quinta-feira, 31 de julho de 2014

EM LAVOURA ARCAICA

que Raduan Nassar me perdoe

Em toda mudança
gemam sem tardança

brotos de lembranças;

cacos do passado
gemem passo a passo

toda vez que escavo
(cada caso é o caso)

pela vizinhança
do que sempre guardo

[do que sempre aguardo
como semelhança

fiel à balança]

MAN AT WORK

Por sobre os telhados
desta boa vista

ando meus olhados

previstos de cima
revistos abaixo

se mais detalhados
em boa medida

refaço o trabalho
que a vista aproxima.

MEN AT WORK

Três homens num telhado

conversando a trabalhar

[laborando a detalhar
(pormenorizado do ar)
divagado o devagar]

sobem desconsertados

tetos a conservá-los.

terça-feira, 29 de julho de 2014

SEM COMPOSTURA

propositura

Literatura
na caradura

contra a brancura
contra a brandura
contra posturas
contra imposturas

contra a cultura
das inculturas

e porventura
contra a amargura.

Literatura
na caradura:

- das urdiduras
a que mais dura

(de fato cura)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

REVISITA 6: MANHÃ COMO AS OUTRAS

... mas cada bonita! O sol de fora é o firmamento iluminando estranhos, entranhas, ossos adentro. O colorido das ruas, das árvores e edifícios na terra, nas pessoas e automóveis, atinge uma claridade difícil.

Por todo lado há corações perambulando, a manhã lembra. As delícias da vida estão ali.

...

Se livre estiver meu coração andante
tê-lo é preciso, do interior ao exterior
sadio, brilhando vazio e galante
ao requerer-me conquistar só teu favor;

se de tanto olhar, olhar-te simplesmente
não vejo pedras, ou duro o descaminho
separando-me de ti, lua crescente

solar assim, acompanha-me sozinho!...

06/07/1981

MOMENTUM RELAX

demorou

De outro ponto de referência
neste mundo como aparência

(parecendo para a consciência)

alargo o mirante da ciência
de si mesmo - da sua gerência

de mim cobaia da experiência.

Desse ponto de referência
- outra casa, por excelência

vejo-me um delfim da leniência
ao sentir-se a fim com paciência:

- enfim, alguma complacência
autocondescendente mesma!...

domingo, 27 de julho de 2014

REVISITA 5: UM POEMA

em eterna gestação

Pensar belo ao longo de versos e estrofes...
Correr sangue do fino riacho íntimo...
Sentir por outras entranhas os calores...
Pulsar incontido este espaço finito...

Palavras fugidias, vento
que ouço ao menos calado e atento
porque se perderão no tempo...

...

Descansos, sonho fatigados abaixo do horizonte

onde deitam serenos teus olhos, morenas
pontes ao tráfego oculto dos desejos...

...

Sabes que não vim para brigar

- mas quando vejo desperto
teu branco humor negro passar
meu coração sente o frio
melhor do que está a esperar...

...

(mas qual a razão de tanto calafrio
se teu corpo mais veste-se do meu olhar?)

01/07/1981

sexta-feira, 25 de julho de 2014

DO NORTE HORIZONTE

O que a frente descortina
à frente do que é rotina

(à frente do que neblina)

pousa o olho de rapina
em fogo de lamparina

[repousa a vista inquilina]

REVISITA 4: PENSAR E SENTIR

Branda a carícia
da calma brisa
a embalar solto
teu sono morno

que navegante
se for adiante
o fará afogar
meu fogo de mar...

Se pensamento
teu vibro aflito
logo o esvazio
em sentimento

com mão macia
que acaricia
inteira o gesto
de vir mais perto...

30/06/1981

quarta-feira, 23 de julho de 2014

SE MUDANÇA RESIDENCIAL

O que arrumar
organizar

na chegada de um novo lar
para somente bem-estar?

De tranqueira
nas ombreiras

(a casa da vida inteira)

escalar a Mantiqueira?

Por que mudar, se em descartar
há muito de se mutilar?

[embora tecido morto
desdobra-se do pescoço]

REVISITA 3: PRESSÁGIO

o primeiro poema (última versão)

Mergulho nos abismos da alma

sem opção, como única saída
à procura de verdadeira calma
sem peso, volume ou medida...

Sonhos, pesadelos, dissonantes
mais são contradições paralelas;
encontros de espíritos navegantes
de ventos enfunando caravelas...

Marco o passo
pisando firme, creio, e certo
fundo raso
longe de incrédulo, ou desperto...

(e quanto ao desafio de existir
eu vivo dos percalços com mais dor
viajando de querer partir
por amor de um único amor)

23/06/1981

sexta-feira, 18 de julho de 2014

LEMBRETE

Desde o início da jornada
(da jornada ao descaminho)

não inventaram nada
nada como estar vivo!

[de posse das faculdades
podemos eternidades

- por que mal o descobrimos?]

Por isso, felicito
felicito a manada

dos raros indivíduos:

- e caros entre os precípuos
aqueles redivivos...

NA MESMA QUADRA

716 Norte

Outra mudança
com esperança

de outra mudança

(de outra esperança)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

REVISITA 2: O LIMITE REPENSADO

Para quem vive às voltas com pequenos problemas e dores consequentes de cabeça pequena, a receita não é tão simples. Deixar águas turvarem à mercê do acaso não é coisa considerada de gente séria, preocupada com realidades.

O que pode ser melhor em paz?

...

Um retorno ao oculto, longe de vaidoso exercício, às vezes se faz necessário. Nada de estudo diletante, puramente intelectual; mas mergulho sensível, largamente intuitivo, nos porões da alma que se tenha.

Todavia, sem menores auxílios.

...

Muitos olhares cercam o objeto. Entretanto, prevalece a ignorância, cristalizando-se à medida que passa.

...

Pressa. Pressa! Pressa...

A pressa que invento não é mensurável (nem validável ou confiável).

...

Reciclo interminável pensar muito o saber pouco.

...

Encerrarei minhas dúvidas num cubículo com aberturas, contudo à mostra.

10/06/1981

quarta-feira, 16 de julho de 2014

REVISITA 1: TEXTOS LIVRES

Nestes rascunhos, minha existência é posta, exposta ao julgamento público de um indivíduo: eu. Não que eu seja exclusivista: é preciso entender que melhor ninguém pode avaliar aqui dentro o que se passa.


Para escrever alguma coisa, preciso estar sob forte pressão emocional. No meu caso, significa estar confusamente apaixonado. O objeto de minha paixão? Deve estar por aí, brincando de gata e rata comigo.

...

Metido dentro de mim, enfurnado nas minhas coisas, jaz meu o eu. Anda não muito satisfeito com o que tem feito. Pudera, inconformado!... Mas o tédio acomoda, acomoda mais que ausência do que fazer. A cara na frente do espelho, no banheiro, tudo diz. Após ver você após você todo dia, não faz diferença feiura ou beleza: a gente ser é mesmo igual.

...

Sérgio. Em latim, um servo. Da sua própria angústia, essa mola que mal empurra adiante, para cima e para baixo.

...

Empaco. Parco e servil. Mas quando todos menos esperarem, o acúmulo de dejetos oriundos da minha infecunda atividade de pensar lançar-me-á à frente. Para outro estado que não de espírito.

09/03/1981

Sobre o Projeto Revisitas

Existem centenas de poemas (e dezenas de comentários, notas etc.) fora deste blog - anteriores a 2006, antes de Mauro Belmiro. Escritos a partir do longínquo ano de 1981 - quando um rapaz tão imberbe quanto impetuoso, ambicioso e arrogante, queria e imaginava poder, nas palavras de um amigo de então, "comer toda a terra e beber toda a água do mar".

A partir de agora, eles serão revisitados, e seletivamente incluídos nesta página ao longo dos próximos meses (talvez anos). Tais releituras serão críticas - o que significa que os textos que sobreviverem ao crivo contemporâneo (?) deste alterego (aqueles que não forem bobagens absolutas, absolutamente impostáveis) eventualmente sofrerão 'intervenções corretivas de forma', sem que se modifique, no entanto, o seu espírito e significado (ao menos assim espero).

[embora caiba lembrar que minha fidelidade ao passado é relativa - não apenas esteticamente seletiva, como assumidamente informada por critérios para uma reconstituição de trajetória que me seja reflexivamente útil e/ou interessante agora]

Esses poemas (e o resto) 'sobreviventes' serão clara e devidamente identificados e datados - e portanto distinguidos, à medida de sua exposição cronológica, da poesia corrente aqui regularmente disponibilizada.

Espero que apreciem, mais do que nunca com a condescendência de sempre!...

M. B.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

DO FIM II

um a sete, zero a três

Há muito já não somos mais os mesmos
donos de um mundo abaixo que chutemos

[pois a realidade complexifica
na medida a sua vida evolutiva].

Há muito já não somos mais aqueles
nem outros que tiveram seus poderes

[de Leônidas e Fausto aos Ronaldos
de Domingos sem espartanos altos].

Houve um tempo em que fomos vencedores
quando ao termo bastava os jogadores

[mas nossa realidade se complica
mais ainda se alguém a subestima]

{mais ainda se alguém de corrompida
fortaleza na certeza involuída}.

Há muito padecemos todos vesgos
(lunetas revirando olhos adentro)

do jogo parecendo que jogamos
volta e meia, ano a ano, pelos anos...

Há muito já escrevemos que esquecemos
(canetas revirando ossos a seco)

que o particípio - então participando

faz deste presente - um presente e tanto!...

sexta-feira, 11 de julho de 2014

DO RIO QUE VISITO

pelo seu desvio

Bipolaridade
da mineiridade

próxima do Rio:
- ótima friúra

(simultaneidade
neste desvario
pelo Paraibuna)

DO FIM

Neymar se foi
e porque foi
(como ele foi)

como me dói
o que lhe rói
(e nos destrói)

06/07/14

CURTA JUIZ-FORANA

Vandecira entre as lobas
amamentando todas...

04/07/14

QUADRA JUIZ-FORANA XIII

Relações familiares
ilações malabares
implosões pelos ares
(mais do que aparentares)

04/07/14

QUADRA JUIZ-FORANA XII

Brasil-e-Colômbia

Das quartas-de-final da Copa
contra o cinza do Paraibuna
contemporizo em Juiz de Fora
aquilo que talvez desuna...

04/07/14