quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Cidade dos sonhos

para mitigar a saudade da melhor cronista do mundo

Tenho amigos de infância que a vida se encarregou de deixar longe de mim. Venho do interior de Minas Gerais, de uma terra esquecida pelo tempo, onde o futuro ainda não aconteceu. Lá, meus amigos esperam por alguma coisa que nenhum deles sabe bem o que é, mas esperam. Indefinidamente.

Vim morar na capital do país e uma distância, muito mais que física, nos separou. Quando volto à minha cidadezinha, encontro-a exatamente como deixei. Os amigos também, quase iguais, não fosse o castigo dos anos. Para eles, vivo longe demais. Bem mais que os quatrocentos quilômetros marcados nas placas à beira da rodovia.

Para eles, moro na cidade dos sonhos. Chique. Os vizinhos que me dão bom dia são aqueles que os jornais exibem: deputados, senadores, ministros e o presidente da República. Acreditam que, por aqui, não vejo miséria: carros imponentes deslizam em asfaltos sem buracos nem lixos; o céu incomum é igualmente azul para todos; o verde abundante traz sempre a sensação de paz e conforto.

De certa forma, contribuo para manter a imagem que meus amigos formaram de Brasília. Quando vou até eles, levo fotos brilhantes que revelam o céu realmente azul, mas escondo que ele brilha menos para alguns. A arquitetura majestosa dissimula o contraste que eles não vêem. Melhor assim. Talvez o que aguardam seja exatamente isso: que os filhos ou netos cheguem até onde cheguei e testemunhem o futuro que eles só conseguiram ver pelas lentes da minha câmera.

Ju

11/07/06

Nenhum comentário:

Postar um comentário