a vida; que a escola, ingênua e idealista, na melhor das hipóteses teoricamente impraticável, ignora ou subestima as asperezas e as contradições do mundo real. Que ela, ao defender a possibilidade de um mundo melhor, termina despreparando seus estudantes para o mundo que está aí - o único lugar, afinal, no qual todos temos de sobreviver.
Como professor - melhor dizendo, como professor sobrevivente neste mundo real -, gostaria de sugerir a vocês a inversão desse argumento, inversão que resumo na seguinte tese: nunca, nunca como agora, este mundo em que vivemos tem precisado tanto da escola! Se quisermos um dia superar os males que nos afligem, que nos fazem desacreditar na possibilidade de uma vida bem vivida - isto é, uma vida próspera tanto material quanto eticamente -, teremos não de simplesmente levar este mundo que está aí para dentro da escola, como muitos defendem, mas sim de proceder metódica e persistentemente o contrário: trazer os valores da escola para este mundo; contaminá-lo daquele idealismo algo ingênuo, mas que hoje parece tão necessário.
Enfim, é o que venho aqui desejar, de coração, aos formandos desta noite. Até agora, vocês estiveram na escola; daqui em diante, carreguem a escola consigo, dentro de vocês, para dentro do mundo! Porque, cedo ou tarde, todos nós terminamos descobrindo, invariavelmente, que meramente sobreviver não é suficiente. Portanto, desejo que todos possam desejar uma vida plena, plenamente humana - a única vida que, verdadeiramente, vale a pena!...
Muito obrigado!"
Cronometrei dois minutos e trinta segundos para esta fala; menos que o tempo de um político candidato a cargo eletivo, sem interrupção, num debate televisivo. Portanto, atenção!...
"Boa noite! Em primeiro lugar, gostaria de agradecer aos formandos desta noite pela oportunidade de estar aqui, na condição de seu paraninfo. Talvez seja esta a maior das honras para um professor que aprendeu a amar a sala de aula - representar seus colegas junto aos estudantes neste momento de júbilo e reconhecimento. Definitivamente, sou privilegiado por estar aqui representando os professores e professoras dos Cursos de Comunicação Social e de Ciências Contábeis do Centro Universitário de Brasília, professores e professoras tão competentes no desejo de ensinar quanto no que lhes cabe ensinar. Considero-me privilegiado porque sei das dificuldades enfrentadas pelo trabalho docente num mundo que parece negar, reiteradamente, a importância da verdadeira educação na formação de seres humanos integrais - seres críticos, capazes de pensar e agir com independência, e autônomos na medida em que reconhecem o caráter interdependente da vida social, ou seja, a responsabilidade de cada um para com todos nesta vida.
Nesse sentido, gostaria de aproveitar esta hora de celebração retribuindo um pouco do convite que me foi feito. Convido os formandos desta noite para uma pequena reflexão sobre um pequeno aspecto do papel da escola neste mundo em que vivemos. Dizem por aí que a escola mal prepara para a vida; que a escola, ingênua e idealista, na melhor das hipóteses teoricamente impraticável, ignora ou subestima as asperezas e as contradições do mundo real. Que ela, ao defender a possibilidade de um mundo melhor, termina despreparando seus estudantes para o mundo que está aí - o único lugar, afinal, no qual todos temos de sobreviver.
Como professor - melhor dizendo, como professor sobrevivente neste mundo real -, gostaria de sugerir a vocês a inversão desse argumento, inversão que resumo na seguinte tese: nunca, nunca como agora, este mundo em que vivemos tem precisado tanto da escola! Se quisermos um dia superar os males que nos afligem, que nos fazem desacreditar na possibilidade de uma vida bem vivida - isto é, uma vida próspera tanto material quanto eticamente -, teremos não de simplesmente levar este mundo que está aí para dentro da escola, como muitos defendem, mas sim de proceder metódica e persistentemente o contrário: trazer os valores da escola para este mundo; contaminá-lo daquele idealismo algo ingênuo, mas que hoje parece tão necessário.
Enfim, é o que venho aqui desejar, de coração, aos formandos desta noite. Até agora, vocês estiveram na escola; daqui em diante, carreguem a escola consigo, dentro de vocês, para dentro do mundo! Porque, cedo ou tarde, todos nós terminamos descobrindo, invariavelmente, que meramente sobreviver não é suficiente. Portanto, desejo que todos possam desejar uma vida plena, plenamente humana - a única vida que, verdadeiramente, vale a pena!...
Muito obrigado!"
quarta-feira, 11 de abril de 2007
CASERNA
O fim da tarde que arde
Subitamente fria
É a hora e a vez (sombrias)
Da tua cavalaria;
Soberba, consciente
Condecorada ricamente
De certeza variada, repassada
Continuamente;
Uma linha compacta defensiva
A desfilar garbosamente
Contida - frente
A um desejo inocente, assim
Como se espelho perfilasse
No gargarejo - enfim
Assistindo ao cortejo (de mim)...
Subitamente fria
É a hora e a vez (sombrias)
Da tua cavalaria;
Soberba, consciente
Condecorada ricamente
De certeza variada, repassada
Continuamente;
Uma linha compacta defensiva
A desfilar garbosamente
Contida - frente
A um desejo inocente, assim
Como se espelho perfilasse
No gargarejo - enfim
Assistindo ao cortejo (de mim)...
terça-feira, 3 de abril de 2007
Mulher
Habita em mim uma dialética alma feminina, cheia de perguntas que nunca se encerram. Tenho dúvidas e certezas, choros contidos e sorrisos distribuídos. Não sei quantos sonhos invento ou quantos medos carrego. Sou vírgula, ponto final, reticências. Tenho entranhas que geraram vidas, fantasias que não aconteceram, cicatrizes abertas, desejos.
Meus olhos alcançam além do que permite a retina, os fatos chegam depois do que revela o meu sexto sentido, meu coração adoece a cada vez que me desencanto, e me despedaça, e me machuca. Sou a mão que bate, a voz rígida que ensina, mas sou o beijo que consola, que ameniza. E essa complexidade desgasta, corrói, violenta.
Mas há em mim força, coragem, mistério. Sirvo-me das máscaras que guardo para me transformar em tantas... Grito, choro, me arrependo, e depois consigo sorrir do meu próprio descontrole. Vivo ao extremo angústias e momentos bons. Carrego na face todos os sentimentos de uma só vez. E sei que sou feita de sensibilidade e contradições porque nasci mulher.
Ju
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