segunda-feira, 30 de novembro de 2015

PESCOÇO

torcicolo eu forço
torcicolo eu torço
torcicolo eu drogo

Neste dia morno

um feriado morto

jaz em frente ao sono.

Exponho o seu corpo
(em recomposição)

a um romance insosso

a um jazz inodoro

a um filme de ocasião.

...

[o que lazer então?...]

domingo, 29 de novembro de 2015

sábado, 28 de novembro de 2015

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

INCRÉU

Quando soberbo o véu
que azul dá cor ao céu

(e ilhéu o contemplo)

me vejo um tabaréu
ao léu matutando...

[por que este belo véu
cobrindo o vasto céu

(me ocorre incréu pensar)

meu mausoléu será?...]

terça-feira, 24 de novembro de 2015

À MAIS DESEJADA DE TODAS

por bem e por mal, afinal

Férias batendo à porta...

Férias regando a horta...
Férias curando a aorta...

Férias pulsando em forma...

Férias cruzando a borda...
Férias comendo à porca...

Férias bebendo as boas
- loas somente às boas!

Férias curtindo a engorda...

Férias de peles negras
azuis, roxas, vermelhas...

Férias de aranhas vivas
férias de moscas mortas

enredando armadilhas:

- quando a estação entorta
o que afinal importa?

(o ponto da translação
em que nos encontramos?)

[o planeta em rotação
do qual desencontramos?]

...

{férias nos dando corda
de férias roendo a corda}

domingo, 22 de novembro de 2015

AVINDO

Domingo

comungo

comigo

contigo

com tudo

convindo

...

[consigo

contudo

dormindo]

sábado, 21 de novembro de 2015

PRESENTE ABSOLUTO

ironias à parte

Hoje tem Barça e Real
hoje o melhor futebol.

Hoje é bem vário o canal
que hoje centraliza o escol

hoje cobrando global
(hoje um por todo arrebol)

concentrado hoje em prol

de estar bem estando atual:

- hoje com Barça e Real.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

DO ARCO DE UM VELHO

Do ponto de chegada
(nos braços de uma toalha)

ao ponto de partida
(no abraço da mortalha)

meus dias indo e vindo
(seu brilho vindo e indo)

embora renovados
embora repetidos

urdidos e perdidos

parecem despedidas:

- são dias esvaindo
(porfias sem sentido)

no vão da noite infinda...

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

DO CAMINHAR

Teu convite
nos permite

que eu insista

(e desista
em seguida
caso mingue)

no seguinte:

- leite, café
chá, samovar

e boa-fé.

[são quatro pés
a encaminhar

num canapé
à beira-mar]

terça-feira, 17 de novembro de 2015

GLIMPSE III

... a incidência
(reincidente)

de tua ciência
coincidente

traz ao olhar

ver e enxergar

...

[fez (de te olhar)

imaginar]

GLIMPSE II

... borboleta

(cançoneta)

flor violeta

recoleta?

- que olhadela

(ao revê-la)

ia austera

percebê-la?...

GLIMPSE

... a silhueta
de ampulheta

que sua areia
aligeira

na verdade
reverdeja

a vontade
de revê-la ...

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

SIGNUM VIRTUALIS II

Enquanto eu lia
(lia Cecília)

tocou um sino
(talvez um sino).

Porquanto ouvia
(que parecia)

também o via
(um tanto antigo)

que padecia

que era poesia:

- coisa longínqua
da mesma língua.

sábado, 14 de novembro de 2015

GUARDA BAIXA

A tristeza que me abate

do tipo que vem à tarde

[um tipo senão mais tarde

triste nem foi de verdade]

é uma que vem sem alarde:

- uma que não tenho alarme

como se um cão que em vão late.

POR QUE ESTA LUZ NA VIDRAÇA?

por que estás ensolarada?...

Dispersou a tempestade
que inundaria a cidade.

Teria sido espontâneo
(dado que foi subitâneo)

ou imprevisão do clima
(dado o que superestima)

ou talvez coisa de Pedro
(pro católico santeiro):

- fato é que a tempestade
(seu arsenal, na verdade)

debandou sobre a cidade.

...

Dada a mudança contrária
- sua refratária bonança

coube a uma criança explicá-la:

- o que move a natureza
é a vontade de cereja!...

...

[o que deseja a vontade
à vontade no que seja?...]

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

SIGNUM VIRTUALIS

Alguém tocou um sino

há pouco algo longínquo
ao parecer ouvido.

Há poucos sinos aqui

- nenhum que nos lembre ali
de lá, do além, de acolá

de acordar noutro lugar.

Neste mundo secular

se há tecnologia
não há coisa longínqua:

- alguém tangeu um sino
tão pouco ouvido daqui

mas ubiquamente acá
hic, here, zhèli, cá...

terça-feira, 10 de novembro de 2015

QUANDO ENFIM BATER NA BUNDA

a água do efeito estufa

A temperatura sobe

dentro, fora, sob, sobre

acima, abaixo, por entre

detrás, ao lado - na frente

dos que pelas costas mentem

(entre aqueles que o desmentem).

...

A temperatura sobe

sobe, coze, sobe, fode:

- quando derreterá uns cofres

após derreter seus cobres?...

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

UM DOM QUE (MAL) CULTIVO

meu soneto vesperal

O tempo convertido
no espaço do seu ruído

(e assim reconstituído
pelo som que imagino)

avisa os meus ouvidos
(que vezes têm olvido)

que passa o seu trenzinho
na instância que imagino:

- o trem do tempo vindo
(a outrem, tempo bem-vindo)

sozinho desde a infância
até aonde adivinho

[pelo eco que imagino
ser tom do seu destino]

domingo, 8 de novembro de 2015

AO INVÉS DE TRÊS CHINGOS

que venha mil domingos!...

...

(no domingo, a preguiça

da liça que respingo

eu xingo sem derriça

ou justiça de gringo)

...

[no domingo, eu enguiço

carniça na caatinga

catinga que enfeitiço

cediça, não distingo]

...

{cobiça, no domingo

dominga, de postiço

noviça, da qual gingo

zuninga de serviço}

...

[ao invés de hortaliças

que venha só linguiças!...]

sábado, 7 de novembro de 2015

QUADRA DA REVOLUÇÃO

Num sete de novembro
sonhamos que seremos

um dia, noite adentro

melhores que podemos.

LABORAL

atemporal

O meu dia é picado
em tarefas inúteis

(trabalho que retalho
retalho a rebotalho

até o fim da picada!)

ou é dia ocupado
por repetições febris

de atuações nada sutis
dada a rotina estéril.

Porque lida escamada
(porque viva e estancada!)

um tanto exacerbada
por elementos fúteis

por interesses hostis
(e desinteresses vis)

- de que dias passados
(quando enfim repassá-los)

eu me lembro inconsútil?...

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

XEQUE-MATE

Um silêncio afora
embarulha adentro

(certo movimento)

ao multiplicar-se
encoberto agora

antes de vencer-me
descoberto sempre.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

BUROCRATA

Suspenso entre tarefas
urgidas entre esferas

de aptidões diversas
(e vocações quem sabe?)

aguardo o telefone
(aquém do que me cabe)

autorizar em nome
(que me não menoscabe!)

do quê negligenciarei

quem jamais conhecerei...

domingo, 1 de novembro de 2015

NÓS E O PÓ(S)

situação

A idade da poeira

(que a gente ressente
soprando o presente)

é a idade inteira

da vida ligeira
sem convalescença

teologicamente:

- mas vento premente
enquanto licença

das gentes que existem
segundo suas crenças

[desde a cabeceira
nos mitos de origem]

{até que a vertigem
daquilo que abeiram

converta a fuligem
naquilo que queiram}