SEXTILHA REMOTA

[um sol

farol

em prol

do anzol

no frol

é cool]

SEXTILHA DO QUE FICA NA GARAGEM

Finados

[da paisagem

que esvazia

a garagem

prenuncia

a passagem

do feriadão]

DUPLA QUADRA BOVINA

[se cedo

sonho

com ledo

fronho

meu medo

ponho

e quedo

bisonho]

SEGUNDA

A rotina

é de chumbo:

- na surdina

toca o bumbo.

(inquilina

no quibumbo)

[medicina

cipó-chumbo]

{na neblina

do mofumbo

lamparina

do retumbo}

QUINTILHA PRIMEIRA

[esta segunda

vendo segunda

sendo segunda

não me segunda

nem se segunda]

PIEDOSA

cantiga de esquina

Num canto

de encanto

meu pranto

quebranto

espanto:

- descanto

recanto

contanto

que santos...

NA GARAGEM XXX

quase miragem

Nesta sexta-feira

há uma goiabeira

súbita mais bela

plantada na perambeira

que desce curta na tela

entre as flores amarelas;

mas goiaba

já rodela

goiabada

feita dela

nesta sexta

pela feira

inda não há

(embora prometa...)

ELEITORAL

Argentina

Nos textos

abertos

contextos

cobertos

despertos

bissextos

(pretextos

decerto

expertos)

SETILHA NUM CANIL

Cão

bão

são

quão

dão?

(não

vão)

SEXTILHA NUM CANIL

Cão

bão

(quão

pão)

dão

não.

QUINTILHA NUM CANIL

Cão

bão

(tão

quão)

dão.

QUADRA NUM CANIL

Cão

tão

bão

dão?

TERCETO NUM CANIL

Cão

bão

dão?

DUPLA QUADRA NA GARAGEM IX

[... uma hora

quais carroças

juntam moras

nessa fossa;

outra hora

tais carroças

contam troças

e simbora!...]

SEXTILHA DO CLIMA ESTRANHO

No quentão

mundo cão

sim e não

vêm e vão:

- venta não

chove em vão.

CLIMA ESTRANHO

A transição

sem divisão

do tempo bão

pro tempo não

subtração

da tradição

guarda bem não

nem gradação

nem intenção:

- em adição

ao tal clarão

mal vem trovão.

QUADRA LARGA

A luz

do céu

conduz

ao léu.

DUPLA QUADRA FEITICEIRA

[tua astra

pulhastra

me lastra

me castra

adastra

a piastra

me bate a

canastra]

SEXTILHA COM SAÍDA

roteiro

Gargalo

entalo

estalo

abalo

resvalo

e embalo.

POEMINHA SEM SAÍDA

gargalo

Quando verso

pego atalho

pelo beco

do caralho

do serralho

do baralho

do retalho

do migalho

(dá trabalho

o reverso

o que esgalho

cacareco)

PRESCINDÍVEL

[meu céu

pagão

se véu

ao léu

no chão

é vão

chapéu

ao rés

então]

QUINTILHA SATISFEITA

Meu café

com leite

vem frio

mas quente

até.

QUADRA DESLOCADA NA GARAGEM

ocuparam meu espaço

Estacionado

por outro carro

resignado

por outra vaga

fui deslocado

por um desgarro

antecedente

acanalhado

por essa paga

improcedente

autorizada

daquela gente...

QUINTILHA RETRÓGRADA NA GARAGEM

pedagógica

[o trabalho

que me aguarda

com farfalho

enxovalham

retroguarda]

VISTA POLUÍDA DA GARAGEM

[tal sacola

de plástico

por agora

elástico

saltimbanco

incomoda

lixo branco

entre as flores

amarelas

atravanco

aos amores

de quem zela]

QUADRA NA GARAGEM VII

sobre o corte

[meu sono

respiro

sonoro

suspiro]

SEXTILHA NA GARAGEM IX

sobre o corte

[meu sono

em tono

cardíaco

eu sinto

subindo

do ilíaco]

DA GARAGEM XII

miragem(s)

O chão é liso.

Seu vão é o piso.

O teto reto

neto concreto.

...

(estacionados

estão os carros

de funcionários

involuntários)

...

[a luz de fora

ensombra dentro

e um calor frio

vem do arrepio]

...

{dentro de um carro

casal trocado

secreta um sarro

mal abraçado}

QUADRA DA MUDANÇA DE ESTAÇÃO

[a claridade

ao explodir

enche a cidade

de ir e vir]

QUADRA LITERÁRIA

a Paulo Paniago

Seja prosa

ou poesia

uma obra

de ousadia

- por que funciona?

Eu diria

da gloriosa

- porque punciona!

(tanto quem faz

quanto quem praz)

QUADRA DOCENTE NA GARAGEM DEPOIS DE (MAIS) UM FERIADÃO

quimera

[saber-me-ei

mover-te-ei

(quão saberei

tão moverei)]

SETILHA DOCENTE NA GARAGEM DEPOIS DE (MAIS) UM FERIADÃO

nada sério

Essa vontade

de algo morrer

pela metade

da de viver

- como é verdade!

(mas sem querer

nem se puder...)

DUPLA QUADRA DOCENTE NA GARAGEM DEPOIS DE (MAIS) UM FERIADÃO

vamos à pugna

(mas só se magna?...)

Vamos à luta!

(a devoluta)

Vamos à briga!

(se nos obriga)

Vamos à bulha!

(a que borbulha)

Vamos à rixa!

(senão comicha...)

SEXTILHA DOCENTE NA GARAGEM DEPOIS DE (MAIS) UM FERIADÃO

como me estranho dentro de um carro

Chego indígena

alienígena

um rurígena

nada urbígena:

- draconígena

de nubígena...

SOBRE O CORTE XV

15/04-15/10

Foram seis meses

algo siameses:

- o corpo depois

no corpo de antes;

- um corpo entre dois

contrapassantes;

- do corpo que sois

um semelhante.

...

(nele o coração

incomparável

a minha paixão

inseparável

bate com razão

insuportável)

CONSCIÊNCIA CORPORAL II

A dor

prazer

da flor

mulher

que for

querer

o amor

fazer:

- se der

saber

que pôr

ceder.

DA GARAGEM XI

ontem

[andorinhas

no concreto

morceguinhas

por completo

levezinhas

pro arquiteto

são vizinhas

no projeto:

voam minhas

pelo afeto]

SETILHA NA GARAGEM VII

ontem

[essas flores

amarelas

juntas pintam

aquarelas

noutras cores

que não mintam

junto delas]

SETILHA ELUSIVA

hoje

A luz

de sal

do céu

de sol

azul

desceu

caiada.

DA ESCOLA AO REDOR

mudada a direção

[nesta sede

bonitinha

as paredes

tão limpinhas

são privadas

doutras tintas

doutras redes

doutras datas

da igrejinha

encomiasta

que adrede

as mantinha

(e trocada

gabinete

disse "basta!...")]

DUPLA QUADRA VEROSSÍMIL

[as sombras

de cumes

alfombras

que luxes

são obra

de luzes

das lombras

que fumes]

SEXTILHA NOSTÁLGICA

hoje cedo

[na galeria

da livraria

Maria

vestia

ventania

alegria]

SEXTILHA RETROSPECTIVA

hoje cedo

[encoberto

o dia

descoberta

a via

me desperto

biografia]

DA CAVERNA VII

hoje cedo

[vazia

a garagem

da azia

das miragens

já pedia

companhia

de aragens

de friagens

engrenagens

patinagens

homenagens

vassalagens

em carruagens

- pois jazia

rodovia

de passagem]

SEXTILHA CONDICIONADA

pós-moderna

Por onde sigo

(se vou comigo)

eu não consigo

(se teu amigo)

estar contigo

(ficar consigo)

RESTRITIVA

[a rotina

do costume

que praticas

é neblina

sobre o lume

que imaginas

lamparina

de volume

que palias]

DUPLA QUADRA CONSTATADA

Envelheço

se primeiro

o desejo

que então tenho

(face ao pejo

pelo tido)

eu protejo

por último.

IDEANDO COMO ERA

Havia o caminhar

correndo a jugular

andando até cansar;

havia o que pensar

pulsando até pausar

tremendo atravessar.

Andar sob o luar

nadar o mar solar

revoar o vácuo do ar:

- havia o que sonhar

a pouco de inventar

pousando ao relembrar.

GENUÍNA II

Desengano

desilusão

cotidiana

decepção

eu que ufano

repetição

a queria

sacramento

que extravia

seu lamento

dia nenhum:

- pela brisa

contra o vento

indo à guisa

do que avento

porque sinta

no momento

nesta quina

do argumento

ferimento

doutra esquina...

GENUÍNA

Fantasia

devaneio

melodia

remeneio

ambrosia

pão de queijo

os queria

alimento

todo dia:

- pelo alento

contra a lida

que atormenta

esta vida

sem que beijo

a compense

sobre seio

que se pense...

SETILHA DELA

A beleza

quando encarna

à francesa

nos escarna

com destreza

(nos descarna

com presteza)

NO BARCO DA GARAGEM

que algum juízo me proteja

No escuro

da gruta

segura

do curso

que duro

de cura

depuro

da luta

morena

de curvas

helena

de curvas

serenas

que urdo

na cena

que turvas

sirena

de avena

que acena

da curva...

DO VERBO ENLUANAR

definição

Esquentar

sem queimar

um solar

enluarar.

(enfunar

enfurnares)

[sufragar

naufragares]

SETILHA AO JABÁ

Dada

fada

(maga

nada)

cada

vaga

paga.

JÁ ESTAÇÃO?

desejo

A chuva

se for ficar

quer uva

para regar;

piúvas

saúvas

para juntar

e remolhar;

viúvas

para parar

de enxugar

se por ficar.

A chuva

para apertar

quer luvas

para empapar;

cuva

juva

puva

para rimar;

cabriúvas

cupiúvas

samaúvas

para avultar

(de chuva

para alagar

a cuja

que ressecar).

PREOCUPAÇÃO

ilustração

O céu

nebuloso

cobre

um coração

(seu chão

populoso)

sobre

um vão

chapéu.