quinta-feira, 31 de maio de 2012

INSTANTÂNEO

A moldura que teus lábios
coadunam de perfeitos

à tua língua desferida
em palavreados termos

caramela pouco acima
da tua linha fugidia

as lanternas amarelas
que adiante me confias

(as tranquilas assassinas
que sequelas cicatrizam)

sorrindo (de si por dentro)
a inapelável rendição

de antemão que te concedo...

SISTÊMICA, ORGÂNICA, NERVOSA, CRÍTICA (E CÍCLICA...)

sistema nervoso vegetativo (fisl) parte do sistema nervoso, constituído de neurônios sensitivos e motores, que regula funções como a respiração, a digestão, a excreção e a circulação, dividindo-se em sistema nervoso simpático e parassimpático, cujas funções se complementam de modo a coordenar o funcionamento de todos os órgãos... (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)

O parassimpático que há em mim
está nada, nada simpático
às minhas considerações, enfim...

De todos, o mais temido
reinstala-se - o conflito

que veste, confortavelmente
contradições do tronco à mente

entre o que repenso
e o que ressinto

o que me lembro
e o que pressinto

para ao novo dar um novo lugar:

- abrir a tapa a nova supervia
explodir na cara a supernova

(do vasto porão que rebrilha)

enfim...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

PREMISSAS FRESCAS E FATAIS

O que sinto
(de destino)
só o sinto
como se nunca tivesse sentido.

O sentido
(do que sinto)
desconheço
como se nunca o quisesse sabido.

Seu mistério
(infinito?)
reconheço
como se sempre o vertesse destino...

terça-feira, 29 de maio de 2012

TRÊS FATORES CRUCIAIS

O primeiro, esqueço
resolvê-lo
(faço revolvê-lo).

O segundo (o primeiro
de fato), não lembro
direito.

O terceiro - no momento
complicado engenho -
passo...

domingo, 27 de maio de 2012

DUAS ARTES ENFIM IGUAIS

a todo sacrifício odioso

A arte da espera (que renuncia):

- decerto, a habilidade
de convencer o tempo

a tempo de exilar-me
de certo movimento.

A arte da renúncia (que desespera):

- aquela que me intima
(à via agonística)

a postergar a vida
pra certamente um dia...

DE ONDE O IMPULSO

O que arranha nervoso

o trajeto trevoso
oco do pensamento

antes de preenchê-lo:

- um arroubo do vácuo
do inconformado vazio - de plenitudes
de um destituído destino - de tais virtudes...

O hiato - o hiato intolera
(vacatio não se assume);

se o vazio deserta

o vácuo aderna...

(queixumes)

TUDO NUM SEGUNDO

Num canto do jardim interno
ao fim do meu verão eterno

há uma mesa de pedra antiga

contemporânea de sóis primevos
extemporânea do tempo mesmo.

Quedei-me junto dela - não lembro
contemplei-a ainda primavera;

e desde então, ressentindo invernos
nela as mãos alongando os músculos

à sombra do outonal crepúsculo
que se desdobra infinitesimal

te espero, contudo.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O TEMPO

a Cruz e Sousa

... à frente, e também (o passado)
além, desdobrá-lo - e estendido

cumpre examiná-lo:

- das virtudes do tecido
aos buracos do acaso

de recosturas sem pano
a robustos desenganos

do seu plano americano
até pormenorizado

o fio, ao fim e ao cabo;

se igualmente, com o modesto fito
de não completamente ignorá-lo

- repetidas lições (quais sejam)
menos os senões (obstáculos)

no presente, ao poente

(do sol, o tapete)

recordá-lo...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O RISCO

Tuas lanternas, mel vítreo
balouçando entre destinos

escurecem, cristalinas
dos teus sábios desatinos;

dois escafandros dourados
dois caramelos marinhos

(amarelo-encouraçado
esmaecendo profundo

opaco o brilho
cortando a fundo...).

Se toda vez que me pego
fitando-as, embevecido

(e acompanhando as retinas
se tanto, um meio-sorriso)

escurecer-me é possível:

- se pretérito, que negue
o olhar que por ti arrisco

a perder-se quando abismo...

domingo, 13 de maio de 2012

NOTA CONTEMPORÂNEA

fragmento de significado

De fato alguém lá fora
meu coração aflora:

- a personagem-nome
de uma fatalidade
(sua virtualidade).

Embora além do espaço
(tempo que espaça largo
ao largo dos pronomes)

a de mais realidade.

{enquanto isso, me desespero
em pulsões de nervos concretos
invólucro refém dos mitos
dos sentidos empobrecidos...

[nada marca mais esta ausência
presente que vaga espectral
na nova necrópole virtual]}

sábado, 12 de maio de 2012

JOÃO VITOR

nascido a 7 de maio

Um neto
(meu neto
primeiro)

rosado
ereto
inteiro

e neto
direto
certeiro:

- contudo
que a vida
(e tudo)
lhe diga

querido

lhe trate
(destarte)
o amado

seu filho...

[do mundo
da vida
vivida
a fundo]

quarta-feira, 9 de maio de 2012

DOMINGO 16H

quando preconceito é paixão

Rola a bola
rente à grama
silenciosas
muambas, ambas

maltratadas
maratonas:

- a redonda
(com certeza)
faz de conta
(portuguesa)

que o relvado
não é mato;

a rés plana
(de pisada)
finge planos
(esburaca)

de justiça
nas conquistas...

[fora as pernas
(brasileiras)
as canelas
(brasileiras)

joelhos, braços
(coelhos, galos)

tornozelos
(entortados)
cotovelos
(os violentos)

dos perebas
(estrangeiros!)
que as destratam]

domingo, 6 de maio de 2012

A HARMONIA DA ILUSÃO

àquela anônima sensibilidade

Com vistas ao bem de nossas vidas
proponho a composição que vejo

às esferas/metades/polos que sejam
realidades, suas partes, um ensejo:

as paixões que desarrumam
- que à gravidade anulam (nos dois sentidos)

e as razões que as justificam
- que à gravidade explicam (sem corretivos)

dão-se duas mãos (as outras, repartidas)

em dupla imaginação restituída
originária, que perambularia...

sábado, 5 de maio de 2012

QUESTÃO INOPORTUNA

As datas - estacas várias
fincadas no calendário.

As efemérides, tidas
como comemorativas:

- por que tenho de lembrá-las
se dias de dromedário?

{se improdutiva a rotina
domesticado o trabalho
(apequenado o que faço)

[assim como]

determinados atalhos
(das incertezas de cima)
às inclemências do clima?...}

quinta-feira, 3 de maio de 2012

QUESTÃO MINHA

À tarde, venho cochilando
(surpreso, recapitulando)

sonhos desdobrados para trás

até verdes anos - quando anis
os planos, roxos os encontros

eram negros os pelos todos
rosadas as experiências

repintadas as indecências
na calada das madrugadas;

e compaixões, amareladas
por vermelhas verificações

repaginavam-se, centelhas
de cada novata esperança...

Por que tarde agora, cochilos
coloridos tão desbotados

sobre antigos fados - cochichos
por trás do tempo cortinado

ganham a hora, ecos do giz
da desmemória mais remota?...

(por que nesta hora de agora
quando aqui finco mastro e raiz?)