terça-feira, 31 de dezembro de 2013

NOVO ANO EM BRANCO

... mais uma virada da ampulheta
da folhinha, da ceifeira - contra
as quais, rediviva, a vida esgueira
desde o nascimento (e faz de conta)
por entre perfeitamente a mesma;

daqui a pouco, novamente apronta
essa parada que nos reencontra

longa em agonia convertida
num tormento agora de alegria

ao dobrarmos a última esquina
do calendário que se retira

(branco, da porta da geladeira)

domingo, 29 de dezembro de 2013

RETROSPECTIVA

2013, 12, 11, 10...

Meu mergulho
introescuro
ponderoso

cauteloso
nunca orgulha
meu orgulho

do percurso

dos recursos

das recusas

das escusas

como escunas
aclaradas

enfunando
atracadas

postergando
esperanças
sem tardança

[porém note:]

sem pinotes

sem chicotes

sem lambança

(segurança
de um Quixote
Sancho Pança)

...

Meu orgulho
não fagulha
meu mergulho

face ao fato
reluzente
e abraçado

do abrasado
timorato
inconsciente

(entrementes
contundente)

limitá-lo.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

DEIXA

de quem ficará pra trás

Enquanto cofio meus pelos
entredentes brancos e pretos

desconfio dos teus cabelos
(entrementes castanhos belos)

por aí provocando efeitos
entre amigos de veraneio;

esse queixume junto ao peito
vindo ao crânio menos perfeito

(porque ciúme estranho ao íntimo
que entranho aprazível, ínfimo)

distraído atribuo ao tempo
entretido, tamanho o zelo

pernambucano pelo verão:

- lá verão teus os meus cabelos
sejam brancos, castanhos, negros

com razão despertando anseios
entre tantos dourados pelos...

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ALTERCAÇÃO

Emudecida a noite
escurecida a rua

esqueceria a lua
esclarecer a coisa

- enternecê-la outra
ensandecida a tua?

(de rua a tua lua?...)

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

DEZEMBRINA II

Lua natalina
amanhã minguante
nua e cristalina
faz-se doravante

(jaz agora adiante
da manhã sombria)

DEZEMBRINA

Coberto o exterior
é tudo interior:

- e penso anterior
ao todo ulterior.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

DEZEMBRO VIII

amnésia sazonal

Em dezembro
eu deslembro

(não me lembro
de setembro)

o trabalho
do argumento

que desmembro
e retalho

e picado
embaralho

pelo adentro
orvalhado

do carvalho
do meu centro;

e chegado
o consenso

(empilhado
em novembro)

de agulhá-lo
recosendo

concentrado
pra caralho

o refaço
sentimento

(e o disfarço
no momento)

deslembrado

- de dezembros?...

domingo, 22 de dezembro de 2013

DEZEMBRO VII

Nada novo sob o cinza

descoberto a cada esquina
encobrindo as avenidas;

algodão cujo avizinha
água sua porém limpa;

esporão sujo que adia
a lavadura de cima

(pois verter escadarias
chover desentenderia)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

DEZEMBRO VI

Neste tempo esquisito
- véspera do solstício

além de astro afastado
em cinza envelopado

da rua já apartado
- de chuva protegido

a ter comigo estado
na chuva agradecido

seria sol de fato...

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

PARAGENS HAVERÃO

Caminho para onde ninguém está
para onde ninguém mais caminhará.

Lugar por onde ninguém passará.
Lugar que mais ninguém alugará.

Lugar. Caminho. Espaço. Passagem.
Algo desobrigado, alguém dirá.

Para o andarilho pessoal, paisagem
impessoal, com suas trilhas à margem;

para o resto dos outros, miragem
imagens fugidias de viagens...

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

CREAMING MY FAITH

while listening classical music

Eric

epic

... ...
... ... ...
... ... ... ...
... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ...
... ... ... ...

clap clap clap

Clapton!...

[I feel free
in the presence of the Lord
(in the sunshine of your love)
after midnight:
- let it rain!
- let it grow!...]

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

VISCOSA

A lesma que gira a terra
gosmenta debaixo dela

cuja espessa pressa escorre
presa ao que lenta percorre

como de árvore carece!
em verde poste, parede:

- pois de ágape amor padece
o passo na cor que excreta

de cada dor que decorre
cada frescor que amarela...

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

DEZEMBRO V

Que tempo esquisito.
Que vento mosquito

pisando fininho
repica um caminho

sobre a pele esquiva

do que ele cindido

sob a pele arquiva...

sábado, 14 de dezembro de 2013

DA ÁRVORE

à cidade

Descendo

descendendo

descendescendo

descendencedendo

desce.

Cresce

(desde sempre
que se lembre)

subespécie.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

MADIBA

Alguém que dignifique o cálculo das consequências

impregnando-se de um intento eleito da consciência

e se responsabilize pelo hiato entre as grandezas
(princípios, diretrizes, objetivos, incertezas)

revelado pelas ações e através delas apenas

no inumano sacrifício pela humanidade alheia

(como fizeram uns poucos em nossa longa existência)

merece toda a vossa admiração e reverência.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

RENEGOCIANDO TRÊS DESÁGIOS

de presságios

Do labor a mais trabalho por lazer

(de no clássico sentido recriar
o porque reflexivo deve ser)

desencontrei-me pela idade do cão
coleirado por dívidas a salgar.

Tal a situação. Qual a questão senão

quantas vidas terei mesmo de saltar
até uma livre de maior apreensão?

Para o melhor juro algum cálculo haver
dou-lhe o passado de um pródigo a quitar

a fim de caso o presente perceber
que o futuro o bem desfrute de antemão!...

FOOTBALLS

... esta bola que se vê
(redonda, oval, coloré)

rola a bosta da tevê
(meu canal sophistiqué)

no coração das férias:

- qual paixão pretérita
delonga et cetera...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

140 SONS DE SÍLABAS

para as celebrações natalinas

Um sujeito cuja felicidade de gerar seus próprios problemas
com jeito cevando sua capacidade de irresolvê-los dezenas

e assim cultivado estabelecendo como seu aposto mecenas
o aprazer somar/subtrair/multiplicar e dividir fonemas

em insignificados poemas

exprimiria exatamente o quê

(postularia pontualmente o quê)
[esconderia estritamente o quê]
{possivelmente ponderaria}

neste natalício mês apenas?...

AGORA HÁ TEMPO

neste momento

Que gravitação?
Qual gravidade?

O que saldarão
de tal saudade?

[aquela à margem
da personagem]

Se folhas ao chão
testemunhassem

sobre planações
e aterrissagens

diriam botões
despetalassem?

Seriam chorões
por mais aragens?

Teriam senões
à realidade?

[aquela do grão
com validade]

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

COMO CREIO ESTA POESIA

e à crítica eludiria

As condições de produção
(antes da gente, de uma ação)

definem o que vem à mão
à língua, boca, teclado
(antes da mente, coração)

tudo junto e misturado
porém desconectado

[as Adorno's constellation]

e mal (re)conectado
por tal esforço arbitrário
a ver significado

[Freud's rationalization]

de modo que reprodução
das condições ao contrário...

DEZEMBRO IV

... aspirar o espesso

nem quente nem fresco

bom ar de dezembro

derruba pra dentro

seu adensamento

(meu entupimento)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

CINESTÉSICA

As costas doem
me desconstroem;

moem de fato
(até o palato)

férias do tato
com que olfato

sentidos latos...

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

ZERO CEB

A luz caiu.
Dizer o quê

se o que se vê
reduz a estar

de peignoir

o que existiu?

DEZEMBRO III

Mãos enormes do deus do tempo
no dia cedo escurecendo

já vão disformes vento adentro
de um quadro a outro embrutecendo

até que dão adeus aos dedos

de água pia descendo veios...

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A NOITE PASSADA

sozinho contigo

No silêncio da escuridão
escuto a razão dizer não

aos amores que nem estão.

Mas em vão. Mais um pouco, e irei
a nenhum outro lugar, sei

embora sonambulando
(o sonho me deslocando).

Mas antes de mais um pouco
pulsa apenas isso que ouço

agora perambulando
(o sono me descolando)

até o teu ótimo colchão.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

INTRATÁVEL

Colapso
do lapso

de crer no aço

do que faço

e desfaço

- como um traço
apagável

que então ranço
impagável...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

NO ESCRITÓRIO

Um ventilador gigante
girando mas gentilmente

transparece que possante
calor faça suavemente;

um cadastro vigilante
anotado tenazmente

ocultando qual farsante
o fraude jaça mormente

se funcionário galante
que ao descrevê-lo comente

de qual jeito interessante
à secretária somente:

- o que um fichário vacante
arquive do peito à mente

da cinza sombra abrasante
dessa redoma inclemente...

PAUSA CELEBRATÓRIA

da pequena vitória

As tripas reviradas
das ripas chulipadas

na hora da virada
(agora tudo ou nada)

torcida desbragada
na vida encruzilhada

- é natural, não achas?

Passada a enrascada
da lida encalacrada

a horda de estocadas
das normas deslocadas

(o mal numa tacada)

- as pipas despregadas
à nossa volta, o que achas?...