sexta-feira, 30 de maio de 2014

ACASO VISITEM

assinem!

Os olhares que aqui vêm
- o que será que contêm?

Curiosidades - porém
por uns poemas de ninguém

(centenas neste armazém
ignorado e aquém):

- o que dirão para alguém?

Não vos olho nos olhos
pois que podem ser outros;

não lhos vejo os sobrolhos
(dois fariam escombros)...

Teus olhares que aqui vêm
- o que será que mais têm?...

(tenho ansiedades também)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

SENTE-SE

Enquanto se espera

o que desespera
é o tempo perdido
(que tempo já era)

porquanto de espera:

- ao fim, desde o início
um tempo impedido
(pedido a princípio)

de haver o que dera...

quarta-feira, 28 de maio de 2014

A VER COMPOSTURA II

Das dores físicas
aos ares devidas

as dores nas costas
(algia de costas)

[não se mais tísica]

são demais dispostas
a ciclotimias

lombares-polares
(solares, lunares)

aos pares corridas
pelas ciclovias...

A VER COMPOSTURA

Feneço

(percebo)

de um jeito

que esqueço

de um jeito

de mesmo

a esmo

aceder

fenecer

(perceber)

direito.

terça-feira, 27 de maio de 2014

FAST_IDIOSAS

sermões em questões

- o que palavras quererão dizer
de sensível antes de algum querer?...

[que ao depois do depois caberia
antes vir do que antes causaria

(tal como um pensamento predisposto a sentimentos)?]

...

- o que atravessa depois de se ver
o que a pressa prepara pra correr?...

[um medo de precipitar - e se perder
ligeiro de ganhar, de perder - de vencer

o medo cedo de se apressar?]

... ...

- o que sei que deveria saber
que sou naquele show por mais poder?...

[que mal importa o que aconteça
desconheço o que bem pereça?]

segunda-feira, 26 de maio de 2014

À NOSSA DIREITA

[a vossa receita]

Infraestrutura cediça
em declínio - dos cortiços

de fedorenta cortiça
(da vida sobre caniços)

[onde se junta a carniça
antiga de compromissos]

venta há muito cercania.

Superestrutura tida
como se escorregadia

- como um plano movediço

(pode ser isso ou aquilo)
[pode ter sido de ouvido]

pela superfície fina
de apenas ideologia:

- quais as leis da economia?
- que fazer das nossas vidas?

Se sei? Leigo em agonia
presumo, introspectivo

meio retrospectivo
copo de expectativas...

[pressinto quase, intuitivo
Malasartes, uma dúzia

de modelitos facinhos

dos realizados caminhos
ricos - filhos de uma puta

redistribuição dos riscos:

privatização dos lucros
socialização dos vícios]

domingo, 25 de maio de 2014

Sobre a volta para estas coisas

Na nota "Uma pausa para outras coisas", de 31 de março último, comuniquei tempos afastados então à frente. Foram quase dois meses sem o prazer do instante, nos quais qualquer transcendência - da expectativa ao esforço realizador - correspondeu a uma necessidade prática (embora sem garantia de satisfação).

Hoje, o prof. Sérgio Euclides concluiu o que lhe coube fazer - e pudemos descansar. A partir de amanhã (esperamos), a poesia reocupará o seu lugar.

M. B.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

VOO ZUMBI

Ensimesmada
sob a rotina
desencavada

esta consciência
desencantada

súbita e clara

se vaticina
apalavrada:

- desta consciência
desenterrada

(ainda por cima)
vou para o nada!...

sexta-feira, 9 de maio de 2014

NA ESTAÇÃO QUE NÃO ACABA

chove chuva

Nove de maio
dez para-raios
inda ocupados

e água debaixo
régua dos passos;

se alguém mais sábio
souber de fato

- eles que caiam
e ela que raios

rios nos partam!...

domingo, 4 de maio de 2014

DA INTELIGÊNCIA DA LÍNGUA

Dentro da cabeça
um quebra-cabeça

de ponta-cabeça
a montar depressa:

- palavras à beça
de Machado e Eça;

- do que prevaleça
Graciliano, cresça
Veríssimo, e desça
Cabral e Cecília;

- dos Pessoas, ilhas
(Saramago à vista);

- do Barros, formigas
(Camões de vigília...)

[as mãos na coleta
repleta de prosa
seleta das obras
dos sãos e dos poetas]

***

{eis, pois, o problema:}

No centro, a cabeça
com letras a peça

a estender sentenças
pra entender quem meça

antes que pereça
e desapareçam

(e depois me esqueçam
antes que eu impeça)

De um autor que nunca chega

"48 | O que me acontece

Eu, que havia decidido ser, uma vez, o homem da completa ventura, que abrindo caminho a cotoveladas entre a multidão gritasse: Por favor, deixem passar um homem feliz!, tenho, ao contrário, que sair para que me favoreçam com uma coleta de compaixão por tudo o que acontece comigo, porque tudo me acontece. Veja se não:
Anseio a destruição das cidades e me sai um primo que com extraordinário talento e veemente empenho batalha pelas cidades, por sua prosperidade e aumento, resolvendo para o urbanismo todos os problemas do trânsito.
Descubro os melhores títulos de romances e ensaios, e pouco depois minha meditação me demonstra que o mais ridículo e injustificado de uma obra de arte é pôr-lhe um título.
Descubro o mais doloroso e intenso dos assuntos de romance, poema ou teatro, e tempos depois minhas meditações sobre estética me impõem a verdade de que o assunto em arte carece de valor artístico, é estra-artístico, e, além disso, a invenção de assuntos de arte é uma das máximas ociosidades, pois a vida transborda de assuntos.
Concebo e realizo alguns poemas arrebatados, eloquentes, e mais tarde, sempre querendo saber a verdade, descubro a da nulidade artística dos poemas, em prosa e mais ainda em verso, enquanto relatos e personificações.
Nego a morte e fico estudando o modo de prolongar a vida para o qual somente encontrei até agora o não usar terapêutica.
Esmero-me na elegância e talentos da redação literária, e me sai um personagem, o Presidente, que me eclipsa com a grandiloquência e lacrimosas desesperações de suas cartas, e outro, Quiçagênio, que tenta cortejar-me uma protagonista pelo sistema mais contraproducente e tedioso: a literatura de contista.
Espero a volta de um conto na esquina de voltarem somente os chistes.
Fico amigo do Leitor, que faz escrever melhor e me confessa que encontrou o autor que dá mais reputação aos seus leitores.
Enfim, quando tinha preparado o elenco completo dos assessores estéticos, científicos e filosóficos deste romance (três gramáticos, um químico, um historiador, dois descobridores, dois biólogos, um homem de gênio, um pintor de talento, três poetas, um astrônomo, dois músicos, um matemático, um psiquiatra), quando já amadurecia o plano de invenções, teorias embriológicas, palimpsestos decifrados e diálogos espirituosos de arte e filosofia a cargo dos personagens, eis que me cativa a simples conversa amável e generosa da amizade, e todo o meu descobrimento de apresentar um romance com laboratório e técnicos adscritos desmorona tristemente.
Não me resta mais do que proverbializar minha desventura, dizendo:

O mau é ter pensado
Depois de ter feito o mal."

Macedonio Fernández, Museu do romance da Eterna. Tradução de Gênese Andrade. São Paulo: Cosac Naify, 2010, prólogo 48.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

BECO

Uma subida
(pressão sanguínea)

animadinha
(sexta à noitinha)

pela trilha escura que mais brilha;

uma corrida
que precipita

quase perdida

noutra corrida
(e mais pedida)

num contexto rico de pretextos:

- pra cada pedreira, pedraria...

...

Uma visita
à tabacaria de Dioniso

(revés que Apolo refaz preciso)

quinta-feira, 1 de maio de 2014

ENSOLARADA

Brasília em maio

A qualidade
da claridade

na quantidade
de saciedade

é claridade
da qualidade

da caminhada
pela cidade.