Vejo a gêmea da garota da lua
pés de mimo retos pela rua
num passo, acho, de um lugar passado
que ainda pressinto;
canto de alameda colorida de menino
que tornei cinza;
sonho róseo dos meus olhos
desbotado no azar dos meus óculos...
A moça que leve andava, caraminholada
tão agora concentrada, penso, absorvida
(seria a mente minha?)
passa rápida, a mover-se tão precisa
(e à minha imaginação torcida)
que parece jogar, num já indo pela vida
a próxima cartada - garota danada!...
Sua fronte ruiva riscada (preocupada?)
faísca sob o sol, cega a minha vista
(mal acordada)
da imagem mais alva, deusa mais grega
quanto enfim irreal;
quando assim a vejo, uma criatura de marcas
ondula concreta, a tempo de garras...
[mas como a pressinto funda, e pura
driblando o lado escuro da lua
importa nada: apesar de mim, de ruas
de pesadelos, horrores, loucuras
a cartada é sempre dela, tua; e toda a vida]
26/07/1998