três fragmentos
O calor já não é tanto; a umidade absorve gradativamente minha indisposição. Estou me adaptando.
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Belém é melancólica. Parece mulher triste e maltratada. Ouço que desleixada e suja por disputa de filhos ilustres - mulher de malandros coronéis, caprichosos e abusivos. Porém, a cidade mantém certa beleza - a beleza do casario antigo, da copa unificada das mangueiras solidárias... Belém é ultimamente bela - embora comprometida pela velhacaria autoritária, que promove a novidade malfeita e com esta bem coexiste.
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A tarde é chuvosa sempre. Nuvens negras cobrem o céu e o chão; a vida cobre-se de cinza diariamente. Belém escura é lúgubre, um filme antigo; os antigos casarões de sombras úmidas reavivam seu encanto de passado glorioso. Retomadas, as ruas ainda pertencem mais à chuva do que aos homens. Mais parece uma maneira de se lavar a alma...
03/05/1982
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