segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

REVISITA 164: NÊMESIS

aos pedaços


Madrugada.

O sibilo do silêncio
desperta nele mesmo

uma impressão tua:

- em mim, como fica?


Ângulos do teu rosto
o rico sorriso, o todo gostoso

cruzam comigo a noite
avultando muito:

- perseguem o quê?


Detalhes menores, em suma

subvertem a minha causa
a sua pausa justa

(deixá-los em suma paz).


Impulsiva, a caneta
deita sílabas, sentenças

sobre o branco que me deu

o teu gozo repetindo
uivos roucos nos ouvidos

comandando fibrilante
dedos noutros orifícios...


Fonemas, poemas
mãos dadas, tomadas

são agora da memória:

- mas um sonho bate à porta
diligente à nossa procura

desejoso de cura
alguma.


Dolorosamente
recorto do teu corpo

a juba, a pele, a vulva
o hálito dos pelos negros;

e curvas, dobras, a fenda rubra

por onde não mais estão
aonde não se descubra...


[tudo que escorre e pinga
dessa carne viva

cadafalso me tortura
o equilíbrio neste momento

sem o teu tempo]


1991

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