Entre várias coisas por fazer
nada faço - tal como o paliteiro
cheio, de onde um único, primeiro
mísero palito recusa-se a descer...
As muitas ideias, com prazer
todas postergo - refeito o cinzeiro
disfuncionalmente prisioneiro
dessa condição antisséptica de ser...
Num ventre mental (este perverso)
toco o mau momento em que demoro
congestionado, e verso expectoro
desempoçado ato, embora havendo
nenhum querendo prestar-se
ao papel de bem livrar-me...
Os versos daqui me calam. Não posso, a cada vez, escrever "sem comentários de tão bonito". Você merece melhor, mas não sei fazer à altura. Ofereço meu novo antigo amor, Macedonio Fernández, páginas 176-177 do Museu do romance da eterna (primeiro romance bom), da Cosac Naify. Li e pensei em você, na qualidade de poeta. De imediato.
ResponderExcluirCAPÍTULO VI
(Para preencher a ausência de seis anos e suas dúvidas)
Chamam?... É meu amor.
Há beleza: para acariciar
A ânsia de um mundo,
Para adormecer em lassidão de conquista
A peregrinação dessa busca descaminhada e pressintente
Que é senso da realidade.
Busca sem conhecer caminho nem como é o desejado,
Que será aquilo que lhe tem guardado aplacamento
E trocará sua dor de sede por delícia.
Em todo o sonho do real
Há Beleza: para deter toda a Dor.
Respirantes, Humanos, os que, inumeráveis, cozeis incessantes o ar do mundo, pedido sem trégua em vosso peito, e o elevam vossas bocas eternamente abertas a um céu eterno, seres do pulsar e da voz que se alegra ou sufoca, que pede, talvez todos os dias, o cessar e a eternização alternante, há beleza para dar-nos toda a intelecção do Mistério, e para parar toda a dor.
(Obs. minha: Continua maravilhosamente, mas cansei de digitar e acho que vai ser melhor ainda te dar este livro como presente da saudade.)
Carolzita,
ExcluirGostei especialmente da parte que credita à Beleza "deter toda a Dor." Outro modo de dizer que, sem a arte - sem a ressignificação da vida na perspectiva das suas melhores possibilidades -, simplesmente não há salvação...
Vou aguardar o livro. E você, trate de vir mais aqui, viu?
Beijão!