domingo, 19 de novembro de 2006

COMEÇO DO FIM DE QUALQUER PRETENSÃO POÉTICA

(o porquê de bem cuidar do físico que mal registrar o anímico)

[não tenho mais vontade de escrever num silêncio amolecido de quem mal exercitava os sentidos e acabava encerrado num labirinto-com-labirintite e dores nos pés, nas costas, nos olhos desfocados borrando tudo (borrei o teu rosto da memória, meu bem!) - daí, que pensamentos, que sentimentos!...]

Adventício és, nublado horizonte
Claramente espírito nesta límpida apreensão
Ao alcance da mão trêmula:
- Flâmula ilusão, olímpica onipotência!

(embora senil onisciência
que não tardará tanto quanto pensa)

E passando asfalto, embaixo, o Eixão
Dos passos bissextos de atleta acavalado
Correndo urgente do destino geriátrico:
- De onde o medo, em qual enredo?

Os músculos, esqueço-os atrofiados
Na imaginação; se travam, recalcados
É da cristal disposição desta euforia
Anestesiada das vergonhas:
- Das peçonhas da idade...

(otimismo naturalmente dopado
por todas endorfinas do universo
disponíveis nas veias da cidade)

Se desentupo artérias, prometo férias
A tudo em mim que rui ruidosamente
Da gravidade em frenética atividade:
- Dores seculares cheias de vontades
na enfermaria encalacrada da razão.

(mas que não deterão esta quieta promessa
da decadência adiada em lenta queda
de flores sempre frescas sobre a tumba!)

[ah, que pensamentos, sentimentos
me acometem assim físico, o caldo bioquímico
desse humano sacrifício dominical!...]

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