QUADRA DA COPA NA GARAGEM

[esta Copa no Catar

não me deixa respirar:

muita areia pra rolar

toda a água que comprar]

VITAIS

Porões

muros

peias

cercas;

porções

fumos

ceias

mercas;

portões

rumos

(meios

acerca);

o dia

a via

sofia:

- não percas!...

SETILHA AUSPICIOSA

Ontem

houve.

Hoje

não há.

Amanhã

ouves

que haverá?

NAMORO QUE VIU POUCO

Nebuloso

comigo

nubiloso

contigo

nebulento

conosco:

- foi pitosco

o experimento

do nosso enrosco

(sobremodo

do sentimento

o tempo todo)

DO TRABALHO PÓS-CORONAVÍRUS

balanço anual

docente presencial

O meu semestre

(algo trimestre)

deste ano escolar

ao se descolar

veio pra ficar:

- tanto terrestre

(daí pedestre)

quanto especular

do eterno teste

vem sem questionar

por que inconteste

seu lento esgotar?...

SEXTILHA AO DIA INTEIRO

[na torre

que morro

escorre

do jorro

um porre

de zorro]

SETILHA INUNDADA

baldada

Ao bilhão de gotas

porque a rodo desce

um bulhão de botas

que de rodo cresce

como se água seque:

- como se anedota

de que à chuva cesse...

POR UMA AGENDA PÓS-FASCISTA

síntese

Sua alteza

a natureza

sua majestade

a realidade;

sua excelência

a consciência

sua senhoria

a fantasia;

sua eminência

a resistência

sua santidade

a alteridade;

a convivência

em sociedade

magnificência;

a verdadíssima

felicidade

reverendíssima!...

QUADRA IMPROVÁVEL

O que meu corpo alcança

seu torso abraça

como se dança

mas de couraça.

SEXTILHA DETALHISTA

sob a chuva

Há mais claridade

no topo da torre

na base do vale

se a vista o percorre

- mas pela metade

da água que corre.

DA VIDA PREVISÍVEL

Ares

condicionados

bares

aficionados

mares

colecionados

lares

adicionados;

dares

relacionados

gares

colacionados:

- pares

direcionados...

DO ESTRO

Ao plectro

comigo

electros

amigos

(espectros

antigos)

surgiram

desses sonhos

risonhos

que mitigam

(bisonhos

que me urtigam)

POEMA NATURAL

de uns dias atrás

(... pois tem chovido

mui fementido

algo interrupto

e dividido...)

Até que a estação

enfim se imponha

ininterrupta

e sem vergonha

sigo contido

quanto ao que ponho

plântula, gérmen

grânulo, sêmen

no que então pense

seguir gestação.

QUADRA TRABALHISTA

a questão

A lida

convida

a vida

devida?

SEXTILHA AO ESPELHO

de um alvo sob o sol

[... os óculos

provos

chamarão

uns ósculos

novos

camarão?!...]

QUADRA NUMEROLÓGICA

aniversário

Sessenta

e três

me assenta

de vez.

QUADRA RARA

A sombra

me lembra

a alfombra

que sembra.

QUINTILHA DA CAVERNA

[a garagem

descoberto

na paragem

seu deserto

vira imagem]

QUADRA DA MOÇA BOA

Do teu riso

benigno

eu deslizo

condigno.

DUPLA QUADRA PERTO DAS FÉRIAS

[o azul

duro

do céu

puro

fere

olhar

longe

o mar]

NO CAMINHO DA GARAGEM II

Um carro

na frente

eu paro

repente:

- dois carros

pendentes

do esbarro

desgarro

ausente.

SETILHA A UMA NOITE BEM DORMIDA

Cedo

assim

cedo

enfim:

- desço

de si

por mim.

SEXTILHA DA GARAGEM VI

[o cano

vermelho

aorta

transporta

segredos

de pano]

NA GARAGEM XXIII

faxineiras

[eretas

do piso

ao teto

colunas

pilastras

pilares

alastram

comunas

de risos]

SETILHA DA GARAGEM II

A gruta

vazia

matuta

meu dia:

- escuta

macia

que o cria.

SETILHA NUM TREM

lembrete

[Colo-

rado

solo

dado

parcial:

ideal

boreal]

SEXTILHA NUM TREM II

[o céu me lembra

que a diferença

entre o que eterno

é mais ligeiro

está no interno

do passageiro]

SEXTILHA NUM TREM

memória americana

[reflete o meu cerrado

a luz do Colorado

mas só quando recordo

que estão em desacordo

os tempos bons de cada

no espaço da jornada]

LOMBEIRA AO QUADRADO

Meu cansaço

preguiçoso

um carraço

glutinoso

é ósseo

nervoso

muscular

e cróceo

apesar:

- fogoso

regaço

a escusar.

DUPLA QUADRA ROMANESCA

Há trela

na bágua

daquela

de anágua

(aquela

de frágua)

[procela

sem água]

DUPLA QUADRA DA CAVERNA II

[a garagem

alagada

é miragem

alargada

de paisagem

hidratada

em roupagem

espelhada]

QUADRA CHUVOSA II

[da névoa

ninhada

há révoa

sonhada]

CHUVOSA III

Meu dia

engaiolado

da treixa

envidraçado

se queixa

ensimesmado

que esfria:

- me deixa

encarceradas

caligrafias...

PEDRA CANTADA

jogo jogado

Da eleição

à posse

o bordão

que tossem

do sermão

que fossem

é o seguinte:

- haverá tensões

entre obedintes

e conciliações

por dirigintes

depois de orações

pelo fuginte...

SEXTILHA A UM MORTO NO SEU DIA

decerto morto-vivo

[um presidente

incontinente

inolvidável

futuramente

incontingente

inimputável?...]

MINHA PÁTRIA

O Brasil

é maior.

Infantil

juvenil

ou senil

é maior.

Feminil

e viril

o perfil

é maior.

Senhorio

luzidio

extravio

no vazio

é maior.

Se gentil

bravio

se servil

vadio

pois maior:

- pois Brasil

no desvio

ao gentio

desafio

bem maior.

PIRRO?

Foi o psicopata

que no seu tudo ou nada

convenceu.

Foram cinquenta e oito

milhões de sociopatas

fariseus.

Que país impossível

(de novela das oito)

se poderia extrair

dessa massa impassível

se dela se consentir

que sofreu?...

NO DIA SEGUINTE II

Usual

casual

parcial

bestial

medial

desigual:

- a vida

devida

afinal

vivida

perigual

por degrau.

QUADRA DESTA SEMANA VII

enfim

[... na verdade

a mentira

inverdade

nem mentira!...]

SEXTILHA DE HOJE À TARDE

[a chuva

de vento

recusa-

se chuva:

seu vento

a expulsa]

EM FRENTE À TEVÊ XXXVIII

Sentado

o corpo

atado

a bordo

servido

o morbo

cediço:

- tentado

fervido

de acordo

com dado

serviço.

ÁTIMO

O barulho

do silêncio

no segundo:

- fragmento

dum arrulho

do ponteiro

mais esguio

no momento

moribundo.

QUADRA DESTA SEMANA VI

[um sábado

entre arrebóis

com vágado

de futebóis]

À LEVA

a treva

primeva

longeva

medieva

(maleva

se ceva)

releva

e enleva

equevos

grandevos

andevos

(motevos)

QUADRA DESTA SEMANA V

zen

[o vazio

fugidio

luzidio

esvazio]

DUPLA QUADRA DA GARAGEM ESTA SEMANA

a Lula

Por que flores

amarelas

lembram cores

aquarelas

- mais se dores

verão elas

quando fores

às procelas?...

SEXTILHA DESTA SEMANA

O céu desse jeito

(chapéu de que eleito?)

contrasta no peito

o medo e o desejo

de cedo o cotejo

e ledo o despejo...

QUADRA DESTA SEMANA IV

[a hora

alonga

agora

samonga]

SEXTILHA SEM CORREÇÃO

[a armadilha

da educação

é a sua trilha:

a presunção

de outra milha

na direção]

SEXTILHA DA GARAGEM ESTA SEMANA

[se de fato a aprendizagem

for somente uma miragem

(simplesmente patinagem

sem reparo da engrenagem)

carregar essa bagagem

pedirá mais que coragem]

QUADRA DESTA SEMANA III

expectativa

[decerto a dança

entre esperança

e temperança

terá mudança]

QUADRA DESTA SEMANA II

[o azul

fundo

é anil

raso]

PRUMO PRECIPITANTE

Dançando no parapeito

o que avistamos primeiro?

O choque no chão de jeito

a fome do formigueiro?

O vento quando a proveito

a chuva por um regueiro?

O teto de alguém afeito

seu risco se verdadeiro?

O que pareceu suspeito

depois de estar no roteiro?...

...

Dançando do parapeito

quão veloz se quebra inteiro?...

RUMO DESVIANTE

ao desavisado alienante

Do muro

que avento

à frente

dá tempo?

(é escuro

somente?)

[monturo

recente?]

{futuro?...}

QUADRA DESTA SEMANA

normativa cósmica

Nosso movimento

ao redor do sol

nem por um momento

parecerá estol.

DUPLA QUADRA DESTA SEMANA

O céu

dá cor

ao chão

da dor.

(chapéu

de pôr

pisão

em flor)

DEVANEIO POLÍTICO

sobre um verniz

[a burguesia

terceira via

(por tal sofia

mediocracia)

na fantasia

de tão achar-se

em sintonia

bem que podia

em harmonia

com a valia

da ideologia

civilizar-se

de autonomia:

pirulitar-se

dessa mania

de na anomia

fascistizar-se

sem barbaria]

DIREITO POLÍTICO

Eu não quero

ceder aqui

porque quero

poder daqui

ir sincero

comer pequi

amarelo

(depois caqui

o vermelho)

LIXOS

a Augusto de Campos

Do luxo

da compra

ao lixo

que assombra;

do luxo

da fruição

ao lixo

da função;

do luxo

contingente

ao lixo

permanente:

- capucho

porque o sente

capricho

do que mente.

XEPA

Opaco

o céu

velhaco

troféu

casacos

e véus

cassacos

ao léu

pitacos

ao réu:

- eu saco

que deu.

RETA FINAL

desta vez afinal?

Mal entramos

na semana

decisiva

sal centramos

na romana

língua ativa:

- qual cobramos

do bacana

mais saliva

tal sobramos

soberana

voz passiva...

SETILHA NA FEIRA

O céu tá baixo

seu véu abaixo

déu altibaixo

ao léu manaixo:

- eu por debaixo

réu cabisbaixo

béus desencaixo...

SEXTILHA BRASILEIRA

A treva

que vira a esquina

é ceva

que dobra a sina

resteva

do que amofina.

SETILHA EVANGÉLICA

pela teocracia

O tempo compôs

o clima dispôs

a hora os impôs:

- nada cai do céu

nem brota do chão

aquém do fiel

além de água não...

QUADRA FÚTIL

[os dias úteis

penso consútil

(vezes cicútio)

se são inúteis]

DA GARAGEM VII

Tais flores amarelas

o que fazer com elas?

Regá-las de janelas?

Colhê-las às donzelas?

Deixá-las mais na delas

mantê-las contempladas

naturalmente belas

na eira dessa entrada

à beira dessa vaga?...

CORDIAL

O café

com leite

(chaminé

de enfeite)

em maré

de azeite

ao laré

deleite

faço fé

lembrete:

- só dá pé

se aceite.

SEXTILHA FASCISTA

A treva

intrínseca

à gente

se leva

extrínseca

à mente.

QUINTILHA DA GARAGEM

lavada

[vítreo

o chão

pétreo

(senão

cítreo)]

DUPLA QUADRA DESTA ESPERA NA GARAGEM

pelo dia trinta

[o espírito

da garagem

no ritmo

da passagem

em mim:

um istmo

na paisagem

ruim]

DUPLA QUADRA NO CAMINHO DA GARAGEM

Colégio Militar de Brasília

[as pernas

juvenis

que passam

tão febris

já grassam

infantis

casernas

incivis]

TRANSLÚCIDA MEMÓRIA

verde-piscina

O sol explode

da Asa Norte

o seu aporte

ao nosso esporte

aqui na corte.

[daqui exploro

porque este cloro

induz namoros

(seduz decoros)

à luz do todo]

QUINTILHA ATEÍSTA

a Carl Sagan

Belo.

Terrível.

Indiferente.

Isso é o universo

contente.

QUESTÕES ELEITORAIS

Este comprido outubro

encurtará novembro?

E se ficar mais rubro

incendiará dezembro?

(caso o oposto descubra

desse alongado outubro)

Permitirá janeiros

(aqueles recomeços)

além de fevereiro?...

SEXTILHA DO MELHOR PASSADO

Meu mundo

não mais existe.

(aquele

que então num chiste

no fundo

me punha triste)

QUADRA DO CLIMA SUFOCANTE

[um tempo

no dia

o vento

podia]

FUGIDIA

O anil

se abriu

ardil

gentil

do estio

vadio

me arrumar

de escapar

do lugar.

COM VANDECIRA

vida amarelo-azul

Se amanheço

hastiverde

se entardeço

lustriverde

sempre-verde

anoiteço:

- sempre o mesmo

sabugueiro

verde a ver-te.

FÉ NORDESTINA

pela democracia

Nesta seção

interseção

desta nação

hoje em sessão

contra a cessão

à cessação

há recessão

há sessação

há cassação:

- e secessão

da interseção

haverá não?...

QUADRA FATAL

seção brasileira

[um fim

a fim

afim

enfim]

AVANTE

[o enlaço

do passo

nos paços

que eu lasso

de espaços

escassos

bem faço

num crasso

mau traço:

trespasso

que ameaço

que casso

(e caço)]

ADVERTÊNCIAS

e exortação

1. o país

se verniz

não puís.

2. no país

aprendiz

não caís.

3. do país

por um triz

não saís

infeliz!...

...

(ao país

sê cerviz

vis-à-vis

da raiz)

NA GARAGEM XXII

[ao longe

mantido

o longo

ruído

de mundo

sumindo:

qual monge

assisto

dormindo]

NA GARAGEM XXI

[há um silêncio

desértico

de pavimento

talvez preênsil

fonético

no movimento:

quiçá utênsil

poético

por um momento]

DUPLA QUADRA DO SOL LÁ FORA

[vejo

o anil

daqui

Brasil;

veio

gentil

e ali

se abriu]

SEXTILHA DO SOL LÁ FORA

[um dia lindo

mesmo da gruta;

e tão bem-vindo

que não permuta

então fremindo

que se desfruta]

SETILHA DA GARAGEM NA ESTAÇÃO

[úmido

carrinho

fúmido

caminho

túmido

carinho:

cadinho]

SEXTILHA NO CAMINHO DA GARAGEM III

[autoescolas

abstruem

portinholas

que abstraem

de pabolas

que obstruem]

SEXTILHA NO CAMINHO DA GARAGEM II

pública abúlica

[colégio

militar:

o régio

limitar

do egrégio

militar]

SEXTILHA NO CAMINHO DA GARAGEM

[the bridge

full:

the fridge

null

abridges

dull]

QUADRA ELEITORAL II

recado

[berdamerda

pela esquerda

dá mais merda

que à direita]

UM TIPO ELEITOR

Do sul

ilhéu

azul

fiel

(a soul

do céu)

curul

de anel

taful

ao léu

paul

batel:

- meul

que creu.

SACADA

[falada

é nada

calada

é nada

casada

é nada

catada

atada

é nada;

usada

é nada

pisada

é nada

ursada

é nada

deixada

por cada

é nada;

ornada

é nada

tornada

é nada

cornada

cansada

bordada

por cada

é nada;

amada

deitada

camada

queimada

por cada

prensada

nadada

pesada

é nada]

QUADRA DE GALINHEIRO

[minhas puvas

mandachuvas

com saúvas

usam luvas]

SETILHA DA PASSAGEM NO FIM DA SECA

Entre a chuva

entra a seca.

Entre a seca

entra a chuva:

- maranduva

que resseca

e saúva.

SETILHA DA GARAGEM NO FIM DA SECA II

Ventada.

Nublada.

Chovida.

Molhada:

- na terça

conversa

chegada.

SETILHA DA GARAGEM NO FIM DA SECA

semanas atrás

Ventou.

Nublou.

Choveu.

Molhou:

- na gruta

segunda

chegou.

QUADRA EM VÃO

[não foi

de manhã

que fui

de amanhã]

DE CIMA

Baixa

do céu

cinzento

faixa

de véu

cimento:

- paixa

do mel

alento

caixa

de fel

lamento.

COTIDIANA

[a rotina

gelatina

cristalina

me fascina;

medicina

nesse clima

lamparina

para-brisa

me organiza

à medida

que inquilino

amofino...]

DUPLA QUADRA AFORA DA GARAGEM

síntese

Agora

a luz

demora

versus

a hora

(modus

que adoras

de cora)

QUADRA FORA DA GARAGEM

Sob o sol

(um farol)

piso o chão

de antemão.

FORA DA GARAGEM III

Também à gruta

o tempo esquenta;

o clima assenta

por cima e aquenta

no forro as frutas:

- acima aquenta

abaixo as trutas

(na forra tretas)

em consequência

da má quentura...

FORA DA GARAGEM II

A cruz intensa

da luz intrusa

faz diferença?

Mesmo profusa

se descompensa

te recompensa

que parafusas?...

...

(à sua crescença

indiferente

pensas presente

que é de nascença

se então a sentes?...)

FORA DA GARAGEM

(um colapso de energia forçou-me a estacionar nas imediações

da boca da caverna, com todas as implicações decorrentes...)

Do lado de fora

há só um agora

despido da hora

outrora da aurora;

da flora

à cora

da pedra

à medra

(da hedra

à redra)

da fauna

à sauna:

- que demora

ir embora.

DO DIA SEGUINTE

O tempo escuro

que adura o duro

aponta o ponto:

- alonga o longo

acurta o curto

alisa o liso

acurva o curvo

afina o fino

abruta o bruto

atira o tiro:

- arrasa o raso

afunda o fundo

e acaba ao cabo.

QUADRA DO DIA SEGUINTE II

Nublou

again.

(dublou

a pain)

NO DIA SEGUINTE

O tempo

doendo

(seu vento

retendo)

mal passa:

- tão lento

relento

relendo

maltrata.

DUPLA QUADRA REACIONÁRIA

O fascismo

a misoginia

o racismo

a homofobia

são batismos

de uma infantaria

que nos é vizinha:

- a do dia a dia.

QUADRA DO DIA SEGUINTE

ao primeiro turno

O que é o vosso país?

(não o que eu queria que fosse)

...

O que é o nosso país?

(não o que querias que fosse)

Sobre este tempo sem vir ao blog

Leitoras e leitores,

A razão é apenas uma: os afazeres do prof. Sérgio Euclides com provas e trabalhos discentes fizeram com que o seu alterego submergisse. Nesse período, no entanto, rascunhos de poemas na garagem têm sido produzidos regularmente; logo que possível, suas versões finais ganharão espaço aqui, assim como as de outros rabiscos eventuais.

Isso certamente em outubro.

Até!

M. B.

DA GARAGEM ONTEM

[ainda sobre uma tal flor amarela:

o que há nela

de costelas

em janelas

de donzelas

em capelas

de fivelas

de cautelas

nas tutelas

que revela

das procelas

que rebela?...]

QUADRA AMOROSA II

Teus miolos desfrutam

os ovos que fritam;

meus olhos escrutam

os miúdos que frisam.

SETILHA DO MESMO FILME

[ser marital

se maquinal

seu racional

é passional

e musical

(e material

dado o final)]

SETILHA DO INSTANTE AMARELO

a gruta em seu momento

[a luz leve

de faroeste

algo breve

que então desce

e acontece

centro-oeste

me enternece]

DA GARAGEM MUITO CEDO

De luzes

reluzes

palavras

de lavras

cavernais;

se fulge

refulges

ideias

impressões

aos montões:

- geleias

magistrais

nenhures

como tais.

DE RELÓGIOS

Os ponteiros

marcadores

corriqueiros

construtores

engenheiros

armadores

dos carreiros

anteriores;

costumeiros

diretores

rotineiros

condutores

sobranceiros

regedores

dos que obreiros

pintam cores

até os tempos

estertores

roubadores

de si mesmos:

- porque pilham

de alegrias

o que empilham

baterias...

TERCETO DA SALA DE AULA NA HORA DA PROVA

Vazia.

(online

podia)

QUESTÃO DE CLASSE

na democracia

Teu piso

é o teto

conciso

discreto

do aviso:

- concreto

diviso

cutelo

preciso.

QUADRA INSTITUCIONAL

ânimo!

[grades violetas

portas vermelhas

flores amarelas:

cores paralelas]

SEXTILHA SEMÂNTICA

mas

[eu opero

no limite

do sentido

que me omite

fementido

que o onero]

NA GARAGEM XX

[lavaram

o piso

da gruta

cavaram

seu liso

na luta

cevaram

que riso

desfruta

levaram

que siso

se escuta]

À GARAGEM

[... das colunas

que pilares

dão pilastras

que amarelam

aos milhares

às lacunas

que avermelham

pelos astras

seus olhares

as fortunas

que entrevejam

nesta clastra...]

LÓGICA DE QUINTAL

seleção natural

Se há mais árvores

(menos mármore)

há mais pássaros.

Se há mais pássaros

mais canários.

Se há canários

há os otários

para os gatos

menos patos.

SETILHA ÀQUELA PRAIA DISTANTE

O homem primitivo

na companhia do sol

(da onda sob o sol)

pega a mania do cool

(do anzol ao frescobol)

(do guarda-sol cativo)

em definitivo.

DE CARRO

A Dábliu Três

da Asa Norte

(porque talvez

de tal sorte)

quando brilha

cedo o sol

tendo a lua

de consorte

sobre a rua

de arrebol

me transporta

pela porta

para onde?

Para um canto

brasiliense

(maravilha

de horizonte)

celacanto

simbionte

da memória

provisória

da avenida

resiliente

de anteontem?...

QUINTILHA À VENDA

[suscetível

à disposição

posso ser aprazível

(noutra transação incrível)

em consignação]

NA GARAGEM XIX

Esta sexta

sexta-feira

me pretexta

da cadeira

na banheira

na lareira

na fogueira

da fronteira

primigesto

da floresta

ir à beira

manifesta

do que resta.

QUINTILHA FEMINISTA

development?

[meu facho

de macho

capacho

agacho

(empacho)]

A GARAGEM NESTA QUINTA II

Um silêncio

meio tênsil

num vazio

de arrepio:

- é do frio

da caverna

(luzidio

de lucerna)

que me inverna?

QUADRA FEMINISTA

self-improvement

[meu facho

de macho

despacho

(eu acho)]

A GARAGEM NESTA QUINTA

Um silêncio

amarelo

num vazio

paralelo:

- a caverna

pós-trigolpe

pré-caserna

se resolve

(me revolve)

DA IMÓVEL PAISAGEM

A garagem

sem roupagem

sem carruagens

nem miragens

nem aragem:

- homenagem

à paragem

das mensagens

dessa imagem.

PARADA NO EIXO

golpe a galope?

Afixei

meu olhar

e fixei

paladar

no que achei

do lugar:

- jamboree

de trainees

apesar.

HOJE NO PASSADO

Dia sete

de setembro

que lembretes

eu relembro?

Dos bilhetes

do manembro

tamborete

dezessete

em novembro?

De topetes

ramalhetes

canivetes

alfinetes

e um filete

de paquete

ricochete

no tapete?...

De setembro

dia sete

eu me lembro:

- meu colete

teu corpete

num banquete

de colchetes

com baguete

e sorvete...

(par ginete

pra dezembro...)

SEXTILHA DA GARAGEM V

[esta caverna

neste momento

meu refrigério

como lanterna:

maior mistério

que movimento]

SEXTILHA ALTERCRÍTICA

[na sacada da garagem

Mauro Belmiro

frequentemente

sinistrogiro

me leva a mente

pra beirada da linguagem]

DA RELAÇÃO ENTRE OS TERMOS

Garagem:

- caverna

contínua

que gruta

contígua

me enfurna.

(contígua

e irrígua

continua

ambígua

e exígua)

SALTO TRIPLO CARPADO

a Mércia

(Vandecira

casou-me

consigo)

[Sérgio Euclides

casou-se

contigo]

{Mauro Belmiro

casou-te

comigo}

02/09/22

SEXTILHA DA COISA PARADA

[essa hora

reparada

vida afora

nos escapa

preparada

à socapa]

IMPASSE

[lá na

landa

cada

banda

dada

manda:

nada

anda

(panda

ganda

janda

vanda

randa)]

QUADRA EGOCÊNTRICA

[mais cera

no ouvido

é mera

do umbigo]

NAS ALTURAS

da garagem

O espaço

que tenho

terraço

pacenho

abraço

ferrenho

regaço

do cenho.

(do espaço

que venho

de escasso

despenho

pedaço

de engenho)

SANO

na garagem

Rubros

canos

contra

danos

cubro

lhano.

(evitam

incêndios)

PULQUÉRRIMA

Esse tempo

do mês

celérrimo

talvez

vetérrimo

se fez:

- e acérrimo

às dez

aspérrimo

na tez

tetérrimo

de vez.

QUADRA DA GARAGEM IV

[este castelo

porque amarela

faz paralelo

que camartela]

NA CAVERNA III

Sobre as flores

amarelas

da garagem

à janela:

- paralelo

à planeza

amarelo

de revê-las

mais singelas

que nudezas

(menos delas

que vivezas)

DA CAVERNA V

A gruta

vazia

escuta

o dia.

(disputa

qual dia)

[permuta

tal dia]

{desfruta

que ouvia

que o via}

NO PISO DA GARAGEM

Qual sol

que chega

clareia

e deita?

Um sol

talvez

exausto

(de brilhar com limpidez

sobre a nossa estupidez)

DUPLA QUADRA DA GARAGEM II

alterego

[na gruta

assim

a truta

em mim

perscruta

enfim

em vão

seu fim]

SEXTILHA NA GARAGEM VI

[o piso

reflete

o liso

topete

dum riso

que flerte]

QUADRA AMAZÔNICA

Lima a atmosfera

fina a motosserra

rósea sob a esfera

óssea sobre a terra.

NOUTRA GARAGEM

Carrefour ontem

[depois de almoço

um tanto insosso

veio do troço

sono colosso

de fundo poço

correndo cosso

pelo pescoço;

do caldo grosso

do tal estroço

chupei mau osso

sem alvoroço

entre molosso

e aeromoço

sempre que posso...]

LULA

anteontem na TV

O homem voltou

com a energia

do melhor homem

que poderia

e se assentou

antinomia

ao lobisomem

e ao que restou

da outra via.

NA GARAGEM XVIII

Café com leite

descendo quente

como um azeite

meio languente

entre o que sonho

e o que vigio

do pesadelo

do meu vizinho

polichinelo...

SEXTILHA EM VISTA

da garagem

[cabogós

falsos

em patós

altos

me dão dó

faltos]

DUPLA QUADRA NA CAVERNA

[da garagem

passarinhos

ouço vivos

quais vizinhos;

mas não vejo

seus motivos

nem prevejo

que selvagens]

SEXTILHA DO SOL NO PISO

da garagem

Chegou.

Clareou.

Deitou.

(feliz

já fiz

que vou)

QUADRA DO SILÊNCIO

na garagem

[se muda

surdeio

o buda

que anseio]

QUADRA DAS VAGAS

ocupadas na garagem

[se vagas

a vaga

divagas

se vaga]

QUADRA DAS LÂMPADAS

da garagem

[acesas

acessas

as cenas

que acenas]

A CAMINHO DA GARAGEM

sobre a melhor hora de sair de casa

Cinco minutos

antes ou depois

se multiplicam

depositando

adiante ou atrás

qual dia andando;

e o que se enfrenta

de alternativas

como planetas

indiferentes

são ganho e perda

mas excludentes:

- um é usufruto

fuga do aboiz

trânsito veloz

frágil por um triz;

- a outra enfrena

o meu na reta

fazendo cena

do que retarda

seu efeito borboleta...

SEXTILHA REFLEXA

Acima

mais azul

apazigua.

(abaixo

no paul

apanigua)

CABE UMA QUINTILHA

[o que vejo ali

sem pejo daqui?

lida javali

(sonho colibri)

ante a sucuri?...]

NA CAVERNA II

O que mais vejo ali

(dada a consistência)

percevejando aqui?

Entes enlatados

autocomplacentes

(vária a procedência)

rolando entalados

para a frigideira

(amiúde a mesma)

uma vida inteira.

...

[mas corpo docente

amiudando mesmo:

não sou eu da tropa

e de vento em popa?...]

DA CAVERNA IV

cedo

[na garagem

há coisa pendente

numa imagem:

condicionado

maquinalmente

ar remolhado

pinga a sua revolta

contra a seca dominante

sobre escarros

sob rodas

de outros carros

neste instante]

A COR

No sal

do céu

de sol

ao sul:

- anil.

QUADRA ANTES OFUSCANTE

[quando a luz chega

sempre se deita

e me aconchega

da sua desfeita]

DA GARAGEM VI

[a gruta linda

itaberaba

escura ainda

já me ilumina

concatenada

por tais sílabas

mais repentinas

adocicadas:

pois sobrevindas

jabuticabas

correndo baba

de alguma quina]

MUSICAL

[ouvi-los

em turnos

soturno

sozinho

os grilos

vizinhos

à noite

coberta

piora

o açoite

da hora

que aperta]

SABADARIA

A ventania

que o clima esfria

desarmonia

com teimosia

é barbaria?

Eu contaria

que então urgia

antinomia

que valeria:

- agitarias

monotonias

tapeçarias

que albergarias

à luz do dia...

DUPLA QUADRA PROVERBIAL

[muita

calma

nessa

hora

multa

a alma

dessa

mora]

THE BRIDGE II

JK no rush

Lombada

de lataria

lotada

a motorista:

- pois eu evito

de contemplá-la

sacada

movida

a correria...

NÓS OS CAVERNAIS

Um homem primitivo

enquanto empregatício

beija o sol

logo cedo:

- à garagem ido

(vício de passagem)

deixa o seu

reflexo

contra o precipício

(eixa o seu

biflexo

custo-benefício)

DO IMPASSE II

As pernas

não mexem

se os braços

não derem:

- se as penas

perderem

e os passos

requerem.

(se há fados

que as levem)

DO IMPASSE

Brasil 2022

Por onde viemos

não mais iremos.

Aonde vamos

mal chegaremos

ao que seremos.

Já onde estamos

não mais podemos

não mais queremos

jamais devamos.

MISTÉRIOS DAS CAVERNAS

de obsolescências reprogramadas

[na garagem

do que vejo

de miragens

fascinado

- esqueletos

conservados

de aparelhos

revelados

como de ar condicionado -

tenho o medo

relevado

de sabê-los

consertados]

NO CAMINHO DA GARAGEM

por sobre Brasília

Que céu

aqui

pincel

nós temos!

Ao léu

dali

(Bali)

de lá

(Belá)

e além

(Belém)

agora

(e afora

Juiz

de Fora)

podemos!...

QUADRA EM SALA

de aula

[da cruz

do dar

de si

caí]

QUADRA DESDOBRADA DA GARAGEM

Na luz

que sol

bateu

estou.

(da luz

que sal

ardeu

saí)

SETILHA DA GARAGEM

[a luz

do sol

entrou

na foz

de cal

do antro

que sou]

ONDA NA GARAGEM

[uma lixeira

guardando vaga

neste momento:

tal qual palmeira

crescendo vaga

desse argumento

ali bandeira

fingindo vaga

sobre o cimento

uma fronteira

pospondo vaga

seu movimento]

QUADRAS AO QUE PARECER

[falado

calado

eu falo

que calo]

[calado

falado

eu calo

que falo]

[calado

falado

eu falo

que calo]

[falado

calado

eu calo

que falo]

...

[falado

eu calo

que falo

calado]

[calado

eu falo

que calo

falado]

NA GARAGEM XVII

[no hiato

prorrogado

entre as luzes

que desligam

e o sol

que atrasou

estou

(sonhando

que não)]

SEXTILHA NA GARAGEM V

[este sono

empatado

tem seu tono

empanado

como o dono

empacado]

DUPLA QUADRA ABAIXO

eu piro

De manhã

aspiro.

(mais tarde

transpiro)

[à noite

respiro]

{madruga

suspiro}

DUPLA QUADRA SENIL

Às sete

o sol

me pisa

os olhos.

(às oito

farol

me bisa

refolhos)

RUMO ÀS AULAS

1. Chego à

garagem

rodando.

2. Vejo-a

imagem

rotando.

3. Nego-a

miragem

rogando.

4. Deixo-a

paragem

rolando.

DIAGNÓSTICO & PERSPECTIVA

[o céu

acima

convexo;

o chão

abaixo

perplexo;

a via

à frente

(complexa)

desvia]

A TORRE À GARAGEM

subsolo so far

Com prazer e pesar

coube-me registrar

esse estranho revoar

desse por deslocar

por frequente se dar:

- quanto ao que versejar

quando o galo cantar

este segundo andar

está noutro lugar.

SEXTILHA DA CAVERNA

Sexta-feira

na garagem

à maneira

dessa viagem:

- rotineira

(a passagem)

DA CAVERNA III

Na garagem

molesta

a passagem

das sextas

(modestas

para viagem)

de bagagens

pretexta

aragens

pela fresta

ramagens

do que cresta

paragens

entre giestas

paisagens

de florestas:

- se na siesta

carruagens

(como gesta

de imagem)

miragens

vindo à testa

em roupagens

de festa...

TRÊS MOMENTOS

da atividade física

(andando

há sombras

e luzes)

[correndo

há lombras

e vozes]

{parando

alfombras

e cruzes}

DUPLA QUADRA FICTÍCIA

O caderno

que rascunho

desse verso

é mágico.

(sempiterno

testemunho

controverso

pois trágico)

QUADRA NA GARAGEM VI

otimista

[na caverna

se moderna

toda lerna

reconcerta]

DUPLA QUADRA DA CAVERNA

concretude

[na garagem

é elemental

sua paisagem

horizontal:

vassalagem

dimensional

à vantagem

do material]

DA GARAGEM V

[na gruta

lavada

seu teto

seu piso

próximos

parecem:

cândidos

trânsitos

refletem]

SEXTILHA NA GARAGEM IV

[à medida

que a rotina

estendida

predomina

petrifica

nesta vida]

NA GRUTA

às sete

O sol

deitou

no chão.

(do céu

deu no

porão)

DUPLA QUADRA À MÁ INTERNET

[na garagem

tal conexão

compromete

qualquer ação

que se tente

engrenagem

de contente

parolagem]

NA GARAGEM XVI

[o espaço

que atento

vazio

é todo

seu tempo

sentido

de modo

contudo

perdido]

DUPLA QUADRA NA GARAGEM VI

[agora claro

do há pouco escuro

cabe um reparo

no que maduro:

meu desamparo

contra o futuro

talvez preparo

quiçá venturo]

QUADRA NA GARAGEM V

[eu penso nos que já foram

mas presentes sobremodo

no passado que melhoram

que me vem o tempo todo]

JUNTO À PAREDE

[três cadeiras

três assentos

três encostos:

três maneiras

no cimento

predisposto

como queiras

teu momento

recomposto]

NA GARAGEM XV

A gruta

calada

inquieta

a escuta

colada

que injeta

(da bruta

falada

do poeta)

CONTINGENTE

Hoje

estou

aqui.

Ontem

(antes

de vir)

depois

(a bem

de ir)

talvez:

- se não

sumi

senão

de vez.

QUADRA DE OUTRA PERSPECTIVA

A Terra

é lua

do Sol

à distância.

QUADRA DE OUTRA PERSPECTIVA II

(a terra

é praia

no mar

da infância)

QUADRA DE OUTRA PERSPECTIVA III

[a terra

é areia

num bar

de Uberlândia]

QUADRA DE OUTRA PERSPECTIVA IV

{a terra

é poeira

no ar

da secância}

QUADRA REDUNDANTE IV

Toda

luz

tudo

duz.

NA GARAGEM O SOL

Chega amarelo

e horizontal

ao tornozelo

ocasional:

- seu paralelo

transcendental.

QUADRA DA GARAGEM III

[ainda sobre as tais flores

que amarelam:

por não haver de outras cores

amareço]

DA CAVERNA II

[a garagem

me abraça;

sua miragem

(fumaça)

tem a graça

da paisagem

que abarca;

abordagem

que viagem

me embarca]

DEBOÍSTA

Nas lombras

visadas

reluzes

sob alfombras

pisadas

perlincafuzes:

- mais sombras

bisadas

que luzes...

QUADRA NA GARAGEM IV

[a solidão

de elevação

(uma invenção)

me dá sua mão]

DUPLA QUADRA DA GARAGEM

[tal coluna

amarela

qual escuna

à janela

amarelou

da luz chegar

à fortuna

de navegar]

QUADRA ESTACIONADA

[no meu carro

contra o vento

toca um rádio

doutro tempo]

NA GARAGEM XIV

back again

[esta fenda

cotidiana

tramontana

oferenda

à semana

vem na forma

de uma gruta

de conduta

plataforma

cuja norma

sua escuta

referenda]

LETIVA

A  volta

(retorno)

às aulas

- à jaula

que solta -

escolta

contornos:

- recolta

entornos.

QUADRA DA ESTAÇÃO II

O vento

importa menos.

(o frio

me exporta mais)

SEXTILHA BREVE

[na brandura

azul da luz

há frescura

que se reduz

porventura

quando seduz]

ENCRUZILHADA

Há tempo

(a tempo)

do tempo

parar?

Passar a

deparar

reparar?

Passar a

separar

comparar?

Passar a

aparar

amparar?...

...

Se não

há tempo

do tempo

parar

haveria tempo

desse mesmo tempo

sarar?

20 DE JULHO DE 2022

a Mércia

Quem completa cinquenta anos

disso gosta de jeito nenhum.

Quem completa meio século

talvez pense - não seria um?...

Mas no caso de Vandecira

esse tempo que lhe fez tão bem

ao invés de cerrar, inspira

travessias ao devir de alguém

cuja vida sempre segue além.

LATEJANTE

inerente ao corrente

[se os minutos

dessas horas

nesses dias

me martelam

teus segundos

camartelam

resolutos

qualquer fundo

entre mundos]

SEXTILHA ESTÁVEL

[a manhã

nublando

tardará

duplando

amanhã

dublando]

(IN)CONSEQUENTEMENTE

[sobra abelhas

nas paredes

sob as telhas

sobre as redes

das guedelhas

que então pedes

às zarelhas

que concedes

nas orelhas...]

CÉTICA

do clima

Na luz

de véu

do eu

a luz

incréu

do breu

o céu

cresceu:

- preluz.

QUADRA DA VOLTA À ATIVIDADE FÍSICA

again

[andando

correndo

parando:

morrendo]

OLHO NOVO

JWST

Em órbita

James Webb

examina

(se admira!)

fotografa

filma, grava

invertido

(inadvertido?)

o reflexo

infinito

da nossa pequenez:

- seu sentido

tal qual apreende

desde o início

se mal compreende

com nitidez.

SETILHA DA FORMAÇÃO

[dificilmente

vertical

acidentalmente

transversal

indefinidamente

horizontal

cresci - after all]

DA QUESTÃO POLÍTICA MAIS ÍNTIMA

quanto ao assassinato de Marcelo Aloizio de Arruda

Embora sopesado ressentimento

típico de nossa rara subespécie

reclame outra violência como resposta

contra esse fascismo

filogenético

o ser genérico

e o específico

quer paz de espírito;

- mas paz de espírito

no perispírito:

- com toda a sua atenção

nas paixões racionais

por razões passionais.

QUADRA REDUNDANTE III

Meu caro:

- é raro

o caro

que faro.

QUADRA REDUNDANTE II

Direita?

Esquerda?

- direito

esquerdeio!

QUADRA REDUNDANTE

Claro

está

que escuro

não há.

TRÊS CAMINHOS

para casa

1. no meu sonho

(extramundo

pesadelo)

nunca chego.

2. se desperto

(um risonho

vagamundo)

chego perto.

3. se com sono

(por inserto

entre mundos)

aconchego.

SPARTACUS

Triumvirat

Para o maior dos heróis

a melhor trilha sonora

vinte séculos depois.

(para o meu super-herói

esta memória por ora

cinco décadas agora

de um adolescente pois)

EM FRENTE À TEVÊ XXXVII

freedom at last?

Sai a TV por

obsoleta

de perdulária

assinatura

entra o streaming

na caradura

coproprietário

algo pirata;

o que projeta

agora is coming

(acho que staying)

no que introjeta

da forma que for

mantê-lo à tona:

- controle em bolha

do que abarata

desde a poltrona

por maratonas

autoditadas

da nossa escolha...

SEXTILHA BINÁRIA

aos M.A. contemporâneos

[do livro

cartapácio

(seu crivo

palestrofilácio)

te livro

Mestre Acácio!...]

SEXTILHA CREPUSCULAR

A coisa

(cousa)

da loisa

(lousa)

me poisa.

(pousa)

SOFRÊNCIA CHIQUE

Já cantava Cláudia Barroso

vestindo carmesim:

- a vida é mesmo assim!

Já encantava Cláudia Barroso

aos roedores de osso

da lida a esmo que jura, sim

aos redores assim:

- jocundo colosso

o fundo do poço

é esta superfície marfim

onde penamos do início ao fim

pelo filé, longo pescoço...

SETILHA À LINHA DO MAR

caminhando contigo

Ao pôr

o sol

repor

farol:

- dispor

o anzol

da frol.

PELO QUERIDO

a Mércia (e a Maury)

Eu ia à China

ver meu amigo.

À China eu ia

você comigo

de lamparina:

- na companhia

do meu umbigo.

...

Ver meu amigo

então podia

se fosse à China;

agora ido

eu sonharia

(sobrevivido

à eutanásia)

se poderia

cruzar a Eurásia

- você de amásia

mas proprietária

deste marido -

quem sabe um dia

melhor querido?...