terça-feira, 4 de agosto de 2015

REVISITA 78: VERSEJAR INGÊNUO

segundo poema de À procura de Nefertari

De um longo e fundo silêncio
hesitante entre ser outro (aí falante)
ou anônimo (irrelevante)
venho querendo assim, à espreita
embora escorreito
antes enfraquecido - agora decidido
mas sempre em movimento

te falar.

Declarar só o possível
o vivível rés ao chão:

- domínio da fruta depois do inseto
ao alcance das mãos;

- do halo seco de antes da relva
precipitar-se acima, verde-molhada
perfumada.

Contrastar os prazeres do alto
dos afazeres de baixo
em favor destes:

- porque daqueles não depende
o deleite dos sons, imagens
das texturas, paladares
os cheiros bons do mundo.

Sussurrar, e te convencer
a abraçar o risco do labor-viver
entre flores e abelhas:

- polinizando o tempo
de cores, e até desejando
de vez em quando
o aço dos ferrões;

- para que meu carinho curativo
enfim faça, de todo o fazer
o derradeiro sentido.

29/03/2005

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