sexta-feira, 31 de maio de 2013

SQUARE TWO

to Chris & bandmates

So cold your play
- but I'll stay
a gateway
to such a sway...

DAS CONSTRUÇÕES

externas e internas

Com trabalho e recursos
uma casa e seus muros

com trabalho e recursos
esta casa e seus juros

com trabalho e recursos
minha casa e seus usos

com trabalho e recursos
uma vida intramuros...

Repeti-lo comigo
consigo, mantra antigo

sem baralhos ou furos
salvaguardas, decursos
sem viradas de turnos

nem orvalhos nos olhos

com trabalho e recursos...

quinta-feira, 30 de maio de 2013

DAS ACOMODAÇÕES

inanimados de abraçados

Parada em frente ao algodoado
céu de um par de olhar enodoado

- que se revê de fato opaco
qual tevê aberta no ocaso

afunda a bunda do eu sentado
uma poltrona - imaginados

seus furos, ferrugens e cacos
apuros às margens dos fardos

- do fado que acarreta os barcos
ao mar descuidado, cuidado!...

***

Ó lar de nuvens carregadas
senão translúcido de nadas!...

Ó mar destinado a trapaças
balão abandonado às traças!...

Paraste bem diante das maçãs
amarelentas desta cara

pasmada, replasmada e dada
neste cara como estragada

nesta cadeira, desde as manhãs...

quarta-feira, 29 de maio de 2013

DEPOIS DITA NOTURNA

da lua do arco de sol

A luz deitou de lado
ao fundo - a flecha no alvo

certifica uma anuência
risível - porque ausência

de sentido na via:

- desfazeres do alento
a azeitarem poesia...

VESPERTINA POESIA

a que enfim predomina

A luz vai neste lado
esquerdo - a flecha do arco

retifica sua ciência
notável - da direita

o trajeto do dia:

- de afazeres ao vento
a azedarem a dita...

MATUTINA POESIA

contraste às vespertinas

A luz vem do outro lado
direito - a corda no arco

estica sua presença
invisível - à esquerda

um projeto de dia:

- de afazeres a tempo
de azularem a dita...

terça-feira, 28 de maio de 2013

QUADRA ANTROPOMÓRFICA

A luz da tarde de maio
- naquela parte em que saio
reluz destarte o que a reduz
às belas-artes do raio...

segunda-feira, 27 de maio de 2013

DILEMÁTICA

Há uma faca
uma mala

(e uma traça)

e mais nada
que o desfaça.

TROPICAL

under the tropical sun
we can only have fun

Paradoxo sem qualquer brevidade
de um flashback prematuro à tarde
por declínio resoluto da idade:

- se Flórida de uns, outros noutra sorte
Vale da Morte retardada ao norte

do Equador mitológico florido
a apartar-nos do Vale do Silício;

se Flórida alguns, outras praças-fortes
contemplam mares reavivando cortes

ao longo de geológicos istmos
a afastar-nos no vale em que existimos...

QUADRA ANÔNIMA

Fragmento-me
obscuro se
sequer um poemeu
mirei e te perdeu...

DUPLA AÇÃO

bons saponáceos do fígado

Mil ângulos de noventa graus
de oitenta, cem - batem por degraus

granizos de chuva federal
no meio da seca capital

- seu antisséptico sideral.

[enquanto isso, na tevê, no jornal]

Mil pândegos escalam os graus
da indignação moral - os tais

quais corregedores provinciais
são solicitados mais e mais...

QUADRA ABSTINENTE

Tempo sem escrever
é desaparecer
quando reaparecer
desaparece haver.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

INTERVALO BIPOLAR

e la nave va

Da sala dos professores
prenuncio os corredores
emparedando temores
rumo às câmaras de açoites:

- um barquinho solícito
solidário e patrístico
paralelismo entre o abismo
e o naufrágio do ofício...

Na sala dos professores
apartado dos horrores
conjurando quais rumores
me esqueço pelos Açores:

- o varão mediterrâneo
um cação extemporâneo
(embora só no Atlântico)
dessa forma sucedâneo...

***

[nesta Arca de Noé
tão ao sabor da maré

não boto fé
não dá mais pé

se mal servido o café]

terça-feira, 21 de maio de 2013

segunda-feira, 20 de maio de 2013

SOB O SOL II

Teus raios assim refratados
retocam o fogo que assoalho

no encontro das luzes de maio

pois pintam maiores os lábios
de bocas contrárias no inchaço

do que um átrio entreabre larvário

a formigar subcutâneo
nas variações subterrâneas

do que te dou mediterrâneo...

domingo, 19 de maio de 2013

EPIFANIA

Ensolarada esta tarde
de verdade e de mentira!
Ensolarada a verdade!
Ensolarada a mentira!

Ensolarada a certeza
daquele que se duvida!
Ensolarada a descrença
naquilo que certifica!

Ensolarada a partida!
Ensolarada a corrida!
Ensolarada a chegada
de quem anda, voa e nada!...

Ensolarada tão tarde
- na verdade, na cidade!
Ensolarada tardia
- mentira se então sabia!...

sexta-feira, 17 de maio de 2013

ETNOLÓGICA

a Eduardo Coutinho

Num cinema
documental

quem faz cena
se faz normal.

Quem faz cena
periferal

tal cinema
refaz central.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

DE QUATRO

quadras enganosas

Presumindo
ser galante
adquiro
uma amante.

***

Presumido
anelante
admiro
ser dançante.

***

Espremido
ofegante
admito
um calmante.

***

Ex-premido
navegante
advirto
que farsante.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

NAS CIRCUNSTÂNCIAS II

Por malfeitos caminhos
os escrevo curtinhos

[gravemente tísicos
logo metafísicos]

cordão de palavrinhas
esquartejado em linhas

[se canhão de palavrões
eu ansiaria (os bordões)]

as estrofes indispostas
tencionando impostoras

[a sós, acompanhadas
por vós ou nossas valas]

serem lidas como tais
- sóis infinitesimais.

terça-feira, 14 de maio de 2013

NAS CIRCUNSTÂNCIAS

fracasso honesto

Uma hora pra alguma poesia:

- menos agora, na correria
do momento que antes bastaria
noutro tempo, doutra freguesia...

***

Minutos diminutos - e o poema
é isso: um indício de problema

vestígio da inanição do tema...

***

São cinco e meia - e à meia-boca
apresso uns versos sem força, à toa...

***

Aqui já era. Seria dela...

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A ESCOLA ESQUECIDA DO COTIDIANO

Retinas nos ajudam a perceber.
Rotinas nos ajudam a proceder

porquanto necessária a repetição
de passos, casos, ocasiões - o fogão
donde o cozimento de ponderações.

Rotinas não ajudam a proceder
quando mortos vivos apodrecemos
no escuro profundo dos desesperos.

Retinas nos ajudam a perceber
quando vivos tortos nos prometemos
reconhecê-lo - e fecundos revermos...

sábado, 11 de maio de 2013

DA INUTILIDADE DO ARREPENDIMENTO

Do passado

do vivido

do largado

do retido

do tomado

do cedido

do juntado

do partido

do acertado
e esquecido

duvidado
e omitido

desamado
por querido

e do errado
com capricho

dizer o quê?

Que bendigo
ter podido...

sexta-feira, 10 de maio de 2013

METODOLÓGICA

fragmento

... essa abertura para o inesperado
- seja um imprevisto ou o extraordinário -
não é natural. Tem de ser cultivada
- aprimorada em frágua sofisticada -
porque então permanecer a descoberto
será como pedir carinho ao martelo.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

PAR

A noite acabou de deitar.
Quando for dormir, haverá?

Por enquanto, a desconverso
embalando, verso a verso

nós dois, depois de nos rever
cansados do diário dever

de estar, de poder, de convir
reparar, resolver agir
a par de saber, antes de ir
provar do prazer de seguir...

A noite acabou de virar.
Quando dormirei, dormirá?...

IN BRAZIL

Sou um estrangeiro em meu país.
Mal situado. Mesmo amando Elis
cantando Chico e Jobim, vago
incógnito e distanciado.

Alheio às cotidianas luas
aos ruídos das variadas lutas
pergunto-me, sob o sol pátrio
o que há nesta vida de errado?

Leio-me estrangeiro em meu país
apesar de Machado e Cabral
afiançarem que o banzo é normal.
Se sonho matas e águas brasis

por que as erro ademais tropicais?
Brasileiro de quais carnavais?
Musical, literário, estival
qual pandeiro de armário, afinal...

terça-feira, 7 de maio de 2013

OUTRA DIETA

de vez a seca

Precisamente desta cepa
vem a aurora do outrora solar
ao léu do fim (enfim!) do escarcéu:

- aquela flâmula beleza
retorcidamente a desfolhar
o que a natureza incandesceu

florada carnívora ao poente
ajuntando à beirada do céu
suas moscas cozidas al dente...

sexta-feira, 3 de maio de 2013

ANVERSO

em verso

Uma poesia
ao sol a pino
submetida;

a um descabido
(sob medida)
regime a frio;

ao descalabro
do estreito espaço
premindo o tempo
(nele o alento)

de escolher a cor
a tingir a dor

da sorte do amor
na vida menor...

Uma poesia
à vizinhança
extemporânea

oxidaria
(tal a tardança)
contemporânea:

- pois alexandrinos mais não solicitam
{os magnos Baudelaires ad infinitum...}.