É a música daquela ilha
tão além de qualquer tempo que espaçar aspiraria
quanto bela fantasia; nos meus termos, que desconheço
é a dona estranha amiga dos salões escuros que abrigo.
Vem de um lugar distante - se próximo, questão não faria
de evitar a morte rubra das tardes de vento fresco:
- porque as imagens da ilha dançam aquela música
em pistas inacessíveis da imaginação;
faces quase reconhecíveis, perfumes fundamente gravados
no que há de então remoto em mim.
(ali, a vontade de ir, colada num calor prenhe de desejos
quer ter nunca de voltar ao barro das certezas que não certificam)
Sonho com a ilha daquela música
febril e molemente; respirando gardênias
entre corpos que pressinto; sorvendo a água morna
das poças de uma chuva para além daqui.
Mas aqui, paralisado de ir ou menear, de virar
e dormir, estaco - entre paredes que impossibilitam.
A tortura de viver tão longe de Buena Vista
aquém dos sentidos de um destino cultivado
em sons e passos, não mata de todo.
Mesmo atado, quase assim morto
sei ainda do paraíso que ouço:
- a música do passado, que a mim tem protegido
do ferir impiedoso do mundo
pergunta-me afinal - onde haveria
de cair a tarde última, rubra, de vento fresco?...
06/03/1999