sexta-feira, 29 de julho de 2016

REVISITA 145: SONHEI-TE

Irrompeu, na madrugada quente e fria
fenda onírica, por onde luzidia
inadvertida, vieste mal bem-vinda
silenciosa, entre suores e zumbidos

(eu não quis acordar tais amores
numa realidade de mosquitos).

Ali me senti, contigo embevecido
como atado, numa bolha envelopado
àquele meio frágil, fino o tecido
entre o meu sono, este sonho e a vigília:

- o braço morno enlaçando o teu hálito
a mão solícita de outras se ocupando
nossos olhos e sorrisos entrançando
teias úmidas e tímidas de aranha

(muda arquitetura de palavras).

E passeávamos, as pernas tropeçando
na atenção que a nós somente dedicamos
(na verdade, todo o coito girávamos

seguindo uma valsa surda e torta
num torto círculo imaginário).

Ali fiquei, num varal dependurado
contigo por um fio, suspenso o tempo
um minuto sonho-bolha delicado
ligado àquela esperança desatada

(de tão vã de não ver
a chegar e a romper

dolorida a manhã).

08/01/2002

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