quarta-feira, 3 de agosto de 2016

REVISITA 146: JANEIRO

Em janeiro deste ano do Nosso Senhor incansável
travas decerto entrevadas de medo enfim descansaram:

- vazou entre duas noites
certo azul imprevisível
como chuva intermitente
sob um céu desprotegido.

Nosso Senhor fidalgo, neste janeiro simpático
concedeu-me outro coração, de invenção algo recente
(por dentro do meu, o dele):

- insidiou-me desfaçada
tal alegria embriagada
que transbordou-me champanhe
dos campanários de luas

insolente pelas ruas.

Nosso Senhor físico, jardineiro metafísico
plantou raro o seu janeiro
num jarro que movimento:

- formosa rosa morosa
carnívora dor bípede
impossível mas provável
botão colorido diário

(Eva fêmea terna e dura
teus beijos costuraram-me
deitaram-me até a raiz
terra lavrada cicatriz;

Eva gêmea de costela
se tua lâmina talhou-me
o sangue mais cabralino

de esperanças coagulou-se).

...

Este Senhor Nosso, pontualmente mefistofélico
avisou-me, contudo na vida, que tudo tem prazo
qual o seu tempo de preço:

- no feérico fevereiro
dourado carnavalesco

(hora de bijuteria)

sopra outra ventania.

12/02/2002

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