segunda-feira, 31 de março de 2014

Uma pausa para outras coisas

Este alterego comunica - a quem porventura o ler - que irá se ausentar deste blog nos próximos dias (talvez semanas). Compromissos e obrigações do prof. Sérgio Euclides noutras instâncias tomarão o seu lugar.

Enfim, a poesia pode esperar.

M. B.

DOS SUJEITOS DA EDUCAÇÃO

não objetos de atenção

Nos botões da juventude
há o verdor da juventude:

- quando somos jardineiros
(de fevereiro a janeiro)

nos dão sinais de espinheiros
medicinais e temperos!...

***

Os botões da juventude
transparecem inquietude

impaciente, quase rude
face às dores de virtudes

(um senão da juventude
à velhice da atitude);

os botões da juventude
avermelham o que ilude

na vergonha dos senhores
da cegonha estupradores

(demais depois pendores
estendidos estertores):

- mas lembremos, talvez flores
despetaladas de amores

deveras menos autores
atores sempre amadores;

os botões da juventude
reconectam amiúde

(na presteza da saúde)
o que vivo mormente urge

de raiz/caule/folha/flor
destino/presente/o que for:

- o fio que a vida urde
à parte as vicissitudes;

os botões da juventude
(quando está quem os procure)

antecipam aventuras
apenas mais se futuras:

- sonhadoras, sonhadores
de esperanças semeadores

sem projetos de colheitas
móveis, espreguiçadeiras...

***

Quando somos jardineiros
(de sinais o tempo inteiro)

o espírito aventureiro
nos dá cores e espinheiros

doces desfrutos, e azedos
medicinais e temperos!...

sábado, 29 de março de 2014

SÁBADO ÀS SETE

É hora boa
a hora primeira

porque destoa
da manhã inteira;

porque esta toalha
ainda está seca;

porque a batalha
não me peleja;

porque mortalha
(ou o que seja)

é só uma rima
nessa poesia...

...

Porque trabalha
(a natureza)

para que valha...

QUADRA CHUVOSA

As gotas aflitas
de frio no vidro
me avisam, "reflita
que estio extravias!..."

sexta-feira, 28 de março de 2014

SOBRE A NOITE MAIS ESCURA QUE A NOITE

o abismo num pires de meia hora

Cochilo profundo à tarde
desejo de gozo que arde
na arte de um sono curto em
despretensioso mergulho

(ao que nunca mais cogito
além de um leve suspiro)

naquela verticalidade sem
idade/gravidade/sentido

ativando a enganosa memória
(pois sonho) da emergência (suponho)

da experiência do nada (pois nulo
o encontro à parede do mistério)

retornada à vigília (num pulo
passado ao presente refrigério)

***

[somente poesia
poesia insolente

(diz-se ensolaradamente

poesia de vida
inclusivamente)

enfrenta a entropia]

quinta-feira, 27 de março de 2014

FÍSICO SÍSIFO

Correr, se machucar

lamentar descansar;

curar, recomeçar

(do ponto de parar)

a correr, machucar

noutra pedra angular...

terça-feira, 25 de março de 2014

MATEMATICISTA

O que compreendo, matematizo.
(o que incompreendo, probabilizo)

[objetivo, não sou omisso]

Manuseio quantitativo as quantidades.
Manuseio quantitativo as qualidades.

(se qualidades em quantidade
são quantidades as qualidades)

[dão qualidade às quantidades]

***

Encontro razões nas proporções (das relações).
Encontro razões nas desproporções (das paixões).

No caso (frequente) de haver senões

- desrazões, desproporções em ações
- desrazões da paixão por explicações

procuro razões para todas as situações.

A verdade é só a realidade.
A realidade só é a verdade.

segunda-feira, 24 de março de 2014

VICIOSA

O que se repete
(repete, repete)

e desapetece

repele e repete
e nos anoitece

até que se esquece

(padece, parece)

domingo, 23 de março de 2014

NUNCA VI SUA COR

antes do Google Images

Meu amor é flor
cor de baobá.

Baobá dá flor?
Nunca vi se há.

Seja como for
(flor de baobá)

pelo amor da cor
que da flor será...

sexta-feira, 21 de março de 2014

ANTES DA FORMATURA

sobre a roupa que se usa

Sob um céu esquisito
que desceu repentino

sobre a rua seguindo
(sob a lua sumindo)

sobra tempo pra isto:

- a respiração curta
que então me veste encontra

(contra o volante em luta)
mais justa a contratura!...

quinta-feira, 20 de março de 2014

NA PISTA

de uma ciclovia

Ando o caminho - e reto
corro e desvio - e acelero
o dobro indo - e disparo
quase morto vindo - e paro:

- se respiro o que aspiro
expiro o meu ser finito...

NO ESPAÇO

presencial e virtual

Curto, descurto, curto
descurto, curto, descurto
curto, descurto, curto
descurto, curto, descurto:

- vário ou não (senão zero)
binário certo que vero.

NO QUARTO

crescente ou minguante

Ligo, desligo, ligo
desligo, ligo, desligo
ligo, desligo, ligo
desligo, ligo, desligo:

- claro ou escuro, claro
que digo que escuro sigo...

quarta-feira, 19 de março de 2014

terça-feira, 18 de março de 2014

segunda-feira, 17 de março de 2014

MAMÃE

sem luz

(ligo)

um cruz

credo!

(digo)

reluz

medo

...

(sigo)

cedo

[cedo

cedo]

DAS INCERTEZAS DO CLIMA

A natureza enfurecida
- raios, trovões e companhia

lembra a minha, a tua, renhidas
disputas irreconhecidas.

(a natureza escurecida
turva a minha em suas visitas)

Mas se pensarmos noutros dias

- manhãs de sol sem companhia
de nuvens que mal notarias

o que amanhã benfeitorias
de natureza enternecida

perceberiam que avizinha?...

sábado, 15 de março de 2014

LEMBRETE DE AGASALHO

variações

A brisa suave
é o vento quase.

***

A brisa suave
é o vento quase
mais lento, quase
- mas movimento.

***

A brisa suave
é o vento quase
que alento, quase
por um momento.

***

A brisa suave
é o vento quase
no movimento
que vejo atento.

O TRABALHO DE DEUS NO SÁBADO

Dourar

solar

o mar

sem mar

do ar.

QUADRA AFLITA

O tamanho da beleza
da madrasta natureza
quando arrasta a correnteza:
- musaranho (com certeza).

SEXTILHA DO SÁBADO

Manhã no cerrado
(se venho obrigado)
tem seu céu errado:
- tão fundo azulado
que largo de lado
(se estou abrigado).

sexta-feira, 14 de março de 2014

SEMPRE A OESTE

Amarelou de novo o chão
no canto esquerdo do salão

do mundo à frente da visão.

Toda tarde é conexão
com o repente da impressão

- e atraente a percepção
de um universo contente

(no verso aparentemente)

UMA QUESTÃO

em defesa da paróquia

sobre a vida heroica

(a que faz história
que jaz na memória
e záz! constelação):

se era cenozoica
desde a concepção

das tais condições ótimas
(senão paleontológicas)

uma num quatrilhão

toda na contramão

[se não aleatória (a)
natureza estoica]

da nossa evolução

- seria boa então?

quinta-feira, 13 de março de 2014

UMA DATA ENGARRAFADA

há 183 verões

recordou-se
imperiosa

de memória
novamente

(no que coube
aquietei-me).

Dessa noite
cabulosa

mil pernoites

noutras noites
(outras houve)

entre açoites
pedras, foices
cacos, dores

desejou-se
doppio dolce:

- ontem e hoje
Pedro foi-se!...

quarta-feira, 12 de março de 2014

NO LOCAL DO GLOBAL

a new game now

Café e futebol.
Cookies. Um cachecol
de torcedor leal.

A poltrona. O canal.

Barcelona ou Real
ou Chelsea ou Arsenal;

Higuaín e Albiol
(Maradona à sombra).

Nesta tarde de sol
agudo e tropical

há fé num time tal
num jogador global:

- se inglês, belga, espanhol
(se não, torcido em prol)

também deste local.

segunda-feira, 10 de março de 2014

MARIA O DECLÍNIO

Estia

o rio

do ofício

no início

(a via

ofídia

do dia

no cio);

havia

um mio

um pio

que ria;

que ia

e ardia

e pio

sofria

(o raio

pungia;

lacaio

frigia);

mas frio

vazio

ou cheio

valia.

domingo, 9 de março de 2014

HEART OF GOLD

busca virtual

Flechas amarelas
de uma a outra tela

são flores e velas
que a sorte protela;

setas de janelas
como piscadelas

alvos de olhadelas

a uma ou outra delas

à procura dela:

- a que for mais bela
será Cinderela

(a que a dor revela)

ACERCA AINDA DO CARNAVAL

ressaca & delírio & sacada

O tapete móvel da chuva
palpável sobre a rua suja

(lavável sob a lua cuja
alvura só imagina a turma)

estacionou ali há pouco

depois de batucar conosco
antes de transbordar em poço.

Ali (o) Babá, Simbá, Aladim
Colombina, Pierrô, Arlequim

(ascensoristas do patropi)

entre gastados adereços
e postergados endereços
trataram de sumir de novo

(do calendário do povo aqui)

ao transmutarem-se tampouco
em realidade já do esgoto:

- seu tapete imóvel na rua
empoça visível a turba...

sexta-feira, 7 de março de 2014

QUADRA DE SALA II

Um silêncio
contrafeito
de inocêncios
porta jeitos...

QUADRA DE SALA

de aula

A linha do cabelo
sugere o cerebelo
mais belo - do encéfalo
a mente a contrapelo.

MÁXIMA

sombreada

O malefício
(disparatado)

do benefício
(justificado)

é fictício

[se verídico
por despeitado]

quarta-feira, 5 de março de 2014

CINZAS

Quarta à tarde

o estandarte
da vaidade

não mais arde

de carnavalidade
sob um sol de verdade

(do amor sem dor nem favor)

no quarador do equador.

(malasarte
já vai tarde)

[jamais arde
de saudade]

terça-feira, 4 de março de 2014

CARNAVALESCAS

fragmentações

Diante do estardalhaço
(em riste o meu palhaço)

de cada mal desfaço
(no modo imaginário)

seu canto sacerdotal

chamando o tal calado
patronal de canário

(de pássaro do fado)

***

Antes o estardalhaço
depois triste o palhaço

durante os quais desfaço
da minha unção laboral

a uma função industrial:

- por que conformá-la real
se ficção pré-industrial

de fato pós-carnaval?...

CARNAVALESCA

No entrudo
com tudo

me introduzo

narigudo
cabeludo
barrigudo

(e membrudo
sobretudo
te introduzo)

[intruso
(incurso)
contudo]

segunda-feira, 3 de março de 2014

POLISSÊMICA

Palavras me procuraram
quando deitados estavam

eu, meus botões, arbitrários
eu vezes dois, vezes vários;

seus sentidos refratários

vezes antes se afastaram
pressentidos temerários;

depois vezes se cruzaram
enquanto de pé encontravam

meus pés dez itinerários:

- dois tidos três, tidos vários
durante os quais extraviavam...

sábado, 1 de março de 2014

ÁGUAS DE MARÇO

não por acaso

Abriu, e fechou
choveu, e parou.

Nada melhor ilustra a impotência
da natureza da inteligência

quando o clima frustra antecedências
(planos, desejos, acordos, ciências)

[abriu, me animei
choveu, reparei]