feliz ano novo!
Convenção ou não
esta noite irá
pela translação
que nova será
em todo lugar
que a comemorar
entre as doze horas
e suas auroras.
Então, por que não
(mesmo se mesmo ar)
por que não tentar
outra inspiração?
[senão, por que não
(apesar desse ar)
por que não soprar
noutra direção?]
quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
DA MINHA PAISAGEM
Telhados abaixo
postes de pássaros
fios de macacos;
varandas abaixo
muretas de gatos
poleiros de galos;
janelas abaixo
cão encarcerado
pães recém-chegados
mármore quebrado
rotas de lagartos;
escadas abaixo
garagens, ramagens
portelas com mato
paragens, passagens
caminhos de ratos
poças de catarro
pontas de cigarro
selvagens, linguagens
árvores abaixo.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
MADRE DE DEUS
Madredeus
como os teus
tenho os meus:
- Zeus, Mateus
semideus, o antideus
seus plebeus, seus proteus
e os sem-deus (prometeus);
dipneus, pigmeus
jebuseus, fariseus
cadmeus dos egeus
europeus;
Pireneus, apogeus
ateneus, himeneus
perigeus
e o adeus (nos museus).
Madredeus
como meus
tento os teus...
como os teus
tenho os meus:
- Zeus, Mateus
semideus, o antideus
seus plebeus, seus proteus
e os sem-deus (prometeus);
dipneus, pigmeus
jebuseus, fariseus
cadmeus dos egeus
europeus;
Pireneus, apogeus
ateneus, himeneus
perigeus
e o adeus (nos museus).
Madredeus
como meus
tento os teus...
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
RÉGULO
pelos séculos
Nos cubículos
mais ridículos
um estímulo
dois testículos
e montículos
de folículos
(tanto os pávulos
quanto os fâmulos)
têm seu vínculo
nos textículos
que vernaculo.
[meu currículo
em fascículos
sem estrídulo]
Nos cubículos
mais ridículos
um estímulo
dois testículos
e montículos
de folículos
(tanto os pávulos
quanto os fâmulos)
têm seu vínculo
nos textículos
que vernaculo.
[meu currículo
em fascículos
sem estrídulo]
segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
SOBRETUDO FERRÃO II
... pilhada
na quelha
ilhada
ovelha
cilhada
espelha
talhada
abelha
olhada
centelha
malhada
da relha
calhada
na telha
molhada
parelha!...
na quelha
ilhada
ovelha
cilhada
espelha
talhada
abelha
olhada
centelha
malhada
da relha
calhada
na telha
molhada
parelha!...
domingo, 27 de dezembro de 2015
NESTES TEMPOS DE CHIKUNGUNYA
Inquieto
inseto
pousou-me
sua fome.
E quieto
sensato
pousei-lhe
(sapato)
meu tato!
inseto
pousou-me
sua fome.
E quieto
sensato
pousei-lhe
(sapato)
meu tato!
SEXTILHA DOMINGAL
let's move, for god's sake!...
O dia básico
do ser astásico
(aquém de frásico)
[porém de afásico]
[porém de afásico]
porque ectásico
- queria fásico.
sábado, 26 de dezembro de 2015
DOIS MIL E QUINZE
balanço
Quinze por cento
do novo tempo
já se perderam
sob os escombros
do mundo velho.
...
[escaravelhos
de largos ombros:
- é o que desejo
que então sejamos]
REVISITA 112: FERRAJARIA
41º poema de À procura de Nefertari
Agasto a manhã cinza
- objeto simultâneo à lixa
na tua áspera ausência
- cega, decerto ferramenta...
Do atrito quase fumegante
- embora a frio, metálica a poeira
adenso a atmosfera, e paraliso
o tempo, o pensamento - a asfixia
em horas marmóreas
de um branco algo encardido
- e mal esculpida espessura...
Em minutos de chumbo lento
escorrendo, incandescentes
- derretendo à baixa temperatura
fixo, pétrea, a extensão infinda
dessas impressões descabidas...
[nas quais este cinzeiro começo
de dia-cinzeiro, opaco
agasta-me, definitivo
em passado]
27/09/2005
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
O VINTE E CINCO
o dezembrino
Dezessete
- é da confraria.
Dezenove
- avista a família.
Vinte e quatro
- requer romaria
vinte e cinco
- da sala à cozinha
vinte e sete
- ao que sobraria
vinte e nove
- pra quem der notícia
enfim do ano
- a quem de alegria...
Mas todavia
um vinte e cinco
- no vinho tinto
- na batatinha
bom solicita
mais compromisso
pois dia num quinto
de energia:
- quatro quintos
de inércia devida
comprometidos...
DIVINA
to the High Priestess of Soul
... eu o faria
Nina Simone:
- madrugaria
ouvir-te insone
outra menina
ao microfone
(outra Simone
ao telefone)
sem o teu dia
deixar-te insone
sem esta vida
living alone
anjo da noite
arte que some
amada Nina
minha Simone...
... eu o faria
Nina Simone:
- madrugaria
ouvir-te insone
outra menina
ao microfone
(outra Simone
ao telefone)
sem o teu dia
deixar-te insone
sem esta vida
living alone
anjo da noite
arte que some
amada Nina
minha Simone...
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
PROPOSTA DE NATAL
Na véspera do aniversário daquele
evocado diária, milenariamente
para a justificação de bem-quereres
bem-deveres, bem-poderes, bem-haveres
(boas ações, boas razões, boas paixões)
não seria o caso de, ao menos amanhã
deixá-lo descansar em paz naquela cruz?
evocado diária, milenariamente
para a justificação de bem-quereres
bem-deveres, bem-poderes, bem-haveres
(boas ações, boas razões, boas paixões)
não seria o caso de, ao menos amanhã
deixá-lo descansar em paz naquela cruz?
EPISTEMOLÓGICA
Te rever
e rever
e rever
e viver
conviver
com mister
forever
embota
desbota
sabota
rebota
(labora?)
(reforça?)
[retorna?]
{renova?}
cada ver
cada ser.
[cada ser
de um rever].
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
EPISTEMOLÓGICAS
fragmentos
Experiências pontuais
geram conhecimento pontual.
[podem gerá-lo
se limitá-lo (ao imitá-las)
particularizado].
***
Experiências contínuas
geram conhecimento - continuamente?
[não necessariamente
aquele necessário
que do modo exigente
é relativizado].
***
[familiaridade crescente:
- seu pavimentar mente
um enxergar decrescente
até olhar simplesmente].
Experiências pontuais
geram conhecimento pontual.
[podem gerá-lo
se limitá-lo (ao imitá-las)
particularizado].
***
Experiências contínuas
geram conhecimento - continuamente?
[não necessariamente
aquele necessário
que do modo exigente
é relativizado].
***
[familiaridade crescente:
- seu pavimentar mente
um enxergar decrescente
até olhar simplesmente].
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
NOTURNAL
A trevosa chuvarada
da chuvosa madrugada
quando penso se fechada
aconchega-me pausada
forte e fraca, forte e fraca
brava e calma, calma e brava
sincopada (a retomada)
na rotina ritmada
de cortina sanfonada
- uterina casa d'água
breve e opaca, sempre opaca
da trevosa madrugada...
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
DA EXTINÇÃO DA ESPÉCIE
desta subespécie
A longo prazo
(quando tal prazo?)
o descompasso
(de qual compasso?)
entre o querer e o dever
(o dever de desquerer?)
[o prazer de bem-querer?]
1a. centralizará o poder
1b. fortalecerá o poder
1c. abusará do poder
1c. abusará do poder
1d. enfraquecerá o poder
1e. colapsará o poder
do sujeito refazer.
...
[quanto de prazo
a longo prazo?]
{nós neste passo
sós neste barco?}
domingo, 20 de dezembro de 2015
QUADRA (DA VOLTA À) CORRIDA
o meu tempo era melhor
Meus joelhos
de coelho
são coelhos
de joelhos!...
Meus joelhos
de coelho
são coelhos
de joelhos!...
sábado, 19 de dezembro de 2015
REVISITA 111: SOBRETUDO FERRÃO
40º poema de À procura de Nefertari
Outro dia, caminhei contigo próxima
da respiração, os pés seguindo parvos
logicamente atrapalhados, esquivos
a tropeçar no vácuo dos teus passos...
Volta e meia, eu te puxava um braço
de atenção, as mãos buscando as tuas
num abraço de cinturas, a ver o teu olhar
negro mudar claro a direção...
Era tarde, e o descompasso deste aspirar
cercou cálido os teus ombros, sob os cabelos
como se lábios nos teus pêlos, a redesenhar
- a cada arfar - a dupla curva dos teus peitos...
E naquela hora, a lua crescentemente perfeita
entreabria a tua face num terrível sortilégio
de marfim... Mordida, sorridente mordia...
[ao fundo, preto o céu, tudo ruía
meu no franco gesto suicida]
04/09/2005
Outro dia, caminhei contigo próxima
da respiração, os pés seguindo parvos
logicamente atrapalhados, esquivos
a tropeçar no vácuo dos teus passos...
Volta e meia, eu te puxava um braço
de atenção, as mãos buscando as tuas
num abraço de cinturas, a ver o teu olhar
negro mudar claro a direção...
Era tarde, e o descompasso deste aspirar
cercou cálido os teus ombros, sob os cabelos
como se lábios nos teus pêlos, a redesenhar
- a cada arfar - a dupla curva dos teus peitos...
E naquela hora, a lua crescentemente perfeita
entreabria a tua face num terrível sortilégio
de marfim... Mordida, sorridente mordia...
[ao fundo, preto o céu, tudo ruía
meu no franco gesto suicida]
04/09/2005
sexta-feira, 18 de dezembro de 2015
quinta-feira, 17 de dezembro de 2015
REPTÍLIA
Um lagarto me sorri
do seu chão que percorri
[um passado socorri
num desvão aberto aqui].
Parece involuntário
- voltar-se solitário
tanto eu quanto o bastardo
no tempo deste espaço;
mas digo que os prefiro
reverberando antigos
já por demais extintos
naquilo que atribuímos
a animais: instinto
de espécie solidária.
...
{a lagartos recorri
pelo chão que me sorri}
do seu chão que percorri
[um passado socorri
num desvão aberto aqui].
Parece involuntário
- voltar-se solitário
tanto eu quanto o bastardo
no tempo deste espaço;
mas digo que os prefiro
reverberando antigos
já por demais extintos
naquilo que atribuímos
a animais: instinto
de espécie solidária.
...
{a lagartos recorri
pelo chão que me sorri}
OCULTAS
renovadas
A lua nova
da noite opaca
(a noite nova
da lua opaca)
nos argamassa
nos amassa
nos assa
a sós
só
...
[a rua nova
pernoita opaca]
{a rua opaca
pernoita a lua}
A lua nova
da noite opaca
(a noite nova
da lua opaca)
nos argamassa
nos amassa
nos assa
a sós
só
...
[a rua nova
pernoita opaca]
{a rua opaca
pernoita a lua}
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
RASCUNHOS
Amarela
aquarela
esta manhã
é do amanhã.
[à janela
por sobre a chã]
***
Amarela manhã
aquarela amanhã.
[o que dela louçã]
***
Aquarelo
o amarelo
desta manhã
para amanhã.
***
Amanhã aquarelará
acaramelada manhã.
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
SE NÃO, POIS SIM
o caminho oposto
Nestas férias sem Nordeste
(ressentimento da peste!)
sem sua beleza celeste
sem seus prazeres terrestres
solicito ao Centro-Oeste
mais que nunca, esteja a oeste:
- bem longe dos caranguejos
daquele mar inconteste
porque invejoso o desejo
(o qual pragueja e praguejo!)
contraditório que almejo
guardado num lugarejo...
[inda que seja um bosquejo
tal de ter - mas sertanejo]
Nestas férias sem Nordeste
(ressentimento da peste!)
sem sua beleza celeste
sem seus prazeres terrestres
solicito ao Centro-Oeste
mais que nunca, esteja a oeste:
- bem longe dos caranguejos
daquele mar inconteste
porque invejoso o desejo
(o qual pragueja e praguejo!)
contraditório que almejo
guardado num lugarejo...
[inda que seja um bosquejo
tal de ter - mas sertanejo]
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
REVISITA 110: CASA DE CONTOS
39º poema de À procura de Nefertari
Casa dos Contos (também conhecida como "Casa de Contos"). Prédio construído entre 1782 e 1784, na então Vila Rica das Minas Gerais, para servir como residência ao arrematante dos contratos dos dízimos e entradas João Rodrigues Macedo. Este alugou a sua parte térrea em 1789 para aquartelar as tropas encarregadas de reprimir a Inconfidência Mineira, e servir de prisão aos réus mais ilustres da conspiração. Ali, Cláudio Manuel da Costa, sonetista e inconfidente, teria se suicidado em 4 de julho.
Quando estou todo, inteiro
aquém de mim, para dentro
à mercê do zumbido surdo
sem fragmento, do silêncio
aquela voz, que ouso que penso
costura, do nervo à agulha
fonemas às letras, retalhos de sílabas
a colchas de palavras, estendidas
parecendo daí até aqui:
- a tua voz, que penso que ouço
dizendo-me, do fundo do meu poço
que não devo (embora por pouco)
porque não posso (enredado o sentido)
sair senão deste invólucro.
28/08/2005
domingo, 13 de dezembro de 2015
QUADRA EXPLICATIVA
consultoria sem poesia
Em meio a três dias inúteis
a minha fé esteio nos fúteis:
- o dinheiro ganho naqueles
mais direito confere a estes.
Em meio a três dias inúteis
a minha fé esteio nos fúteis:
- o dinheiro ganho naqueles
mais direito confere a estes.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
NO PLANALTO VENTRAL
Raios, clarões vários
trovões de cenários:
- quase o fim do mundo
desfecho iracundo
pra quem treme muito
(ou que teme fundo)...
***
Meu amor pegunta
porque toda chuva
gosta de assustá-la:
- acho que por nada
dada a natureza
(natureza dada).
QUINTILHA DO QUE (SE) SUCEDE
Leves dias - quando empilham
à medida que nos ilham
(da vida de que precisam)
[das lidas que os justificam]
breve mais pesados ficam.
à medida que nos ilham
(da vida de que precisam)
[das lidas que os justificam]
breve mais pesados ficam.
quarta-feira, 9 de dezembro de 2015
DESTE MOMENTO
usufrutuário
Estou recluso
e ensolarado
algo profuso
e continuado
nada confuso
desencontrado
do que desuso
abandonado
no que mais uso
desafinado...
Estou excluso
idealizado:
- um inconcluso
recuperado.
Estou recluso
e ensolarado
algo profuso
e continuado
nada confuso
desencontrado
do que desuso
abandonado
no que mais uso
desafinado...
Estou excluso
idealizado:
- um inconcluso
recuperado.
DRONE
While rolling the Stones
watching the Flintstones
the milestones
the tombstones
all the capones
(and their clones)
I must turn this cornerstone
alone
[with Nina Simone]
watching the Flintstones
the milestones
the tombstones
all the capones
(and their clones)
I must turn this cornerstone
alone
[with Nina Simone]
SEM SABÃO
a Pedro Sérgio, no seu aniversário
De manhã, São Pedro
bateu o cinzeiro
(todos os cinzeiros
do mundo carvoeiro)
sujando feio o ar:
- no alto o firmamento
e aqui o calçamento.
E o enxágue, Pedro?
Quem irá fazê-lo?
[ô santo fumante
pouco edificante!...]
...
{a natura veio
- e num só vareio
me lavou o Pedro
com tudo no meio}
De manhã, São Pedro
bateu o cinzeiro
(todos os cinzeiros
do mundo carvoeiro)
sujando feio o ar:
- no alto o firmamento
e aqui o calçamento.
E o enxágue, Pedro?
Quem irá fazê-lo?
[ô santo fumante
pouco edificante!...]
...
{a natura veio
- e num só vareio
me lavou o Pedro
com tudo no meio}
terça-feira, 8 de dezembro de 2015
TEMPORADA
Capa d'água
na sacada.
Empoçada.
Espelhada
- a moçada
nem molhada.
Festa n'água
que desagua
numa frágua...
na sacada.
Empoçada.
Espelhada
- a moçada
nem molhada.
Festa n'água
que desagua
numa frágua...
PECILOTÉRMICA
A via do lagarto
se percorre sob o sol:
- à noite, congelada
pernoita reparada.
Se vida de lagarto
(lida e sorte alternadas)
corre igual ao caracol
mas também ao rouxinol;
há cobras e lagartos
há sobras e catartos
e soçobras e infartos
- mas também um girassol
sombreando dez espartos
no vaivém de lua e sol.
...
[diga amém aos girassóis]
se percorre sob o sol:
- à noite, congelada
pernoita reparada.
Se vida de lagarto
(lida e sorte alternadas)
corre igual ao caracol
mas também ao rouxinol;
há cobras e lagartos
há sobras e catartos
e soçobras e infartos
- mas também um girassol
sombreando dez espartos
no vaivém de lua e sol.
...
[diga amém aos girassóis]
segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
EU PROMETO
Amanhã voltarei a correr
porque cochilo após o almoço
cochilo tal que é chumbo grosso:
- entre os vivos, ressaltam-se outros.
Porque afundo depois do almoço
na treva de um sono absurdo
- do qual voltar eu quase anulo -
amanhã tratarei de correr.
Logo após o almoço de sonho
- sonho culinário que almoço -
sobrevém sono um poço surdo
num bloco de granito escuro
trafegando o rio mais bruto
- um que dá vontade de morrer...
Por isso, volverei a correr
entre os vivos - os outros - todos -
a fim deste estar fortalecer
no que os dias hão de suceder.
porque cochilo após o almoço
cochilo tal que é chumbo grosso:
- entre os vivos, ressaltam-se outros.
Porque afundo depois do almoço
na treva de um sono absurdo
- do qual voltar eu quase anulo -
amanhã tratarei de correr.
Logo após o almoço de sonho
- sonho culinário que almoço -
sobrevém sono um poço surdo
num bloco de granito escuro
trafegando o rio mais bruto
- um que dá vontade de morrer...
Por isso, volverei a correr
entre os vivos - os outros - todos -
a fim deste estar fortalecer
no que os dias hão de suceder.
ANÉIS
o negócio da nossa ciência política
Te dou alguns anéis
alguns contos de réis
pelos meus dedos fiéis.
Promessas em papéis
sentenças, aranzéis
em línguas de babéis
- ou fugas em batéis
(apesar dos parcéis) -
pelos meus dedos fiéis.
Te cedo alguns tonéis
desvios de farnéis
e sobras de cartéis
caça-níqueis, troféus
- festejos em hotéis
puteiros em apês
entregas de pastéis
em colchões de frouxéis -
pelos meus dedos fiéis.
Repassando chapéus
te cultivo plantéis
de chefes, barnabés
parlamentares rés
de juízes, coronéis
soldados em corcéis
convocando tropéis
(talvez até os quartéis)
pelos meus dedos fiéis.
Se necessário um viés
te envio alguns novéis
justiceiros cruéis
(rebeldes ou bedéis)
ou penas de aluguéis
(arautos de escarcéus)
pra afundar em marnéis
os que forem infiéis
a estes dedos - os dez!
E quando enfim os céus
pedirem mausoléus
escribas de cordéis
em torno dos incréus
operando cinzéis
brilhando fogaréus
encobrirão com véus
o quanto fomos réus
por nossos bons anéis...
Te dou alguns anéis
alguns contos de réis
pelos meus dedos fiéis.
Promessas em papéis
sentenças, aranzéis
em línguas de babéis
- ou fugas em batéis
(apesar dos parcéis) -
pelos meus dedos fiéis.
Te cedo alguns tonéis
desvios de farnéis
e sobras de cartéis
caça-níqueis, troféus
- festejos em hotéis
puteiros em apês
entregas de pastéis
em colchões de frouxéis -
pelos meus dedos fiéis.
Repassando chapéus
te cultivo plantéis
de chefes, barnabés
parlamentares rés
de juízes, coronéis
soldados em corcéis
convocando tropéis
(talvez até os quartéis)
pelos meus dedos fiéis.
Se necessário um viés
te envio alguns novéis
justiceiros cruéis
(rebeldes ou bedéis)
ou penas de aluguéis
(arautos de escarcéus)
pra afundar em marnéis
os que forem infiéis
a estes dedos - os dez!
E quando enfim os céus
pedirem mausoléus
escribas de cordéis
em torno dos incréus
operando cinzéis
brilhando fogaréus
encobrirão com véus
o quanto fomos réus
por nossos bons anéis...
domingo, 6 de dezembro de 2015
CULTIVO
Entre o fim do domingo
e a manhã da segunda
anoiteço um sentido
que depois me madruga
para as coisas bem-vindo
a partir da segunda
repartir no domingo.
DAS PRECIPITAÇÕES
de auroras
O domingo encoberto
pelas águas voadoras
descobre as maritacas
junto das mariposas!
Do silêncio soberbo
das últimas pessoas
elas vêm, às carradas
(falo das maritacas)
perturbando, espaçosas
o tempo de um acerto:
- entre esta madrugada
(fado das mariposas)
e agora a chuvarada
há pouco sossegada...
O domingo encoberto
pelas águas voadoras
descobre as maritacas
junto das mariposas!
Do silêncio soberbo
das últimas pessoas
elas vêm, às carradas
(falo das maritacas)
perturbando, espaçosas
o tempo de um acerto:
- entre esta madrugada
(fado das mariposas)
e agora a chuvarada
há pouco sossegada...
sábado, 5 de dezembro de 2015
REVISITA 109: AOS TRINTA E UM
38º poema de À procura de Nefertari
Arisca, a leve brisa deste lindo dia
sopra-me fresca ainda; e à folha vira
a tua data na superfície lisa, rutilante
da geladeira que habito, desde antes
do estio; e chama à retina a lembrança
de outros dias, brancos, nesta branca
cozinha - dos ritos de queijos e vinhos
à larga servidos, entre beijos e risos...
Bem assim, hoje, eu gostaria que fosse
a minha celebração de ti - uma cotidiana
reencenação dos teus olhos reafirmando
brilhantes, a minha opaca ciência de ti:
- do misterioso fundo negro da tua retina
onde bela se perde a razão desta vida...
27/08/2005
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
MÉTODO
escorço
Objetivo
subjetivo
qualitativo
quantitativo
contemplativo
é o meu motivo.
Daí assisto
a isso e aquilo
a esta e aquele
com alma leve
e atentamente
sem que um estorço
torça o esforço
pelos sentidos
comprometidos:
- tais fenômenos
como são mesmos
nem mais nem menos.
Objetivo
subjetivo
qualitativo
quantitativo
contemplativo
é o meu motivo.
Daí assisto
a isso e aquilo
a esta e aquele
com alma leve
e atentamente
sem que um estorço
torça o esforço
pelos sentidos
comprometidos:
- tais fenômenos
como são mesmos
nem mais nem menos.
AFEITO
Um beijo
(teu queixo)
um queijo
(queijeiro)
trejeitos
respeitos
proveitos
- mas feitos
com jeito
suspeito -
aceito
(o efeito)
[defeitos
perfeitos]
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
SOBRE IR
possibilidades perfeitas
Ontem, vou hoje.
Hoje, irei amanhã.
Amanhã, fui ontem.
Ontem, fui hoje.
Hoje, vou amanhã.
Amanhã, irei ontem.
Ontem, irei amanhã.
Amanhã, vou hoje.
Hoje, fui ontem.
Ontem, fui amanhã.
Amanhã, irei hoje.
Hoje, vou ontem.
Ontem, vou amanhã.
Amanhã, fui hoje.
Hoje, irei ontem.
Ontem, irei hoje.
Hoje, fui amanhã.
Amanhã, vou ontem...
Ontem, fui ontem.
Hoje, vou hoje.
Amanhã, irei amanhã.
Ontem, vou hoje.
Hoje, irei amanhã.
Amanhã, fui ontem.
Ontem, fui hoje.
Hoje, vou amanhã.
Amanhã, irei ontem.
Ontem, irei amanhã.
Amanhã, vou hoje.
Hoje, fui ontem.
Ontem, fui amanhã.
Amanhã, irei hoje.
Hoje, vou ontem.
Ontem, vou amanhã.
Amanhã, fui hoje.
Hoje, irei ontem.
Ontem, irei hoje.
Hoje, fui amanhã.
Amanhã, vou ontem...
Ontem, fui ontem.
Hoje, vou hoje.
Amanhã, irei amanhã.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
DE UM BEI PERTO DO REI
Chegaram as férias
para as quais estarei
- de férias, não serei.
[férias de sequelas
folgo nas falésias]
Um dia, outras férias
serão amnésias
deste tempo destas;
chegarão aquelas
paramnésicas
nas quais florescerei.
[um frei longe da grei]
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
POETA
Enquanto sorvo
meu café lento
enfrento o estorvo
da fé que tenho:
- por qual talento
(ou desalento)
paro rebentos
torvos de feios
e os absorvo
filhos de corvos?
Vêm de terceiros
(dos controversos?)
primeiro os termos
segundo os versos
conspirem presos
formar quadrilhas?
Juntar tercetos
quadras, quintilhas
sextilhas mesmo
alexandrinas?
Quadro dantesco
quintos do inferno
se uma vez eco
de outra vasilha...
[se má poesia
a filha é minha!]
...
{enquanto sorvo
a fé que tenho
meu café bento
frente ao estorvo
esfria lento}
meu café lento
enfrento o estorvo
da fé que tenho:
- por qual talento
(ou desalento)
paro rebentos
torvos de feios
e os absorvo
filhos de corvos?
Vêm de terceiros
(dos controversos?)
primeiro os termos
segundo os versos
conspirem presos
formar quadrilhas?
Juntar tercetos
quadras, quintilhas
sextilhas mesmo
alexandrinas?
Quadro dantesco
quintos do inferno
se uma vez eco
de outra vasilha...
[se má poesia
a filha é minha!]
...
{enquanto sorvo
a fé que tenho
meu café bento
frente ao estorvo
esfria lento}
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
PESCOÇO
torcicolo eu forço
torcicolo eu torço
torcicolo eu drogo
Neste dia morno
um feriado morto
jaz em frente ao sono.
Exponho o seu corpo
(em recomposição)
a um romance insosso
a um jazz inodoro
a um filme de ocasião.
...
[o que lazer então?...]
domingo, 29 de novembro de 2015
QUINTILHA (ANTECIPÁVEL) DE FÉRIAS
Quando dezembro
chega em novembro
(lá por setembro)
eu me desmembro
de estados-membros...
chega em novembro
(lá por setembro)
eu me desmembro
de estados-membros...
sábado, 28 de novembro de 2015
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
INCRÉU
Quando soberbo o véu
que azul dá cor ao céu
(e ilhéu o contemplo)
me vejo um tabaréu
ao léu matutando...
[por que este belo véu
cobrindo o vasto céu
(me ocorre incréu pensar)
meu mausoléu será?...]
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
REVISITA 108: A RAINHA E O ANDARILHO NUM BARCO ARAGUAÍNO
37º poema de À procura de Nefertari
Por que tão forte esta impressão
(ao imaginar-se a invenção)
das minúcias, concebermos pedrarias
entre as múltiplas, pequeninas
miríades que pescaríamos
ativos de ideias, redes vivas?
- faíscas cognitivas
desencadeando, de antigas línguas
viagens paradisíacas!
E quão crível (me espanto e admiro)
que eu queira tanto, e comprido
encher o vasto espaço das nossas vidas
(todo o tempo da história do mundo)
giramundando contigo e tuas carroças:
- teus badulaques, meias-verdades
versos esquivos e frases alquebrando
criaturas de carinhos e espinhos
amores em dúvida e estórias!...
[tudo correndo em papel fino
e tela plana, descendo ao infinito
teu rio largo de talento e brilho]
21/08/2005
Por que tão forte esta impressão
(ao imaginar-se a invenção)
das minúcias, concebermos pedrarias
entre as múltiplas, pequeninas
miríades que pescaríamos
ativos de ideias, redes vivas?
- faíscas cognitivas
desencadeando, de antigas línguas
viagens paradisíacas!
E quão crível (me espanto e admiro)
que eu queira tanto, e comprido
encher o vasto espaço das nossas vidas
(todo o tempo da história do mundo)
giramundando contigo e tuas carroças:
- teus badulaques, meias-verdades
versos esquivos e frases alquebrando
criaturas de carinhos e espinhos
amores em dúvida e estórias!...
[tudo correndo em papel fino
e tela plana, descendo ao infinito
teu rio largo de talento e brilho]
21/08/2005
terça-feira, 24 de novembro de 2015
À MAIS DESEJADA DE TODAS
por bem e por mal, afinal
Férias batendo à porta...
Férias regando a horta...
Férias curando a aorta...
Férias pulsando em forma...
Férias cruzando a borda...
Férias comendo à porca...
Férias bebendo as boas
- loas somente às boas!
Férias curtindo a engorda...
Férias de peles negras
azuis, roxas, vermelhas...
Férias de aranhas vivas
férias de moscas mortas
enredando armadilhas:
- quando a estação entorta
o que afinal importa?
(o ponto da translação
em que nos encontramos?)
[o planeta em rotação
do qual desencontramos?]
...
{férias nos dando corda
de férias roendo a corda}
Férias batendo à porta...
Férias regando a horta...
Férias curando a aorta...
Férias pulsando em forma...
Férias cruzando a borda...
Férias comendo à porca...
Férias bebendo as boas
- loas somente às boas!
Férias curtindo a engorda...
Férias de peles negras
azuis, roxas, vermelhas...
Férias de aranhas vivas
férias de moscas mortas
enredando armadilhas:
- quando a estação entorta
o que afinal importa?
(o ponto da translação
em que nos encontramos?)
[o planeta em rotação
do qual desencontramos?]
...
{férias nos dando corda
de férias roendo a corda}
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
domingo, 22 de novembro de 2015
sábado, 21 de novembro de 2015
PRESENTE ABSOLUTO
ironias à parte
Hoje tem Barça e Real
hoje o melhor futebol.
Hoje é bem vário o canal
que hoje centraliza o escol
hoje cobrando global
(hoje um por todo arrebol)
concentrado hoje em prol
de estar bem estando atual:
- hoje com Barça e Real.
Hoje tem Barça e Real
hoje o melhor futebol.
Hoje é bem vário o canal
que hoje centraliza o escol
hoje cobrando global
(hoje um por todo arrebol)
concentrado hoje em prol
de estar bem estando atual:
- hoje com Barça e Real.
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
DO ARCO DE UM VELHO
Do ponto de chegada
(nos braços de uma toalha)
ao ponto de partida
(no abraço da mortalha)
meus dias indo e vindo
(seu brilho vindo e indo)
embora renovados
embora repetidos
urdidos e perdidos
parecem despedidas:
- são dias esvaindo
(porfias sem sentido)
no vão da noite infinda...
(nos braços de uma toalha)
ao ponto de partida
(no abraço da mortalha)
meus dias indo e vindo
(seu brilho vindo e indo)
embora renovados
embora repetidos
urdidos e perdidos
parecem despedidas:
- são dias esvaindo
(porfias sem sentido)
no vão da noite infinda...
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
REVISITA 107: AGORA
36º poema de À procura de Nefertari
Se estreito o momento
contrafeito existo
pio em pensamento.
Mitos frios pisos
consolam, mordendo
sentimentos lisos
(escorregadios)
tudo compreendendo
(nada prometendo)
- além de um desfecho -
se for imprevisto.
03/08/2005
Se estreito o momento
contrafeito existo
pio em pensamento.
Mitos frios pisos
consolam, mordendo
sentimentos lisos
(escorregadios)
tudo compreendendo
(nada prometendo)
- além de um desfecho -
se for imprevisto.
03/08/2005
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
DO CAMINHAR
Teu convite
nos permite
que eu insista
(e desista
em seguida
caso mingue)
no seguinte:
- leite, café
chá, samovar
chá, samovar
e boa-fé.
[são quatro pés
a encaminhar
num canapé
à beira-mar]
terça-feira, 17 de novembro de 2015
GLIMPSE III
... a incidência
(reincidente)
de tua ciência
coincidente
traz ao olhar
ver e enxergar
...
[fez (de te olhar)
imaginar]
(reincidente)
de tua ciência
coincidente
traz ao olhar
ver e enxergar
...
[fez (de te olhar)
imaginar]
GLIMPSE II
... borboleta
(cançoneta)
flor violeta
recoleta?
- que olhadela
(ao revê-la)
ia austera
percebê-la?...
(cançoneta)
flor violeta
recoleta?
- que olhadela
(ao revê-la)
ia austera
percebê-la?...
GLIMPSE
... a silhueta
de ampulheta
que sua areia
aligeira
na verdade
reverdeja
a vontade
de revê-la ...
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
domingo, 15 de novembro de 2015
SIGNUM VIRTUALIS II
Enquanto eu lia
(lia Cecília)
tocou um sino
(talvez um sino).
Porquanto ouvia
(que parecia)
também o via
(um tanto antigo)
que padecia
que era poesia:
- coisa longínqua
da mesma língua.
sábado, 14 de novembro de 2015
GUARDA BAIXA
A tristeza que me abate
do tipo que vem à tarde
[um tipo senão mais tarde
triste nem foi de verdade]
é uma que vem sem alarde:
- uma que não tenho alarme
como se um cão que em vão late.
do tipo que vem à tarde
[um tipo senão mais tarde
triste nem foi de verdade]
é uma que vem sem alarde:
- uma que não tenho alarme
como se um cão que em vão late.
POR QUE ESTA LUZ NA VIDRAÇA?
por que estás ensolarada?...
Dispersou a tempestade
que inundaria a cidade.
Teria sido espontâneo
(dado que foi subitâneo)
ou imprevisão do clima
(dado o que superestima)
ou talvez coisa de Pedro
(pro católico santeiro):
- fato é que a tempestade
(seu arsenal, na verdade)
debandou sobre a cidade.
...
Dada a mudança contrária
- sua refratária bonança
coube a uma criança explicá-la:
- o que move a natureza
é a vontade de cereja!...
...
...
[o que deseja a vontade
à vontade no que seja?...]
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
SIGNUM VIRTUALIS
Alguém tocou um sino
há pouco algo longínquo
ao parecer ouvido.
Há poucos sinos aqui
- nenhum que nos lembre ali
de lá, do além, de acolá
de acordar noutro lugar.
Neste mundo secular
se há tecnologia
não há coisa longínqua:
- alguém tangeu um sino
tão pouco ouvido daqui
mas ubiquamente acá
hic, here, zhèli, cá...
REVISITA 106: AO DEUS DO AMOR
35º poema de À procura de Nefertari
Ah, indivisível parceiro, eu aceito.
Demorei-nos em delongas más
mas enfim te aceito.
Aceito a tua natureza
o teu ritmo
a tua lógica
as tuas condições
eivadas de contradições:
- ainda que tudo me arrebente
e por dentro me incendeie
num consumo que não compreendo.
Ah, meu amigo, por que além disso
tem isto assim de ser?
Por que faz a luz no fim sentido
violando reta a mais curva treva?
Tronco partido, sou forças dividindo
rumos por campos apartando-me Dela:
- Daquela Morada Oculta, que Ferida
descompassa, Retraída
piorando a minha procura...
Alienado, ainda semeio a tua busca
enfraquecido - as trilhas, quando floridas
transtornam-se oásis de espinhos;
folhas e plumas, ao prosperarem
formigam seu chão de operárias;
intransitáveis violetas coagulam
róseas veias entalhadas a faca!...
Com penhor elusivo, ambíguo te estimo
senhor redivivo Daquela Minha Alma:
- perdoai o amor e o ódio
o sentimental caleidoscópio
que visceralmente lhe devoto!
24/07/2005
Ah, indivisível parceiro, eu aceito.
Demorei-nos em delongas más
mas enfim te aceito.
Aceito a tua natureza
o teu ritmo
a tua lógica
as tuas condições
eivadas de contradições:
- ainda que tudo me arrebente
e por dentro me incendeie
num consumo que não compreendo.
Ah, meu amigo, por que além disso
tem isto assim de ser?
Por que faz a luz no fim sentido
violando reta a mais curva treva?
Tronco partido, sou forças dividindo
rumos por campos apartando-me Dela:
- Daquela Morada Oculta, que Ferida
descompassa, Retraída
piorando a minha procura...
Alienado, ainda semeio a tua busca
enfraquecido - as trilhas, quando floridas
transtornam-se oásis de espinhos;
folhas e plumas, ao prosperarem
formigam seu chão de operárias;
intransitáveis violetas coagulam
róseas veias entalhadas a faca!...
Com penhor elusivo, ambíguo te estimo
senhor redivivo Daquela Minha Alma:
- perdoai o amor e o ódio
o sentimental caleidoscópio
que visceralmente lhe devoto!
24/07/2005
terça-feira, 10 de novembro de 2015
QUANDO ENFIM BATER NA BUNDA
a água do efeito estufa
A temperatura sobe
dentro, fora, sob, sobre
acima, abaixo, por entre
detrás, ao lado - na frente
dos que pelas costas mentem
(entre aqueles que o desmentem).
...
A temperatura sobe
sobe, coze, sobe, fode:
- quando derreterá uns cofres
após derreter seus cobres?...
A temperatura sobe
dentro, fora, sob, sobre
acima, abaixo, por entre
detrás, ao lado - na frente
dos que pelas costas mentem
(entre aqueles que o desmentem).
...
A temperatura sobe
sobe, coze, sobe, fode:
- quando derreterá uns cofres
após derreter seus cobres?...
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
UM DOM QUE (MAL) CULTIVO
meu soneto vesperal
O tempo convertido
no espaço do seu ruído
(e assim reconstituído
pelo som que imagino)
avisa os meus ouvidos
(que vezes têm olvido)
que passa o seu trenzinho
na instância que imagino:
- o trem do tempo vindo
(a outrem, tempo bem-vindo)
sozinho desde a infância
até aonde adivinho
[pelo eco que imagino
ser tom do seu destino]
domingo, 8 de novembro de 2015
AO INVÉS DE TRÊS CHINGOS
que venha mil domingos!...
...
(no domingo, a preguiça
da liça que respingo
eu xingo sem derriça
ou justiça de gringo)
...
[no domingo, eu enguiço
carniça na caatinga
catinga que enfeitiço
cediça, não distingo]
...
{cobiça, no domingo
dominga, de postiço
noviça, da qual gingo
zuninga de serviço}
...
[ao invés de hortaliças
que venha só linguiças!...]
sábado, 7 de novembro de 2015
QUADRA DA REVOLUÇÃO
Num sete de novembro
sonhamos que seremos
um dia, noite adentro
melhores que podemos.
LABORAL
atemporal
O meu dia é picado
em tarefas inúteis
(trabalho que retalho
retalho a rebotalho
até o fim da picada!)
ou é dia ocupado
por repetições febris
de atuações nada sutis
dada a rotina estéril.
Porque lida escamada
(porque viva e estancada!)
um tanto exacerbada
por elementos fúteis
por interesses hostis
(e desinteresses vis)
- de que dias passados
(quando enfim repassá-los)
eu me lembro inconsútil?...
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
REVISITA 105: COMPASSO
34º poema de À procura de Nefertari
Não há tempo, nem espaço
no presente ou no passado
que palpite a arritmia
de um coração limitado:
- seu pulsar fraco, mortiço
é alegoria invertida
do que às vezes prometia
(à parte os males) sua vida!...
Haverá enredo fílmico
além disso, ex nihilo
ex machina, abrupto
deus condoído no futuro
que salve de precipícios?...
(do medo escuro que sinto?)
07/07/2005
Não há tempo, nem espaço
no presente ou no passado
que palpite a arritmia
de um coração limitado:
- seu pulsar fraco, mortiço
é alegoria invertida
do que às vezes prometia
(à parte os males) sua vida!...
Haverá enredo fílmico
além disso, ex nihilo
ex machina, abrupto
deus condoído no futuro
que salve de precipícios?...
(do medo escuro que sinto?)
07/07/2005
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
XEQUE-MATE
Um silêncio afora
embarulha adentro
(certo movimento)
ao multiplicar-se
encoberto agora
antes de vencer-me
descoberto sempre.
terça-feira, 3 de novembro de 2015
BUROCRATA
Suspenso entre tarefas
urgidas entre esferas
de aptidões diversas
(e vocações quem sabe?)
aguardo o telefone
(aquém do que me cabe)
autorizar em nome
(que me não menoscabe!)
do quê negligenciarei
quem jamais conhecerei...
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
REVISITA 104: SONETO DO AMOR AO FUNDO
33º poema de À procura de Nefertari
Cá estou novamente - a reluzente armadura
nunca forte o suficiente; um quixote doente
de um amor gêmeo da dor rude abrir caminho
por teus céus invertidos - teus rubros abismos
de paixões caras, incendiados precipícios
por múltiplas batalhas, guerras mal vencidas
tratados descumpridos... Ferro ao fim fundido
nos grilhões de pulsações perdidas, retidas
vezes interrompidas - nunca abandonadas
porque gêmeas de um amor saber-se arruinado
sem sua elusiva metade definitiva...
Cá estou novamente - condizente a armadura
talvez forte o suficiente; se a febre é ardente
é da expectativa aí quieta - na escuta...
03/07/2005
Cá estou novamente - a reluzente armadura
nunca forte o suficiente; um quixote doente
de um amor gêmeo da dor rude abrir caminho
por teus céus invertidos - teus rubros abismos
de paixões caras, incendiados precipícios
por múltiplas batalhas, guerras mal vencidas
tratados descumpridos... Ferro ao fim fundido
nos grilhões de pulsações perdidas, retidas
vezes interrompidas - nunca abandonadas
porque gêmeas de um amor saber-se arruinado
sem sua elusiva metade definitiva...
Cá estou novamente - condizente a armadura
talvez forte o suficiente; se a febre é ardente
é da expectativa aí quieta - na escuta...
03/07/2005
domingo, 1 de novembro de 2015
NÓS E O PÓ(S)
situação
A idade da poeira
(que a gente ressente
soprando o presente)
é a idade inteira
da vida ligeira
sem convalescença
teologicamente:
- mas vento premente
enquanto licença
das gentes que existem
segundo suas crenças
[desde a cabeceira
nos mitos de origem]
{até que a vertigem
daquilo que abeiram
converta a fuligem
naquilo que queiram}
A idade da poeira
(que a gente ressente
soprando o presente)
é a idade inteira
da vida ligeira
sem convalescença
teologicamente:
- mas vento premente
enquanto licença
das gentes que existem
segundo suas crenças
[desde a cabeceira
nos mitos de origem]
{até que a vertigem
daquilo que abeiram
converta a fuligem
naquilo que queiram}
sábado, 31 de outubro de 2015
SÉTIMO
quadra quádrupla do descanso
Sábado
cágado
sábado
láparo;
sábado
cânhamo
sábado
pássaro!...
Sábado
tálamo
sábado
bálsamo;
sábado
cântaro
sábado
bárbaro!...
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
A INVENÇÃO DA VIDA
A vida é uma invenção
(vez brotado o seu grão)
por ação e omissão.
O seria?
Poderia?
Deveria?
[a teria?]
- tais as questões da poesia
(aquela especulativa)
de sua filosofia.
A sua precariedade
(ontológica)
a sua impessoalidade
(estatística)
a sua amoralidade
(antisséptica)
não dizem que sim, nem que não
(não falam por si, nem que o são).
...
[vez brotada a invenção
da omissão como ação
toda vida é viva?]
...
{se eu inventei a minha
e por aí caminha
que distração a minha!...}
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
terça-feira, 27 de outubro de 2015
VOSSO CRIME (ENFIM) COMPENSA
apesar das aparências
Avança a bestialidade
por sobre a civilidade
- sobre as oportunidades
(reais) da virtualidade
por mais sociabilidade.
Inimputabilidade?
[responderão os herdeiros
de segundos, de terceiros
(e por último, os primeiros)]
VIDA COM SAÚDE
questão aos meus queridos alternativos
... o meu plexo solar
irá me ensolarar
caso eu 'manipurar'
quando vier operar
(de complexo a polar)
o convexo ventral
mais latitudinal
(porque crepuscular)
que herdarei afinal?...
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
SOBRE A EDUCAÇÃO
state of the art
Tudo derrete
(senão liquefaz)
ou aborrece
(senão contumaz).
Se se arremete
com paixão audaz
(ou razão assaz)
nada acontece.
[se com confete
então suspicaz]
domingo, 25 de outubro de 2015
REVISITA 103: DATA DOS NAMORADOS
32º poema de À procura de Nefertari
Começaste com Madre Tereza
e o melhor Francisco;
passaste por Nogueira e alguns urbanos
além de Marisa;
ao fim, Gardel e Piazzolla
covardia!...
- na minha alma, eles todos
(passos teleguiados
por teus dedos meticulosos)
entraram de sola!
Assim caída fruta a tarde saborosa
deste dia consagrado ao doce interstício
dos amores não testados, findei rendido
uva esmagada: teu presente enamorado
vinho e passa; tão perfeitamente colado
ao nervo exposto dos meus gostos
(a músculos estendidos e ossos quebrados)
qual vidros claros - limpos, cristalinos
das janelas abertas dos sentidos:
- de onde te assisto espetáculo
imprevisível...
12/06/2005
sábado, 24 de outubro de 2015
REVISITA 102: VÍCIO
30º poema de À procura de Nefertari
Já caminhei a eternidade. Sozinho
unindo as pedras e o infinito azul.
Da mente às idéias, delas aos passos
os sonhos gastos de sapatos. E andei
às vezes de soslaio, olhando para o lado
à tua procura: nas ásperas ruas, um desvio
contorno discreto; num fio de beco, o destino
de fazer juntos mil rumos ao paraíso.
A jornada fez-me em pedaços. Encontrei-te
enfim pedaço afiado, ferina defesa de nervos
pretensos de aço. Das fundas cicatrizes
que mal a tua alma oculta, retorna crua
a minha ferida nua - talhe ancestral
dor grossa em salmoura exposta.
19/05/2005
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
AMNÉSICA
Onde foi que fui
ontem, onde fui
que pôs talheres
comes e bebes
(corpos, mulheres)
e foi dito algo
(ad hominem?)
não mui fidalgo
[pois acordaram
desacordarem]
que esqueci hoje
de lembrar onde
fui - e foi ontem...
{será anteontem?}
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
QUADRA DA SENSATA INSIGNIFICÂNCIA
Penso o tempo numa escala geológica.
Penso o espaço numa escala astronômica.
No entanto, nesta lida microscópica
são apensos de uma vida econômica.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
REVISITA 101 - POEMA BOBO DE AMOR
28º poema de À procura de Nefertari
Quando és doce
em tua voz aveludada
abre-se, no ouvido
o Paraíso
das Mil e Uma Possibilidades
de Felicidade.
Por tão pouco
- duas palavrinhas carameladas
ressuscita-se, no peito
os Tambores
das Mil e Uma Batalhas Travadas
no Passado.
Porque teu poder
de mulher sobretudo amada
semeia, invencível
o Destino
das Mil e Uma Venturas Sonhadas
por Nós Dois.
16/05/2005
Quando és doce
em tua voz aveludada
abre-se, no ouvido
o Paraíso
das Mil e Uma Possibilidades
de Felicidade.
Por tão pouco
- duas palavrinhas carameladas
ressuscita-se, no peito
os Tambores
das Mil e Uma Batalhas Travadas
no Passado.
Porque teu poder
de mulher sobretudo amada
semeia, invencível
o Destino
das Mil e Uma Venturas Sonhadas
por Nós Dois.
16/05/2005
terça-feira, 20 de outubro de 2015
O QUE FICA DE CECÍLIA
a Cecília Meireles
O que ficou de Cecília?...
Da pessoa lírica
a quem eu amaria
(a que eu procuraria
saber se existiria)
se nos emparelhasse
a época devida?
O que ficou de Cecília
que desemparedasse
a pessoa física
(a que eu procuraria
saber se me amaria)
que atravessou a vida
ao lado da poetisa?
...
O que fica de Cecília
cerzida na poesia
que sonho à revelia
de sonos e vigílias?...
domingo, 18 de outubro de 2015
DOMINGO OPOSTO
e justaposto
Ah, o meu domingo
Ah, o meu domingo
quando moroso
quando corrido
enquanto ocioso
enquanto ativo
(e remoroso
até que findo)
é delicioso
é deleitoso
apolínico
dionisíaco
cafeínico:
- como um amigo
que espirituoso
materializo!...
sábado, 17 de outubro de 2015
REVISITA 100: PELA GRAÇA DE SER INTEIRO
27º poema de À procura de Nefertari
Neste espaço em que o tempo não anda
árvore enraízo; e fixo, fico toda a vida
por teu pouso cansado de pássaro a ermo
esperando errar de galho, de outro caminho
errado, do rumo equivocado, tocar distraído
o plano físico; que, num planar alquebrado
de tantos infortúnios derivado, esse vôo ferido
enfim chegue, no exíguo segundo, ao meu ninho...
Por enquanto, tudo o que sou sob o céu limpo
é um meio copo vazio: a metade do teu amor
querido, mil vezes perdido entre mundos
esquecidos do seu contrário - deste, suspenso
no tempo que não anda, no mesmo espaço
em que eu - ninho e pássaro - seria ao teu lado.
15/05/2005
sexta-feira, 16 de outubro de 2015
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
QUANDO QUATRO SÃO CINCO
ritual significante
Para que algo faça sentido
além de pensá-lo preciso
contemplá-lo perspectivo
noutros quadros sem ressenti-lo:
1. o interior e constitutivo;
2. o anterior e substituível;
3. o posterior (re)constituído;
4. o exterior (in)cognoscível.
...
[mas se quatro são cinco, o digo?...]
Para que algo faça sentido
além de pensá-lo preciso
contemplá-lo perspectivo
noutros quadros sem ressenti-lo:
1. o interior e constitutivo;
2. o anterior e substituível;
3. o posterior (re)constituído;
4. o exterior (in)cognoscível.
...
[mas se quatro são cinco, o digo?...]
TOMARA QUE GAIA
Um vento de praia
avoando jandaias
a tempo se espraia
maturando uvaias...
Como se cabaia
tomara-que-caia
desarma atalaias
perfumando as aias
rearmando tocaias
antes que o sol saia
se da mesma laia...
[por baixo de saias
sua viva azagaia
convida à gandaia]
avoando jandaias
a tempo se espraia
maturando uvaias...
Como se cabaia
tomara-que-caia
desarma atalaias
perfumando as aias
rearmando tocaias
antes que o sol saia
se da mesma laia...
[por baixo de saias
sua viva azagaia
convida à gandaia]
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
terça-feira, 13 de outubro de 2015
CONSTRUCIONISTA
As coisas não são o que acontece.
As coisas mais são o que parece
que em vão editamos mentalmente
- pois mal publicamos entre a gente.
[é coisa que objetivamente
subjetiva o que então percebe]
...
As coisas são mais o que aparece
pelas fendas (convenientemente)
dessa precariedade consciente
que fragmentariamente tece.
As coisas mais são o que parece
que em vão editamos mentalmente
- pois mal publicamos entre a gente.
[é coisa que objetivamente
subjetiva o que então percebe]
...
As coisas são mais o que aparece
pelas fendas (convenientemente)
dessa precariedade consciente
que fragmentariamente tece.
domingo, 11 de outubro de 2015
CIÇA
um mês
Mama, peida, caga
dorme, acorda, baba
- e o avô, a cada
coisa feita, nada
nada, nada, nada
muda sua fortuna
bem-aventurada
[rediviva a graça
pequenina o abraça]
Mama, peida, caga
dorme, acorda, baba
- e o avô, a cada
coisa feita, nada
nada, nada, nada
muda sua fortuna
bem-aventurada
[rediviva a graça
pequenina o abraça]
sábado, 10 de outubro de 2015
SOLIDARIEDADE
1. Faço minhas tuas palavras
teu esforço de enunciá-las:
- o verbo, desde o princípio
(se junto dele um princípio)
distingue, quando explícito
as valas dos precipícios...
2. Faço minhas tuas palavras
difíceis por necessárias:
- mesmo instrumentalizadas
contrastando as palatáveis
nos discursos aceitáveis
(sobretudo os detestáveis).
3. Faço minhas tuas palavras
mormente as encalacradas:
- aquelas assujeitadas
a nada significar
além do que é protocolar
segundo os mestres do lugar.
4. Faço minhas tuas palavras
se forem esculachadas:
- se quando o que se apalavra
de manhã, à tarde lavra
enfático o duplipensar
como prática regular.
5. Faço minhas tuas palavras
as poucas que te são caras:
- as boas articuladas
em favor de poder dispor
seu contrapoder ao favor
malevolente de um senhor...
6. Faço minhas tuas palavras
no esforço de não calá-las:
- o verbo, desde que o sinto
o penso, neste finito
invólucro em que existimos
com capricho, como bichos...
teu esforço de enunciá-las:
- o verbo, desde o princípio
(se junto dele um princípio)
distingue, quando explícito
as valas dos precipícios...
2. Faço minhas tuas palavras
difíceis por necessárias:
- mesmo instrumentalizadas
contrastando as palatáveis
nos discursos aceitáveis
(sobretudo os detestáveis).
3. Faço minhas tuas palavras
mormente as encalacradas:
- aquelas assujeitadas
a nada significar
além do que é protocolar
segundo os mestres do lugar.
4. Faço minhas tuas palavras
se forem esculachadas:
- se quando o que se apalavra
de manhã, à tarde lavra
enfático o duplipensar
como prática regular.
5. Faço minhas tuas palavras
as poucas que te são caras:
- as boas articuladas
em favor de poder dispor
seu contrapoder ao favor
malevolente de um senhor...
6. Faço minhas tuas palavras
no esforço de não calá-las:
- o verbo, desde que o sinto
o penso, neste finito
invólucro em que existimos
com capricho, como bichos...
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
REVISITA 99: SONETO DA (E)TERNA LUTA
26º poema de À procura de Nefertari
Desta veia que arde e esvazia
parada, azul, inquieta, luzidia
e agora fria - cirúrgica e fina
lâmina, cruelmente fria
todo o percebido, infinito em parte
sinto mares, florestas, rios
e vales, montanhas, abismos;
amplas as gastas planícies desertas
de sentido do que verde aspiro
do árduo sol diário, e à noite
enluarada de sonhos constitutivos
do meu par contigo... E o percebo
maior ainda, na perspectiva
dessa veia nunca abandonada.
14/05/2005
Desta veia que arde e esvazia
parada, azul, inquieta, luzidia
e agora fria - cirúrgica e fina
lâmina, cruelmente fria
todo o percebido, infinito em parte
sinto mares, florestas, rios
e vales, montanhas, abismos;
amplas as gastas planícies desertas
de sentido do que verde aspiro
do árduo sol diário, e à noite
enluarada de sonhos constitutivos
do meu par contigo... E o percebo
maior ainda, na perspectiva
dessa veia nunca abandonada.
14/05/2005
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
SONÂMBULA
trágica a farsa
Aquela marcha
que muitos marcham
por ser marcada
(os passos acham)
poderá levar
tempo pra acabar
ao acordarmos
[se recordarmos
quando passará]
Aquela marcha
que muitos marcham
por ser marcada
(os passos acham)
poderá levar
tempo pra acabar
ao acordarmos
[se recordarmos
quando passará]
quarta-feira, 7 de outubro de 2015
SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA
quando Messi se machuca, não há chuva, nem Pachuca...
Espero que um dia Lionel
se torne o Senhor dos Anéis
da arte da bola nos pés:
- eterno na imaginação
(com a ajuda das invenções
tecnomágicas de então).
O espero porque o que Lionel
mais tem oferecido, e a nós
(amantes de um ludopédio
a anos-luz do que é médio)
um dia nos deixará sós:
- se hoje órfãos de uma contusão
amanhã permanecerão...
[tal como de Diego e Pelé
(nossos ancestrais lembrarão)
somos penitentes até]
Espero que um dia Lionel
se torne o Senhor dos Anéis
da arte da bola nos pés:
- eterno na imaginação
(com a ajuda das invenções
tecnomágicas de então).
O espero porque o que Lionel
mais tem oferecido, e a nós
(amantes de um ludopédio
a anos-luz do que é médio)
um dia nos deixará sós:
- se hoje órfãos de uma contusão
amanhã permanecerão...
[tal como de Diego e Pelé
(nossos ancestrais lembrarão)
somos penitentes até]
terça-feira, 6 de outubro de 2015
SEXTILHA DO FIM DA SECA
antropomórfica
O céu pesou
de não aguar
e começou
a desaguar
no que secou
do seu pesar.
NECRÓPOLE CANDANGA
O Campo da Esperança
na ponta da outra Asa
(ali, outra morada)
daqui, é o fim da dança.
...
O Campo da Esperança
vejo com desconfiança:
- desde que, na Esplanada
pouco havendo, aventava
se o que via era nada.
...
O Campo da Esperança
me espera desde criança
desistir da Asa Norte:
- abandoná-la à sorte
da vida precipitar
(num vacuum crepuscular)
pela hora da morte!...
...
Do Campo da Esperança
no Setor Hospitalar
guardo alguma lembrança
de fundo domiciliar:
- antes, coube esperança
(sobretudo especular)
por nascer planejada
esta velha jornada...
segunda-feira, 5 de outubro de 2015
domingo, 4 de outubro de 2015
REVISITA 98: HIATOS
24º poema de À procura de Nefertari
Entre ontem, hoje, há pouco e agora
minha memória de ti próxima
(cheiro, textura, a luta morosa)
[da recorrente noite interrompida
sonhando feliz pela manhã fria]
irrompe a tarde monótona, e desloca
tácita a palavra; afortunada, a roda
gira pensamentos, revira sentimentos
incertos do conforto em torno do teu corpo
pleno de um sentido indo e vindo:
- por aqui, ali, adentro e afora
lembrados alongados pelas horas
teus olhos negros - negros sóis tornados
faróis - guiam-me calados de amor...
07/05/2005
Entre ontem, hoje, há pouco e agora
minha memória de ti próxima
(cheiro, textura, a luta morosa)
[da recorrente noite interrompida
sonhando feliz pela manhã fria]
irrompe a tarde monótona, e desloca
tácita a palavra; afortunada, a roda
gira pensamentos, revira sentimentos
incertos do conforto em torno do teu corpo
pleno de um sentido indo e vindo:
- por aqui, ali, adentro e afora
lembrados alongados pelas horas
teus olhos negros - negros sóis tornados
faróis - guiam-me calados de amor...
07/05/2005
sábado, 3 de outubro de 2015
AGORA CORRENTE
e rapidamente
A chegada de outros
- dos outros nosotros
ao finalmente só
originário pó
tão próxima de nós
vem desatar os nós
- agora, correntes
do tempo-semente:
- aquele amarrado
quando adolescente
que uma vez atado
(e reatado, mente)
não passa, na mente...
[de ilusão somente]
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
REVISITA 97: O LADO ESCURO DA LUA CURVA
23º poema de À procura de Nefertari
Filha das noites brancas, a minha amiga
bruma esquina vira no meu encalço;
velha reconhecida, essa criatura
nem sei se é amiga; mas companheira
de eras priscas, é com certeza
filha das noites, dos dias, da próxima
ira; a companheira do meu tempo
neste planeta, deste lado preto
da láctea vida; a visita, quando
lembrando esqueço, da via precária
percorrida - na forma do sono
no meio do dia no corpo de chumbo;
na estreita busca do relógio
nunca à vista; na tarde-marquise
que desaba sem energia
no meu chão firme ainda...
Qual linda Cinderela, paradoxal
pedaço vestido, algemas à vista
ela dança, afinal, a perspectiva
de libertação (afinal)
da Pandora minha dos presídios
neste beco-espaço sideral...
30/04/2005
Filha das noites brancas, a minha amiga
bruma esquina vira no meu encalço;
velha reconhecida, essa criatura
nem sei se é amiga; mas companheira
de eras priscas, é com certeza
filha das noites, dos dias, da próxima
ira; a companheira do meu tempo
neste planeta, deste lado preto
da láctea vida; a visita, quando
lembrando esqueço, da via precária
percorrida - na forma do sono
no meio do dia no corpo de chumbo;
na estreita busca do relógio
nunca à vista; na tarde-marquise
que desaba sem energia
no meu chão firme ainda...
Qual linda Cinderela, paradoxal
pedaço vestido, algemas à vista
ela dança, afinal, a perspectiva
de libertação (afinal)
da Pandora minha dos presídios
neste beco-espaço sideral...
30/04/2005
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
DA (IN)DETERMINÂNCIA
diante do paredão climático
As ondulações da brisa artificial do ventilador
nas persianas vitais desta sala enfadada de calor
concentram decerto atenção
ou bem a dispersam também
(espécies de meditação).
Oscilações de cortinas ao vento parecem supor
que a acidentalidade da imagem acima possa impor
(em decorrência suficiente do consequente torpor)
o tipo certo de atenção
da série de mais opções
que aquela miragem sustém
[solitárias na multidão
solidárias com a questão].
...
{cabe-me então recuperar
um corpo são do aquecedor - a ventilar outro lugar}
As ondulações da brisa artificial do ventilador
nas persianas vitais desta sala enfadada de calor
concentram decerto atenção
ou bem a dispersam também
(espécies de meditação).
Oscilações de cortinas ao vento parecem supor
que a acidentalidade da imagem acima possa impor
(em decorrência suficiente do consequente torpor)
o tipo certo de atenção
da série de mais opções
que aquela miragem sustém
[solitárias na multidão
solidárias com a questão].
...
{cabe-me então recuperar
um corpo são do aquecedor - a ventilar outro lugar}
terça-feira, 29 de setembro de 2015
REVISITA 96: A CHAVE
22º poema de À procura de Nefertari
Nunca eu soube de que lado era
a secreta entrada das câmaras
de mim, íntimas desconhecidas:
- por onde vieste, qual brisa agreste
assombrar de cima abaixo, frescor
verde-róseo varrendo sepulturas...
Dos corredores nunca percorridos
defuntos interiores nos abismos
embora pressentisse, eu não soube:
- até que dispondo o teu corpo
de tua alma depois em escritura
peregrino, me alçasse todo
num matutino longo vôo...
O que cofre involuntário frio
tinha aquele sólido sido
à superfície, vívido vidro
pulsante rachou vertical do exterior:
- no espiral vento, a utópica face
em rubor encantador, íngreme
do amor, fez-se ápice - a chave
inadvertida da felicidade...
30/04/2005
Nunca eu soube de que lado era
a secreta entrada das câmaras
de mim, íntimas desconhecidas:
- por onde vieste, qual brisa agreste
assombrar de cima abaixo, frescor
verde-róseo varrendo sepulturas...
Dos corredores nunca percorridos
defuntos interiores nos abismos
embora pressentisse, eu não soube:
- até que dispondo o teu corpo
de tua alma depois em escritura
peregrino, me alçasse todo
num matutino longo vôo...
O que cofre involuntário frio
tinha aquele sólido sido
à superfície, vívido vidro
pulsante rachou vertical do exterior:
- no espiral vento, a utópica face
em rubor encantador, íngreme
do amor, fez-se ápice - a chave
inadvertida da felicidade...
30/04/2005
segunda-feira, 28 de setembro de 2015
SOLICITAÇÃO
por monções até o fim (das estações)
Até que venha
o que me aquiete
cortando a veia
que não se aquiete
a natureza
do que acontece
na terça-feira
na quarta-feira
no quinto teste
da sexta prece
(ver se acontece)
enquanto esteja
na correnteza
um eu que preste...
VESPERTINAS
quatro quadras
1.
A tarde, branca e singela
(à tarde, quando amarela)
é pálida, das janelas
e cálida, nas donzelas...
2.
A tarde, quando encapela
por dentro de uma olhadela
se tarde, faz com que velas
ao centro enfunem estrelas...
3.
A tarde, quando dá trela
destarte, a tempo acautela:
- caso amiúde procelas
de alaúde, ela as parcela...
4.
A tarde, quando encastela
à parte, enquanto flagela
(se sólida a cidadela)
é mórbida, desta cela...
domingo, 27 de setembro de 2015
(SE NÃO JÁ MORTO, QUASE)
Um domingo enfunado
pelo verbo estancado
[por um tempo cansado
de ventos enfurnados]
é o que avento no espaço
deste texto que ameaço
e não desembaraço
{desde cedo esse teor
independente do autor}
sábado, 26 de setembro de 2015
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
REVISITA 95: ENTREDIZERES
20º poema de À procura de Nefertari
A tua voz, já um pouco triste
de sua atroz melancolia
repisa áspera dez gastas
pedras lisas. Púrpura, a via
locomovendo linhas várias
ancestrais vinhas de palavras.
Fiel depositário, um ouvido
se lançou rede em captura
das secas frutas que derrubas
junto a outras, belas de menos
mas nelas todas solitário.
(delas todas solidário
prometerei, sintáticos
mil favores semânticos
por ora pragmático)
[esclareço que replicarei, sem demérito
(seja a verdade, quimeras, ou mero confeito)
negócios de objetos com futuros perfeitos
num júbilo antecipado de amor a crédito]
26/04/2005
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
POR PARTES
é da idade
Esta tarde
a cidade
caminhei pela metade.
A metade
desta tarde
caminhei pela cidade.
A cidade
na metade
caminhei por estar tarde.
...
[nesta tarde
na cidade
caminhei pela metade]
Esta tarde
a cidade
caminhei pela metade.
A metade
desta tarde
caminhei pela cidade.
A cidade
na metade
caminhei por estar tarde.
...
[nesta tarde
na cidade
caminhei pela metade]
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
DO FIM DA COMPOSTURA
na cena jurídica (duas observações)
1. Ao menos à distância
(à margem, na verdade)
percebo a exuberância
(exótica, destarte)
daquela ignorância
togada da vaidade
cevada na constância
de sua impunidade:
- viceja na abundância
da vitaliciedade;
- atua em consonância
qual a moralidade;
- placebo em substância
tal a necessidade...
2. Par à repugnância
que mais exorbitâncias
ensejem à vontade
(entre um e outro mascate)
percebo uma alternância
(senão uma novidade)
naquela ignorância
tão dada a disparates
cuja deselegância
olente de fragrâncias
paleovernaculares
chegou aos populares:
- na ausência das flagrâncias
urgência de avatares!...
terça-feira, 22 de setembro de 2015
REVISITA 94: O CENTRO
19º poema de À procura de Nefertari
Do centro
egocêntrico
nada percebo
(só branco
o claro pião
girando imóvel).
O ar, a fala
tangíveis
entalam. Asfixiam.
O pensamento
paralítico
arrasta o silêncio.
O olho
vidra estático
como se não fosse
a tua foto
virtual
retrato perfeito
(do momento
crucial
sem movimento).
24/04/2005
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
EPICURISTA VI
não há realidade a temer
... se me quedo sem escrever
por outra razão que prever
a inutilidade de haver
[esta, aliás - que paixão por trás!]
a mediocridade do ser
que sou impõe-se depender
da disposição do poder
que posso de contradizer
tal imprevisão - e escrever!...
domingo, 20 de setembro de 2015
ZORRO, SOCORRO!... II
hoje cedo
Vou caminhar
daqui a pouco
pra não pensar
(pra compensar)
que não corro
não percorro
nem recorro:
- ao divagar
só decorro
[ao me entregar
tão devagar]
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
REVISITA 93: NO CAMINHO DE NEFERTARI
18º poema de À procura de Nefertari
Sempre a um passo, rastro, toque de algo
vivo extático o sonho, a rósea iminência
do desabrochar perfeito; do instante dourado
das portas abertas do palácio; do cristalino
estado das coisas plenamente reconhecidas:
- triunfo iluminista nas profundezas do abismo.
Sempre estou metro atrás de medir o calado
a devida compreensão da quilha embaixo;
dos grilhões no fundo, guardo a vaga impressão
de hóspede eludindo a mente, uma rasa noção
do que vaza por dentro:
- talvez torturado da verticalidade
dos impulsos vulcânicos de felicidade.
No momento contínuo das sedas em movimento
desdobradas indefinidamente desde sempre
percorro cuidadoso o teu sacro espaço:
- mas não macular processo, tempo, colheita
(a comunhão na bacia imperfeita das almas deste mundo)
desaponta possível o nosso único futuro...
[pulsa contrito o cardíaco sentimento
de amor zeloso aos corvos afastando]
23/04/2005
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
DA SUBVERSÃO DA SONECA
por que abismo nela?
No meio do dia brilhante
tal escuridão ofuscante
rebrilha no dia potente
opaca escureza presente
em sonhos - certeza o bastante
enquanto sesteio inocente
do quanto o meu sono apreenda
do tanto que não compreendo
- cada qual pesadelo adiante...
No meio do dia brilhante
tal escuridão ofuscante
rebrilha no dia potente
opaca escureza presente
em sonhos - certeza o bastante
enquanto sesteio inocente
do quanto o meu sono apreenda
do tanto que não compreendo
- cada qual pesadelo adiante...
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
PEREBA
recorte
O passe
que passe
dá sorte
(má sorte).
O drible
que tente
(nos livre
que finte!)
- é a morte.
Já o chute
(consorte
do corte)
pro norte:
- seu forte
no esporte!...
O passe
que passe
dá sorte
(má sorte).
O drible
que tente
(nos livre
que finte!)
- é a morte.
Já o chute
(consorte
do corte)
pro norte:
- seu forte
no esporte!...
terça-feira, 15 de setembro de 2015
PERSPECTIVA DE CLASSE
do golpe abaixo da cinta
A eloquência dos de cima
- qual verdade cristalina
de uma ciência repentina
que repetem paulatina
cai violenta nos de baixo
como facada ou balaço
(preocupada todavia
face a tal desembaraço)
[educada no regaço
de que não há mais saída]
{ocupada morro acima
com o que esconde debaixo}
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
EPICURISTA V
Se disponho de café
como dispõe um mané
passo bem sob o boné
como bem fosse um josé...
Se disponho de puré
ou do que come a ralé
(acompanhando o café)
já evito a ação das polés
ou o vaivém das marés
habilitando sopés
sem depressão ou revés
numa montanha ao invés
- porém flanando através
desta galé sem convés...
EPICURISTA IV
Ampara a vida calma
(pretérita a medida)
um sono vindo d'alma
embora ao meio-dia:
- num sonho que enuncia
que no futuro havia
o que o presente empalma...
domingo, 13 de setembro de 2015
REVISITA 92: ANTES DE CAIR
17º poema de À procura de Nefertari
Sobressaltos não combinam com saltos altos
com coqueiros, eucaliptos, postes, edifícios
torres e montanhas; pontes e precipícios
inferiores abismos interiores:
- com alturas não medidas por desejos desmedidos.
Mesmo assim poço arrogante, invólucro de carne e osso
microscópico desafiante, sou da arte-imensidão do todo;
crente do amor, passo atrás do finalmente encontro
adiante crônico de felicidade infinita:
- corda e caçamba, parede, tombo e água fria.
Sobressaltos descarrilam trens de expectativas
implodem fantasias, denunciam guerrilhas
em luta nos campos minados das almas feridas...
A desamar a contradição que te habita
expansiva, cósmica valquíria
supernova explosiva
prefiro eterno desarmar o espírito
a desatar nós; fugir do teu fogo amigo
num amor de amigo convertido:
[por isso]
- antes de cair, devo ir.
22/04/2005
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
FÁTICA
Uma fina dor de cabeça
(da ausência de café na mesa)
afina a minha benquerença
por esta amena sobremesa
que me lembra a tua presença
depois de saída à francesa
(antes de chegada a despesa):
- nossa conversa ao pé da orelha
sobre assunto que deu na telha...
(da ausência de café na mesa)
afina a minha benquerença
por esta amena sobremesa
que me lembra a tua presença
depois de saída à francesa
(antes de chegada a despesa):
- nossa conversa ao pé da orelha
sobre assunto que deu na telha...
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
EPICURISTA III
fragmento
... sobre a dor e a morte
crê dispor de sorte!
- uma aporta o norte
do prazer que corte;
- outra é outro aporte
sem prover que importe...
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
REVISITA 91: MANHÃ SONHADA
16º poema de À procura de Nefertari
A linha sinuosa do teu corpo ao lado
(cobra insinuante a quebrar o compasso
lenta descontinuando o instante lasso)
varre a minha mente de pretéritos cacos
e ocas previsões; envelopa-me parvo
ao preciso e ao sagrado, a sedas abraçado
num sossego conquistado duramente fátuo...
Respiras o silêncio, subindo em staccato
a leve pluma morna e agridoce do teu hálito;
sonhadora interrompida, dorminhoca entre atos
(quase toda espreguiçada, quase nada acordada)
reviras, quase tanto distraída, à procura do acaso
da minha boca - do beijo bojudo que findo roubas
num grande e gracioso e perfeito movimento...
E num segundo gordo, toda a hora se ilumina
quando índio nu acendo, apache a fogueira
teus sentidos nos tecidos finamente consentidos
de lícitos cuidados, e ilícitos - a ordem contrafeita;
e depois esfumaço púrpuro e rubro, amarelo e branco
quando ao mundo anuncio, descansada da refrega
a paz derretida das hordas satisfeitas...
[logo finda a alegria, pois desperta a rotina
da vida incontornável dividida ao meio-dia]
21/04/2005
terça-feira, 8 de setembro de 2015
EPICURISTA II
Que prazer, que cansaço
contemplo
no que disponho diante
do espaço
mas indisponho adiante
no tempo?
Que dizer que embaraça?
Que fazer que estiraça?
Que porvir os abraça
do seu negror radiante?...
...
[com tempo
o espaço
contemplo
confiante]
segunda-feira, 7 de setembro de 2015
SETE DO NOVE
No dia da pátria
das minervas suas
há septimátrias
na areia das raias
por mais tropicália
à beira das ruas...
No dia da pátria
há minervas nuas
na ombreira das alas
dobradas nas puas
douradas nas praias
sombreadas às duas...
Na data da pátria
eu lembro que a pátria
é a ideia de pátria:
- bandeira dos xátrias
grilheta dos párias
é uma visão casta
que maya, não basta
(aos brâmanes, nada)
domingo, 6 de setembro de 2015
NO ZÊNITE DA SECA
sinais
O tempo do limite
expor sua dinamite.
É pálido o grafite.
Lento qualquer trâmite.
Há falta de apetite.
Nossa a neurodermite
vossa a pneumonite
(parecem proctites
aquelas vaginites).
Rareiam teus palpites.
Da ausência de convites
padecem socialites.
Entre a plebe e as elites
vivos dão mortos quites...
sábado, 5 de setembro de 2015
REVISITA 90: FRAGMENTO VULNERÁVEL
15º poema de À procura de Nefertari
De ouvir-te leve, alegre voz distante
independente de qualquer instância (parece!)
e de um favor disposto a qualquer instante
correu-me grega as veias tal tristeza espessa
a saber impotente o exigente sentimento.
Lava grossa debulhou-me em lágrimas
fútil magma, cristalino afogamento:
- o que tem o amor a ofertar mais generoso
se a sofrer tão doloroso, qual cão purulento
à míngua pelas ruas e vielas deste mundo?...
[pressinto vão saber, o nervo exposto
em riste, mudo acusando a intempérie]
18/04/2005
De ouvir-te leve, alegre voz distante
independente de qualquer instância (parece!)
e de um favor disposto a qualquer instante
correu-me grega as veias tal tristeza espessa
a saber impotente o exigente sentimento.
Lava grossa debulhou-me em lágrimas
fútil magma, cristalino afogamento:
- o que tem o amor a ofertar mais generoso
se a sofrer tão doloroso, qual cão purulento
à míngua pelas ruas e vielas deste mundo?...
[pressinto vão saber, o nervo exposto
em riste, mudo acusando a intempérie]
18/04/2005
OTÁVIO
Meu amigo querido
partiste teu destino
num número infinito
de possibilidades
que as probabilidades
igualam no sentido
da gratidão que sinto
por teres existido.
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
REVISITA 89: DAS CELAS DE JANELAS
14º poema de À procura de Nefertari
Ali, outro domingo luminoso desidratando
a hora, e quase convidativo: um deserto silencioso
de sentidos. Aqui, um zoológico de pensamentos híbridos
errando deveras a jaula em que erras agora.
[toda vez que abro o dia azul na clara tela
das idéias, o teu par oblíquo, fitando-me janela
(moldura melancólica de um ébano poético)
quietamente ao búfalo arrasta, magnético
da minha mais funda, encerrada cela]
Servi café amargo a todos os bichos
aos pássaros endoidecidos; penados
seguirão pressurosos, solidariamente
a tua alma errante pelo ciberespaço
(embora acreditem, presunçosos e pios
que erras acerca da liberdade em questão
cyber-cerca, na verdade - a tua alada prisão)
17/04/2005
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
A ESTA ALTURA DA EPOPEIA
Ressecada a ressacada
das ideias contra a tela
(recomputadorizada
por mais letras sobre as teclas)
em mais outra temporada
de estações estacionadas
talvez caiba na cadeia
das palavras descoradas
das finadas de poética
melopeias afinadas:
- analfa ou alfabéticas
orais ou hipotéticas
a esta altura da epopeia
cantilenas encurtadas!...
REVISITA 88: SONETO MORTO DE AMOR
13º poema de À procura de Nefertari
Densa, e escura, e pesada - absinto
drogada pasmaceira à tarde, a sexta
saudade devora fígados, a paciência
lenta comigo nesse momento-abismo
(e um desejo de amor imenso
paraíso se tudo fosse farto
deita a correr meu tempo
agoniza sem morrer de fato)
A gravidade pesa o meu cansaço
em toneladas; a esperança de banhar
o espírito em confiança, esvai-se regular
pois tudo esbarra monstruosa ausência:
- além dos sentidos, a tua fina lembrança
fria lâmina, despedaça-me a garganta...
15/04/2005
drogada pasmaceira à tarde, a sexta
saudade devora fígados, a paciência
lenta comigo nesse momento-abismo
(e um desejo de amor imenso
paraíso se tudo fosse farto
deita a correr meu tempo
agoniza sem morrer de fato)
A gravidade pesa o meu cansaço
em toneladas; a esperança de banhar
o espírito em confiança, esvai-se regular
pois tudo esbarra monstruosa ausência:
- além dos sentidos, a tua fina lembrança
fria lâmina, despedaça-me a garganta...
15/04/2005
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
ELETROCARDIOGRAMA
Minha vida caminha
apesar de sozinha.
Minha vida encaminha
sopesar que avizinha
em ondas esquisitas
[medidas de batidas
de choques, de subidas
descidas de vencidas
(berloques de feridas)]
aquela reta linha
que a máquina vindica
enfim das cavas lidas
das sondas exauridas
rente à tela - à tardinha...
apesar de sozinha.
Minha vida encaminha
sopesar que avizinha
em ondas esquisitas
[medidas de batidas
de choques, de subidas
descidas de vencidas
(berloques de feridas)]
aquela reta linha
que a máquina vindica
enfim das cavas lidas
das sondas exauridas
rente à tela - à tardinha...
terça-feira, 1 de setembro de 2015
CENSO DOMÉSTICO
senso animal
Amiga
formiga
me diga
se a lida
- na cozinha da Vandecira
é a vida
querida...
Amiga
formiga
me diga
se a lida
- na cozinha da Vandecira
é a vida
querida...
PROJETO DE VIDA
Sob o teto
céu a pino
amarelo
sobre um piso
arquiteto
interciso
o que é belo
dividido
(paralelo
e adstrito)
entre um teto
antevisto
e o novelo
onde piso.
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
FACE A MEDIOCRIDADE
nenhuma honestidade
Toda vez que me sento
diante da tela, tento
(é assim que me apresento)
protegê-la do invento
centrípeto de um vento
(é assim que o represento)
que-interno-ocupa-o-hiato/vácuo-do-pensamento.
Desrespeito o momento
[o vazio do texto]
pretextando um evento?
Ou respeito o cinzento
intentado, a despeito?...
[qual mesmo o sentimento
de fraude em movimento?]
...
{diante da tela, avento}
Toda vez que me sento
diante da tela, tento
(é assim que me apresento)
protegê-la do invento
centrípeto de um vento
(é assim que o represento)
que-interno-ocupa-o-hiato/vácuo-do-pensamento.
Desrespeito o momento
[o vazio do texto]
pretextando um evento?
Ou respeito o cinzento
intentado, a despeito?...
[qual mesmo o sentimento
de fraude em movimento?]
...
{diante da tela, avento}
domingo, 30 de agosto de 2015
DOMINGA III
À noite posso
dizer que nosso
amor de conto
labor perdura
no contraponto
da hora escura.
sábado, 29 de agosto de 2015
REVISITA 87: DIÁRIO (PUBLICADO) DE UMA PAIXÃO
12º poema de À procura de Nefertari
Em textos convertidos, vivemos
registros mal lembrados de tempos
quase esquecidos; dos papéis sumidos
às páginas soterradas milhares pelos anos;
porém, ao escrevermos e guardarmos
na memória dos recônditos armários
impressões das chaves que usamos
(cônscios vez ou outra de abri-los)
recordamos tanto a matéria-prima dos sonhos
quanto o barro modelado em feitos; o que somos
da construção de espaços há muito transitados.
[o grande livro da capa verde
sobre o longo rio em sofrimento
está pronto; ele não mais te pertence;
que então ganhe as ruas, e quantas mentes
libertem outras tantas, de todas as correntes
recentes do passado - oxalá triste pretérito
não mais presente, não mais devido]
{... e quão nobre missão a tua!
Reabrir justa, pelo mundo
teu recôndito coração puro!...}
10/04/2005
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
REVISITA 86: SUMA ASTROLÓGICA
11º poema de À procura de Nefertari
Acordei da névoa lusco-fusca
entre os olhos e a consciência;
e o véu anestésico dobrou escuro
o segundo gasto a ter certeza
afinal de tua existência.
O café, a música, a tela brilhosa
inseparáveis da manhã crepuscular
derramaram-se pelos cantos múltiplos
recontando, extáticos, as tuas estórias;
nestas antevi, sonolento embora, a tua vitória:
- a vitória óbvia do desejo sobre o medo
pelo teu horizonte inimigo dos cubículos;
- o predomínio das cores vivas sobre a cinza
dor recidiva; o triunfo dos afetos em flor
apenas por brotarem, testemunhas viças
do quão fértil és, em realidade e fantasias;
- a prevalência definitiva, sem mais idas
da inocência incontida dos propósitos
no espírito da tua herança adolescente;
- e na tua hora hoje adulta, algo retida
a escolha real dos impulsos, ora temperados
logo virá no molhar da camisa, a jogar a vida.
Por fim, a minha nobre, oportuna astrologia
dourando vespertina essa questão matutina
(no avançar inexorável deste lindo dia)
concedeu-me derradeiro o conhecimento
limpo - sem nuvens - do teu destino:
- nele um amor rendido, franco
plenamente correspondido
será coroado soberano.
09/04/2005
terça-feira, 25 de agosto de 2015
CECIL
ao espécime que o matou
O que se esconde
por trás dos montes
de um horizonte
sem brutamontes
ou caçadores insatisfeitos
a despeito de quase perfeitos?
Imaginemos:
- rinocerontes
brancos e negros?
- sigmodontes
por aqui mesmo?
- bichos com fronte
chifres/presas/pelos/penas/pontes
para as mil fontes do viver pleno?...
...
[imaginemos
retrocedendo: os eucariontes
antes do superior Pleistoceno]
O que se esconde
por trás dos montes
de um horizonte
sem brutamontes
ou caçadores insatisfeitos
a despeito de quase perfeitos?
Imaginemos:
- rinocerontes
brancos e negros?
- sigmodontes
por aqui mesmo?
- bichos com fronte
chifres/presas/pelos/penas/pontes
para as mil fontes do viver pleno?...
...
[imaginemos
retrocedendo: os eucariontes
antes do superior Pleistoceno]
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
NA MINHA CIDADE
todo fim de tarde
como toda arte
que outrossim nos arde
(como se avant-garde)
repete-se à parte
singularidade.
como toda arte
que outrossim nos arde
(como se avant-garde)
repete-se à parte
singularidade.
DOMINGO À NOITE
possibilidades
Todo fim de domingo
(do bom tempo, o respingo
que insistimos distinto)
desatina sentidos:
- é a pior hora de muitos
por calarem seus uivos;
- é a pletora de poucos
por ouvirem-se moucos;
- talvez a espora de outros
considerados loucos
[então nascidos potros
talvez crescendo lobos]
{senão nascidos outros
desenvolvendo os lobos}
Todo fim de domingo
(do bom tempo, o respingo
que insistimos distinto)
desatina sentidos:
- é a pior hora de muitos
por calarem seus uivos;
- é a pletora de poucos
por ouvirem-se moucos;
- talvez a espora de outros
considerados loucos
[então nascidos potros
talvez crescendo lobos]
{senão nascidos outros
desenvolvendo os lobos}
sábado, 22 de agosto de 2015
SENSÍVEL II
O que o brilho do sol anima
(aponta, aquece, aporta, alia)
em sua diária travessia
se logo é tarde fugidia
em minha solitária ilha?
Por que, da solidária trilha
(de estrela que a tudo rebrilha)
presumem-no ser que ilumina
a toda e qualquer superfície
se pródigo, à noite desiste?...
[ainda que vença a madrugada
pontualmente, a cada jornada
o que ao brilho do sol resiste
em mim, se padece com nada]
(aponta, aquece, aporta, alia)
em sua diária travessia
se logo é tarde fugidia
em minha solitária ilha?
Por que, da solidária trilha
(de estrela que a tudo rebrilha)
presumem-no ser que ilumina
a toda e qualquer superfície
se pródigo, à noite desiste?...
[ainda que vença a madrugada
pontualmente, a cada jornada
o que ao brilho do sol resiste
em mim, se padece com nada]
REVISITA 85: LÓTUS
nono poema de À procura de Nefertari
Lótus. planta aquática (Nymphaea lotus), de folhas orbiculares, denteadas e belas, e grandes flores brancas, com pétalas externamente róseas e estames amarelos, nativa da África, especialmente do Egito, muito cultivada como ornamental, e pelos rizomas e sementes comestíveis; loto-sagrado-do-egito, lótus-sagrado-do-egito, nenúfar, ninféia.
Quero-me jardineiro
dos vasos aguadeiro
sob o sol do deserto
perto de ti, e amado.
Procuro-te, às margens do rio
sagrado; se do teu agrado
voltarei, caso não te encontre
no caminho da barca de Caronte.
Quero-te cultivar as flores
generosas; pois das piores dores
sofrem vidas sem a beleza
dos caprichos, vítimas da natureza.
Procuro-me, de corpo e alma
ao procurar-te, às margens do rio
sagrado; se bom jardineiro e aguadeiro
retornarás morena ninfa, alva Rainha!...
[quero jardins de vasos abaulados
vertendo calmos as águas distantes
que conosco vicejem, em instantes
róseas ninféias, nenúfares alados]
08/04/2005
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
REVISITA 84: DAS HORAS
oitavo poema de À procura de Nefertari
Esta manhã cedo amiga, ensolarada
antiga luz de arcos, flores de sacadas
clara coloriu crepúsculo pensamento:
- pintou de azul-puro o meu desejo
de andar contigo, as mãos dadas
bobas sorrindo pelas calçadas.
Quando o calor enfadou o dia, a tarde
encontrou-me contigo no interstício
do mais saudável, o quarto cochilo:
- quase acordados sonhando vagares
de largas asas levando-nos pelos ares
à insustentável jornada de que falaste.
Dali a noite invisível, opaca cegueira
introverteu-me cinestésico o espírito
para coisas mínimas que são tuas:
- finíssimas fraturas diminutas
dedilhando certeiras sílabas ligeiras
a varar agudas madrugada escura.
[quero-me seta e alvo, a escala do relógio
no espaço inteiro desse tempo a teu respeito]
08/04/2005
Esta manhã cedo amiga, ensolarada
antiga luz de arcos, flores de sacadas
clara coloriu crepúsculo pensamento:
- pintou de azul-puro o meu desejo
de andar contigo, as mãos dadas
bobas sorrindo pelas calçadas.
Quando o calor enfadou o dia, a tarde
encontrou-me contigo no interstício
do mais saudável, o quarto cochilo:
- quase acordados sonhando vagares
de largas asas levando-nos pelos ares
à insustentável jornada de que falaste.
Dali a noite invisível, opaca cegueira
introverteu-me cinestésico o espírito
para coisas mínimas que são tuas:
- finíssimas fraturas diminutas
dedilhando certeiras sílabas ligeiras
a varar agudas madrugada escura.
[quero-me seta e alvo, a escala do relógio
no espaço inteiro desse tempo a teu respeito]
08/04/2005
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
PEQUENEZES
aos cãezinhos de Luis Fernando Verissimo
Nossas certezas
intempestivas
nossas destrezas
inexpressivas
- na ventania
respectiva -
quando coincidem
impositivas
cheiram fuligem:
- pulverulentas
ferem as ventas
ao colidirem
poeira apenas.
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
VICE-VERSARIA?
vela e parede, parede ou vela
Teu muro macio
dispensa o que eu digo.
Pura alvenaria
dispensa que eu diga.
Se há cura auditiva
dispensa que o diga...
[dispenso que o digas
(se então recíprocas);
dispenso o que alisas
(duras cantarias);
repenso armistícios
(se os urde 'bem-vindos')]
***
Teu muro maciço
me amura preciso
em duplo sentido.
Teu muro macio
dispensa o que eu digo.
Pura alvenaria
dispensa que eu diga.
Se há cura auditiva
dispensa que o diga...
[dispenso que o digas
(se então recíprocas);
dispenso o que alisas
(duras cantarias);
repenso armistícios
(se os urde 'bem-vindos')]
***
Teu muro maciço
me amura preciso
em duplo sentido.
terça-feira, 18 de agosto de 2015
ANTES DO GELO
à cupidez tropical
Acima, o mundo é solar
mesmo na noite polar...
Abaixo, muito está no ar
arrebentando o colar
bestializando o falar
contaminando o pomar
envenenando o lagar
(submetendo o lugar
vitaminando o dólar)
degenerando polar...
Acima, o mundo é solar
mesmo na noite polar...
Abaixo, muito está no ar
arrebentando o colar
bestializando o falar
contaminando o pomar
envenenando o lagar
(submetendo o lugar
vitaminando o dólar)
degenerando polar...
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
REVISITA 83: POEMA TORTO DO AMOR SENSATO
sétimo poema de À procura de Nefertari
Tenho de falar do amor que me aluga
perplexo, andares inacessíveis de mim;
do meu amor-invólucro sobre as pernas
esguias dela - bípede passante, sem nexo
movendo incessante o cardíaco plexo
(que sonho, louco, daqui a pouco habitar)
de caminhante solitária das vias obstruídas.
Tenho de tratar do amor que me ocupa
carente das largas e verdes perspectivas;
faz-me doente dela a tristeza dos poemas
que escrevinha; ponteiros mal partidos
guias perdidas, lembranças desmemoriadas
de um tempo não vivido (como então lhe digo
que sou a vida, a verdade - o caminho?...).
Tenho de cuidar do amor que me inunda
de lágrimas virtualmente investidas, vertidas
pelas janelas semiabertas quando fecham
instantâneas, implacáveis no cerrado soslaio
das intenções, desconfiadas de atenções
(porque a cyber-dor que se realmente sente
deveras desmente-se na terra do nunca).
Tenho de amar o amor que me cura
definitivamente; há tanta sanidade oculta
debaixo das palavras, por cima das estrelas
das toalhas plásticas de mesa; e beleza
nas minúcias que o olho não capta da poeira
dourada de coisas corriqueiras, ordinárias
e mágicas - o limiar onde afinal te encontro...
07/04/2005
domingo, 16 de agosto de 2015
ZORRO, SOCORRO!...
retomar Sísifo, suponho
Quando não corro
domingo, eu morro
descendo o morro
caindo o forro
enquanto borro
minguando o jorro
sumindo o esporro...
[velho cachorro
bicho chinchorro!...]
sábado, 15 de agosto de 2015
REVISITA 82: OS FLUXOS DAS COISAS QUE ME CERCAM E CONSTITUEM...
sexto poema de À procura de Nefertari
... não apontam caminhos, saídas, redenções, outro ser derivado
das coisas que me cercam e constituem; o tempo, num momento
tudo paralisa, friamente convertido na expectativa
do ato à frente: mas qual tentar, se meus pés-troncos
lançaram grossos suas raízes?
Os fluxos das coisas que me cercam e constituem
não contemplam quedas definitivas nos abismos
do branco desespero; circulares, circulam-me
entre as coisas que me cercam e constituem
sem trégua, sem a régua-e-apontador
de uma infância guia.
Os fluxos das coisas que me cercam e constituem
não se abalam febris em reta direção à praia das imagens
abertas, mornas, areadas, arejadas que emancipam; eu queria
uma vez só as coisas que me cercam e constituem prisioneiras
de vontade incontrolável, avassaladora, torrente veloz e massiva
da sanguínea pressão alta de um homem livre.
Os fluxos das coisas que me cercam e constituem
não te incluem entre as coisas que me cercam e constituem
exceto como fantasia; sonho em sonos sem tratativas
com lugares e estares teus, espaços além de quaisquer visitas
do corpo; neles, projeto desdobrado meu largo interior desabitado
numa tapeçaria infinita: o chão aéreo dos teus etéreos passos
aquém do que é preciso.
05/04/2005
... não apontam caminhos, saídas, redenções, outro ser derivado
das coisas que me cercam e constituem; o tempo, num momento
tudo paralisa, friamente convertido na expectativa
do ato à frente: mas qual tentar, se meus pés-troncos
lançaram grossos suas raízes?
Os fluxos das coisas que me cercam e constituem
não contemplam quedas definitivas nos abismos
do branco desespero; circulares, circulam-me
entre as coisas que me cercam e constituem
sem trégua, sem a régua-e-apontador
de uma infância guia.
Os fluxos das coisas que me cercam e constituem
não se abalam febris em reta direção à praia das imagens
abertas, mornas, areadas, arejadas que emancipam; eu queria
uma vez só as coisas que me cercam e constituem prisioneiras
de vontade incontrolável, avassaladora, torrente veloz e massiva
da sanguínea pressão alta de um homem livre.
Os fluxos das coisas que me cercam e constituem
não te incluem entre as coisas que me cercam e constituem
exceto como fantasia; sonho em sonos sem tratativas
com lugares e estares teus, espaços além de quaisquer visitas
do corpo; neles, projeto desdobrado meu largo interior desabitado
numa tapeçaria infinita: o chão aéreo dos teus etéreos passos
aquém do que é preciso.
05/04/2005
NO MUNDO DO TRABALHO
ilusões de aço
Eu caço
(mormaço)
eu laço
(cansaço)
eu faço
[bagaço]
eu passo...
{baraço}
...
eu _ (traço!)
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
REVISITA 81: DA SUPREMA SANIDADE
quinto poema de À procura de Nefertari
Toma a minha mão, venha comigo
calma a chegar algum lugar;
rir e chorar dos caos do mundo
achada e perdida de tudo
também posso - mas junto.
Durma aqui mesmo, de um jeito
que sinta no peito o teu rosto
profundo e sossegado de sonhos
anis; longe da fumaça branca
a não mais cobrir a estrada.
E acordada, faça da luta
dos corpos estranhos no cio
o prazer úmido, misterioso
insensatamente sadio
das secas almas desconhecido:
- a paz doce dos músculos vadios.
04/04/2005
Toma a minha mão, venha comigo
calma a chegar algum lugar;
rir e chorar dos caos do mundo
achada e perdida de tudo
também posso - mas junto.
Durma aqui mesmo, de um jeito
que sinta no peito o teu rosto
profundo e sossegado de sonhos
anis; longe da fumaça branca
a não mais cobrir a estrada.
E acordada, faça da luta
dos corpos estranhos no cio
o prazer úmido, misterioso
insensatamente sadio
das secas almas desconhecido:
- a paz doce dos músculos vadios.
04/04/2005
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
REVISITA 80: LA SORCIÈRE
quarto poema de À procura de Nefertari
Fora, a noite cobre tudo que amanso
com seu manto estrelado de cabalas;
por dentro, a noite debate-se; e se tanto
em frente, a tela é frente - de batalhas!...
Luta amorosa, e doce, e tormentosa
por teus vários fragmentos; pelo entendimento
inteiro de ti vaporosa; da musa eletrônica
chave de todas as portas:
- dos portais daquele espaço há tempos
que noite embora (lida de ventos e cansaços)
[de escuros interiores e exteriores vastos]
{dos obscuros significados}
a manhã renova - e com ela, outros obstáculos;
... mas que um dia, numa hora
(marcada muito atrás por nossos ancestrais)
reunirá contemporâneos os pedaços
da menina-princesa de outrora
aos meus sonhos tão planos - de pisados;
e torto então, incompleto (completamente humano)
o cair imperfeito das peças no cotidiano
celebraremos - nas nuvens, como hiatos contando
o quebra-cabeças redentor do amor - a eterna cola.
02/04/2005
Assinar:
Postagens (Atom)