Dia triste a segunda: recomeça preguiçosa a presteza
Tentáculos ciliares abundam nos olhos a realidade.
Os fatos correntes, vindos de sexta, estão à morte.
Os sábados, de ensandecidos, e os domingos esmaecidos
Coexistem inexistentes: a natureza da semana é só útil.
No para-choque do carro de trás, paralela ao chão
Paira a minha atenção.
O sono persistente examina o veículo
O motorista e seu lento ventrículo.
O executivo, a passeio, não passa dos quarenta
Pára sólido, quase velho, no limbo.
De máquina no papel, a letra pára (pausa).
No almoço distante, repouso a esperança
De um dia acordar.
No almoço presente, reclamante farto do horário
O discurso funcional cessa diante do prato.
De estômagos, estamos cheios.
Dia triste a segunda: recomeça o hábito
Da tristeza travestida de seriedade.
Deveres tentaculares amarram os braços na realidade.
Os fatos são as correntes, desde cedo nos pés.
Os dias ensandecidos, de apetites esmaecidos
Coexistem experientes:
- a natureza, se humana, é só fútil.
Dia triste a segunda: recomeça o falatório
Dos males alheios. Triste segunda
Segundo nossa condição de bestas dos outros.
08/07/1985
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