sexta-feira, 31 de julho de 2015

TEMPLO DE VIDRO

No aeroporto
meu desconforto

com o ostensivo
senso acrítico
de um modernismo
moderno pouco

(um entre os ismos
do consumismo
mais boquirroto)

é meu conforto

[não ser tão tolo]

quinta-feira, 30 de julho de 2015

O INDESEJADO DA HORA

e suas formas: história, lembrança, memória

Adentro, agora mesmo
afora, neste momento

o passado, meio a esmo
perpassa, desenterrando

meu passado: vem por todo lado!

Um passado, de repente
repassando no presente

debruçado no meu poente
se convém pouco avistado;

ente de outro continente
embrulhado de presente

sobrevém de trás à frente:

- na vigília, no sono
na penúria do sonho;

na geleia que ponho
na peleja que colho

sem ideia de como;

sem que eu o passe a limpo
sem que eu o queira vindo

sem que cerveja ou vinho
sem que eu o inveje findo...

O passado me vaza
eu o vazo trespassado:

- ambos ultrapassados
datados, etiquetados

e eu tentando desabraçá-los!...

[o instante - enorme lá fora
o adiante - o que me resta por ora

nesta vida implorando por vida

(o bastante - a estante, a prosa
a poesia corrida, a corrida...)

- e vem o passado e sua tropa
assando o esvaziamento das tripas?!...]

Não bastasse eu estar lento
não bastasse desatento

(nem brancos meus pelos nem negros
nem peles castanhos crescendo

a boca, escurecendo
a mente, se espremendo

nenhum sentimento)

e me apagasse contra o vento

se é passado - vem desconvidado:

- demônio verdoengo
importuno legado!...

terça-feira, 28 de julho de 2015

NO DESERTO

retirado da Laguna

Me sinto um Rommel
um Camisão

- um coronel
sem kamikazes

se retirando
com seus bordados

nos seus farrapos
meio acercado

by Montgomerys
- but del Chaco...

...

(sonhei o Rommel de camisão
esburacado num carroção)

[já não bastasse
o lado errado

em vão custasse
estar errado]

domingo, 26 de julho de 2015

EM SUMA

Eu comecei assim
sem fundo.

Sem forma, conteúdo
vazio no todo.

Depois, veio o mundo
e eu, enfim

recheio de tudo
(e o saco cheio, de novo):

- do cubo, dos tubos
da roda, do tempo

da rosa dos ventos
do quadrado em que circulo.

Agora, escaleno

subo a escada de cupins
para os fins que contemplo

[dos insumos no capim pela raiz]

sábado, 25 de julho de 2015

REVISITA 76: ALADO

Um muro súbito teria erguido
Ou este hiato é o abismo abrindo
Rachando o piso?
(pergunto, ruflando as asas)

As nossas coisas escuras
Embora às vezes pontiagudas
Amo sem arestas - de graça;

Embora contraditórias
(talvez porque delicadas)
Amo-as claras - paradoxalmente
Sem dores, pendores ou amarras.

Mas enquanto eu dormia, abraçado
Às certezas que o teu corpo trazia
Tais coisas se fizeram prisioneiras
De prozaques, efexores, aropaxes:

- a neurotransmissora guerrilha
promessas guarda datadas
qual dia das mães - o que delas não teríamos

da felicidade de branco vestida
laboratorialmente obtida
encapsulada?

Química da alma que vaza
Torpor que beijo algum desperta
De beleza adormecida...

27/08/2002

sexta-feira, 24 de julho de 2015

SEXTA, 24

maio, 17

segunda, 14

julho, 29

quinta, 27

fevereiro, 8

domingo, 1º

outubro, 32...

Quantos calendários

- tanto os necessários
(a favor, contrários)

quanto os arbitrários
(com itinerário)

e os involuntários
(esses, temerários) -

que o tempo oferecer
no espaço de viver

terei de perecer?...

quinta-feira, 23 de julho de 2015

AS LEIS DO IÊ-IÊ-IÊ

na pedagogia da cenoura

{ei-las:}

1. instrução
ensino
educação

é (sic) motivação
motivação
mo-ti-va-ção:

- motivação
para participação.

1(b). participação
- é instrução;

1(c). instrução
- é ensino;

1(d). ensino
- é educação;

1(e). educação
- é lazer;

1(f). lazer
- é entreter;

1(g). entreter
- é prazer;

1(h). prazer
- é felicidade;

1(i). felicidade
- é motivação:

- motivação
para participação nos processos e seus resultados.

{questões (im)pertinentes:}

(mas, e quanto ao resultado dos resultados?)
[e quanto ao(s) termos/efeitos/derivações/consequências
do resultado dos resultados?...]

{assim sendo}

x. qual daqueles sempre é cedo?
(o que deles vem primeiro?)

y. qual desses nunca é tarde?

[sua contabilidade?]

quarta-feira, 22 de julho de 2015

TECNOLÓGICA

Os meios

são os fins
dos meios

são afins
aos meios

são a fim
de meios...

São meios

o meio
dos meios:

- são o fim
dos meios

e o fim
dos fins.

[quanto aos fins

enfim...

(alheios)]

GAMIFICAÇÃO

na educação: questão

... enquanto virtual

(se meio virtual
para um fim real)

o quanto real?...

[se quando real]

GAMIFICAÇÃO II

na educação: lógica

Jogo:

- logo
posso.

Jogo:

- logo
passo

[de fase
de turno
de classe
de curso

de quase]

terça-feira, 21 de julho de 2015

VENTURA

Parada
(pintura)

mirada
[cintura]

corada
{puntura}

exalas

sacadas

floradas

exatas.

CONFEITARIA

Vandecira

natalícia

a delícia

do teu dia

(doceria)

[padaria]

{poderia}

todo dia!...

20/07/15

sábado, 18 de julho de 2015

REVISITA 75: TEZ

Esses dias lassos correm saturados
da tua presença; naturalmente a tua
tez escura, por sobre nossas farturas
sobe aos lábios quenturas, pernas e abraços...

Teu tempo absoluto, presente agora
corta-me dentro e fora; da carne exposta
reviro outras vísceras, antes de ativas
solvendo carências no gozo corrente...

Mas o irrevogável, maré recorrente
quase revoga-me; como se à lua nova
se pedisse estagnasse a água grossa
que sal tortura uma velha queimadura...

O velho à tarde, indo destarte - que importa?
Cedo eu gostaria de outros dias e horas...

(esta nudez, antiga
face a tua tez, por ora
na verdade, saliva
rediviva, jaz morta)

30/08/2001

sexta-feira, 17 de julho de 2015

INSONOLÊNCIA

Nesta estadia
da calmaria

(noites e dias
de calmaria)

[sem vento ou brisa
pois calmaria]

o que haveria?

O que teria
tal calmaria?

O que seria
(definiria)

bem calmaria?

(dela veria
que acalmaria?)

Que pensaria
(em calmaria)

dessa estadia
sem vento ou brisa?...

[na calmaria
à noite há dia:

- pernoitaria
anomalia

que o dia adia
e a noite expia]

***

{o que teria
tal calmaria

a ver com minha?}

quinta-feira, 16 de julho de 2015

KAMIKAZE

uma afinidade

... avindo
talvez calhe

tão lindo
do teu talhe

ubíquo
o rebrilho

de um detalhe:

- dois entalhes
oblíquos

sumindo
sorridos

de tua face.

terça-feira, 14 de julho de 2015

INTERGERACIONAL

Vozes dos descendentes
que em mim falam, crescentes
no seu frescor recente;

vozes adolescentes
que a mim faltam, descrente
do favor da corrente

dizem pedir, ardentes
ao futuro silente

que eu não me assuste, à frente:

- não será diferente
do que foi, finalmente
com quaisquer ascendentes.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

REVISITA 74: NO ESPELHO

É esta a sala de espelhos
onde te buscando venho

nas ondas entre reflexos
quando disso nada tenho

(em que nada disso fico)

- nas confusões meio perdido
das pororocas que te agito...

No entanto atento o quanto
remanescerei todo

alheio admirando
o que oco e luminoso

esvazia do insosso
recheio a tua espuma?...

11/04/1999

domingo, 12 de julho de 2015

QUEREIS MAIS?

when enough is never enough

Sempre mais!
Sempre mais!

Nunca é mais!
Nunca a mais!

- ademais
algo a mais

é demais?

(um a mais
dois a mais
três a mais

não cessais?)

[dez a mais
cem a mais
mil a mais

não contais?]

Sempre mais
nunca é mais!

{dedo e mais
mão e mais
braço e mais

eu jamais}

sábado, 11 de julho de 2015

REVISITA 73: GAROTA SÉRIA A PASSEIO

Vejo a gêmea da garota da lua
pés de mimo retos pela rua
num passo, acho, de um lugar passado
que ainda pressinto;
canto de alameda colorida de menino
que tornei cinza;
sonho róseo dos meus olhos
desbotado no azar dos meus óculos...

A moça que leve andava, caraminholada
tão agora concentrada, penso, absorvida
(seria a mente minha?)
passa rápida, a mover-se tão precisa
(e à minha imaginação torcida)
que parece jogar, num já indo pela vida
a próxima cartada - garota danada!...

Sua fronte ruiva riscada (preocupada?)
faísca sob o sol, cega a minha vista
(mal acordada)
da imagem mais alva, deusa mais grega
quanto enfim irreal;
quando assim a vejo, uma criatura de marcas
ondula concreta, a tempo de garras...

[mas como a pressinto funda, e pura
driblando o lado escuro da lua
importa nada: apesar de mim, de ruas
de pesadelos, horrores, loucuras
a cartada é sempre dela, tua; e toda a vida]

26/07/1998 

sexta-feira, 10 de julho de 2015

BRASILIENSE

poema sobre a estação seca

Ouro brilha
de planilhas

pela ilha
das vasilhas:

- da côncava
grã-matilha

à convexa
camarilha

rabadilhas
encarquilham

de quadrilhas
que encorrilham

armadilhas
e partilhas...

quinta-feira, 9 de julho de 2015

REVISITA 72: SETAS

três haicais

O meu quarto
acordou suado
o teu verão.

***

De que arco
refez-se à frente
o ar riscado?

***

A seta cede
da seda tua
a nua pele.

1997

quarta-feira, 8 de julho de 2015

VELHO CAVALO A DOMAR

da luta que reluta

Como cuidar de um corpo
contra si, de alma e corpo?

Como movê-lo agora
cedo, que é boa hora?

Como ter provimento
antes de vê-lo ao vento?

Exercitá-lo um pouco:

- exercitar o corpo
como se fosse idoso?

...

Antes que a alma o deixe
resfriado como um peixe

1. gerar primeiro um passo
(o mais difícil ato);

2. encaminhá-lo a marchar
(é mais fácil, de fato);

3. evoluí-lo até trotar
(mas galope, nem pensar)

[velho cavalo sem ar]

terça-feira, 7 de julho de 2015

REVISITA 71: RUIVA ORQUÍDEA

Enfocar, e abordar, e estudar.
Anatomizar.
Transparecer, desdizer...

Classificar o caleidoscópio floral semeado
por um par divino de lábios
no sapo pródigo do princípio:

- perderá seu mágico encanto, metafísico
se sob olhar raso, analítico - de óculos?

Talvez outras cores. Mas não a flor dos meus ósculos
de zangão; de perfumes e amores
(de feição irredutível, natureza insubmissa)
alheios a razões que não as das paixões.

Ruiva orquídea, excêntrica - flor de única formosura
túmida, terapêutica beleza - capricho em minha estufa

síntese indizível dos cheiros e humores
(e odores de jardineiros)
do Éden primeiro das criações...

06/07/1997

IN THE MIDST OF WINTER

Uma tarde calorenta
à vontade e desatenta

cai pesada sobre a mesa.

É uma tarde fraudulenta
que nos arde e desalenta

a que estraga a sobremesa:

- nem que ensolarada seja
ou nublada se arrependa

se poeira esquenta - é poeirenta!...

QUE O MÉTODO DURE

e o tolo perdure

Sonhei que cairia
que suicidaria

(a vida caíra
depois se acabara);

mas sonho não mata
(sua cova é mui rasa)

- e assim percebida
a queda não vinha;

e como não veio
(sou eu que o descrevo)

que sinto, que penso
do tempo suspenso?

Se é sonho lógico
se é pedagógico

- tentativa e erro?

[se for pesadelo
tentativa que erro?...]

segunda-feira, 6 de julho de 2015

QUADRA (QUASE) RETIRADA

... este cotidiano banal-burguês

em vão citadino, tão descortês

- quisera não querer mais seu freguês!

[pudera aposentar-me de uma vez!...]

HAJA DÊ-ERRE CONSIGO MESMA!...

Vamos falar de expectativas.
Conversar sobre expectativas:

- aquilo entre nós que recíproco
é mutuamente respectivo.

Vamos tratar de expectativas.
Cuidar de conciliar diferenças

nas costas largas desta querença:

- diferenças de crença, descrenças
de personalidade, nascenças
de projeto, vontades, ensinos;

- diferenças de classe, partidos
de transporte, passagens, destinos
recursos, escolhas, equívocos

da longa lista constitutivas.

[no tatibitate dos corações
redesenhando infantis soluções

cuidemos de operar seus sentidos
(de vedar de olhar seus orifícios):

subtrair, dos cafés, cafunés
rodapés a trair parangolés]

domingo, 5 de julho de 2015

ANIMA MORTIS

O desânimo
pusilânime

que me acomete

magnânimo
faz-se equânime:

- o que oferece
do que promete

(que se repete)

por exânime
não acontece.

sábado, 4 de julho de 2015

REVISITA 70: SOBRE O MEU AMOR POR TI

Se o que existe de bom na vida

perdura em alguma florada eterna

num canto de galáxia,

buscarei, e trarei a água azul-clara

que lembrar-te-á, e às rosas da tua sacada

o que existe de bom na vida.

O que perdura em alguma florada eterna

num canto de galáxia.

03/07/1997

sexta-feira, 3 de julho de 2015

POESIA TEMPORAL

... oito e trinta e quatro
da manhã divinal!...

(da manhã ancestral)

[do amanhã eternal]

{de manhã, habitual}

... oito e trinta e cinco
pelo açúcar e o sal...

(pouco não fará mal)

... oito e trinta e sete
e um sol fenomenal...

... oito e trinta e oito
(que farei, afinal?)...

... oito e trinta e nove...
... oito e trinta e nove...

... oito e trinta e nove...

quinta-feira, 2 de julho de 2015

PELA DEMOCRACIA

contra a plutocracia

A dívida grega.

A lívida grega

da foto funérea

(mulher de beleza).

[cadê deusa Atena?

Leônidas? Péricles?

suas efemérides?]

A dívida etérea

(qual dívida aérea)

- e a dúvida pétrea.

Que a dúvida grega

rejeite quem pensa

(da Helena que ajoelha)

que a Grécia já era!...

quarta-feira, 1 de julho de 2015

REVISITA 69: O CANTAR DA HORA PRÓXIMA

Sob o troçar das nuvens, a conversa com o tempo
Ora calma ou sibilante, vez tronante, acareada
Converte-se, na calçada, meu passo ao léu do vento
Em tardes de pensamento, contigo e um sol brilhante;

Mas quando o clima hesita - e a brisa, então tão tímida
Mal caminha - num momento esquecido de venturas
Toca o rosto dos teus dedos meu medo de perdê-los
Embora fina a chuva, sob um céu último de ilha;

O ser crestado que briga contrafeito a tua falta
Cansado dos pedaços travestidos de certezas
Quer a paz das inteirezas - o rito dos abraços;

O ar frio que anoitece o entardecido no horizonte
No desvão da lua, pela costura das estrelas
Enternece, da líquida memória - o fim da chuva...

02/07/1997