sexta-feira, 29 de novembro de 2013

MINHA TORRE

a Michel de Montaigne

Eu construo
edifico

diuturno
sin permiso

outro fundo
outro piso

sobretudo

edifício
(orifício)
junto ao muro

para ofício
aquém-mundo

[prolíficos
versículos]

e ali fico

sobre tudo

insepulto

de tranqüilo

com aquilo...

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

ESQUECÊ-LO IDO

Sobre o que é havido
suspeito que ouvi-lo

sabe esclarecê-lo:
- cada acontecido.

Nada a merecê-lo
soma ao ocorrido:

- mesmo convertê-lo.

Cabe enfim a um zelo
vir subtraí-lo:

- o que o cerebelo
põe de mim corrido
desde o tornozelo.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

LIDA FINANCEIRA

Nos bancos
barrancos
são tantos
tamancos
de tantos
tamanhos
achados
rachando
agora
pisando
sem hora
nas danças
rangendo
gastanças
(de auroras
a outroras)
comprando
a praça
vendendo
fumaça
comendo
poupanças
chorando
pitangas
rolando
de ilharga
(gemendo
fodendo
contudo)
sorrindo
crescendo
pra tudo
partindo
créditos
préstimos
débitos
códices
óbices
óbitos
(lívidas
dívidas
líquidas)
a prazo
a vista
(perdida
no caso)
da casa
o lote
do carro
o dote
casados
barracos
tão caros
calotes...

MANTRA DOS TRÊS TEMPOS

convém não esquecer

A única vida vivida
que se faz servida - é a minha;

a única vida servida
que se fez devida - a que eu tinha;

a única vida devida
que se fará ainda - avizinha...

terça-feira, 26 de novembro de 2013

SOB O VÉU DE NOVEMBRO

Este meu olho manco
vê preto-cinza-e-branco

este céu de Vincent

repleto de ser tanto
nesta época do ano.

Esse céu de Vincent
demais fotografado

em preto-cinza-e-branco

no início do passado
nessa época do ano.

Esse meu olho manco
com desdém inocente

fotografa o presente
amém àquele plano.

SOCIAL

De um lado

de outro

desagrado

(e desagravo)

só.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

QUADRAS CORRIDAS

de paulistanas

... fim de semestre
(rogo que adestre)
- e a São Silvestre
logo ali, mestre!...

***

... o café, pão dá
boto fé (não já)
Buscapé, vão lá
- Tatuapé, tão tá!...

domingo, 24 de novembro de 2013

AOS DOMINGOS

com Vandecira

Acho ditoso o quanto é tempo
primeiro ou derradeiro nosso.

Sinto questão de entendimento
que abraçá-lo realmente posso.

A menos que encachoeiramento
de segundos em mais décadas

- tão precipitados déspotas

pode o tempo fiado convosco
correr lento um fiapo de épocas!...

terça-feira, 19 de novembro de 2013

ÔNDULAS

Cada canto do apartamento
redesenha seu sombreamento

dependendo de onde vir a luz
- se da rua, ou de um tormento;

cada canto na noite adentro
redesperta no sono o centro

da vontade de retroceder
de qualquer bondade de ceder

- arrepender do que o som seduz...

sábado, 16 de novembro de 2013

ARQUEOLÓGICA

Passando os anos
observo-os

enquanto tantos
acumulando

tão distanciados
antepassados

porquanto dado
a contemplá-los

os dispensando
de aprendizados

ultrapassando
alimentá-los

emaciando-os
fossilizados

de preservado...

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

FEIJÃO DE ALGODÃO

Céu baixo.

E abaixo

sozinho

eu baixo

(baixinho)

ameno

sonzinho

de abrigo

antigo.

Sereno

(ao menos)

os nervos;

o ninho

pequeno;

o facho

em baixa

consigo

(eu acho)

...

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

GARGALO V

ar, ar, mais ar!...

Münchhausen, Desencachar
Pantaleão ainda por achar

poder-se-ia eu barão voar?

Necessário considerar:

- pois há mais pelos a puxar
se o pântano não for drenar;

mais tiros que hesito atirar
que balas e botas de usar;

contas de contas a pagar
antes de estórias a contar...

Prospere terráqueo ou lunar

marítimo de navegar
ou ritmo a ultrapassar

preciso outro livro editar.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

AUTOR AGONIZANTE

talvez seu ajudante

Sempre acho que é o último.
O verso derradeiro

(porque o senti no íntimo)

até o próximo sê-lo.

(digo, aquele postado
antes deste, entalado)

Melhor, em todo caso
tecer seu paradeiro

(o paradouro deste
desenganado aquele)

vindouro ao fim e ao laço
de algo passado, ou vulto

de outro sujeito oculto

que enfim queira escrevê-lo...

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

PUBLICITÁRIA

A imaginação, quando se encontra

no frigir dos olhos nas gôndolas
aquém dos miolos, além da conta

aparece visão da Gioconda

na via turística rápida
(meno male se fotográfica)

dos faustosos museus da ótica
nobiliárquica socializada:

- fixando a deidade refratada
à frente um vidro à prova de bala...

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

TAUTOLÓGICA

see the lyrics

A virtude
da juventude:

- Hey Jude
(aliás, fortitude)

em virtude
de juventude...

DEPOIS DE REBANHO

bovino entretanto

Cansado de esperar
(o que não sei contar)

cansei de conservar

o peito a deserdar
o amor de andarilhar

por medo de encontrar
a dor a esquadrilhar...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

RECADO DE ESCREVER NA TESTA

pintar na fronte do horizonte

Se eu tiver de labutar demais

por solicitar favores tais
retribuíveis em labores mais
(e deles dever fugir jamais)

melhor talvez procurar um cais

qualquer ótimo embarcadouro
(de gente, bicho, tralha, ouro)

e com pedra, corda e pescoço

(discretamente, sem desdouro)

eludir o fundo do poço...

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

PLUVIOSA

A tristeza das folhas
sob a mesa da tarde

traz-me cônscio da bolha
em que estreito destarte;

velha a botelha, e a rolha
arbitrária na arte

centenária da escolha
de contrário abrigar-me...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

LIQUIDIFICADO

não importa o caso

Moléculas d'água
viriam do nada

sob a tua anágua
secularizada;

sobre a tua mágoa
vertiam por nada

escorrida bágoa
que dissimulavas...

O que acarretava
junto à veia cava?

Arrependimento?
(teu contentamento?)

Um desprendimento?
(teu contentamento?)

Não que isso importasse:

- moléculas d'água
(sob a tua fachada)

vinham meia-água...

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

NA ÁREA ADVERSÁRIA IV

uma dor

Que será de mim
sem meu time enfim

na Primeirona?

(como assim, a fim
da Segundona?!?!)

NA ÁREA ADVERSÁRIA III

torcedor

Um mau juiz
- o tal Ruiz

foi o algoz
- algo atroz

que te apraz
vir loquaz...

NA ÁREA ADVERSÁRIA II

foi quase

Na trave
o entrave

à glória
que se abre

vitória
do lacre...

NA ÁREA ADVERSÁRIA

minuto quarenta e sete do tempo segundo

A hora não dá trégua:

- água pra minha égua
bota de sete légua
mapa pra minha régua

bégua agora me nega!...

(daí a orientação
debaixo do travessão

vai longe do gol então

na cabeçada de mão
trocada de goleirão

pra segunda divisão)

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

DA IMPUTABILIDADE

da ação maquinal

Os homens que drones
em vão responsáveis
por irresponsáveis

com amos afáveis
de planos aráveis

no campo dos patamares elevados

(dos andares que grampearem enlevados)

são já homens cones
na linha dos clones
mecanicamente;

ciborgues insones
da rinha demente

desde antigamente
não há um recente:

- são sempre somente...