aos pedaços
Madrugada.
O sibilo do silêncio
desperta nele mesmo
uma impressão tua:
- em mim, como fica?
Ângulos do teu rosto
o rico sorriso, o todo gostoso
cruzam comigo a noite
avultando muito:
- perseguem o quê?
Detalhes menores, em suma
subvertem a minha causa
a sua pausa justa
(deixá-los em suma paz).
Impulsiva, a caneta
deita sílabas, sentenças
sobre o branco que me deu
o teu gozo repetindo
uivos roucos nos ouvidos
comandando fibrilante
dedos noutros orifícios...
Fonemas, poemas
mãos dadas, tomadas
são agora da memória:
- mas um sonho bate à porta
diligente à nossa procura
desejoso de cura
alguma.
Dolorosamente
recorto do teu corpo
a juba, a pele, a vulva
o hálito dos pelos negros;
e curvas, dobras, a fenda rubra
por onde não mais estão
aonde não se descubra...
[tudo que escorre e pinga
dessa carne viva
cadafalso me tortura
o equilíbrio neste momento
sem o teu tempo]
1991