Tenho de falar do amor que me aluga
perplexo, andares inacessíveis de mim;
do meu amor-invólucro sobre as pernas
esguias dela - bípede passante, sem nexo
movendo incessante o cardíaco plexo
(que sonho, louco, daqui a pouco habitar)
de caminhante solitária das vias obstruídas.
Tenho de tratar do amor que me ocupa
carente das largas e verdes perspectivas;
faz-me doente dela a tristeza dos poemas
que escrevinha; ponteiros mal partidos
guias perdidas, lembranças desmemoriadas
de um tempo não vivido (como então lhe digo
que sou a vida, a verdade - o caminho?...).
Tenho de cuidar do amor que me inunda
de lágrimas virtualmente investidas, vertidas
pelas janelas semiabertas quando fecham
instantâneas, implacáveis no cerrado soslaio
das intenções, desconfiadas de atenções
(porque a cyber-dor que se realmente sente
deveras desmente-se na terra do nunca).
Tenho de amar o amor que me cura
definitivamente; há tanta sanidade oculta
debaixo das palavras, por cima das estrelas
das toalhas plásticas de mesa; e beleza
nas minúcias que o olho não capta da poeira
dourada de coisas corriqueiras, ordinárias
e mágicas - o limiar onde afinal te encontro...
07/04/2005
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