uma singela homenagem (a propósito desta efeméride)
Nos planos
eu plano
maspiano
uspiano
marciano!
Todo ano
dos planos
ufano;
todo ano
teus planos
no cano
eu dano.
De planos
maspianos
uspiano
marciano
eu plano:
- mas piano
teus danos...
terça-feira, 31 de março de 2015
REVISITA 48: MEIA HORA
Um pouco de tempo, é só do que preciso entre textos
Que fingem trabalho, e os minutos do almoço
Que fogem rápidos no meio do dia
Para de novo empunhar o arco retesado
Ontem, e lançado infinito nas paredes do quarto
Em que pretendemos.
Onde, no pouco tempo que tivemos
Setas privilegiaram-nos como alvos convertidos
A prazeres lascivos, e ofensivos
Da alheia escassez de sua procura.
Perdidos na negra e comovida contorção
Da vertigem desmedida que alimenta a incerteza
Do outro, vimo-nos
Um no outro, e em buracos obscenos.
Mãos, pernas, termos e engasgos
Frustraram-se tão poucos para o vivido entre tanto.
Idas e vindas do desejo monolítico
Fundiram-se curvas de um quebra-cabeças enfim completo
Sem fissuras.
E se não gostamos destas crises do equilíbrio
Labirintites ciclópicas
Restou-nos líquido o alívio, ali vazado dos músculos
Derretidos.
[para o amor em questão
transfixar carnes de espírito, colher a fórceps gemidos
digerir dos sustos reticências
não houve maior estímulo]
28/09/1988
segunda-feira, 30 de março de 2015
PRECISO DE VERDADE
mentira que desminta
Preciso de Cassandra
do mito de Cassandra:
- verdade que tamanha
mentira se acompanha!
Preciso de Cassandra
Cassandra se a troiana:
- daquela sacrossanta
embora doidivanas...
Preciso de Cassandra
da Cassandra, Cassandra
não mais de Cássia ou Sandra:
- cercada de africanas
decanas mariaranas
doutras marapitanas
paravianas, pauxianas!...
Necessito Cassandra
seus ritos de Cassandra:
- precisos entre humanas
necessidades tantas
que engano porque enganas!
Preciso de Cassandra
quer diva nas Guianas
pitonisa entre tanas
pulseiras, pelicanas
em nada doidivanas:
- verdade que acompanha
mentira se tamanha
tão mais que Cássia e Sandra...
domingo, 29 de março de 2015
quarta-feira, 25 de março de 2015
À DIREITA DAS ANTAS
de nós, andas
Cada
nada
[dada (a)
faixa]
{dada [a]
caixa}
nada
nada;
rio
nada
praia
nada
luxo
nada
lixo
nada;
riso
nada
siso
nada
raia
nada
cada
raiva.
Cara
jóia
(jóia
rara)
vezes
bóia
(fezes
óia!...)
Cada
nada
[dada (a)
faixa]
{dada [a]
caixa}
nada
nada;
rio
nada
praia
nada
luxo
nada
lixo
nada;
riso
nada
siso
nada
raia
nada
cada
raiva.
Cara
jóia
(jóia
rara)
vezes
bóia
(fezes
óia!...)
terça-feira, 24 de março de 2015
REVISITA 47: PROMESSA
Se um veio líquido
Distraído
Solto ao menos num respingo
Suspenso no ar
Vindo da tua natureza, fronte longe de esgotar-se
Alcançar meu quase jardim
Intramuros, urbano e sem cuidados
Explodindo alamedas e azaleias coloridas
Constrangidas pelo chão até então cinza
Certamente os sons e os odores
E os paladares dessa fina química
Viajarão verticais
Aeroespaciais
À procura da beira d'água
Por ti posta inadvertida ao meu alcance.
04/05/1988
domingo, 22 de março de 2015
sábado, 21 de março de 2015
REVISITA 46: ADULTÉRIO
Jaz nos caracóis densos
Negra floresta
A mão de tantos cabelos.
Do frêmito da raiz ao pensamento
De um roçar milimetrado
Salta o rasgo insano.
Que faz a mente de um cálculo
Ao frio oportunista que aquece?
Sabem os dois, a rua sonolenta
Diária e suiçamente
Desfaz o plano perfeito:
Cortina cotidiana esticada até a esquina.
Que faz plástico o pente insurreto
Dos dedos da formosa dama?
Sob óculos vidrados
Varrida de toda impressão tola
Deita a angústia tesa de insatisfação.
Divide-se em duas, três mil fragmentos
De coerência comportamental sócio-exibida:
Querer um corpo para comer saciada
Uma alma para ter enganada
Um vetor do prazer consoante
Tutor do futuro
Escravocrata de plantão...
Que fazer do amor da eternidade em minutos
Gozo fátuo poderoso?
A infidelidade a ser
Consome muito mais.
10/01/1986
quinta-feira, 19 de março de 2015
QUADRA CHUVOSA REDUNDANTE
Uma regularidade
de chuva sobre a cidade
obra por sobra a cidade
de sua regularidade.
QUADRA NUM BLOQUEIO CRIATIVO
de um bloqueio
creio ativo
Este vácuo
de sentido
não consigo
evacuá-lo.
creio ativo
Este vácuo
de sentido
não consigo
evacuá-lo.
SOB O FIM DA ESTAÇÃO CHUVOSA
Sob o sol à tarde chuvosa
sobre a sombra da mão nervosa
talvez eu possa, uma vez possa
(antes do sol tarde, que empoça)
ver na contradição trevosa
da queda d'água luminosa
a tal escuridão brilhosa
alvinegra, negra formosa
daquela nuvem que me molha...
segunda-feira, 16 de março de 2015
INCONDICIONAIS
1. O ar que respiro, aspiro primeiro
e ar-condiciona o que vai ao peito.
2. O ar que respiro, aqueço de um jeito
que ar-condiciona o que sai perfeito.
3. O ar que respiro, embaça, a despeito
de vidro, vinil, polietileno
e ar-condiciona o que mais sujeito.
4. O ar que respiro, expira um veneno
que hidro, perfluorcarboneto
ar-condiciona o que esvai no leito.
QUADRA QUE NÃO REFORMATO
Há um formato no que escrevo
de onde vem eu desconheço
quando tento prescrevê-lo
eu medíocre prevaleço
....... ...... ..... .... ...
domingo, 15 de março de 2015
ÁGUA DAS ALTURAS
Às vezes as chuvas
parecem com uvas:
- parreira madura
um céu que perdura
sua plúmbea gordura
mais bagas segura
até que a soltura
fermente já branco
o nimbo que fura
seu sumo lá franco
por toda quebrada
de gente abeirada
do copo, da mesa
de bar, de represa...
segunda-feira, 9 de março de 2015
DÚVIDA LITERÁRIA
crítica literária
física literária dívida literária
tísica literária
Um poeminha de amor
que não fale da flor
que não pintem de cor
que não trate da dor
nem se diga de cor
- será um poemão do amor?...
física literária dívida literária
tísica literária
Um poeminha de amor
que não fale da flor
que não pintem de cor
que não trate da dor
nem se diga de cor
- será um poemão do amor?...
TEMPO NENHUM
Quinze anos no século vinte e um
quinze por cento do tempo de um
- em qual acrescentamos algum?
Quinze anos no novo milênio
quinze lapsos do milênio
- e não cultivamos silêncios?
Notamos avanços recentes
colhemos desfrutes crescentes
- e o que melhoramos na gente?
Quinze anos do século vinte e um
quinze por cento correndo e bum!
já pois aceleradamente
depois de já celeremente
- qual ética notadamente
em época de tempo nenhum?...
quinze por cento do tempo de um
- em qual acrescentamos algum?
Quinze anos no novo milênio
quinze lapsos do milênio
- e não cultivamos silêncios?
Notamos avanços recentes
colhemos desfrutes crescentes
- e o que melhoramos na gente?
Quinze anos do século vinte e um
quinze por cento correndo e bum!
já pois aceleradamente
depois de já celeremente
- qual ética notadamente
em época de tempo nenhum?...
sábado, 7 de março de 2015
ESCOLA NO SÁBADO
prazer reincidente
Sábado na escola:
- por causa da hora
(da calma da hora)
do dia de agora
(um dia sem obras)
a calma de auroras
(por causa de agora)
sexta-feira, 6 de março de 2015
REVISITA 45: PORNOLAPSO
Daquela boca sacana
Quente bafeja a nuca
Uma brisa nua.
Entredentes a língua afiada
Esfaqueia as vestes entranhas
Insanas da anágua que encurta.
E a fechadura em espadas
rija sua chave escarlate...
22/07/1985
Quente bafeja a nuca
Uma brisa nua.
Entredentes a língua afiada
Esfaqueia as vestes entranhas
Insanas da anágua que encurta.
E a fechadura em espadas
rija sua chave escarlate...
22/07/1985
quinta-feira, 5 de março de 2015
quarta-feira, 4 de março de 2015
REVISITA 44: PROSA DO ACASO
no que era senão o Setor Comercial Sul
Renova a impressão somente: o olhar perseguiu uns passos
Graciosamente perversos.
Balançando ao vento, um corpo pareceu atentar ao pudor
Do breve comprometimento
(do vício do papel à corrente do escrevente).
No pátio dos tratados, entre os muitos desse pátio
O suor da fixação bancou a jogatina:
- seria ela (a) a musa da intempérie
ou a coxa à mostra (b) um acaso provável?
Há muitos vestidos colorindo as ruas, e algumas intenções ocultas.
Entre atônita e obcecada
A massa anônima contornou as leves linhas de mulher
Distraída?
Na prova dos nove, mãos fictícias
Especularam carícias inconsequentes.
Mas a reação não brotou da pele fêmea indiferente.
Uivaram os lobos do meio-dia a uníssona dor que mia
O canto dos esquecidos.
Assoviado o vento oscilando aquele corpo ao largo
Decidiu-se estranho e íntimo da vontade coletiva.
E as formas macias dobraram a esquina
Como em todo dia útil: elusivamente perversas.
E a massa suada de carnes dissolveu-se em individualidades
Condoídas
Como em toda jogatina:
- à espera da próxima, que reverteria...
09/07/1985
terça-feira, 3 de março de 2015
A NOITE PERPETUA
A tua meia-lua
sorri sem peia a tua
presença seminua
que a mente em vão recua
àquela antiga rua
que o tempo me acentua
quando a lembrança sua
(tão longe aquela lua
que a noite perpetua)
domingo, 1 de março de 2015
POR QUEM PIA A COTOVIA
A poesia
poderia
(deveria)
ser a via
que duvida
se haveria
porque vida
sido havia.
...
[porque via
cotovias
quereria
porque pias]
poderia
(deveria)
ser a via
que duvida
se haveria
porque vida
sido havia.
...
[porque via
cotovias
quereria
porque pias]
Assinar:
Postagens (Atom)