sábado, 25 de julho de 2015

REVISITA 76: ALADO

Um muro súbito teria erguido
Ou este hiato é o abismo abrindo
Rachando o piso?
(pergunto, ruflando as asas)

As nossas coisas escuras
Embora às vezes pontiagudas
Amo sem arestas - de graça;

Embora contraditórias
(talvez porque delicadas)
Amo-as claras - paradoxalmente
Sem dores, pendores ou amarras.

Mas enquanto eu dormia, abraçado
Às certezas que o teu corpo trazia
Tais coisas se fizeram prisioneiras
De prozaques, efexores, aropaxes:

- a neurotransmissora guerrilha
promessas guarda datadas
qual dia das mães - o que delas não teríamos

da felicidade de branco vestida
laboratorialmente obtida
encapsulada?

Química da alma que vaza
Torpor que beijo algum desperta
De beleza adormecida...

27/08/2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário