sábado, 15 de agosto de 2015

REVISITA 82: OS FLUXOS DAS COISAS QUE ME CERCAM E CONSTITUEM...

sexto poema de À procura de Nefertari

... não apontam caminhos, saídas, redenções, outro ser derivado
das coisas que me cercam e constituem; o tempo, num momento
tudo paralisa, friamente convertido na expectativa
do ato à frente: mas qual tentar, se meus pés-troncos
lançaram grossos suas raízes?

Os fluxos das coisas que me cercam e constituem
não contemplam quedas definitivas nos abismos
do branco desespero; circulares, circulam-me
entre as coisas que me cercam e constituem
sem trégua, sem a régua-e-apontador
de uma infância guia.

Os fluxos das coisas que me cercam e constituem
não se abalam febris em reta direção à praia das imagens
abertas, mornas, areadas, arejadas que emancipam; eu queria
uma vez só as coisas que me cercam e constituem prisioneiras
de vontade incontrolável, avassaladora, torrente veloz e massiva
da sanguínea pressão alta de um homem livre.

Os fluxos das coisas que me cercam e constituem
não te incluem entre as coisas que me cercam e constituem
exceto como fantasia; sonho em sonos sem tratativas
com lugares e estares teus, espaços além de quaisquer visitas
do corpo; neles, projeto desdobrado meu largo interior desabitado
numa tapeçaria infinita: o chão aéreo dos teus etéreos passos

aquém do que é preciso.

05/04/2005

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