domingo, 31 de janeiro de 2016

INTERSTELLAR II

we'll take us everywhere

O Universo

é infinito
e infinitesimal.

Incomensurável
e inferencial.

Observável. Abstrato.
Relativo. Superlativo.

O nosso caminho

fora do escaninho
existencial.

...

Um dia, em novembro
(o século, não lembro)

apreenderemos
dos desdobramentos
dos seus fundamentos

ao tocar os tais extremos

(not extremes after all

once bended over the wall)

***

[na cabeça de um palito
no alfinete num tecido

na lente curva da vista
prismando o que fantasia

interestelar o sinto

(possibilitar o Olimpo)]

sábado, 30 de janeiro de 2016

REVISITA 116: DA HORA DECIDIDA

45º poema de À procura de Nefertari

A hora que aproxima
arqueia decisiva

o peso da consciência
no mundo da existência

do que se principia.

Na hora decisiva
a ficha - decidida

suspensa fica - aérea

numa vontade - à espera

da férrea que abdique
de idéia que a permita

ceder à circunstância
o seu poder agora:

- o medo que se estranha
ótimo de esperança

átimo - bate à porta!

24/10/2005

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

ASSALTADO

tenho pejo

O mercado

no varejo

eu pelejo

no atacado

(atacado

derrubado

eu arquejo

derrotado)

[o mercado

no varejo

é o desejo

ensejado]

{seu sobejo

abjeto

eu rejeito

despejado}

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ANTEAURORA

Madrugada

adernada

penso cada

coisa vaga

cega, miga

soga, vulga...

...

(não é nada

acordada)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

NA ESTAÇÃO

causação

Eu daqui

vejo que

pássaros
aguardam
ribeiros.

[e dali

o porquê

cântaros
desaguam
ligeiros]

DO DEUS DOS TEXTOS

na astrofísica e na física quântica

Deus é um mistério

nos textos sérios?

Se benéfico

se colérico

tem-se o mérito

dos textos sérios.

...

Deus - se mistério

(nos textos sérios)

é pretérito

no seu mérito:

- pois pretéritos

os textos sérios.

...

Deus - se mistério

(por um mérito

impretérito)

não é O Mistério

deste Universo

impretérito.

...

[maior mistério

do que O Mistério

deste Universo

já é o mistério

dos seus anversos

(sob inquérito)]

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

DA VIDA PROTEROZOICA

nos passamos não passando

Estou encapsulando.

Não estou mais respirando
como antes - mas como quando

quando eu era pré-cambriano

(nadava a ré no pântano
antanho a um antanho plano)

...

Estou encapsulando.

Mas estou mais respirando
neste fim de Cenozoico

porque estamos regressando
ao Éon Proterozoico:

- um período nada heroico
em que dois mil milhões de anos

se passaram não passando

(de vermes segmentados
de animais celenterados

de esponjas para limpá-los
contemporâneos de humanos)

...

Estar encapsulando

nesta altura desta história
nada paleontológica

merecemos (por enquanto).

domingo, 24 de janeiro de 2016

INTERSTELLAR

the (same) movie

Como as estações espaciais

sóis, luas, planetas terreais
quais capacetes de metal

se carecentes de algo mais
presencial (mesmo se virtual)

[desde que não nos faça mal
às mãos, pulmões, ao capital]

terráqueos os teremos - tais
de exploradores naturais

dos quarenta pontos cardeais
(de suas dores - colaterais)

em qualquer lugar especial
que convertamos em natal

desde tempos imemoriais.

sábado, 23 de janeiro de 2016

REVISITA 115: 23 DE OUTUBRO DE 2005

44º poema de À procura de Nefertari

... às 17:42 o Sol entrou em Escorpião, e às 18:34 começou a chover; há duas horas repliquei a mais um teu poema nesta disputa ferrenha por nós; lá fora, a chuva recrudesce exatamente agora - 18:38:50; está quente ainda, e que delícia o molho cheiroso da terra que vem às narinas!...

A cada momento
o meu pensamento
de ti sentimento
se trata em silêncio

(significando
seu variado ruído)

da luta que trava
junto à veia cava
e que à alma abala
ser branca de hospício

e ali flamejante
é tal caminhante
a ferros amante
buscando o sentido

em chamas pressentindo
uma doçura urgente, o delicado imperativo
de uma incandescência paciente
ao longo do caminho
contigo percorrido - embora tenha este
hipotético remanescido:

- abrasando o que não deveria
na medida do que quererá
ainda...

23/10/2005

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

ACERCA DE LIMITES

que a ignorância imite

A experiência do corpo

- do invólucro que morto
não sei se haverá outro -

restringe o meu escopo.

A experiência de um outro

- de um improvável corpo
transmigrável do morto -

de outrem restringe o escopo.

***

[o argumento da alma
- da existência da alma -

defende-se com alma
sem que nos traga a calma

- sem que nos livre a alma
do que irrestrita empalma]

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

DO AMOR

a Mércia

O tempo do tempo
é sem movimento.

O espaço do espaço
é este regaço.

O tempo do espaço
é o passo que tento.

O espaço do tempo
é o tempo que espaço.

Se assim for tal dispor
durar ao teu redor

qual seja o meu amor
enfim será maior.

QUADRA DO ENCONTRO

Virei-me, e teu sol

virou-se, a brilhar

sobre um girassol

que sobrei a olhar.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

CORRENTEMENTE

Chuva insistente

intermitente

superiormente

interiormente

onipresente:

- por sobre a gente

por sob a mente...

REVISITA 114: A ESTRADA REAL DOS SONHOS (ou "Tanto Faz Aqui Como Em Qualquer Outro Lugar Se É Só Pedra...")

43º poema de À procura de Nefertari

No que abstraímos de tudo

- da matéria rude e quase fresca do mundo
de poeira a estrelas, num segundo -

hiatos estacamos - e mesmo o cosmos viajando

o vácuo requentamos, ao lustrarmos
empregados o verniz dos mesmos hábitos

(senti)mentalmente revolucionários (?)
petrificados num movimento convulsivo

excessivo de (di)gerir:

- vez que a Estrada Real dos Sonhos
ao contrário, pede a troca dos carros

e certas cardiopatias; um norte intuído

e a coragem de um percurso gozoso
gentilmente deflorado (embora trabalhoso)

sem milhagem - passo a passo...

12/10/2005

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

CLIMATOLÓGICA II

enquanto o tempo padece retórico


Chumaços de chumbo

facundos ao fundo

no inchaço do espaço

terraço do mundo...


Bodoques, balaços

que vejo suspensos

(que penso sujeitos)

ao toque de bumbos

que avento suspeitos...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

SEXTILHA EM BRASÍLIA

As águas ocupam
meu olhar acima

na forma de cinzas
mas das que não sujam:

- apenas relutam
em limpar o clima.

11/01/16

REPARTIDO

Hoje é dia
de partidas

de partidas
decisivas

divisivas
recidivas

todas elas
quereria:

- muitas delas
esportivas

uma delas
fugidia

[talvez desta
gostarias

toda ela
comovida]

10/01/16

O BELMIRO

Mal cuidado o tio Belmiro
(seria pedra ou granito?)

continua benedito

- pois continua inédito
de continuar insólito -

e prosseguindo expelido
não recua recôndito.

Mal cuidado o tio Belmiro

mais continua instituto
mais impoluto e irrestrito

e talvez absoluto.

[me situa convoluto
(pelo visto, devoluto)

pela vista que dedico]

09/01/16

domingo, 17 de janeiro de 2016

PRECE PELO VERDE

Velho aclive
dos meus olhos

tão sublime
dos abrolhos

verde andaime
dos meus sonhos

não decline
pelos outros

não decline
por tão pouco:

- pelos pulhas
das fagulhas

- pelos pombos
das agulhas

- pelos bolsos
de pampulhas

- pelos combos
de cambulhas...

Verde aclive
dos meus olhos

tão sublime
dos antolhos

santo daime
dos risonhos

se declive
de nosotros

- construtores
- destruidores

- dos arroios
estertores

- predadores
uns dos outros

nos perdoe
oportunos

pelos muito
moribundos...

09/01/16

sábado, 16 de janeiro de 2016

QUADRA [DUPLA} JUIZ-FORANA II

Juiz de Fora
me comove

muito embora
eu desgoste

[da cidade
na verdade?]

{da verdade
na cidade?...}

09/01/16

QUADRA [DUPLA] JUIZ-FORANA

Edifícios
espetados

nas paredes
dos penhascos

[que difícil
pendurados

pelas redes
dos sanhaços!...]

09/01/16

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

DAS FIGURAS

quais pinturas

Certas velhas
quando jovens

foram grelhas
sobre as nuvens

- como abelhas
incandescens

às centelhas
de seus polens -

em paletas
com suas gelhas

como em Rubens
mais parelhas!...

09/01/16

FAMÍLIA MINEIRA

toda cozinheira

As perguntas
- não fazemos;

as respostas
- não podemos;

resoluções
- comendemos

(os problemas
são os mesmos)...

As virtudes
- talvez menos;

os queixumes
- de somenos;

os mamutes
- pleistocenos;

os quitutes

- que venenos!...

...

A cidade
- o que vemos;

quantidades
- o que temos;

qualidades
- cultivemos

(as promessas
deveremos)...

Inquietudes
- mais ou menos;

longitudes
- dos acenos;

plenitudes
- os quitutes;

os quitutes

- com torresmo!

09/01/16

DÉCIMO ANDAR

Minha gente mora
bem alto, astronauta

num canto de rua
pingente da lua;

por isso demora
a ver certas coisas

pois a mesma cousa
se daquela altura.

09/01/16

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

DA CIDADE ENTRE AS SERRAS

nota de Juiz de Fora

(por serem acostumados)
pássaros engaiolados
(por seres civilizados)

é tradição no pedaço.

[gaiolas de concreto e aço
menores a cada passo

completam o vítreo quadro]

08/01/16

A CIDADE E AS SERRAS

por que será que penso
em Eça ali por dentro?...

A cidade entre as serras
motiva as motosserras?

Convida as motosserras
a urbanizar suas terras?

A cultivar suas terras
multiplicando a pedra

concretada e diversa?

[multiplicando a guerra
concreta contra as serras?]

...

{da cidade e das serras
hoje sobre charnecas

que pensaria o Eça?...}

08/01/16

SEXTILHA JUIZ-FORANA

O vento muda
rumos de chuva

pelas medidas
do Paraibuna.

[farol acima
seu sol confirma]

08/01/16

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

DAS IRMÃS & AMIGAS

... aquelas senhoras
imóveis auroras

no peso das horas
vão crepusculares

cuidando seus ares
demoras, melhoras

(seus lares, colares
penhoras, azares)

caminhando aos pares...

08/01/16

MINHA SEDA

Minha mãe vive num casulo
com sua tela para o seu mundo

numa novela sem fim nem fundo.

Nela, minha mãe tece a seda
dos vínculos em que se enreda

- os mais íntimos nos quais se encerra.

Como ela, outras vivem dos frutos
seus espalhados pelo mundo

- mamães incondicionais da Terra;

mas a minha, na sua novela
personagem de uma teletela

vive miragens, sobretudo

das borboletas do seu casulo.

07/01/16

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

QUADRA JUIZ-FORANA XX

Se vistas por estrangeiro

as galerias do Centro

pareceriam, adentro

o fundo de um mundo inteiro.

07/01/16

QUADRA JUIZ-FORANA XIX

... em jota-efe
a nuvem desce

e cresce as sebes
quem sabe leves?...

07/01/16

QUADRA JUIZ-FORANA XVIII

As três irmãs cajazeiras
(trinca terçã presepeira)

me cercam de gentilezas
do tempo das mamadeiras...

07/01/16

DA (NOSSA) HISTÓRIA JUIZ-FORANA

Entre elas

(donzelas)

janelas

novelas

panelas

querelas

tabelas

tutelas

há eras.

06/01/16

RODOVIÁRIA INTERESTADUAL

Encruzilhada
multiplicada

a cada braça
de cada peça

envidraçada
no vão da seta

que me prometa

chegar em casa

(seguir jornada)

05/01/16

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

QUADRA JUIZ-FORANA XVII

antes de vir

Juiz de Fora
sempre acorda
uma forma
de ir-se embora.

FOI ONTEM

... a chuva de hoje à tarde
me prendeu com alarde

debaixo da marquise
de sua esquisitice:

- corrente grossa d'água
(de água feita torrente)

corrente do pé d'água!...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

REVISITA 113: 18:11 (DEZOITO E ONZE)

42º poema de À procura de Nefertari

Chegou enfim o momento
no qual o teu todo silêncio
tudo de mim tomou conta.

A mente, o peito, de resto

o exposto tão nervo
a tensão que o castiga
a tua falta de notícia.

Essa franzina agonia
que tudo de mim mobiliza

engana, longe ainda
suspensa clareira de vida:

- algo segura, sob a asa
invisível da guarda

do anjo que escorracei
em auxílio ao teu

(que ao fim protegerei)

30/09/2005

domingo, 3 de janeiro de 2016

EM JANEIRO

Brasília, nativa

passiva, vazia

nublada, verdinha

(escorregadia)

cultiva/

jardina/

cintila/

[à parte as quadrilhas
distantes, vizinhas

destas maravilhas]

- frisos e pastilhas

- aves em matilhas

- vias, aros, trilhas

- meu sentido de ilha.

QUINTILHA VELOZ

das férias

Na terceira madrugada

de cerveja na sacada

não há nada, nem a cada

que não veja ultrapassada

a primeira, pela quarta...

sábado, 2 de janeiro de 2016

DA MINHA PAISAGEM II

Teclados abaixo
(de um café ao lado)

ligo a tela à frente

do mundo presente
(mas só de repente);

janelas à frente
(do seu fundo ausente)

vazam noticiários
gritam comentários

pra consumo otário:

- fatos relativos
relativizados

segundo o partido
repartido dado;

teclados abaixo

caem pensamentos
(junto a sentimentos)

em nervosos dedos:

- quadras e quintilhas
sextilhas, sonetos

e outras rabadilhas
desta pescaria

nesta ilhada lida

dos poemeus que apenso...

Epistemológica Cecília

poema a respeito, de Cecília Meireles

"SONETO ANTIGO

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento."

Cecília Meireles, Poesia completa, vol. II. Organização de Antonio Carlos Secchin. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, pp. 1645-1646.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

PRIMEIRO DE JANEIRO II

O primeiro dia do ano
- o dia mais morto do ano

comemorado, no entanto
como o renovo do humano

é o contrário do arbitrado:

- antiquário solitário
de um recente, abandonado.

...

No momento
nem o vento

movimenta.

Seminua
nem a rua

sonolenta.

Nem a poeira
costumeira

se acrescenta.

Um silêncio
pré-tormenta

atormenta:

- onde há vida

se apresenta?

...

O primeiro de janeiro
- se dia de um dia a menos

[se trinta e um de dezembro

de um ano que não se lembre
do ano seguinte no ventre]

poderia, derradeiro

fechar o caixão do tempo.