terça-feira, 25 de dezembro de 2012

A título de encerramento

Este blogueiro finaliza suas atividades em 2012

(1) agradecendo às suas leitoras e leitores pela presença, estímulo e generosidade;

(2) desejando a todos um Feliz 2013; e

(3) comunicando que assim que possível disponibilizará neste blog os registros poéticos de sua agora iminente aventura rodoviário-antropológico-afetiva Brasília/Recife/João Pessoa/Recife/Brasília (plus everything in between), entre 26 de dezembro e 22 de janeiro próximos.

Se assim por enquanto, ficamos por aqui.

Inté!

M. B.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

NOTA SOBRE O FIM DO MUNDO

mais um

O mundo acaba pra quem morre.

O mundo acaba pra quem corre.
[muito]

O mundo acaba pra quem sorry!
[muito muito]

O mundo acaba pra quem fode!
[la petite mort...]

O mundo acaba pra quem acha
que o fim do mundo é uma tarrafa:

- da profecia dos arautos
(como consta em todos os autos)

a pescaria dos incautos...

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

EXTÁTICO DE ISOLADO

no mosteiro do mistério

Há um silêncio de ausências

que refresca a plateia

interna das ideias.

Um terço de presença

que rezo toda terça*

nos quartos sem janelas

dos quintos dessas férias...


*[de segunda a domingo
  (pra prender o ritmo)]

TRÊS BATIDAS

um vício

Não vi que corta.
Bateu na aorta

a mão desgraçada que preferi.

Não sei da horta.
Bateu à porta

a praga anunciada que destemi.

Não ouvi nada.
Bateu em casa

uma vontade danada de ir

pra Pasárgada.

(e perder de vir
cartear penúltimo da rodada)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MODO DE FAZER

Rápido sujo ou lento limpo
- qual no escrever melhor ritmo?

Rápido limpo um texto sujo?
Lento bem sirvo o dito cujo?

Limpo o bendito o reescrevendo?
Sujo-me de novo o relendo?

Rápido sujo e lento limpo
- poder dizê-lo adiante de o ver

qual se vencer é transcendido...

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

DA DIFAMAÇÃO

nota virtual

Mau significado
assim - sede de rede

pespegado à parede
do significante

significa, adiante

um mudo envidraçado
à mercê dos passantes...

ACERCA DOS FINS DA ARTE

"o fim da arte inferior é agradar,
o fim da arte média é elevar,
o fim da arte superior é libertar"

(Fernando Pessoa)

Caro Fernando,

Como mau estripador da inculta e bela língua
que somos, vou por partes (à parte os alicates):

- inferior, não desagrado
(especialmente as mocinhas
de etárias faixas vizinhas);

- médio, não elevo - o braço
(vez que lotado o alambrado
são pardos todos os gajos);

- superior, liberto a todos
(gajos, vizinhas e brotos)
desta leitura - tortura

cara à pessoa...

Desse modo, realizá-los - os supracitados
cabe-me sim - mesmo no patíbulo cedido

aos bem-intencionados...

Com justa admiração,

M. B.

DAWN

Aquém dos rumores
de temores
e tumores -

aquém de terceiros
por trás dos primeiros -

dos segundos
(dois minutos)
que muito clareiam -

um disco amarelo
toca o mais negro blues
- de anil seguimento
but without any clues...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

AO SUBLIME

poeta de todas as eras
- e às Cecílias e Florbelas

A poesia só me afeta.

Irrelevante poesia
(como fios de ambrosia
costurando fantasias):

- justamente a que mais presta.

Quanto a isso, sou constante
(de antiga presença adiante)
na medida em que sensível

apreciador, insisto, do inexprimível
mau pedestal da inapetência criativa:

- nesta anorexia que me castiga
e move, tal qual pedante cavalheiro
a contrapelo do andante cavaleiro...

***

A poética mais moderna
mal sei o que me desperta.

[somente a vossa, deveras]

SENSÍVEL

encontro intestino com o exótico

Na quente tarde que cai
assassino o meu bonsai

imaginário que sai
pela culatra do thai

estilo que assumi, uai!...

(mais tarde, gente, pois vai

que o asinino distrai
besides you, the Masai

em filme que descontrai
o preconceito demais)

[no wonder a indigestão
trespassando diagonal
os pomares da razão
num incêndio sazonal]

NAS FÉRIAS

paradoxo

A quebra da rotina
requebra toda vida

próxima à ruptura
ótima da criatura;

vezes em desprazeres
(nesses que têm poderes)

um ralo temporário
no rato rompe o diário

correr do cotidiano
sofrer ao longo do ano

até a superfície
a pé da meninice:

- por mundano há no lazer
seu humano a desdizer...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

DIGO QUE...

... respiro (o)
caminho
que omito
destino

por sabê-lo
(quando feito)
tão afeito (a)

suar
no ar

fresco.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

PORQUE NÃO PUBLICO (sic)

virtual vantagem

Eu silencio
em benefício
(sinceramente)

deste artifício
do frontispício

do qual desvio
(prudentemente)

meu palavrório
inconsistente:

- porque mormente
(e anteriormente)

o acabamento
do destalento
do qual vitimo

é o ofertório
de que extravio

impunemente
Mauro Belmiro...

VIDA DE VIDRO III

finale?

o gerente
o funcionário
o querente

o salafrário

(e mais gente)

[ao fim e ao cabo
ossos do rabo]

VIDA DE VIDRO II

cacos

sabendo
de nada
oremos

***

madruga
o peito
em chamas

***

sabendo
do peito
em chamas

***

madruga
o nada

***

(oremos)

***

[e nós nos nós
vós nos vossos
a sós todos
tudo osso]

VIDA DE VIDRO

fragmento

Todos sabemos:
- basta um momento
(virando o vento)
e um pestilento
adoece espelhos.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

DE VÁCUO A HIATO, O C...!

falo deseducado

Qual o modo elegante
que seja preciso, exato

(do justo vocábulo
no devido formato)

de melhor dizê-lo ante
[este estado ofegante]

um léxico contrário?

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

NO ESPELHO

O estrangeiro de cá doutro lado
vezes de lado me olha, assombrado:
- vê diferença na parecença
e se vice-versa, desconversa;

seja no rosto limpo ou barbado
tristonho o semblante, refrescado
é interessante, varia menos
a comum impressão do que temos

ganho deste fulano, o Belmiro:
- de ambos alterego paulatino
a descascar a cebola do ego

de ambos íntimo sem patrocínio:
- ácido, lava o aço do cego
vínculo de que agora sou elo...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

PORQUE NÃO MALHAREI HOJE

"as flores de plástico não morrem" (Titãs)

As dores do elástico
corpo que fui
não morreram a tempo

do très bien! cumprimento

do meu quase diário

esforço que flui...

DESJEJUM

Café ao lado, preparo
junto ao requeijão torrado
às oito da manhã deles fugidia
(daqueles que superfaturam seus dias)

minha dieta informativa.

[dito de maneira crítico-invertida:

a fim de melhor situar-nos
nesta vã complexidade seletiva
(entre fútil e venal) das construções jornalísticas

preparo, café ao lado
minha ração formativa]

Seu caleidoscópio inútil
- de uma perspectiva consútil (acho) -
impressiona, dado os dados
dispostos organizados

em especial, na marcação zagueira do tempo real
a serviço de anunciado benefício, concreto e atual
abstraído/extraído/traído? que não cheira!...

Desde cedo, o noticiário
(inteligível superfície de armário)
fragmenta a vontade, ininteligível
recurso manipulado

desconectado da vida das lidas
(do que o fardo do trabalho propicie)

por um número invariável de dedos engordurados
de vicários interesses moldurados:

- o que embrulha o processamento do estômago, e abaixo
do intestino termômetro...

(mas tal estar-mal, privilégio dos poucos
presunçosos infelizes que acreditam retroceder
solidários aos mochos sentidos moucos

dura o minuto da fritura do ovo um novo oferecer)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

CORPORAL II

Amasso (o)
cansaço

deitando
o dorso
no soalho.

(no caso)
O corpo
pesado

o espreme
e geme:

- gemido
não dele
(do torso
que acede)

mas sido (o)
regaço
retido
no abraço...

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

DA IDADE IV

sobre (in)conveniências

Esta pedra, agora, não faz sentido.
Não quando nada mais há para o antigo
- daqueles elementos distinguidos
que nos cercam (e a vida) ressentidos.

Este peso, agora, é desagradável.
Logo quando há espaços disponíveis
- àquelas oportunidades críveis
de administrarmos o degradável.

Assim sendo, essa pedra, com esse peso
carimba uma gravidade ao momento
perfeitamente dispensável aqui:

- como alguém com tal vontade de ceder
(por lhe faltar coragem de se atrever)
que assina contratos daqui por ali...

domingo, 2 de dezembro de 2012

TODA DOCÊNCIA

delírio crítico ante as férias

Enfim chegamos a um didático fim de etapa
- de mais uma, pedagógica, junto à tigrada
levemente hipnotizada - embora assustada
sobre como este mundo intenta socializá-la;

Diógenes nós, professores triplamente senis
- das virtudes às lanternas, esvaziados barris -
embora ultrapassados, precisam-nos uns Brasis
paralisados em dicotomias infantis;

será recente que esta geração no seu tempo
de anoréxicos valores e obesos temores
aprova a anomia geral do procedimento

tal qual a realidade das provas reprovada?
Será decente que professores - os atores
até sempre insistam encenar sua retirada?...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

QUASE PLATÔNICA

Bem no fim de qualquer período
(quando concluído o determino)

- mas antes do ponto preciso
no qual tomado de vazio
I realize que irrealizo

nas nuvens um recanto lindo
sinto que me prometo - minto

bem no meio do que é finito
o meu mais-que-perfeito início...

PELA MADRUGADA

do descaminho até a aurora

Escuro o tecido
com que se cobre o céu dormindo.

Cobre um tal apuro
que liquefaz como monturo.

Na manhã seguinte
(ao despertar o que me exige)

cala-se o dormido
a lamentar o acontecido.

domingo, 25 de novembro de 2012

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

IMANENTE

A luz molhada
tarde neste azul

espelha, clara
seu desdém do sul

- do norte, leste
além de oestes;

do cardeal vento
papas e tempos

também dos anjos
e outros arranjos...

À luz olhada
basta azul-clara:

- basta que nada
dela distraia.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

DODÓI

Meu amor
resfriou-se;

tanta dor
enfiou-me

um ardor
(como se)
cuidador

desta atriz
por um triz...

ON THE ROAD

O que retrovisa no horizonte
insensível à experiência - monte

que ultrapassado se alonga em sombra
excedente de um período - soma

impossível do irreconhecido

presente desponta um desafio:

- dar o que poderia ter sido
como tido, desprendendo o fio

que se agulha toda vez aguilhão
quando retecido em recordação...

BRILHOSO

e opaco

Há um chuveiro do outro lado do vidro
da janela a que bem postado assisto.

Trata-se de chuveiro metálico
(será de plástico?). Limpo, prateado

brilhoso da chuva. Na conjuntura
parâmetro leste para as corujas;

e da perspectiva dos calangos
(além de sequer possível remanso)

mal passa de cascata desligada.

Um chuveiro, que envidraçado assisto
à janela, aquém do outro lado disso.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

NESTE INSTANTE

Escureceu o canto do olhar
de onde vem ruidoso um vento

úmido de lascar.
Daqui a pouco o tempo

desabará
meu intento

(único)

de airar.

TERRITORIAL

ser aonde estando

Neste ponto do ano
bate meu castanho
olhar provinciano

nas coisas que longe
riscam o horizonte

ainda mais pra onde...

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

DELE DONAS

às que amamos e nos abandonam

Pessoas boas vão
roedoras que são

doadoras
do coração.

(pessoas necessárias
à toa, porque várias
as qualidades boas
que desfalcarão diárias...)

[a culpa é da construção
culpa da arquitetura
da canção, partitura...]

Camundongas
sete-léguas
pernalongas
(umas éguas!)

que não dão trégua ao mundo
com posto amor ao fundo

falso do baú.

[invisível agora
embora pressentível
(embora tenha agora
essa presença horrível)]

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

EM NOVEMBRO

Silêncio novamente.
Agora alegremente

na hora que desfia
o tempo que chuvisca:

- da noite que se avista
(e nos abriga rente)

do feriado da gente...

terça-feira, 13 de novembro de 2012

FUTURO EM SILÊNCIO

sobre administrar o medo

O silêncio da tarde depois da chuva.
O silêncio que mais arde antes da chave
do futuro girar lenta de verdade.
O futuro como indício de uma luta.

O silêncio que fará depois da chuva
do futuro cair lenta de verdade.
O silêncio do que mais tarde ante à chave
no futuro vencerá entre quem luta.

O silêncio do futuro de quem luta
na verdade vingará antes da chave.
O futuro do silêncio de mais tarde.

O futuro do silêncio de uma luta
abrirá o que me arde depois da chuva.
O silêncio do futuro que me abate.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

LAMENTO CORPORAL

efeito de atletismo bissexto

Sob o azul enxaguado
primaveril do cerrado

numa segunda, o corpo dói.
Do excedido domingo, o herói

só tem ciência na segunda:
- justo a segunda, que inunda

com ininterrupta luz
essa consciência que as reduz...

sábado, 10 de novembro de 2012

CINQUENTA E TRÊS

Quando finalmente se acredita
que um tal dia enfim realizaria

o sossego íntimo prometido
mais divino antes do sacrifício

o que acontece? Põe-se um espelho
à frente do passo em que envelheço

e nele forçado a retroceder
('convidado', dizem, por escolher)

torno-me outro Sísifo de pedra:
- malucas a pessoa e a tarefa...

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

NA VÉSPERA

... eis a costura matinal
de pedaços da cabeça maldormida:

- solidão dos planos
saudades de antanho

os nervos de plantão
(fantasmas no salão)

um cinza de limbo
nas cores que abismo

e meu amor agorinha
pela chegada da aurora
(embora chuvosa).

***

[em casa, na rua, na praça
no artifício do condomínio

(encapsuladas em vida)
enregelo de paraíso!...]

***

[costura compreensiva
de centrípeta vontade

(urdida pelo alfaiate
daquela depressãozinha
delicada da barriga)]

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

MINHA CASA

projeto à deriva

Há fixo um ponto no universo
onde construo o meu castelo.

Na mente desde sempre
o eu-arquiteto o sente:

- de desejos com tijolos
à parede do momento;
dos ensejos mais ditosos
à frieza do cimento;
de prazos esperançosos
ao telhado do orçamento...

Existe um lugar no universo
que me antecede - e a este verso

(meu reflexo imanente)
que sobre aquele escrevo:

- um jogral que mal procede
se inteiro não se refere
a um espaço precedente
pedaço que não pertence...

(exceto àquele, diverso
que o eu-engenheiro mente)

***

[Sérgio Euclides, quem diria?
O teu pouso é (má) poesia!...]

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

CHARLES

a uma feliz posteridade

Leia, leia, leia, leia!
Peia, peia, peia, peia!...

Tua leitura - que salienta
a torpeza da tristeza

no alexandrino elegante
de um estilo querelante

cabula a alma sensível
para a beleza visível...

Qual é, Baudelaire? Século
e meio depois, crédulo

acho que nada - da prata
suja do tempo - separa

o escritor contemporâneo
de um seu leitor sucedâneo...

(ainda que o brilho original
perca-se nas cópias do mal;
ainda que o gênio seminal
chafurde-se colateral)

Charles - Édipo fajuto!
Com desvelo inauguraste
sete gerações de luto!

Charles - por que mui remaste
(contraditório contudo)
entre Perséfone e Hades?...

[mas que ventura passeia
pelo correio das artes
maledicente em novembros?]

[e qual desventura ondeia
a praia de monumentos
beneficente de Charles?...]

REENTRÂNCIA

frescura

Ontem, caí numa vala introspectiva.
Mas o que precisamente significa?

Que se trata de um buraco no caminho?
Que se trata de um movimento reflexivo?

Hoje, na vala continuo, até almoço
depois durmo - e à tarde, lanchar esse troço

introspectivo deverei. E quanto a responder
a questões operacionais de poder

lá pelo jantar, pela noite sem luar, a saber...

terça-feira, 6 de novembro de 2012

EU SEI

De onde viemos, meus sapatos?
Do passado patinando?
De um lugar longe no mato?
Ou somente estagnando?

Como estamos, por acaso?
Parados, nos aquecendo?
Na digestão de um descaso?
Ou simplesmente esquecendo?

Para onde iremos, de fato?
Ao destino presumindo?
A um futuro mais sensato?
Ou meramente fugindo?

Em quanto tempo, no caso?...

HIATO

Entre uma orelha e outra
(avançada a madrugada)

voadora, a mariposa
interna derrete a vela:

- é vácuo que desacerta
o pensado numa boa

marujo frente à procela
caramujo quente à toa...

[se voa
do fado
nevoa
de fato]

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

POR UMA ASPIRINA

contramonumento

Minha cabeça dói.
Rói a paciência...

Mas longe de Cabral

não moí ciência
(com tal excelência)

pra conjurar o mal.

sábado, 3 de novembro de 2012

DA IDADE III

Eu moro
num corpo
cansado
de morto.

Habito
um dorso
antigo
no modo
diário.

Um vário
dorido
de usado.

Remoto
ao trato.

Cinquentenário.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CONSELHO VELHO

Sobre certas pulsões que acometem
sadios tecidos de relações:

- nada, nada mesmo que disserem
mapeará seguidas contradições...

(e muito, de tudo que omitissem
alimentaria tais vertigens)

[de maneira que evitá-las
(como a sede às cabaças
de pôr água envenenada)

pede presente o concurso
do juízo, mais o recurso
do sumiço (à parte os muros)]

terça-feira, 30 de outubro de 2012

MÁ EDUCAÇÃO

a Pedro Almodóvar

Tem gente
(que sente)
que pensa

que a mente
estende
(entenda!)

traseiros
potentes

carentes
de meios

e peitos
refeitos

de beiços
recentes;

tem gente
que mente

que a geleia da existência
compensa
a geleira da sua ausência.

(evita
que tente
o poente
em vida)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

ECOLÓGICA

proselitismo necessário

Uns riscos
arrisco
em paredes

onde digo
aos vivos
'presente!'

porque existo
mormente

como parte
do alarme

duma rede
de seres
em risco

numa sede...

PREVENTIVA

para antes da primeira briga

Gostaria de agradecê-la
pela vida desassombrada;
pelo projeto de entretê-la
quando fores desarvorada;

e também por recuperá-la
na dura dormida da esteira:
- do impulso de injusto entregá-la
à fortuna da pirambeira;

poderia celebrar aqui
deveria - antes de partir

deste verso que inventa o tempo
exíguo que universo existe:

- se houver modo de nem dizê-lo
aquém da controvérsia em riste!...

domingo, 28 de outubro de 2012

HIERARQUIAS

inversões de pescarias

Lépida
flui quieta
tilápia

na crista
tépida
da água:

- jacaré à vista
pra dieta da brasa!...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

PRATO FRIO

a injustiça da vingança como círculo vicioso

... basta dormir que o corpo

alarga a mentira no sonho

sem paredes que o delimitem
nem porretes que me descansem

falta fingir que o sono

abarca a vigília do morto...

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

MEU PROCESSO CRIATIVO

é moda falar disso

Como sai o poema
- se é que há um esquema?

[síntese do acinte:]

Senta-se, bebe-se
(sem refestelar-se)
o café que presta;

escreve-se à tela
(computador ao léu
caindo-se do céu)

gororobas pretas
de gostosas letras
de comer e contar

[pois rima-se poemas
sílabas, fonemas;
frases com contrastes
juízos com sentenças;
palavras de lavras
talvez farisaicas:
umas parecenças]

pintando-se a dourar
(pode-se imaginar)

bobagens a granel
pra desopilar fel

como obra de esteta!
(onda de um pateta...)

Então imprime-se
[enfim a síntese]
e o cão publica-se!...

Se
um
é
mau

dois

mais!...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

TREMORES

no cadafalso contemporâneo

Temores
de algozes
horrores
somente

à sombra
crescente
da borda
minguante
da noite
vazante

que estreita
aquela
que alonga
a perna
dormente
à espera;

outrora
à espreita
da calma
da trava

(nas luzes
primeiras
de auroras
perfeitas)

à corda
descente
agora
já basta

soleira
por fora
de gente
na hora...

domingo, 21 de outubro de 2012

POEMA HORRÍVEL

meio dormido neste domingo

Se insisto na doçura
preguiçosa deste tempo

se descarto a lonjura
buliçosa da memória

porque sem quaisquer sapatos
aqui visito agora

a melhor possibilidade deste calçamento

(uma factível identidade ontológica
entre o que se oferta em vida
e o que acalenta o desejo)

buscarei na cornucópia
invisível do momento

numa claridade intuitivamente melódica

a sabedoria encarecida
do ente que se acha

machado-rachou-pra-fogueira
uma-acha-que-mal-é-lenha...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

ASTRO-REI

Sol no pedaço
do aço escovado;

lua elefante;
topo do branco

revigorado
(tudo, portanto);

um navegante
prato ofuscante

escancarando

o que uma estrela chinfrim
(ok, não é tão assim)

bem pode fazer por mim...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

DAS CONVENÇÕES

Não quero
não peço

(decerto)

mas devo
o pejo

(mereço?)

desta nossa antropologia
ambígua que nos aproxima...

DA (IR)RESPONSABILIDADE

os preços

Escasso
de tudo

desfaço
e ludo

eu fujo
e luto
(me culpo)

no abraço
do espaço

do mundo...

O QUE SE PERDE SEMPRE

o tempo, essencialmente

Uma irritação íntima
em sua razão estrita:

- da lida, a periferia
termina que predomina...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

DA IDADE II

... o sucinto
Confúcio

por Mêncio
estendido:

- bem, a respeito
não sei direito...

[mas que rima boa
(se como nem soa)
de alguém tão à toa!...]

DA IDADE

A tarde suave
vivo com arte:

- como uma ave
que voa tarde;

- como uma nave
que vaza suave

a luz que parte...

terça-feira, 16 de outubro de 2012

domingo, 14 de outubro de 2012

LI TAI PO

por Cecília

Um poeta
doutra esfera

vem e agita

(e com festa
silencia)

a bendita

água parada do meu dia.

FELICIDADE SÓLIDA

A doçura
da formosura

no feriado
abestalhado

mais o clima
de brisa em cima

e a secura
laranja-lima

tudo ajuntado

(entre as cores das flores deste fresco momento em que coexisto)

me assegura

a rósea, marmórea plenitude do granito restritivo...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

UMA TESE FASCISTA

às nossas vassourinhas jurídicas

Interiormente, minha assembleia
majoritariamente plebeia

se me agita, corrompida
(centopeia repartida)

pela sua natureza política:

- meu ceder, compor, coligar
(desconversar pra combinar)

razões de paixões distintas
(táticas práticas em democracias)

contraria reta a linha
(das virtudes presumidas)

antisséptica que se arvoraria...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

A VÁCUO

Moído
coado

passado
a limpo.

ELUSIVA

Estudo teu caso
(estudo de caso)

e concluo, raso:
- não sei o que faço.

(não sei o que passa
por tua catraca)

PÓS-MODERNA

a Zygmunt Bauman

... pastosa
cremosa
aquosa...

Líquida.

Sólida

só minha preguiça
da progressão rítmica
dessa dissolução descabida...

[Derrida
derrete
a tesa
da tese]

domingo, 7 de outubro de 2012

ASSONÂNCIA COGNITIVA

a Leon Festinger

... enfim, por que achar que as coisas
(como pode o andar às moças)

obedecem a uma ordem
de equilibrada desordem?

[pois pense em quantas verduras
balançam antas gorduras

de disposição contrária
à acumulação vária...]

sábado, 6 de outubro de 2012

VAIDADE

Vezes a textura do tempo
adensa a tanto pensamento

que do vasto pensar pareço
nele acreditar que mereço...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

QUADRATURAS DE CÍRCULOS

lista de elementos

Ideias que padecem
coisas que se repetem
pessoas que amolecem

vez ou outra. Acasos
armados de destinos
(próximos desatinos).

Páginas. Seus contextos
(como os seres bissextos)
plenos de escolhas, menos

vez ou outra. Passados
que emborcam para-raios
de memórias. Pedaços

que reconhecem
que se repelem

outra vez...

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

DUPLA PERSPECTIVA

O lindo do sentimento
é o seu esquecimento.

Esquecendo, mal se perdia
o que no espaço então havia.

O limbo do pensamento
é o seu esquecimento.

Esquecendo, bem se perdia
o que o tempo depois fazia.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O SEGREDO

da felicidade

Umedeces
endureço.

Se mais queres
compareço.

Nós dois leves
com apreço...

(se puderes
não esqueço)

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

DONA

a Mércia

Vandecira
quem diria?

Há mui pouco
inexistias

em qualquer canto
- de partitura ou formiga;

tampouco preconcebida
te imaginava
(empobrecido)
de lida parca

ou pressentia
a veia cava
nos dois lados da coxia
desta vida... (outra haveria?)

Nem nos sonhos
Vandecira
caberias;

nem com sono
sem ruído presumido
em silêncio entorpecido
tu serias

- mesmo teu corpo
morno dormindo
entre carícias;

ou por caminhos
(desencarnadas
peles de arminhos)

desde sempre prometidos
pros dois lados da coxia
doutras vidas...

Vandecira
minha amiga
quem diria?

Estou louco
- e já é dia!...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ACERCA DO QUE DIZEM

meios e julgamentos

As palavras
às manadas

retocadas
reordenadas
realocadas

à vontade
(dos seus donos
com vontade)

e à vontade
veiculadas

aos ouvidos

(vomitadas
nos penicos)

da tigrada

nada não são

nada são não?...

(do que dizem)

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

PAISAGEM

Que suave
a tenda
que armaste
deserta

no vale
que vela
a idade
da serra

- a idade
deveras
do vate
à espera

que te arde
quimera
(destarte
promessa)...

domingo, 23 de setembro de 2012

ENTRADAS

tuas estradas

São fendas
úmidas
estreitas
de oposto
efeito:

- ressecam-me boquiaberto a cavalo ligeiro...

sábado, 22 de setembro de 2012

SONHO FUTURO

Malemolente
empurro o quente
ar, lentamente

sussurrando-o
próximo voo
(bicho de zoo)

de um pensamento
(acercamento)

que tem por centro
porvir de dentro...

ANOTAÇÃO PRA RASGAR

... a rigor, que medo adiante?...

(da perfeição do teu tempo
e lugar, de um modo aceso
calmo se mover peculiar)

[da intensidade elegante
(contida consigo em brasa)
que tenazmente contrasta]

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

FILOSOFICE

embora justificável

A felicidade
(sua proximidade)

obstaculiza
(por compreensiva)

a cognição dos sentidos corporais
pela percepção dos sentidos finais...

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

RETO

Enervo
com medo
exposto
o nervo.

Os textos.

Contextos.

Opostos
avessos

ao monstro
infante
infame
conosco...

terça-feira, 18 de setembro de 2012

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CAUTELA DE CANJA

a Orígenes Lessa
(acrescente, bem cozida, a vagem do feijoeiro)

Quando tudo é perfeito
quando tudo é risonho

- o emprego da tua vida
justo dobrou quantias;

- a mulher da tua vida
justo dobrou a esquina;

- a vista da tua vida
justo dobrou gratuita

retira outro proveito
dos proveitos da ocasião:

- tempera-os (teus sonhos)
com tempero de feijão...

(tudo bem perto do chão)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

TEVÊ

à minha mãe
a George Gerbner

Televisivo, o lixo
se lixa pro recinto:

- entranha teus sentidos
até apodrecidos;

estranha teus vizinhos
ao veres inimigos;

estraga teus domingos
até segunda a pino...

(teus olhos, teus ouvidos)
[teus modos, teus caprichos]

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

PAIXÕES DE RAZÕES

similaridades

As gotas do momento
pingam o seu ritmo

nem lento, nem ligeiro
ordenado e finito

como é um pensamento
pensado algoritmo:

- certo procedimento
de certo regramento

com certo objetivo
que é exatamente isso...

***

As gotas do momento
pingam o teu ritmo

nem lento, nem ligeiro
acamado (do viço)

como é um sentimento
passado os particípios:

- certo procedimento
(certeiro o encantamento)

com certo objetivo
que é plenamente isso...

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

CAATINGA

O deserto
(de não vê-la)
que atravesso

me resseca
a consciência
tão severa

[de um hábito
dos seus lábios]

quanto inteira

(por não tê-la).

OPACO

bloqueio criativo

Embotado
pouco faço
(ou desfaço)

das palavras

sem auxílios
interiores
que me digam

quais as cores
(corredores)

que despintam
exteriores

nos exílios...

domingo, 9 de setembro de 2012

DO INÍCIO

Enclausurados
amanhecemos
quase entranhados
nos tantos mimos

ensimesmados;
talvez surpresos
(quase estranhados)
de quão carinhos

novos, antigos
(re)costurados
(re)conhecemos

nesses cuidados
cedo colhidos
do sempre fresco

amor do início...

sábado, 8 de setembro de 2012

VAZIO

Os minutos que não passam agitados
passarinhos no arvoredo dos sentidos

são o tempo que me desloca do espaço
(o tempo que me descola repassado)

sem correias que o amarrem de sentido...

ANIMAL

... a particularidade dela

(uma especificidade velha
enquanto quieto vegeto à sombra):

- a tal paz mineral lhe atravessa...

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

AFTER DRINKING

Ímpar, furtiva
quão ordinária;

da madrugada
tão lentamente

imperativa;

claramente
a imperatriz
[a bendita

meretriz]

do dia...

A luz do amanhecer
(às seis e quinze)

vem e acaricia
(com mão firme)

esta vontade de remanescer

... rijo:

- estátua
alongada

[olímpica]

esparramado
pela calçada...

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

CELSIUS

No pico da tarde branca
o calor repisa a dança

dos mil pares acrescidos
de neurônios derretidos

que cem vezes convidados
a operarem seus contatos

circuitados encurtaram
palavreado meu de passos...

E assim pouco se escreve
(nada ao menos que preste)...

***

[mas se o ardor desse clima
não fosse autor todavia

verão qualquer haveria
no verso de um par de vidas?...]

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

PINGENTE II

Espero

(a hora)

[seguro
de guardá
-la puro]

(embora)

[machuque
aguardar
-te chuva]

me molhar...

PINGENTE

Espero

(segundo
o que vai
no peito)

[teu tempo
operar
primeiro]

somente...

domingo, 2 de setembro de 2012

A VER

Edulcorante

narcotizante

edificante

periclitante...

Falho determinar
o que houveste de amar

(e amei sem terminar)

ontem na noite
(do ar sem pernoite)

tão longe do mar...

PARTIDO FALSO

Gralha-azul
ou pinheiro?

Pássaro
ou poleiro?

Segundo
o primeiro?

Antes penso que posso estar
sob o céu de qualquer lugar;

depois sinto que posso ser
o que for apto a manter...

(pois o passo derradeiro
raramente é verdadeiro)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

SOFÁ DE LUXO

a Carolina (que despediu esta crítica)

... então aquela amiga, de si compadecida
refeita sofá a couro, seu bordado a ouro
saiu-se bem - e como ninguém performativa
eis o que nos repassa qual receita de bolo:

1. Sê compassiva
mais tolerante
face o impudente
- mas com a faca nos dentes;

2. Dê-lhe guarida
o mais radiante
quanto imprudente
- mas com a faca nos dentes;

3. Abra a folia
a mais dançante
(o mate quente)
- lembre a faca nos dentes;

4. Feche a cortina
jamais falante
discretamente
- sempre a faca nos dentes...

Enfim, sê sofá - e já
vez que tudo tem seu fim:
- teus sonhos não sepulte, mas do teu sono cuide
assentando catapultas para tuas pulgas...

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

EQUIDISTANTE

Acordo, durmo
(e acordo e durmo...).

O resto, ocupo

com parca consciência da intimidade das estrelas...

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

MÍNIMO

Quero ir
a nenhum lugar.

Parar
de porvir

(de sentir
passar).

Cessar
de (se) iludir

por compensar
sem repartir

e atribular
que dirimir;

de especular
haraquiris...

Até lograr

(intuir)

meu nadir

molecular.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

AS OPERAÇÕES

numa perspectiva ingênua e necessária

Da cultura de ter

quero somar
(pra dividir)

multiplicar
(sem diluir)

subtrair
(se precisar).

A esta altura de estar
quero ver se alguém há

que aperceba
(sob a barba

por trás dos óculos
debaixo do boné)

- no invólucro, a soleira
à espreita do que seja...

DA CORTE

seu sentido

Ir devagar
(cavalheiro)

devo poder
quando dever
(seu primeiro):

- quando em si a circunstância
delicada solicitar.

Contudo, à intenção
cabe a concordância:

- ao sinalizar
de antemão, clara
e suavemente

(de onde, para
se fino estou)

sempre...

domingo, 26 de agosto de 2012

ALTEREGO A PASSEIO

Se passo por ali ainda

(do carro descendo, solícito
bem acompanhado desse hábito)

e à mesa sustenta, consigo

o mesmo olhar à paisagem costumeira
da mesma aragem tipicamente seca

é porque esta familiaridade
com aquela parte da cidade

o permite
sem alarde...

sábado, 25 de agosto de 2012

PELO TUBO

Eu sem tempo:

- ocupado
(tô sem tempo)
com trabalho
(tô sem tempo)
nesse estado
(tô sem tempo)
agitado
(tô sem tempo)
do cansaço
(tô sem tempo)
irritado
(tô sem tempo)
a um passo
(por enquanto)
de atacado
(tô sem tempo)...

Entretanto
espremendo
(entre tantas
sobrevindo)
no intervalo
rarefeito

mais palavras
- menoscabas
de caroço
suculento

pelo cano
espartano
do momento
rotineiro

sobrevivo.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

'TANO QUENTE É TUDO GENTE'

"tamo aí pra esfriar" (o avô de K., segundo eu)

Então será por isso
que o frio antes do frio
(de finalmente ido)

desse vento cíclico
(entardecido alísio)

perfura tanto a gente

porque ainda querentes
nosotros tan calientes?...

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

MULHER

Por baixo dos modos elegantes
- tecido vestido doravante

ainda a rubra anágua - fornalha
de mais emoções protuberantes...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

DAS MEDIAÇÕES DO OFÍCIO

síntese do contra

Lido - o que significa?
Seu impacto na vida

do autor, do leitor - da escrita?

Nada, nada deveria
ferir o que foi um dia

do contador melhor lida:
- da estória, prerrogativa...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

PROMESSA DO DIA

Há uma voz específica
em meio à multidão ruída

de tão particular timbre
(que parece me distingue)

à qual atenção dedico
(escutando com o ouvido)

[não coração nem fígado]

por enquanto... (presumindo...)

ROUPA SUJA

"molho longo" - diz a máquina de lavar
mas a vida é curta - como conciliar?

Tanto o que limpar, esclarecer, concluir
(notar por merecer, corrigir e dispor)

antes do enfim todo horizontal a quarar...

domingo, 19 de agosto de 2012

OCUPADO

"Só o presente é real e verdadeiro: ele é o tempo de fato preenchido, só nele está a nossa existência." (Schopenhauer)

Tenho ventanias a acalmar
nas cercanias do ser que está

aqui e agora - não mais ali
(ou no pensamento de acolá).

Tenho cataventos a girar.

E se há epifanias neste ar

percebê-las
corriqueiras
corredeiras

além de alternadamente aquém...

Presente inteiro absorvente:
- presente, presente, presente!

[o resto - que espere mormente]

DAS AJUDAS

a Carolina
a João Otávio e Pedro Sérgio

Posto ao ar, o então excessivo
(antes de indevido inquilino)

álcool prisioneiro do vinho
sai e civiliza o paladar.

Não quereria a substância
sucos subtrair de entranhas

- de tripas que queimam estranhas
nas escuridões das câmaras?

Não... Astrólogos, terapeutas
pastores cercados de acercas

(e padres, comadres de altares
e aqueles de fé em alteres)

sobrevivem todos de tetas:

- conversas ao pé esfolado
do Grande Químico mediado...

sábado, 18 de agosto de 2012

AGRADECIDO

Se numa de moucas horas o destino oferece possibilidade
outra pede em resposta - espelho igual do entranhado arranjo, peso, tamanho

e da mais desapegada generosidade.

(de uma das dobras da pele experiente
ou do emocionado cérebro sempre)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O ESTABELECIDO SOBRE O RISCO DO VACILO

embora desnecessariamente nessa ordem

O momento outonal
deste curto período

(na periferia suspeita do infinitivo)

acompanha-se mal
de maior equilíbrio:

- como se o tédio, cevado da longa estadia
nessa vida esquisita, licenciasse o juízo

de sua responsabilidade objetiva...

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

DA CONDUTA

a quem (se) estuda

Aqui, entre os seres que estão

há aqueles que (outros) tecem
àquilo que têm.

Também há os que (se) medem
pelo que querem.

E há (talvez) os que percebem
que de fato são.

O que perceber do querer
(e bem ter-se-ia de ser)
a fim de como estar, tecer
e medir-se com correção?

domingo, 12 de agosto de 2012

PORQUE TÃO PÁLIDO

aos conectados

O sol de domingo
me é tão curtido

que fico internado
(no tempo do espaço)
internetizado

feliz por contraste:

- situado no negro
da luz do aconchego...

(por entre utensílios
de claro artifício
- meus trastes e fios)

[rumores nos rios
(vãos eletrônicos)
correndo infinitos]

AINDA TE BEIJO QUERIDA

A tarde
opala
que te arde
já gasta

rebrilha
remoto
(de um dia
novato)

[na boca
do oco
buraco
da noite]

o açoite
tardio
que esfola
e cola

tua pele
vermelha
(tingida
de índia)

na minha
(de velha
centelha
fingida).

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

DEDO NO OLHO

Teu dedo
no desenho

da linha
do cabelo

contorna
tua orelha
(a esquerda):

- capela
(à direita)
do segredo.

Meu olho
no desejo

da nuca
(tão nua
de teus pelos)

acompanha
teu dedo

atentos:

- pelas curvas
que aventuras...

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

[SEM ASSUNTO]

mas sempre mais é melhor que menos

Há que dizer
- se não o quê.

E desdizer
- mas com porquê.

A palavra
pedida, dê:

- mesmo que mal
se souber qual.

A sentença
esquecida

(ou a escrever
em bom dia):

- ache-a, e lê.

(que precisa)

terça-feira, 7 de agosto de 2012

NOTA TRISTE

Soube de uma linda menina
qu'em vão machucou-se brincando.

Soube que da vida uma esquina
feriu-a (talvez por engano).

Por que desandou seu bom anjo?
Por que distraído do ofício?

Por que tal amor de criança
exposto a tão frio se encontra?...

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

RECEITA DERRADEIRA

para assentar controvérsias
a tempo de compreendê-las

Uma noite entre dois dias
para melhor decidi-las:

- uma madrugada fria
(encerrada a ponderações)

quieta, escura, opaca - tida

como o tal berçário de ações
primitivo do animal são

que acorda, sobrevivido
entre os milhões que logo irão...

domingo, 5 de agosto de 2012

DEPOIS DE LÁGRIMAS

Antessalas.

Aço emparedado onde o tempo
ganha absoluto o seu peso.

O granítico castelo
do restelo desperdício.

O martelo quebradiço
(do vidro);
o que se revela agulha
(perfura).

Do vento
estufa
ao frio
propensa.

Infensa ao que passas.

Lâmina do instante
retalhando ânsias do viverá intenso.

Extremo
entre o último e o próximo céu...

ÓBVIA

rumo ao muro a cem por hora

Quando não se interfere

na tautológica
malsã trajetória

da paixão que se converte
em razão sempre alegada

o que então acontece?

(de tanto que se repete
cimenta-se ensimesmada?)

sábado, 4 de agosto de 2012

CLOSED

Fechar a porta
isola - o vento
a poeira, a aorta

do batimento
que se repete
no sentimento

de ser o mesmo
- o confeiteiro
dessa quermesse

(pois acontece).

Fechar a porta
trancar à chave
(jogá-la fora)

cultiva - a horta
verde-presente
do enfim é hora;

o pensamento
sonha ligeiro
até a aurora

do movimento
relojoeiro
marchando a horda...

Fechar a porta

- um capítulo
definitivo
do grande livro

aparta o lido
(o ido do vindo)
partido agora

entre o sabido
(porquanto outrora)

e este caminho
de vida nova...

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

ÀS TRÊS

Será cada consciência
a prisão de si mesma?

Saturada da essência
solitária do uno?...

***

Rasgou a noite passada
um inventário - o gelo da madrugada
acordou-me que estou frio
a esta altura da jornada;

interrompendo-a, quedou-me
à consciência danificada, havendo
a desmemória do erro:
- a leitosa amnésia em que me esqueço

de então enganos compreendidos
como suaves mal-entendidos

de restos de dívidas
(débitos afetivos)
líquidas, sucessivas

remotamente imaginadas
minuciosas se aproximadas...

(a boa distância, voa a lembrança
- nomes, pronomes, pessoas
situações constrangedoras
em geral particulares)

[diletas dietas de peso
batem cruéis a esta altura;

suspende-se o sono
evita-se o tombo

Pantagruel malabares]

terça-feira, 31 de julho de 2012

SEM TEMPO COM SENÕES

uma banana pras convenções

Questões agora, só as pessoais:

- se a pessoalidade vive de intimidades
a impessoalidade mata curiosidades.

(é bom ser íntimo
até da intriga que entrega;
e feio o curioso
mortificado que nega)

Assédios
saltando de prédios
é impessoal - sujeitos ao plural
dissolvem sua espessura subjetiva;

expedita
(a desconsolada suicida)
ao contrário, é tida
objetivamente desesperada...

Tópicos hoje, só os tropicais
(acerca de clientes especiais)

- e pacientes, os peridurais...

[se então alcanço
âmagos particulares

passos descalço
naquelas proximidades]

sábado, 28 de julho de 2012

AGAIN IN THE RAIN

Cá estou de novo à mesa
do carteado cósmico
já paleontológico
em eterna primavera;

retorno à bruta pedra
remido no consolo
de um sol que aperfeiçoa
sua próxima coroa;

assento-me primevo
(atrás um balaústre)
ensimesmado pleno:

- nas primeiras rodadas
escuso-me amiúde
de tépidas jogadas...

sexta-feira, 27 de julho de 2012

UMA QUALIDADE LITERÁRIA

sua dialética negativa

Um fôlego
preso ao instante
(a despeito
perseverante).

O fôlego
teso do infante
(a respeito
edificante).

Meu fôlego
presa do instante
resfolega
(principalmente)...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

ESCONDERIJO

Um lugar, quanto mais comum
e ordinário, tal ancoradouro perdido

por um momento, este urdido
num ponto do fio cotidiano infinito

ao longo do qual ser mais um
eu poderia, inalcançável na multidão

tem maior seu atrativo:

- quando a solidão da razão
(ao respirar, comer, dormir)
infunde a de querer partir...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

POÉTICA PARA O FUTURO

já que o presente é obscuro

Ininteligíveis
não quero as palavras

incompreensíveis
desservindo o nada

(ao nada-mistério
elusão opaca).

[mas/porém/contudo/todavia]

Se estéreis a nos servir
esteroides no porvir (para ainda piorar):

- veja a acadêmica poesia...

(ou seja, versos pra academia
da ginástica verborragia

- mônada fragmentária

objeto da intelligentsia
desavergonhadamente alheia

aos que passam à deriva)

Esqueça! Pois dela nada
(ao largo do nada)

toca o fundo de cada
um.

[que líricas extraordinárias
desinvernadas

de lidas desentranhadas diárias
prometam comuns]

terça-feira, 24 de julho de 2012

À SOMBRA

de uma cerveja à tarde

O formato da mesa
predispõe, num quadrado
franco, brancas cadeiras
- eu brando numa delas;

e nela bem-disposto
penso, subterrâneo
o rio que pressinto
- dela contemporâneo;

seus barcos, atracados
às margens do refeito
curso de cada evento;

seus cascos, rarefeitos
abajures que acendo
- lanternas amarelas...

segunda-feira, 23 de julho de 2012

ECONOMICS FOR LIFE

"és possuído por aquilo que possuis"
(sabedoria antiga)

Equivalências
correspondências

dadas de circunstâncias extremas:

- cálculo preciso do caráter
conjuntural da adversidade
(estrutural da necessidade).

(ação-reação
thereisnofreelunch
bumerangues
etc. etc.)

Outro modo de dizer seria
- a abundância nos é lucrativa?

(amores, amizades, confiança
água salgada, lixo, prolixos
shopping centers e desesperança)

[aquisição sem subtração
subtração com aquisição
aquisição com aquisição
subtração sem subtração]

Interessa o abundante
porque nada gratuito:

- como todo fortuito
o escasso no infinito...

domingo, 22 de julho de 2012

DO SOBRINHO

ao redor (aos dois anos)

Heitor:

- o amor

da mãe
da avó

das tias
e primas

de sangue
ou tidas;

distantes
vizinhas

falantes
curtidas

noviças, vividas
são todas queridas...

(mulheres meninas
que mal se percebem sozinhas)

sábado, 21 de julho de 2012

DESDOBRAMENTOS DO TÉDIO

mau impacto poético

Que te aborrece, amigo
que estás tão impulsivo?...

Irritado
arredio
combalido?

Pela conjuntura combatido?...

Pelas circunstâncias circunscrito

fragilizado
desprotegido

embora ainda não derrotado

(como os 'ados' nesta composição ridícula...).

[nada que na tarde amornada
desfaça uma Smirnoff Ice
redundantemente gelada]

JEKYLL AND HYDE

... sim, já estive aqui antes
(já os ouvi uivantes);

a despreocupação do espaço
a má disposição das coisas

quase igual de fato...

***

Nunca a vi pessoalmente
(desconheço-a realmente);

mas a disposição dos quadros
a doce ocupação das unhas

apetece ao tato...

***

[o chão rápido levanta o sol
na pontualidade da manhã;
e tão lépida quanto, a lua
a noite despencará terçã...]

DO BEIRUTE

outra perspectiva

As coisas da minha cidade
- prédios, avenidas, passagens
parques de craques, malandragens
(relíquias da modernidade)

vendo-as se mudam paulatinas
na medida da minha idade
tenho-as porém inconclusivas
- as graças da nossa cidade...

Pois hoje o desenho no asfalto
(das sombras de acontecimentos)
parece o de ontem - traço de algo

da curva dos seus monumentos;
mas se há muito não os contemplo
dá vazão meu rés chão ao tempo...

sexta-feira, 20 de julho de 2012

NA SOPA PRIMITIVA

Ensanduichado

entre a amplidão da imensidão da vastidão por cima
e a ação da transpiração da competição por baixo

simpatizo, até solidarizo-me com o clima
refogado entre as criaturas, acho...

quinta-feira, 19 de julho de 2012

COLORES DOLORES

Nas buganvílias, o vermelho
brota em meio ao verde espinhento.

Mas pela mão branca do vento

apercebe-se do azul seco
que a noite reveste de preto.

(de sorte que perspectiva
a ferida que mais combina)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

INTACTO

o consolo de um aflito

Pelo risco
(de estar vivo)

vou-me, e arisco

arrisco

um dedo
(mindinho).

Concedo
a espinhos

furarem-me
o juízo

prometerem
prejuízos

ferirem-me
só um pouquinho:

- nada que comprometa
o sal que à incerteza

tempera de beleza...

VIDA PRECÁRIA

Quando menos se espera
a palavra, por uma fresta
(por um fio que preste)
telefona e acontece

puxar a gaveta das facas
benzer as mais afiadas
(re)partir peitos e asas

entre soluços e soluções
(concluídas as dissecações)

dos entes que tornamos abertos ouvindo-nos...

[pós-modernos, vivos (espertos?), vindos e idos]

segunda-feira, 16 de julho de 2012

OUTRORA NA AURORA

Outro sonho em pedaço que a memória descola
acordou-me alquebrado na antessala da aurora...

(fel me trouxe à boca
bem cedo cediça - comigo e com outra)

Magro nele sorrias
uns lábios distendidos;
triste neles caía
teu cabelo tão liso

que pouco do rosto expunha
de mais miúdo e sombrio:
- parecias recurva
mas o oposto dizias...

De lado estendida
reversa ao que eu via
(o corpo ao contrário)
tua fala insistia

qual conto do vigário
corresponder-te-ia...

[na antessala da aurora
se me passando outrora
esquecida de ida
(nesta vida esquecida)]

domingo, 15 de julho de 2012

ON THE MOVE

... e rápido andando
corrido, levado

(no entanto)
paulatinamente

por vento de antanho
(a ver simultâneo
de vir diferente)

carregado
transportando
o tal fardo
(o seu osso)

novamente
(a contragosto mormente)

o encaixotado cigano...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

AOS QUE GOSTAM DE VEGETAR

desculpa pra não animar

Tenho tanta vontade de andar por aí
quanto de ficar assentado por aqui...

Partido, então fico
pensando, perdido

pelas viagens que outros lugares fariam
(pois endereços deslocam-se entre trechos).

Tenho vontade de errar por aí
tanto quanto de acertar por aqui...

Mas sendo apenas
(e longe Atenas)

indivisível criatura do aquém

escuso permanecendo ninguém
além de mim - assentamento assim...

POST-SCRIPTUM

O contraste
súbito

entre a brancura da tua superfície
e a negrura dos teus pelos em planície

cega-me
bruto

(como um flash inconveniente)

para a realidade.

P.S.: deixarei a questão acerca
do real - sua natureza de cerca
(assim como a das conveniências)
em aberto - tanta a certeza!...

terça-feira, 10 de julho de 2012

PANTANOSA

Entre várias coisas por fazer
nada faço - tal como o paliteiro
cheio, de onde um único, primeiro
mísero palito recusa-se a descer...

As muitas ideias, com prazer
todas postergo - refeito o cinzeiro
disfuncionalmente prisioneiro
dessa condição antisséptica de ser...

Num ventre mental (este perverso)
toco o mau momento em que demoro

congestionado, e verso expectoro
desempoçado ato, embora havendo

nenhum querendo prestar-se
ao papel de bem livrar-me...

GEORGE JÁ DESCREVEU POR NÓS

a Leoa,
uma tradução/adaptação livre de "Something"

ALGUMA COISA

Algo no seu movimento
atrai como nenhum amor.

Algo do seu jeito, como é feito.

Por isso, não quero sair
(não creio que tenha de ir).

Algo no seu riso sabe
que pouco preciso de mais.

Algo do seu jeito de ser que ri.

Por isso, não quero sair
(não creio que tenha de ir).

Se este amor irá florescer
mesmo não há como saber;
fique perto, poderia
mas não sei se deveria...

Algo do conhecimento
se revela, nisso penso.

Algo seu nas coisas que desvela.

Por isso, não quero sair
(não creio que tenha de ir).

***

SOMETHING

music and lyrics by George Harrison

Something in the way she moves
Attracts me like no other lover,
Something in the way she woos me.
I don't want to leave her now,
You know I believe and how.

Somewhere in her smile she knows
That I don't need no other lover,
Something in her style that shows me.
I don't want to leave her now,
You know I believe and how.

You're asking me will my love grow,
I don't know, I don't know.
You stick around now it may show,
I don't know, I don't know.

Something in the way she knows
And all I have to do is think of her,
Something in the things she shows me.
I don't want to leave her now,
You know I believe and how.

domingo, 8 de julho de 2012

MEUS BOTÕES, ONDE ESTAMOS?

a propósito de ouvir os Beatles a esta altura da vida

A curva vira

quando o que houve (parece)
determina o seguinte.

Determina. Condiciona. Dirige
o que quer que adiante não se evite.

Se a manhã de ontem
não amanhece

e tarde somente
tardia anoitece

sabe-se que vira (parece)
a curva esquina da velhice...

***

[Dear Prudence
 won't you come out to play?]

sábado, 7 de julho de 2012

MANHÃ DE LAGARTO

Silêncio musical no pedaço
sem vento das sacadas da aurora.

(do festival mundano de outrora
por que pano de fundo só agora?)

Nem tanto - cães, o sol, dois pássaros
encarregam-me de três cuidados:

1. de calado, um bom entendimento
2. no que faço, algum desprendimento
3. e mais diálogo entre sinto e penso...

Por isso, calango, silencio
mas nem tanto - já luz há nos bichos...

quarta-feira, 4 de julho de 2012

DE FÉRIAS

Refestela-te nesse torpor
entre a próxima e o anterior!...

Descansas? Providencia-se?
Fazes necessário no espaço

o hiato?

Questões, deixemo-las
como ao vento brando:

- para quando forte
soprá-las a sorte...

terça-feira, 3 de julho de 2012

NOITE ESTRELADA

São velhas as palavras
tão novas as estórias!...

(os mesmíssimos vocábulos
gastos, ressignificados)

Da noite que estrelamos
imprimo sua memória

no barro fresco dos efeitos:

- nos sentidos mundanos
do tempo desdobrando;

- nos sentimentos contínuos
dos nervos em desalinho
do músculo cardíaco...

Dos teus suspiros
a doce arritmia;

dos teus gemidos
aquela melodia...

(entre carícias
sob o carinho
do som dos Beatles)

***

[do som dos Beatles no fresco barro

reouço como o compasso
de tuas pernas com as minhas

separa tuas coxas macias
do meu peito quando aspira
a curva cheia dos teus ombros
- os sonhos da fantasia]

domingo, 1 de julho de 2012

CARVOARIA

Lava aflitiva!...

Então deslizas
por entre as tripas
assim cozidas

nas investidas
controvertidas
mais intestinas...

Anestesias
idas e vindas
que descaminhas

se tanto animas
de pantomimas
mal digeridas...

(entre vísceras
somos vítimas
desassistidas)

Mas não cansarás
(ou descascarás)
[como os carcarás]

até fruíres
me consumires
e concluíres

tua  perfídia.

Em se tratando do estreito percurso interno do amor

uma delícia!...

sábado, 30 de junho de 2012

PASMO

Hoje quis o mundo inexprimir-se.

Quer-se incognoscível
mesmo na superfície
da mais lisa possível

articulada fatalidade
(quão pode a lógica realidade).

Módico, revolveu em distrato.

Seu mau significado, claro
encachoeirou-se, tão encantador
(ao ponto de não mui lamentá-lo)

que fui inundado de amor
por contemplar navegá-lo:

- e tal profundo horror
(em meio à luz da cor)

por me dispensá-lo explicar-se.

[contudo, este minuto
ao fundo irá defunto...]

sexta-feira, 29 de junho de 2012

ESTAÇÃO DAS FLORES

Com o cenho todo brincando
(a querença de outros trincando)

que Vulcano girando o braseiro
do planalto central brasileiro

mais divide conosco
seu azul sem limite...

Quando o verde chuvoso, a visão de Dom Bosco

(do leite e do mel escorrendo
deleites de um céu lazarento)

se vão, aos pagãos dão, então

a festa dos deuses de beiços
rachados da seca lambendo

as dores dos espinheiros:

- para que de tarde da noite em vigília
possa o dia buganvílias coloridas...

domingo, 24 de junho de 2012

BROCA II

Perfuro meus olhos secos
(nesse relento de olhar-se)

do teu mirar escorreito

em queimação devida
à centração da vida

entre os pares.

Que qualidade o ar teria
- sua tessitura entre as partes?

Seus átomos, moléculas
libélulas a faiscarem?...

[perfura o olhar
também o meu par]

{e  por que, Afrodite
de Hefaísto, enfiaste

(como Vênus em Marte)
[entre Vênus e Marte]

um sol em mim?...}

sábado, 23 de junho de 2012

BROCA

Perfura-me este dia
com a ponta do compasso

do ritmo que determina
qual arrisco quantificá-lo:

- tanto naquele, por dele o espaço
quanto da minha monta estipulável.

Há pedras no curso da estiva
e atrasos no que se encaminha
da (má) companhia de atalhos:

- muito agregável esparso
que o acaso objetiva

em algarismos
que me angustiam

quando anotados...

quarta-feira, 20 de junho de 2012

EM RUÍNAS

... enfim, é tranquilo
viver num período

em que o antigo modo de ser
(de longo e prático declínio)

escancara-se decrépito

e fétido
seu método.

Quando é hora do velho
deixar mestre o recinto?

(antes de alguém mandá-lo)
Pedir prévio o aviso?...

(ao fim, tão egrégio
pacato o processo...)

(o fim é tranquilo)

***

[e quanto aos bárbaros, não
exatamente invadirão

pois sempre aqui entre nós
perfumaram-nos os lençóis]

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O TEMPO II

Posso de fato
- como a pedra, a árvore, o abajur
viver parado
(mesmo estirado).

O mesmo acima - e embaixo. Nos quatro ventos
(a despeito de estações e empreendimentos)

estático. Poleiro
do sonho vário alheio
(às vezes tenho feito).

Estático. Extático também
(em respeito ao significado)

porém de movimento:

do tectônico ao sereno
o único que me interessa
amar de ter, sentir à beça

- o da obra aberta do tempo

(o que desdobra o tempo
do momento primeiro).

domingo, 10 de junho de 2012

RATIO ESSENDI

deste blog

Tanto o firmamento
quanto o pavimento

têm aqui seu centro.

Antropocêntrico
Belmirocêntrico

do buraco negro
do ego ergo, ergo

um contentamento
feito de si mesmo

perto de perfeito...

(embora cético
cênico, decerto)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

VESPERTINA

Oblíqua tarde
incendiada;

melíflua arte
luzidia

da gratuidade
fugidia
da gravidade:

- de raios que caem
mortos à vontade...

(a solar voragem
fuzilando a vista
paralela à pista)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

PRECE MUNDANA

fragmento

... e que a claridade

da tarde
despida

de parte
do dia

permita à cidade

povoar-se
de amores

pra tarde
da noite...

NOTA INTERNA

porque não rio do que sofro

Escrevo do que penso
que sinto que padeço.

Se fosse derradeiro
podia compreendê-lo
(sem a volvê-lo o tempo).

Mas não o é - e o sei.

(e que nunca saberei
a tempo de entretê-lo)

CONSTATAÇÃO II

A divina majestade
da paisagem que contemplo

do topo deste templo
(o mundo em que vivemos)

nesta hora descabida
que me estreita em verdades

é a absoluta medida
da maldita realidade:

- do absurdo que é a vida
em si quando desprovida...

quarta-feira, 6 de junho de 2012

SEMPRE NUNCA

... se esqueceria o longo brilho
daquele olhar esmaecido?...

[talvez nunca exagero:
- paixões tão assertivas
de modo a colidi-las
com a provecta eternidade do mistério]

Mas retornaria
(sempre que esquecida)

àquela luz profunda toda vez

que estivesse escuro
repensando o mundo...

terça-feira, 5 de junho de 2012

ESTUPIDAMENTE

lúcido rima com estúpido

O que de mim vence
quando beijo o frio

maciço, o altíssimo
muro da realidade
dos fatos empíricos?

A sensatez, o equilíbrio
do que viria com a idade
- o que chamamos juízo?

A mesquinhez da covardia
retravestida de bom senso

(mais uma vez)

a confiar na ação do tempo?

(a sorte - por que a temo?)

[desculpo a tudo
porque pequeno]

OURO E PRATA

Hoje cedo ergueu-se o sol
delicado e sonolento
de um lençol do firmamento

cismado parecendo de servir
o desjejum - um café celestial
como o divino néctar por vir

(um dia especial)

à sua dama alteada
do outro lado do horizonte
que pálida o entreolhava...

Testemunhou o casal toda a criação.

domingo, 3 de junho de 2012

AUTOPIRATARIA

Meus nervos de corsário

(tão frios, modificados
por ânsias e circunstâncias
num então justificado)

são do aço necessário

ao saque - ao assassínio
de todo bom juízo

que me acometa, contrito
no baque deste navio

com a realidade do aviso...

sábado, 2 de junho de 2012

CAMPO DE BATALHA

O chão da mais árdua disputa
se terrão que divide - e racha

razão tanta de estar cabeçuda
quanto ser de paixão desregrada

na luta que acaba nunca
do sacrifício por nada

é o que é difícil de encaminhá-la
- pelo que representa a campanha

por dentro da própria casa:

- o peito da pessoa acertada.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

TRUÍSMOS

A vida é curta.
O tempo, escuro

à distância, apuro.

Mal posso evitar

que se curvem, e me curvem
encurtados - e mais turvem

até que o fim suturem.

***

A vida é bela.
O espaço, claro.

Os segundos, escuto
que bem posso contá-los

minutos - e que minutos
não corram, até que morram

abraçados.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

INSTANTÂNEO

A moldura que teus lábios
coadunam de perfeitos

à tua língua desferida
em palavreados termos

caramela pouco acima
da tua linha fugidia

as lanternas amarelas
que adiante me confias

(as tranquilas assassinas
que sequelas cicatrizam)

sorrindo (de si por dentro)
a inapelável rendição

de antemão que te concedo...

SISTÊMICA, ORGÂNICA, NERVOSA, CRÍTICA (E CÍCLICA...)

sistema nervoso vegetativo (fisl) parte do sistema nervoso, constituído de neurônios sensitivos e motores, que regula funções como a respiração, a digestão, a excreção e a circulação, dividindo-se em sistema nervoso simpático e parassimpático, cujas funções se complementam de modo a coordenar o funcionamento de todos os órgãos... (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa)

O parassimpático que há em mim
está nada, nada simpático
às minhas considerações, enfim...

De todos, o mais temido
reinstala-se - o conflito

que veste, confortavelmente
contradições do tronco à mente

entre o que repenso
e o que ressinto

o que me lembro
e o que pressinto

para ao novo dar um novo lugar:

- abrir a tapa a nova supervia
explodir na cara a supernova

(do vasto porão que rebrilha)

enfim...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

PREMISSAS FRESCAS E FATAIS

O que sinto
(de destino)
só o sinto
como se nunca tivesse sentido.

O sentido
(do que sinto)
desconheço
como se nunca o quisesse sabido.

Seu mistério
(infinito?)
reconheço
como se sempre o vertesse destino...

terça-feira, 29 de maio de 2012

TRÊS FATORES CRUCIAIS

O primeiro, esqueço
resolvê-lo
(faço revolvê-lo).

O segundo (o primeiro
de fato), não lembro
direito.

O terceiro - no momento
complicado engenho -
passo...

domingo, 27 de maio de 2012

DUAS ARTES ENFIM IGUAIS

a todo sacrifício odioso

A arte da espera (que renuncia):

- decerto, a habilidade
de convencer o tempo

a tempo de exilar-me
de certo movimento.

A arte da renúncia (que desespera):

- aquela que me intima
(à via agonística)

a postergar a vida
pra certamente um dia...

DE ONDE O IMPULSO

O que arranha nervoso

o trajeto trevoso
oco do pensamento

antes de preenchê-lo:

- um arroubo do vácuo
do inconformado vazio - de plenitudes
de um destituído destino - de tais virtudes...

O hiato - o hiato intolera
(vacatio não se assume);

se o vazio deserta

o vácuo aderna...

(queixumes)

TUDO NUM SEGUNDO

Num canto do jardim interno
ao fim do meu verão eterno

há uma mesa de pedra antiga

contemporânea de sóis primevos
extemporânea do tempo mesmo.

Quedei-me junto dela - não lembro
contemplei-a ainda primavera;

e desde então, ressentindo invernos
nela as mãos alongando os músculos

à sombra do outonal crepúsculo
que se desdobra infinitesimal

te espero, contudo.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O TEMPO

a Cruz e Sousa

... à frente, e também (o passado)
além, desdobrá-lo - e estendido

cumpre examiná-lo:

- das virtudes do tecido
aos buracos do acaso

de recosturas sem pano
a robustos desenganos

do seu plano americano
até pormenorizado

o fio, ao fim e ao cabo;

se igualmente, com o modesto fito
de não completamente ignorá-lo

- repetidas lições (quais sejam)
menos os senões (obstáculos)

no presente, ao poente

(do sol, o tapete)

recordá-lo...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O RISCO

Tuas lanternas, mel vítreo
balouçando entre destinos

escurecem, cristalinas
dos teus sábios desatinos;

dois escafandros dourados
dois caramelos marinhos

(amarelo-encouraçado
esmaecendo profundo

opaco o brilho
cortando a fundo...).

Se toda vez que me pego
fitando-as, embevecido

(e acompanhando as retinas
se tanto, um meio-sorriso)

escurecer-me é possível:

- se pretérito, que negue
o olhar que por ti arrisco

a perder-se quando abismo...

domingo, 13 de maio de 2012

NOTA CONTEMPORÂNEA

fragmento de significado

De fato alguém lá fora
meu coração aflora:

- a personagem-nome
de uma fatalidade
(sua virtualidade).

Embora além do espaço
(tempo que espaça largo
ao largo dos pronomes)

a de mais realidade.

{enquanto isso, me desespero
em pulsões de nervos concretos
invólucro refém dos mitos
dos sentidos empobrecidos...

[nada marca mais esta ausência
presente que vaga espectral
na nova necrópole virtual]}

sábado, 12 de maio de 2012

JOÃO VITOR

nascido a 7 de maio

Um neto
(meu neto
primeiro)

rosado
ereto
inteiro

e neto
direto
certeiro:

- contudo
que a vida
(e tudo)
lhe diga

querido

lhe trate
(destarte)
o amado

seu filho...

[do mundo
da vida
vivida
a fundo]

quarta-feira, 9 de maio de 2012

DOMINGO 16H

quando preconceito é paixão

Rola a bola
rente à grama
silenciosas
muambas, ambas

maltratadas
maratonas:

- a redonda
(com certeza)
faz de conta
(portuguesa)

que o relvado
não é mato;

a rés plana
(de pisada)
finge planos
(esburaca)

de justiça
nas conquistas...

[fora as pernas
(brasileiras)
as canelas
(brasileiras)

joelhos, braços
(coelhos, galos)

tornozelos
(entortados)
cotovelos
(os violentos)

dos perebas
(estrangeiros!)
que as destratam]

domingo, 6 de maio de 2012

A HARMONIA DA ILUSÃO

àquela anônima sensibilidade

Com vistas ao bem de nossas vidas
proponho a composição que vejo

às esferas/metades/polos que sejam
realidades, suas partes, um ensejo:

as paixões que desarrumam
- que à gravidade anulam (nos dois sentidos)

e as razões que as justificam
- que à gravidade explicam (sem corretivos)

dão-se duas mãos (as outras, repartidas)

em dupla imaginação restituída
originária, que perambularia...

sábado, 5 de maio de 2012

QUESTÃO INOPORTUNA

As datas - estacas várias
fincadas no calendário.

As efemérides, tidas
como comemorativas:

- por que tenho de lembrá-las
se dias de dromedário?

{se improdutiva a rotina
domesticado o trabalho
(apequenado o que faço)

[assim como]

determinados atalhos
(das incertezas de cima)
às inclemências do clima?...}

quinta-feira, 3 de maio de 2012

QUESTÃO MINHA

À tarde, venho cochilando
(surpreso, recapitulando)

sonhos desdobrados para trás

até verdes anos - quando anis
os planos, roxos os encontros

eram negros os pelos todos
rosadas as experiências

repintadas as indecências
na calada das madrugadas;

e compaixões, amareladas
por vermelhas verificações

repaginavam-se, centelhas
de cada novata esperança...

Por que tarde agora, cochilos
coloridos tão desbotados

sobre antigos fados - cochichos
por trás do tempo cortinado

ganham a hora, ecos do giz
da desmemória mais remota?...

(por que nesta hora de agora
quando aqui finco mastro e raiz?)

segunda-feira, 30 de abril de 2012

QUESTÃO MENOR

Que fizemos

que o mundo que temos
nos olha de menos?

[feroz
no indiferente atroz;

algoz

dos sonhos pequenos
(tenros)]

domingo, 29 de abril de 2012

PROCESSO CRIATIVO

a um suporte em extinção

O papel intermedia
o percurso da fagulha

da vista à tela
(e vice-versa).

Não, o papel só rabisca
sua acidentada trilha

da ideia à pedra
reconquistada.

Limpo, o papel redestaca
a brancura da pureza

(antes de ida
escura ainda).

Não, o papel nem obriga
o desenho da figura

da escrita, em suma
qualquer clareza.

O papel sujo argamassa
a feiura da beleza

até que de uma
a outra se esqueça.

Não, o papel mal registra
tal incerteza da agulha

quanto à costura
(quanto ao que fura).

sábado, 28 de abril de 2012

IRRELEVANTE

O silêncio azul-claro
(a cor deste sábado)
que reouço aziago

no caminho que arrisco
(da incerteza do traço)
e na mente refaço
(a tristeza do vácuo)

paradoxalmente
redescanso semente:

- pois qual a diferença
entre a somente ausência
e esta quieta presença
em que nada aconteço

nas quais nos aborreço?...

CARA DE COROA

Pelos da face
como disfarce

para um passado
prenhe de quases.

Descuidados
desgrenhados

malfadados

gordurosos - pelo tato.

(como sentimentos quase
repensados)

O espelho cogita
a barba do dia:

- a frase pedida, a oportunidade
perdida em imagem...

(como aquela viagem
desfeita nos planos
refeita nos danos)

***

A mãe diria:
- mas que medonha
(qual mais me doa?)

justificativa
contra assepsias!

Em princípio, a dona
do meu farto início

sim, acertaria

- mas um pardo indício...

sexta-feira, 27 de abril de 2012

CELESTINA

Afixado

à parede

o teu preço

numa rede

descalabro

e feneço:

se se paga

namorada.

[porque muito
que se sonhe
por descuido
se consome]

CAMPESTRINA

Encostando

na parede

o desejo

de uma rede

respirando

remanesço:

permaneço

namorando.

[numa sede
que destarte
nem ensejo
de casar-se]

MARÍTIMA

Encostado

na parede

fotografo

uma rede

nela feixe

dela peixe:

costurado

namorado.

[um pescado
que aproveite
ao azeite
congelado]

sexta-feira, 20 de abril de 2012

DO MAIS SECO AZUL

Um raio tácito
pouco esperado
por para-raios

(especulado
naqueles sábados
de apenas traço)

caiu, com certeza:

- tripartiu a cesta
azedando a sexta

tal a aspereza.

Que muito envelheça
(em razão dos desagravos)

a circunstância da esperteza

aceita-se como da natureza;

que caia defasado de mais tempo ido
(numa paródia nórdica de um deus falido)

finjo a surpresa!...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

CONEXO COTIDIANO

O quadro da solidão absoluta
[é como]
o quadro de uma pintura sem moldura.

Uma clara atenção concentrada
sobre um tênue pedaço do nada

oculta a verdade da tela infinita:
[seja]
escura/cinza/colorida - contínua

sem nada que o substitua
[o quadro]
(porque continua);

nada que o separe da noturna

rua sob a prateada
face sem graça da lua.

Nem antes - ante o parapeito
de mais um precipício estreito

(ademais de um sonho desfeito)

o quadro da solidão absoluta

pinta a ruptura

da cósmica brutalidade
una - de qualquer realidade

última/primeira/terceira

- na segunda-feira.

sábado, 14 de abril de 2012

UM MARANHÃO

Grãos de areia de Caburé
entram em minh'alma toda
vez que uma lembrança tola
requeima a língua no café.

Areia do paraíso
equatorial que esqueço
sazonal quase impossível:
- Caburé, só distraído

face à distância do abraço
entre a memória e o fato
de não mais querê-la viva

tão longe deste cerrado
mental percorrido à míngua
ensimesmado de estivas...

[areal de Caburé:
no chão real esquina
da especulativa via até
se avistar o mundo de cima]

quarta-feira, 11 de abril de 2012

TAIS FILHAS

São três marias
(não, quatro lias)
letícias lindas
em vão meninas;

são quatro vidas
(não, trinta lidas)
contemplativas
enquanto vistas;

vê-las amigas
tão indivisas
(róseas espinhas)

lembra-me vias
quando floridas
sem herbicidas...

sábado, 7 de abril de 2012

SELETIVA

Esqueço
que o peso

de todo desprezo

é lento.

E lembro
(num susto)
que gosto de tudo

sereno.

Tanto esqueço
quanto lembro

estórias

(infeliz)
de menos.

[por um triz que se me cuide
de memórias tal virtude]

sexta-feira, 6 de abril de 2012

FORMOL INFORMAL

política num bistrô em Brasília

Gosto de tradição.
(às vezes, não)

Neste caso
(sobre a mesa ao lado)

guardo (como visão)
o cuidado

do trato à disposição:

- a exemplo do tato
murmurando um rio

à vasta navegação
(num tal desequilíbrio
que emudece os tecidos
do vestuário envolvido).

Suaves entre talheres
(muares com as mulheres)

quando harmonizam passivos
de anuências ressentidas?

(pois há sempre quem dance
a certeza do lance
antes da sobremesa)

quinta-feira, 5 de abril de 2012

À FRANCESA

a todos os carentes
atávicos, sem dentes

Depois da quinta
dose irrestrita

(periferia
do pensamento

de sentimentos
borracharia)

toca o celular:

- rima com tudo
que sufixa em ar

que amor prefixa
a condicionar

que promete vir
se o tempo ajudar...

Se der, contudo
(se meu juízo houver)

peço ao Alaor
(junto à de sair)

a conta da dor
o táxi de ir...

quarta-feira, 4 de abril de 2012

segunda-feira, 2 de abril de 2012

ATEMPORAL

Será andante dama
adiante a que desperte

por este cavaleiro
seus anteriores passos?

(por este aposentado
seus interiores prados?)

Estertorantes pastos
ressecam meus cavalos

há tempos. Há veleiro
que partido navegue

este exato momento?

Vontades apascento
à vontade relendo

uns romances antigos:

- de mulheres sorrindo
à passagem (miragem)

deste eu aquiescido...

domingo, 1 de abril de 2012

HOUVESSE O AMOR LEVE

Ali não se foi antes
pois se conteve diante
dançante da surpresa
castanha que o deteve.

(tamanha ela podia
se presa tão quisesse
com pressa de quermesse
nem que esquentasse o dia)

Mas depressa - já via
(decerto ali desvia)
pediu ao fogo amigo
do bom senso restrito

do momento ausentar-se:
- ficasse sem consenso
dos nervos, por certezas
constrangido de menos...

[que tudo valeria
o nada que nadasse
- a fada que escapasse
que ludo esqueceria!...]

sábado, 24 de março de 2012

ROLLING

Enquanto espero
(fervendo interno)

na expectativa adocicada
por delícias bem-dispostas (posto
que as considero)

meus olhos erram

de mesa
(de presa)
da cesta

de moedas

etéreas que este cassino aéreo
me empresta...

quarta-feira, 21 de março de 2012

PERSPECTIVA

O horizonte total
(da absoluta inexistência de degraus)

que areja

a linha aturdida à frente da cabeça
(em dia)

talvez escureça
- tão claro o boquiaberto espaço em revista

a dita

antes que anoiteça.

segunda-feira, 19 de março de 2012

LAMENTO MUITO

Há dias não escrevo.
(talvez fingisse
que devia)

Tampouco cansado
por outras lidas.
(só ocupado)

Mas emagrecido
de mais contatos
regressivos:

- rotina contábil
(a vida retrátil)

que aos meus tratados
precariza.

domingo, 11 de março de 2012

O verso e a prosa, segundo o poeta

diferenças

"Se eu chegasse ao pé do leitor e lhe dissesse: 'Esse seu automóvel não é um veículo, porque não é puxado por cavalos', é provável que o leitor não aceitasse como bom, ou pelo menos como dito a sério, o meu argumento. Quando alguém chega ao pé de mim e me diz: 'Este poema não é poema porque está feito em linhas que não têm medida regular, que não têm rima, que se não podem medir nem ler como versos', essa pessoa [faz] uma afirmação em nada diferente daquela minha afirmação hipotética sobre o automóvel do leitor.

***

O verso difere da prosa não só materialmente, mas mentalmente. Se não diferisse, não haveria nem uma coisa nem outra, ou haveria só uma que fosse uma espécie de mistura de ambas. O estado mental que produz verso é diferente do estado mental que produz prosa. A diferença exterior entre a prosa e o verso é o ritmo; a diferença interior entre a prosa e o verso será a entre um estado mental que naturalmente se projecta em simples palavras, e um estado mental que naturalmente se projecta em ritmo feito com palavras.

***

Há ritmo na prosa, e há ritmo no verso. No verso, porém, o ritmo é essencial; na prosa não é, é acessório - uma vantagem, mas não uma necessidade. No fundo não há verso nem prosa..."

Fernando Pessoa, "Poesia e ritmo". In Obras de Fernando Pessoa, vol. III (poesia). Lisboa: Promoclube, pp. 105-106.

Aristotélico Pessoa

um apontamento

"A literatura dramática é uma subespécie de literatura narrativa, e esta uma espécie do género literatura.
A literatura é a expressão verbal de um temperamento; a literatura narrativa a forma objectiva dessa expressão verbal; a literatura dramática a forma màximente objectiva - ou seja, a forma sintética - dessa expressão objectiva. Um drama não é mais que um romance na sua forma máxima de síntese possível. É por atingir esta objectividade máxima que ele pode receber a aparência de vida, isto é, que ele pode ser simulado num palco por pessoas a que se chama actores.
As qualidades possíveis do drama resultam, portanto, de três origens. Há as que ele tem em comum com todas as formas literárias, visto que ele é literatura; há as que ele tem, mais particularmente, em comum com todas as narrativas literárias; e há as que lhe são próprias como forma màximamente sintética da narrativa literária.
Há três espécies de drama: o tipo sintético, que busca incluir em si, equilibrando-as, as três ordens de qualidades que ao drama são possíveis; o tipo analítico, que busca apresentar só as qualidades particulares e distintivas do drama; e o tipo misto, que busca reunir, conforme possa ser, as qualidades desses dois tipos.
O tipo sintético do drama atinge a sua plenitude no drama em verso. Por ser em verso atinge o máximo da expressão verbal de um temperamento, que em verso se acentua muito mais que em prosa. Por ser drama reduz essa [expressão] verbal à objectividade."

Fernando Pessoa, "Apontamento". In Obras de Fernando Pessoa, vol. III (poesia). Lisboa: Promoclube, pp. 103-104.

quinta-feira, 8 de março de 2012

FINA

E de banda
veio mínima

a lâmina
que me fulmina.

Fez a curva
(meia-lua)

reta e limpa
(não havia).

Evitá-la
descabia

(agilíssima);

simular desvio
(do fio) devia:

- a disfarçar a ida
da jugular ferida.

Ainda que esvaia
manter a linha

(de passos de praia).

[como a vida
quando grita

agonística

retinta

rejuvenescida]

segunda-feira, 5 de março de 2012

NO RITMO DA LESMA À FACA CONDENADA

a João Cabral de Melo Neto

Há um vibrato
sopesando

(mezzo atroz)

o agridoce
móvel cardo

me cortando
vagaroso

no que atento
legalmente

por tua voz.

[tratando-se
(ao telefone)

da presença
incorpórea
modulada
da memória]

domingo, 4 de março de 2012

LUZ

a Zaritè

Como não ser
previsível?

Imperturbar
tua beleza

- de estar nua
sem defesas

apressado?

Descaminhar
(rebobinar)

este filmar
precipícios?

Esquecê-los
num hospício?

As palavras
nos são caras

- certos atos
impagáveis

(e passados
e destinos);

desusá-los
impossível...

Como prever
(e te-bem-ver)

invisível?

quinta-feira, 1 de março de 2012

THE CAPTAIN CAUGHT HIS FIRST PREY

Deu pena.

Deixei apenas
gotas vermelhas

(umas dezenas)
pelo caminho.

As penas, aspirei
compungido:

- um passarinho
um filhotinho
(um desperdício).

***

Sei da natureza dele
de Cisco sobre um cístico
DNA explodindo:

- de instinto tingido à pele
do inocente que assassino
a contrapelo parece

Freddy Krueger
Jason Voorhees

simply Jack

numa segunda, 27.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

THE CAPTAIN IS CROSSING THE BORDER

Sob a lua crescente
um inteiro adolescente

pretende.

(a rua dentro dele)

E o coração aflige
quando em seu lento aclive
(de batimento triste)

resiste.

[lembro-lhe:
Cisco não nos pertence]

domingo, 19 de fevereiro de 2012

ARGUMENTO

Viver em atos
sim, é muito mais
importante que
de textos viver.

Dar de comer
aos sentidos
é muito mais
(nunca ademais)
relevante

que, elefante
estetizar
(tergiversar)
seu mal-estar.

Aos sentidos
dar de comer;

à arte só
só dar de ombros:

- porque, à hora agá

[da vitória resoluta deste acaso
que é o absoluto cansaço de ordenar]

tecer escombros
ninguém quererá.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

SONETO SONOLENTO

de um sonho carnavalesco

Há um sábado, domingo
a semana invadindo
que me estira o vadio
lagarto do espírito;

pela terça, a segunda
estica parecença;
de nada é moribunda
na feira em que aconteça:

- esta festa fluoresce
por dentro cem por cento
(destoa o pensamento)

[ao relento, coalesce
no máximo um mormaço
à toa, pardavasco]...

***

[na presença da cerveja
caroço da geladeira
o esboço da pasmaceira]

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

ININTERRUPTA

Brilham intensos
por trás das palavras
teus olhos morenos

(assim como o nada
que a tudo desarma);

rasgados, eu lembro
(também tuas palavras)
de há pouco tempo

aquém das fachadas
cortinas, fumaças
que o vento não sopra

num verso que sobra
imenso agora; enfim

há tua fala, que ri
(para além da hora)

teu largo marfim...

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

EM SUMA

Ressuscitada
desimpedida
repovoada
emagrecida

ensolarou-se;

decantada
rarefeita
expandida

prometeu-se;

da crise
refeita

em riste

esta alma (ouviste?)
bem que podia...

(ao em seguida)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

MIX

Mormaço
mortiço

castiço e
mestiço

(típico
do início
em berço
de peso

granítico
derretendo):

- bruma de Burma
frio do estio...

[parda heterogeneidade

(opaco resultado da
climática mixagem)

que paira entre eu e a cidade]

sábado, 11 de fevereiro de 2012

PRECEITO LÓGICO DO NÃO

Nas horas em que
o vácuo se impõe

como faxina
interiorana
das intestinas

(da que revira
 em casa ainda)

se ora desanda
perspectivas

[a redundância
preconcebida!]

não dá pra escrever

se despretende
o que avizinha;

então pressupõe
não há prescrever:

- resistiria...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

ANTEONTEM

Fui à noite da ostra prateada
sob o seio da enchumaçada
concha compreensiva.

Marmórea. Invertida.
Desestabilizada
(se etérea todavia
de impossível ruína).

A noite tectônica da abóbada
nada geológica. Aceleradas

suas placas sujas perfuradas
rodaram embaçadas

saias e anáguas

(a encardida algodoaria
dos bons-tons múltiplos do cinza)

congestionando vias do céu.

Faroletes havia
cabeças de alfinetes
- as digitais dos deuses
pespegando paredes

de absolutamente.

E meus olhos caixilhos
(na ótica dos trilhos)
molduraram os cantos
dos encantos da cena:

- no túnel redondo
louco espiralando
preso ao centro branco

um Pollock titânico
borrando a demão cistina
de um falso Michelangelo

abriu-fechando pernas
à madrugada mista

que há tintas não se via...

(dialética delenda
de eclética ferida)

[de prata a prataria
tão suspenso argento

por sobre a pradaria

(suspeito)
dinheiro algum briga]

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

CEDO

O azul contra
o céu claro

escuso

toda a sombra
tolda - ao lado

no muro.

SOB O SOL

De dia
o clima
com arte
desliza

desmaia
destarte
a tarde
em cinza;

e a lua
deitada
coberta
de tudo

aguarda
sua branca
mortalha
do mundo;

a noite
madruga
seu turno
da guarda

de ácaros
pássaros
passados
empalha;

e à parte
(tomara)
não tarda
um vento:

- alerta
mudança
na beira
do tempo

(inteira
contudo
a tempo
sua dança).

[das naves
em grupo
tais ares
presumo]

domingo, 5 de fevereiro de 2012

THE CAPTAIN HAD AN UNPLEASANT ENCOUNTER

Avisei ao Cisco:

- na república
socialista
do Belmiro

todos têm direito à moradia.

(do primata supostamente superior
aos supostamente retardatários
protozoários na evolução das espécies)

[inclusive as pequeninas
delicadas - e assertivas

vespas assassinas
que o telhado abriga]

CLARA E FLORIDA (E OBJETIVA)

A luz oblíqua
(que o café em seguida turbina)

logo inicia
a matutina aventura da rotina;

e combina com a brisa
(antes fresca que fria)
os bichos e a poesia

limpar a mesa, a vista
de poeiras, preconceitos

(dos ossos predispostos
farelos paralelos)

desvios de todo tipo
cegueiras e cia.

- com vistas ao didático
(escolástico a respeito)

espetáculo instrutivo
da vida-nicho ao domingo...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

DIREITO

a Carolina

A busca do sentido

- do seu significado
duplamente qualificado
de sentimento consentido

ofusca
(anula?)
[obnubila]

primeiro
(segundo o terceiro
veredito)

seu último vestígio.
(o vespeiro indício)

NA MARCHA DO TEMPO

Como escapar da ausência
do que a juventude traz?

(a saúde, o vigor
sem paz da verdura
- a rigor, a desventura
amiúde da saudade)

Superar? Amadurecer?
Resignar envelhecer?

(como se o amanhecer
- a vez de ver primeiro -
não guardasse em quieto respeito
da experiência o desespero)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

CONTEMPLATIVO

Repousado
em mármore frio

(qual árvore
refresca o estio)

sou o precário
que administro.

Novo numa bolha eloqüente em folha
dos jardins ao fundo do mundo dos fins

contente consigo
(o submarino)

ouço cães e operários
espantando canários;
olho um gato (pausado)
as construções ao lado;

mães voltando de férias
(corrompidas de aflição)

observando as monções
(filhos, ratos, pilhérias
maridos em transição);

e retiro dos dias pacatos
- como se fossem os penúltimos de Pompéia
a ração necessária entreatos:

- dopamina para os últimos (antes da queda)
significados remotos
pautados por horizontes

[rinocerontes ao longe].

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

CONFISSÃO

Quando às vezes
insuportavelmente belo

torna-se tudo

os revezes
(insignificantes restos)

ouço-os fundo.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

DETALHE

...

loirinhos
pelinhos

pro lado
virados

(deitado
mosaico)

pros outros
desejo

(desenho
dos braços)

...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

AQUILES

O que carregam
em sacrifício
teus calcanhares
enegrecidos?

O que ressentem
tão rente ao piso
dos muitos pares
desassistidos?

O que pressentem
ao pé do ouvido?
(olvidos os lares
porque longínquos)

O que acarretam
do morticínio
- se do teu Hades
serão cativos?...

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

SAZONAL

Antes do fim das águas
já mostra esgotamento
a lavra da página
no seu preenchimento.

O seu estreitamento. O seu esvaziamento.
Quebrou-se o catavento (do vento das palavras).

Tempo parado parece. Mas acontece
do tempo escorrer sem entreter, e mal tecer
a teia leve que carrega o esquecimento.

[doutro modo:]

Tornou-se o rio de há pouco
fiapo de curso custoso;
entornou do leito exposto

o leite da cura (caldo de cálcio)
da sua arenosa fratura.

Vertido o líquido, partiu-se o pacto
entre o de fora e o por dentro - daquele

meio metro inteiro
malfeito que muito conteve...