segunda-feira, 16 de abril de 2012

CONEXO COTIDIANO

O quadro da solidão absoluta
[é como]
o quadro de uma pintura sem moldura.

Uma clara atenção concentrada
sobre um tênue pedaço do nada

oculta a verdade da tela infinita:
[seja]
escura/cinza/colorida - contínua

sem nada que o substitua
[o quadro]
(porque continua);

nada que o separe da noturna

rua sob a prateada
face sem graça da lua.

Nem antes - ante o parapeito
de mais um precipício estreito

(ademais de um sonho desfeito)

o quadro da solidão absoluta

pinta a ruptura

da cósmica brutalidade
una - de qualquer realidade

última/primeira/terceira

- na segunda-feira.

16 comentários:

  1. Lendo este, lembrei desse: Emily Dickinson – There is a Solitude of Space. Poucas linhas que dizem muito :)

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    1. Maria, não conheço Emily Dickinson, mas vou ver esse... Grato!

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  2. acho que você lê dentro de mim, sem me conhecer. texto belíssimo. grata pelo deleite.

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    1. ... acho que não sabemos muito do que fazemos. Grato pelo cumprimento!

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    2. Acho, até, que não fazemos muito do que sabemos. Por medo. Por tédio. Por falta de graça ou de uma solidão absoluta. De que forma estarei completa e absolutamente sozinha se tenho a mim, queira ou não queira, goste ou não goste, dia e noite, ininterruptamente?

      P.S.: Qual é o seu nome, afinal e no final??

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    3. ... curioso um comentário anônimo pedindo identificação [risos]. Meu nome é Sérgio. E-mail: sereuclides@gmail.com
      Quanto à relação entre saber e fazer, creio que temos de fazer independentemente de sabermos - uma questão de funcionalidade neste mundo. E neste, concordo contigo, não creio que estejamos sozinhos, seja conosco ou com os outros (não importando, aqui, a qualidade das nossas 'conexões'). Daí, a ilustração que proponho do quadro de nossas vidas (mesmo quando vividas solitariamente) como sem moldura...

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    4. [mais risos]... Tem razão. Uma mulher sem foto, sem nome próprio (nem impróprio), querendo saber de você! Acho que não me fiz entender. Fiquei pensando se era Mauro Belmiro, Belmiro Braga ou conjunção... Você superou minha expectativa, senhor Sérgio Poeta. Grata pela delicadeza.

      Sobre fazer, sabendo ou não: agir por instinto? de olhos vendados? fazer sem lógica, sem razão??

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    5. Belmiro Braga, poeta popular mineiro (1872-1937), foi uma das muitas "vítimas" da onda modernista na literatura brasileira - relegado ao esquecimento, sobrou nome de município em Minas. Era irmão de uma das minhas bisavós maternas.
      Sobre fazer, sabendo ou não - uma das minhas ilusões mais caras é acreditar que posso trazer razão e paixão de mãos dadas!...

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    6. Belmiro Ferreira Braga, membro da Academia Mineira de Letras, você me encanta:

      A MULHER

      Ella, dos 15 aos 20, nos enleia,
      dos 20 aos 25, nos encanta,
      dos 25 aos 30, não ha feia
      e, dos 30 aos 40, não ha santa.

      Dos 40 aos 50, ainda é sereia,
      dos 50 aos 60, desencanta:
      — Se for solteira — o proprio céo odeia,
      se casada — de nada mais se espanta.

      Dos 60 aos 70, não descrevo;
      embora guarde n´alma um doce enlevo,
      traz nos olhos da magua o espesso véo...

      Seja avó, seja tia ou seja sogra,
      toda velhinha meus carinhos logra
      por lembrar minha Mãe que está no céo...


      Homenagem feita, sem licença prévia, digo sem receio: relegado ao esquecimento seremos todos.
      Exceção para os grandes. Aqueles que não são do tamanho da própria altura (desculpe, Pessoa!).

      Sobre ilusões: acho que todas nos saem caras. Diferente dos sonhos, que até pagamos pra ver...

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    7. ... acho que este foi um momento sexista do tio Belmiro [muitos risos]!!!... Enfim - um homem do seu tempo (constatação que explica, não justifica). Felizmente, há muitos outros momentos seus, variados e diferentes... Obrigado pela lembrança!
      Sobre esquecimentos - entre grandes e pequenos, o tempo terminará por empoeirá-los sem distinção (desculpe, Pessoa!)...
      Sobre sonhos e ilusões: gostei tanto da distinção quanto do apreçamento - mas só nos damos conta de ambos e ambos quando confrontados cotidianos...
      PS: há um poema acima, acerca de um pedaço de nossa conversa.

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    8. Ops!! plural em meu "relegado" acima, por favor!
      Depois volto para novas considerações. A prosa tá ficando boa, por aqui...

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    9. ... voltando à nossa prosa.

      Não estou convencida de que todos serão esquecidos, com o tempo. Beethoven, Mozart e Bach, p.ex., continuarão vivos em mim e em zilhões de outras pessoas, enquanto existir tempo e gentes.
      Por favor, ouça esta obra de Mozart e diga-me se há um grãozinho sequer da poeira do esquecimento nela:

      http://youtu.be/P6riJuxfPIY

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    10. Infelizmente, não consegui acessar a peça de Mozart pelo endereço que você me deu (tentei algumas variações dele). Enfim... eu me referia ao tempo cósmico - da escala das estrelas!...
      PS: vamos continuar o diálogo no espaço do poemeu de hoje; sou cinestésico (vide neurolinguística) - duas frentes de trocas neste nível são demais pra mim!!! [risos]

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  3. Alguns excertos de obras de Mozart e Beethoven foram lançados ao espaço sideral na esperança de um encontro estelar com outras civilizações... Enfim, continuo acreditando que alguns mortais serão lembrados até nos confins do Universo infinito e por toda a eternidade... Quanto a peça de Mozart, posso enviá-la para seu endereço eletrônico, caso queira. Será um prazer compartilhar tanta beleza com você.
    (um sorriso apaziguado]

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    1. ... sim, num registro da Voyager, certo? Espero que um dia nos respondam... Pode ser também que sobrevivamos a esta vida - agnóstico, aguardarei pra ver...
      Por favor, me envie a peça de Mozart! sereuclides@gmail.com
      [outro sorriso]

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    2. Sérgio... a beleza da literatura e da música será a única responsável por este acaso... se é que o acaso realmente existe!
      Beatriz

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