terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Soneto clássico de um certo tipo

por Aloísio de Carvalho (1866-1942), poeta e humorista
baiano, observador atilado da nossa realidade

"ADESÃO

Eu adiro, tu aderes, ele adere.
Todos nós aderimos prontamente,
a questão é ficar comodamente,
sem perder os proventos que se aufere.

O que se fez, está feito. Derramar
sangue, por causa disto, é insensatez,
desde que, para mostrarmos altivez,
basta a prosa da sala de jantar.

Quem tem mulher e filhos, meu amigo,
não ser prejudicado ao mais prefere.
Vir pra rua brigar - não é consigo;

em conflitos assim não interfere;
por isso, nos momentos de perigo,
eu adiro, tu aderes, ele adere."

Aloísio de Carvalho, "Adesão". In Livro dos poemas: uma antologia de poetas brasileiros e portugueses. Organização de Sergio Faraco. Porto Alegre: L&PM, 2009, p. 294. 

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