sábado, 30 de abril de 2016

sexta-feira, 29 de abril de 2016

TEMER

O vácuo do café
a vácuo sem café:

- como assim, no sopé
recua um rodapé?

O vácuo da maré
de quem bota o boné

e surfa marcha a ré
(surfista jacaré).

Vácuo em puro estado
vácuo conspirado;

um golpe selado
polichinelado:

- dão pajés recados
(do mercado a vácuo)

pra ralé ir a pé
e evacuar o que der.

...

[se há café, boto fé
que resisto ao mané]

quinta-feira, 28 de abril de 2016

NAUFRÁGIO OUTONAL

O tempo voa.

O pensamento
escoa lento.

Meu corpo aproa
seu movimento

canoa adentro
e o vento o coa.

Sob a garoa
sobre o momento

a coisa toda
que estou fazendo

termina à toa
meio ao relento

e se alagoa.

...

(não foi o tempo
nem foi à toa)

quarta-feira, 27 de abril de 2016

DO IMPOSTO

retido na tela

Eu não vejo porque não
ver as coisas como são:

- assisto televisão.

(vejo o que é sim e o que é não
- a verdade da visão;

ouço que é assim - que as versões
são senões nas transmissões)

...

[e a corrupção
da sonegação?]

[na sonegação
da corrupção
da sonegação

eu vejo que tevê
há - e não há de quê!...

(desde que à mercê
fique do clichê)]

terça-feira, 26 de abril de 2016

SÍNTESE POÉTICA

licença enganosa

Um poema curto
condensa hirto

todo um segundo
do mundo indo

engodo vindo:

- porque o seu tempo
de ser escrito

sequer destempo
terá podido

(já que escorrido)

segunda-feira, 25 de abril de 2016

domingo, 24 de abril de 2016

PRETO BÁSICO

Ali no quintal

a noite ancestral

caiu do varal

retinta e banal.

Tão repetida

a coisa afinal;

repetitiva

de roupa ideal

saída linda

caída normal.

sábado, 23 de abril de 2016

OS SENTIDOS NA MOLÉSTIA

Seja vírus
bactéria

seu arco-íris
sua matéria

eu os vejo
percevejos

dos desejos
que balouço;

eu os ouço
(meus arquejos)

arcabouços
deste cheiro

neste corpo
calabouço

que tateio

e então provo.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

RELATO DA DENGUE

zika ou chicungunha
(todas por alguma)

Foram quatro dias
à sombra dos dias.

Dolorosos dias.
Pavorosos guias.

Foram cinco dias
de casa invadida:

- sete longos dias
de excessiva vida

alheia e indevida
que eu desconhecia.

Foram oito as vias
na pele invadida

- todas avenidas
por qualquer medida.

Nove largos dias
de casa interdita.

Onze mudos dias
do que silencia

em vida excessiva

o que explicaria
sem microscopia

a pele esquisita.

Doze duros dias
e a alma esvazia;

treze tristes dias
que o corpo medita

doente de outras vidas
por sua vez sadias:

- foram quinze dias
doente noutra vida.

***

Foram vinte dias
de pele invadida

por microscopias.

E mais trinta dias
à sombra devida

talvez pela minha.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

REVISITA 132: SONHO DE PAPEL

Aquela fantasia fixada fotografia solicita colorida minha íris cristalina até que então puída peça outra à retina e renove estimada minha draga afasia...

Corro de galeria em galeria atrás da galega em flor luzia castanha trigueira da cor diria que qualquer boa vida dá mechas de menina...

Solto o peso do papel arrivista solto dedos de imaginação ressequida suplicada à princesa a visita da conquista da sereia da ilusão rediviva...

Vou girando arquivista a dupla água marinha azul verde cinza o polegar de par em par de cor defenderia que olhar aos olhos brilha...

Aquela fantasia que meu tempo adiaria solicita colorida minha velha alegria até que então querida traga outra à revelia que insuspeita ao delicada se refaça mais amada...

14/05/2000

terça-feira, 19 de abril de 2016

(QUADRA) [QUADRÚPEDE] {VIRA-LATA}

o golpe nos bolsos

(as falas bem gerais

das capas dos jornais

estão mal para as tais

talas emergenciais)

...

[tomar reais como réis

(de novo os coronéis
em velhos carrosséis);

dolarizar papéis

(a exemplo de alguns réus
há tempos reis ilhéus);

amodernar cartéis

(estatizados quais
privatizá-los mais);

e repassar chapéus

(mas entre o povaréu
sempre que sob o céu)]

...

{e o que virá depois

dos vossos entredois

nos arrocharem - vós

vira-latas que sois?...}

segunda-feira, 18 de abril de 2016

REVISITA 131: AZUIS

O par de entradas à frente
de frente não posso enfrentar;
ferem um brilho antigo, conhecido
de outras estradas intransitáveis.

Como evitá-lo, entretanto, desconheço
se mal adiante enfeita o caminho;
se, num encantamento rijo, o passo adianto
assoalhado em flores que ocultam tais espinhos.

O par anil de onde me fitas, entranhada
ora melancólica, vezes alegremente
algo colérica, ao termo resignada

também em dois me parte; e se tais azuis
tingem de rubra vergonha o meu hesitar
a razão, também não, mal posso evitar.

01/05/2000

domingo, 17 de abril de 2016

AMOR DEMAIS

dos animais

Dengue, zika
chicungunha

dengo, zica
caramunha

- a mosquita
que perfura

mamacita
me perdura!...

quinta-feira, 14 de abril de 2016

QUADRA (AINDA) DOENTE

Ainda não desta feita
a extinção das maleitas

ainda não nesta feira

(de oração pelas beiras)

segunda-feira, 11 de abril de 2016

REVISITA 130: ETÍLICA V

A tarde cai
pesada opala agastada
à minha frente.

Será que é
hora de zarpar?

Não ainda, replica a loura gelada
sussurrando os meus lábios:

- há gente chegando
ilusões se renovando...

10/03/1999

domingo, 10 de abril de 2016

REVISITA 129: ETÍLICA IV

Estou tomado da impaciência
de um contrato que não assino;
de uma uretrite
que resolvi curar a cervejas...

Por que tanta irritação, meu deus
demônio a quem nenhum casaco serve?

Além de pressentir os botões arrebentando
projetando-me puto entre as mesas

o que sei?...

10/03/1999

sábado, 9 de abril de 2016

REVISITA 128: ETÍLICA III

Desta vez
não haverá outros colchões
de carne macia.

Cuidarei das asperezas da perda
como quem corre nu
por uma mata de espinhos.

Nada de anestésicos
entretimentos
consolos de qualquer tipo:

- tratarei da tua perda
como quem sai do velório
de um ente querido.

10/03/1999

sexta-feira, 8 de abril de 2016

REVISITA 127: ETÍLICA II

Bem que podíamos
ser o que quiséssemos;
tratar francamente
das coisas do nosso encanto;
seríamos felizes, estou certo
num castelo solidamente erigido
em meio ao caos.

Mas intercomunicantes
vasos indispomos
invólucros que somos.

Seguir assim, esqueçamos!
Se desconhecemos
que almas temos:

- se asas recolhemos
e patas escolhemos!...

10/03/1999, 27/12/2001

quinta-feira, 7 de abril de 2016

REVISITA 126: ETÍLICA


Num canto de agenda
recomeça o suplício
do ter o que dizer
e não saber como fazer.

Travada, a palavra pede
o óleo de uma cerveja de beirute;
solta e imatura, a dita cuja, enfim
agride a literatura.

Melhor calar, e contemplar
o silêncio das mesas vazias
do meu bar eventual;
de esperanças flertando frustrações
à espera de nada.

10/03/1999

QUADRA BACTERIANA

pós-virótica

O corpo tosse
(a alma sofre)

[como meu fosse
comeu enxofre]

segunda-feira, 4 de abril de 2016

INTERESTADUAL

Pau de arara

- a quebrada
(esta estrada)

quando acaba?

Bem rodada
nau que vaga
pela plaga

- quando para?

Mal que sara

vê-lo seco
(tal qual sê-lo)

- que repara
pela graça?

- quanto paga
de desgraça?

Pau de arara

- onde acabo

quanto acaba
da jornada?...

28/03/16

REVISITA 125: BUENA VISTA SOCIAL CLUB

É a música daquela ilha
tão além de qualquer tempo que espaçar aspiraria
quanto bela fantasia; nos meus termos, que desconheço
é a dona estranha amiga dos salões escuros que abrigo.
Vem de um lugar distante - se próximo, questão não faria
de evitar a morte rubra das tardes de vento fresco:

- porque as imagens da ilha dançam aquela música
em pistas inacessíveis da imaginação;
faces quase reconhecíveis, perfumes fundamente gravados
no que há de então remoto em mim.

(ali, a vontade de ir, colada num calor prenhe de desejos
quer ter nunca de voltar ao barro das certezas que não certificam)

Sonho com a ilha daquela música
febril e molemente; respirando gardênias
entre corpos que pressinto; sorvendo a água morna
das poças de uma chuva para além daqui.
Mas aqui, paralisado de ir ou menear, de virar
e dormir, estaco - entre paredes que impossibilitam.

A tortura de viver tão longe de Buena Vista
aquém dos sentidos de um destino cultivado
em sons e passos, não mata de todo.
Mesmo atado, quase assim morto
sei ainda do paraíso que ouço:

- a música do passado, que a mim tem protegido
do ferir impiedoso do mundo
pergunta-me afinal - onde haveria
de cair a tarde última, rubra, de vento fresco?...

06/03/1999

sexta-feira, 1 de abril de 2016

QUADRA ANTIGOLPISTA

Brasília, 31 de março de 2016

Quando a diversidade
da vida em sociedade

tem a oportunidade
senão de explicitá-la

- a coisa misturada
nas veias da cidade
então comunitária -

à tarde (talvez tarde)

a noite ensolarada
avance a madrugada!...